O Banco Mundial está introduzindo no Brasil uma nova ferramenta financeira destinada a viabilizar o reflorestamento de áreas degradadas na Amazônia, transformando essa atividade em um investimento atraente para o setor privado. Através do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), que faz parte do Grupo Banco Mundial, foram emitidos US$ 225 milhões (cerca de R$ 1,2 bilhão) em títulos de dívida com vencimento em julho de 2033.
Esses títulos, com uma taxa de retorno garantida de 1,745% ao ano, têm a possibilidade de um incremento que pode chegar a 4,362%, dependendo do sucesso de uma venda de créditos de carbono pela Mombak à Microsoft. A Mombak, uma startup que busca escalar a restauração de áreas degradadas, é uma das beneficiárias desta iniciativa.
Gabriel Haddad Silva, cofundador e CFO da Mombak, elogia o modelo financeiro inovador criado pelo Banco Mundial, que, segundo ele, abre portas para investidores que a empresa normalmente não conseguiria alcançar e a um custo mais baixo do que os financiamentos tradicionais. A operação foi estruturada pelo HSBC, que já havia utilizado instrumentos similares em projetos anteriores em outros países.
Este tipo de título, conhecido como “outcome bond” (título de resultado), foi criado pelo BIRD em 2021 e, até agora, foi utilizado para financiar projetos como a conservação de rinocerontes na África do Sul, a resposta do Unicef à pandemia de COVID-19, e a reciclagem de plástico na Indonésia e em Gana. Esta é a primeira vez que o instrumento é vinculado a créditos de remoção de carbono.
A Mombak poderá receber até US$ 36 milhões através do HSBC para financiar seus projetos de reflorestamento na Amazônia, com desembolsos previstos entre agosto de 2024 e o final de 2026, à medida que metas de hectares reflorestados e toneladas de carbono removidas sejam alcançadas.
Um dos desafios na emissão desses bonds é definir as métricas para dividir o risco e o potencial de retorno entre os investidores. Para a operação na Amazônia, essas métricas foram adaptadas às necessidades dos projetos da Mombak e vinculadas à remoção de carbono. A Microsoft já se comprometeu a comprar 1,5 milhão de créditos de carbono gerados pelo reflorestamento, um fator chave para o sucesso da iniciativa.
A operação atraiu grandes investidores, como a gestora americana Nuveen, que possui mais de US$ 1,1 trilhão sob gestão, além de Mackenzie Investments do Canadá, fundos do grupo britânico Rathbones, e o fundo de pensão dinamarquês Velliv. Esses investidores, além de focados no retorno financeiro, também demonstraram interesse no impacto social e na biodiversidade dos projetos financiados.
Embora os investidores estejam protegidos contra a volatilidade dos preços dos créditos de carbono, há riscos associados ao cumprimento das metas pela Mombak e pela Microsoft, bem como às responsabilidades do HSBC na transação. Caso essas metas não sejam atingidas, o retorno dos investidores pode ser inferior ao de um título tradicional do BIRD.
Essa iniciativa representa um passo significativo no uso de finanças sustentáveis para enfrentar desafios ambientais globais, com o potencial de transformar o reflorestamento da Amazônia em um modelo econômico viável e escalável.