Belém é uma cidade onde o sagrado se mistura com o cotidiano. No meio do vai e vem de barcos na baía do Guajará e do burburinho das feiras, ergue-se imponente a Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré, um dos templos mais importantes da Amazônia. Para quem chega à capital paraense, seja para a COP 30 ou para conhecer a cidade, a visita à Basílica não é apenas um passeio turístico — é um mergulho na alma cultural e religiosa do povo que vive aqui.

Construída no início do século 20, a Basílica nasceu de uma devoção que começou muito antes, ainda no século 18. À época, ribeirinhos e moradores da região peregrinavam até uma pequena ermida erguida onde, segundo a tradição, a imagem de Nossa Senhora foi encontrada por Plácido José de Souza, às margens do igarapé Murutucu. O local era simples, uma cabana de palha que se tornaria o ponto inicial de uma das maiores manifestações de fé do planeta: o Círio de Nazaré.
“O Círio ajuda a entender a transformação da cidade de Belém ao longo dos séculos. A devoção começou pequena, mas foi crescendo e se tornando parte da identidade da cidade. O bairro de Nazaré, por exemplo, se desenvolveu a partir dessa peregrinação. Uma curiosidade bastante específica é que a atual avenida Nazaré sempre teve esse nome. Antigamente era conhecida como estrada de Nazaré e é uma das poucas vias de Belém que nunca teve sua denominação alterada”‘, explica o historiador Michel Pinho, professor e pesquisador.
O Círio de Nazaré, que ocorre todo segundo domingo de outubro, reúne milhões de pessoas em uma procissão que atravessa a cidade, acompanhando a imagem de Nossa Senhora. Conhecido como “o Natal dos paraenses”, é considerado o maior evento religioso do mundo em número de fiéis por metro quadrado. Para além da fé, o Círio também movimenta a economia, a cultura e a vida social de Belém.
Com o crescimento constante dessa devoção, a pequena ermida já não comportava mais a multidão que chegava todos os anos. Foi então que, em 1905, a Igreja Católica, por meio do arcebispo Dom Santino Maria Coutinho, entregou aos padres barnabitas a missão de construir um templo maior e mais estruturado. Em 1909, teve início a obra que daria forma à Basílica como conhecemos hoje, unindo imponência arquitetônica e riqueza artística.
Para Michel Pinho, a construção da Basílica foi um marco para Belém. “Ela não é só um templo religioso. É um monumento que ajudou a consolidar Belém como centro de fé, atraindo pessoas de diversas regiões, do Marajó ao Baixo Tocantins. A arquitetura grandiosa, os vitrais, as esculturas, tudo foi pensado para expressar essa ligação entre a cidade e Nossa Senhora de Nazaré”, afirma.
Entre os elementos mais marcantes do santuário estão o frontão, que retrata a história do Círio, os vitrais que narram milagres e episódios da devoção, e a porta monumental, esculpida para contar não só a história religiosa, mas também a trajetória cultural e social do Pará. Esses detalhes fazem da Basílica um ponto imperdível para quem deseja compreender a força simbólica desse lugar.
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“Embora seja profundamente ligada à religiosidade católica, a Basílica e o Círio se transformaram ao longo do tempo, incorporando elementos da cultura popular, como músicas, danças e festas. É uma manifestação viva, que fala tanto de fé quanto de identidade amazônica”, completa o historiador.
Basílica renovada: a reabertura após o restauro
Depois de passar por um extenso processo de restauro, a Basílica se prepara para um momento especial. A partir de 8 de setembro, os fiéis e visitantes poderão contemplar a igreja na forma original, com vitrais, mosaicos e esculturas recuperados.
“Com essa etapa, toda a parte interna da Basílica está concluída e não haverá mais nenhum tipo de interferência com andaimes ou áreas isoladas. A partir do dia 8, os fiéis poderão ocupar integralmente o templo”, explica Luci Azevedo, coordenadora do projeto de restauro.
O dia da reabertura começará cedo, às 6h, com a abertura oficial da igreja. A primeira missa será às 7h, e ao longo do dia outras celebrações serão realizadas. Às 18h, haverá uma missa especial presidida por Dom Júlio Endi Akamine, arcebispo metropolitano de Belém. No encerramento, a imagem original de Nossa Senhora de Nazaré será reconduzida ao glória da Basílica, em um momento simbólico e emocionante para a comunidade de fé.
Enquanto o interior já estará totalmente restaurado, a cripta e a parte externa seguem em obras, com previsão de conclusão em janeiro de 2026. Na Praça Santuário, uma exposição de fotografias mostrará os bastidores do restauro, incluindo registros em vídeo que revelam os detalhes do processo.
Serviço
Endereço: Praça Santuário, s/nº, bairro de Nazaré – Belém (PA)
Horário de funcionamento: Todos os dias, das 6h às 20h
Por Eva Pires







































