Brasil inaugura nova era energética com leilão na Foz do Amazonas


Em um movimento que reacende o debate sobre o equilíbrio entre desenvolvimento e preservação, o Brasil deu um passo significativo rumo à expansão de sua matriz energética.

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Leilão

O leilão promovido pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) no dia 17 de junho resultou na concessão de 34 blocos para exploração de petróleo e gás natural, com destaque para a bacia da Foz do Amazonas, uma área ainda inexplorada, mas com potencial expressivo de produção.

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Imagem: Guito Moreto/Agência O Globo

O certame arrecadou quase R$ 1 bilhão, dos quais a maior fatia, cerca de R$ 845 milhões, veio de áreas situadas na chamada Margem Equatorial, entre o Amapá e o Rio Grande do Norte. Grandes nomes do setor, como Petrobras, ExxonMobil, Chevron e a estatal chinesa CNPC, arremataram 19 blocos na região, reforçando o interesse internacional por essa nova fronteira energética brasileira.

Permissões com validade de cinco anos

O leilão ocorreu sob uma “janela ambiental” bastante peculiar: as autorizações interministeriais que permitem a oferta dessas áreas venceriam no dia seguinte. Emitidas ainda em 2020, essas permissões têm validade de cinco anos e são essenciais para que blocos entrem em processos de concessão. A realização do leilão antes do vencimento evitou a necessidade de nova análise política e técnica, o que poderia levar anos.

Potencial da Foz do Amazonas

O potencial da Foz do Amazonas é promissor. Estimativas da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) indicam que a região pode abrigar até 10 bilhões de barris. Mas não é apenas a perspectiva econômica que chama atenção: o cenário é de alta complexidade ambiental, o que tem gerado controvérsia. Grupos ambientalistas e o Ministério Público Federal questionam a ausência de estudos climáticos e de consultas às comunidades tradicionais, conforme previsto em acordos internacionais.

A Petrobras, por exemplo, tenta há mais de uma década obter uma licença para iniciar testes no bloco FZA-M-59. A empresa já deslocou uma sonda para a costa do Amapá e aguarda a autorização do Ibama para realizar simulações de emergência ambiental, passo necessário antes de qualquer perfuração. A expectativa é que essa avaliação aconteça em julho.

Matriz energética: Impulsionar a economia nacional

Apesar das críticas, há quem veja no leilão uma oportunidade rara de alavancar a economia nacional em meio a uma conjuntura fiscal desafiadora. Os recursos obtidos entram nos cofres públicos sem vinculação, o que amplia sua utilidade para equilibrar o orçamento. Para o Ministério de Minas e Energia, o petróleo segue sendo uma peça-chave na composição do chamado “pacote fiscal”.

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Ainda assim, o governo brasileiro enfrenta um dilema. De um lado, busca protagonismo nas negociações internacionais sobre o clima; do outro, aposta em novas frentes de produção de combustíveis fósseis. Essa ambivalência foi alvo de críticas durante a reunião preparatória da ONU para a COP30, realizada na Alemanha. Líderes ambientais alertaram que tais contradições podem enfraquecer a posição brasileira nas negociações globais.

O desafio, agora, é transformar esse novo capítulo do setor energético em uma ponte entre responsabilidade ambiental e soberania econômica. A Margem Equatorial pode, sim, representar um futuro promissor, desde que guiado por transparência, ciência e diálogo com os múltiplos atores envolvidos.