Num resultado histórico para a cafeicultura brasileira, um microlote de café robusta amazônica produzido por indígenas em Rondônia atingiu a pontuação máxima de 100 pontos, algo inédito para a espécie Coffea canephora segundo o protocolo Fine Robusta Cupping Form, aprovado no Concurso Tribos. Agora, esse grão raro chega ao mercado em um kit exclusivo de R$ 599, reunindo 150 g de café em grãos e um moedor de alta precisão, oferecido pela plataforma Mercafé.
O responsável pelo feito é Rafael Mupimoku Suruí, cacique da etnia Paiter Suruí na Terra Indígena Sete de Setembro (RO). Ele produz o café na aldeia Linha 9, situada em uma área entre os municípios de Cacoal (RO), Espigão d’Oeste (RO) e Rondolândia (MT). Dois dos nove jurados independentes — entre eles o renomado avaliador Silvio Leite, autoridade em cafés especiais — concederam a nota máxima ao lote de Suruí.
Para Leite, “este café é um dos mais complexos e completos que já provei em toda a minha carreira”. Ele destaca que nunca antes havia sido registrada oficialmente uma robusta com nota 100 — sobretudo um exemplar amazônico. Ao expressar orgulho e emoção, Rafael Suruí enaltece como o projeto que apoiou sua produção foi fundamental para valorizar o trabalho indígena e revelar o potencial da floresta na xícara.
A empresa responsável pela iniciativa é o Grupo 3corações, líder no setor de cafés no Brasil. O grão premiado integra a linha de cafés especiais por meio do Projeto Tribos, dentro da marca Rituais 85+. Essa iniciativa busca valorizar a produção indígena sustentável, fortalecendo a relação entre comunidades locais e mercados de alto valor agregado. O 3corações relata que apoia agricultores indígenas com estrutura, assistência técnica e garantia de compra, estimulando práticas de cultivo que priorizem qualidade e sustentabilidade.

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Este microlote será comercializado exclusivamente no e-commerce Mercafé, com o pacote especial de café e moedor. O valor de R$ 599 reflete a rareza do lote e o reconhecimento internacional obtido. O 3corações também informa que todos os lucros obtidos serão revertidos aos produtores indígenas envolvidos.
Embora Rondônia não produza os maiores volumes de café do país, destaca-se por ter a maior produtividade média entre os estados brasileiros, segundo dados da Conab. A espécie robusta, geralmente menos valorizada que o arábica, aparece aqui em um salto de prestígio, com uma qualidade sensorial que surpreende pelo equilíbrio e complexidade.
Esse feito simboliza uma virada: movimentos que até então trabalhavam com microlotes experimentais ganham visibilidade e mercado. O reconhecimento de um robusta com pontuação 100 não apenas consagra Rafael Suruí, mas abre caminho para que outros produtores indígenas — historicamente marginalizados dos circuitos premium — possam disputar espaço. A aposta do 3corações é de longo prazo: o Projeto Tribos mapeia diversas aldeias com café já plantado, apoia estrutura de pós-colheita, realiza capacitações e atua para integrar essas comunidades ao mercado de cafés especiais.
Também há desafios importantes pela frente. Rafael menciona que na última safra houve perdas no rendimento por conta de condições climáticas — ele defende que investimentos em irrigação poderiam elevar a produtividade de forma sustentável. Há um processo de amadurecimento que exige apoio técnico constante, infraestrutura, logística viável e incentivos que garantam preços justos.
Em resumo, a ascensão desse café robusta indígena à nota máxima é mais do que um recorde. É uma declaração: na floresta pode brotar excelência, sob o protagonismo dos povos que ali vivem. Se essa iniciativa inspirar continuidade, replicação e visibilidade ampla, ela pode marcar um novo capítulo para os cafés amazônicos e para a economia de muitos territórios indígenas.








































