Na Ilha do Combu, em Belém, um projeto pioneiro de habitação sustentável começa a transformar não apenas a paisagem local, mas também a vida das famílias ribeirinhas. O Governo do Pará, por meio da Companhia de Habitação do Pará (Cohab), lançou nesta quarta-feira (1º) o benefício habitacional “Sua Casa COP30 Sustentável”, que prevê a construção de 45 casas ecológicas erguidas com tijolos produzidos a partir do caroço de açaí. A iniciativa, além de trazer moradia digna, promete reduzir em mais de 70 toneladas as emissões de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera.

O simbolismo da ação vai além da entrega de um teto. Em uma região marcada por vulnerabilidades sociais e pelo isolamento geográfico, o projeto insere a sustentabilidade no centro da política habitacional. Como destacou o diretor-presidente da Cohab, Manoel Pioneiro, a iniciativa reflete uma diretriz clara do governador Helder Barbalho e da vice-governadora Hana Ghassan: unir moradia digna e preservação ambiental. “Não é apenas construir casas, mas construir um futuro mais justo para quem vive às margens da cidade, respeitando a floresta e os saberes locais”, afirmou.
A execução contará com a parceria da Cooperativa Mista da Ilha do Combu (Coopmic), organização comunitária que vê na iniciativa uma reparação histórica. O presidente da entidade, Mizael Rodrigues, reforçou que é a primeira vez que a população da ilha recebe um olhar do poder público que ultrapassa o viés turístico, alcançando a vida cotidiana de quem constrói sua história à beira dos rios.
Tecnologia amazônica a serviço da sustentabilidade
O diferencial das moradias está no uso de tijolos ecológicos, desenvolvidos com a incorporação do caroço do açaí – resíduo abundante na região e que muitas vezes é descartado inadequadamente no meio ambiente. O professor Marco Oliveira, do Instituto Federal do Pará (IFPA), responsável pela pesquisa e formulação do material, destaca que a tecnologia alia inovação científica, identidade amazônica e mitigação climática.
Os tijolos reduzem o consumo de água em até 90%, de cimento em 80% e de ferro em 50%. Além de dispensar o uso da madeira, oferecem conforto térmico, maior isolamento acústico e aceleram em 30% o tempo de construção em relação à alvenaria convencional. Somados às telhas ecológicas e aos biodigestores para o tratamento de resíduos orgânicos, que produzem biogás e biofertilizantes, os materiais formam um pacote tecnológico que traduz, na prática, o conceito de economia circular.
O projeto tem ainda potencial para gerar créditos de carbono, ampliando sua relevância no contexto internacional. Em tempos de preparação para a COP30, que será realizada em Belém, a iniciativa se torna vitrine para mostrar como a Amazônia pode liderar soluções sustentáveis que unem clima, ciência e justiça social.

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Dignidade habitacional com assistência técnica garantida
As famílias beneficiadas receberão também apoio da Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social (Athis), assegurada pela Lei Federal nº 11.888/2008. Esse suporte garante acompanhamento de arquitetos, engenheiros e assistentes sociais, fortalecendo o direito a uma moradia de qualidade com acompanhamento especializado.
Para a moradora Ângela Maria Soares, coletora de açaí há mais de 50 anos, ser a primeira contemplada tem um valor que transcende a construção física. “Agora vou viver em uma casa boa, longe da maré, e poderei até ter minha própria horta”, contou, emocionada. Seu depoimento revela a dimensão transformadora de um projeto que toca tanto o social quanto o ambiental.
Um projeto com múltiplos significados
O “Sua Casa COP30 Sustentável” traduz um novo olhar para a política habitacional: mais do que entregar moradias, entrega reconhecimento, inclusão e pertencimento. Ao utilizar um dos maiores símbolos culturais da região – o açaí – como insumo tecnológico, conecta identidade cultural, inovação científica e mitigação climática.
Ao mesmo tempo, reforça que a luta contra as desigualdades sociais não está dissociada da preservação ambiental. Pelo contrário, ambas caminham juntas quando o desenvolvimento é pensado a partir das pessoas e dos territórios.
O projeto representa também uma resposta concreta às agendas globais de sustentabilidade. Ele dialoga com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, especialmente os que tratam de cidades sustentáveis, consumo responsável e ação climática.
Mais do que casas, o governo e seus parceiros entregam às ilhas de Belém uma mensagem de futuro: é possível viver bem e com dignidade sem abrir mão da floresta em pé.






































