A menos de duas semanas para o início da COP30 — a conferência mundial do clima que se realizará em Belém —, surge um claro sinal de mudança no tabuleiro global: a União Europeia (UE) anunciou uma intenção de apresentar metas climáticas “bem ambiciosas”, afirmou o presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago.

Nas palavras de Corrêa do Lago, a sinalização vem em momento crucial, em que os países desenvolvidos precisam dar a “largada” para que os emergentes não vejam-se carregando o fardo principal da transição climática. “Não tem sentido que os países em desenvolvimento tenham que fazer mais esforços que os países que já puderam se desenvolver ao longo de dois séculos e meio emitindo ”, afirmou.
Essa manifestação da UE tem relevância simbólica e prática: trata-se das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês) — compromissos nacionais de redução de emissões e adaptação climática pactuados no âmbito do Acordo de Paris. Se os países desenvolvidos — historicamente grandes emissores — apresentarem metas robustas, criam um terreno moral e político mais sólido para que os demais sigam.
Até aqui, porém, a Europa vinha em silêncio. Conforme lembrou a sociedade civil, “estamos a menos de 30 dias da COP30 e a Europa não se manifestou e não apresentou NDC”. Essa demora aparece como um estranhamento estratégico: de um lado, é legítimo afirmar haver necessidade de tempo para formulação de políticas; de outro, a tardança lança dúvidas sobre a disposição real das potências para elevar a ambição climática.

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Corrêa do Lago interpretou a virada como “boas notícias” — e mais: tem expectativa de que a UE se situe “na faixa mais ambiciosa” entre os desenvolvidos. A declaração não apenas empurra o bloco europeu a sair do esquecimento negociador, mas abre caminho para uma discussão mais ampla sobre justiça climática, proporcionalidade histórica e responsabilidade diferencial.
O contexto global reforça a urgência. Com a ausência relevante dos Estados Unidos em certas frentes de lideranças climáticas — um fato destacado pelo próprio presidente da COP30 — cresce o peso de que os países que historicamente emitiram mais assumam papéis de vanguarda. “Com a ausência dos Estados Unidos, é muito importante que os países desenvolvidos mostrem o que vão fazer”, disse Corrêa do Lago. Mas a questão ainda não está resolvida: apenas uma fração dos países submeteu suas NDCs atualizadas — o presidente da COP30 afirmou que há frustração com o ritmo de entregas. O cenário é de tensão: enquanto a conferência se aproxima, o relógio das ações climáticas corre e, nos bastidores, a âncora da credibilidade está em que os compromissos sejam reais, mensuráveis e transformadores.
Para o Brasil — que foi o segundo país a apresentar sua NDC, definindo metas de redução entre 59 % e 67 % dos gases de efeito estufa e zerar o desmatamento até 2030 — o jogo passa por motivar os demais a acompanharem esse passo e evitar que a ambição se torne vazio diplomático.
Em resumo: a movimentação da Europa, ainda que tardia, traz um sopro de otimismo para a COP30. Mas o desafio permanece: transformar sinalização em ação, vínculo diplomático em compromisso concreto, e promessa de metas em resultados tangíveis — sobretudo em um cenário global marcado por impasses, atrasos e necessidades urgentes. O tempo para diálogo já está passando. Agora é hora de entregar.






































