Você já ouviu um grito agudo durante a madrugada, vindo do telhado, e ficou se perguntando o que era? Talvez não fosse apenas o vento ou um gato noturno, mas sim a presença enigmática de uma coruja-das-torres. Apesar de envolta em lendas e medos antigos, essa ave pode ser um dos melhores visitantes que sua casa poderia receber — e entender o motivo pode mudar completamente a forma como você vê a natureza ao seu redor.

Coruja-das-torres no telhado: o que isso realmente significa?
Quando uma coruja-das-torres (Tyto furcata) decide fazer do seu telhado ou sótão seu lar, ela não está ali por acaso. Ela está em busca de um abrigo seguro, silencioso e elevado — características que os telhados residenciais oferecem em abundância. Ao contrário de outras aves, que preferem áreas arborizadas ou estruturas naturais, essa espécie se adaptou muito bem ao ambiente humano, especialmente nas áreas rurais e suburbanas.
A presença dela indica, de maneira indireta, que o ecossistema ao redor da sua casa ainda mantém algum equilíbrio: há disponibilidade de presas (como ratos, camundongos e pequenos insetos), pouco movimento noturno e abrigos propícios. Em outras palavras, sua casa oferece as condições perfeitas para essa visitante especial.
Um controle natural de pragas — sem pesticidas
O maior presente que a coruja-das-torres pode oferecer à sua residência é invisível aos olhos: o controle natural de pragas. Ela pode comer até 5 roedores por noite. Em um único mês, isso representa uma redução drástica na população de ratos ao redor da sua casa, sem necessidade de venenos, armadilhas ou produtos químicos.
Além dos roedores, ela também caça pequenos morcegos, lagartixas, grilos e outras criaturas noturnas. Isso transforma a coruja em uma verdadeira guardiã do ambiente doméstico, atuando de forma silenciosa e eficaz.
E aquele grito na madrugada?
A vocalização da coruja-das-torres é, de fato, impactante. Não é o “pouco” grave que muitas pessoas associam a corujas, mas sim um grito alto e seco que pode parecer assustador, especialmente para quem ouve pela primeira vez. Esse som serve para demarcar território, comunicar-se com seu parceiro e afastar possíveis ameaças.
Durante o período de reprodução, esse som pode se intensificar. Filhotes pedem comida constantemente, e os pais ficam mais ativos. Ainda assim, vale lembrar: barulho à noite por algumas semanas é um pequeno preço a pagar por uma redução de pragas e um contato privilegiado com a vida selvagem.
A coruja-das-torres é perigosa para minha família ou meus pets?
Não. A coruja-das-torres não representa risco direto para humanos, cães ou gatos. Seu foco são animais de pequeno porte, como ratos e insetos. Inclusive, muitos tutores de cães e gatos notam uma diminuição nos focos de infestação de pulgas e carrapatos nas redondezas, já que a redução da cadeia de pequenos hospedeiros tem reflexo positivo.
No entanto, vale manter alguma distância e evitar barulhos excessivos próximos ao ninho. Ela pode se sentir ameaçada e abandonar os ovos, caso se sinta perturbada constantemente.
É permitido removê-la ou afastá-la?
Essa é uma dúvida comum — e a resposta é clara: não. A coruja-das-torres é protegida por lei no Brasil, por ser uma espécie silvestre nativa. A remoção, perseguição ou interferência direta no ninho são proibidas e podem resultar em penalidades.
Se a presença dela causar transtornos sérios, como fezes acumuladas em locais de passagem ou risco de contaminação, o ideal é procurar a Secretaria de Meio Ambiente local ou uma ONG de proteção à fauna. Esses órgãos podem avaliar a situação e, em casos extremos, realizar uma remoção adequada e legal da ave.
Mas por que a coruja-das-torres escolheu justo a minha casa?
O que parece azar, na verdade, é sorte. Ela escolheu sua casa porque você oferece um ambiente minimamente equilibrado: iluminação noturna controlada, telhado acessível, pouca movimentação no sótão e — provavelmente — a presença de presas nas redondezas.
Se você observar sinais como pelotas (bolas com restos de pelos e ossos), penas brancas compridas e um ruído agudo vindo do alto, há boas chances de que tenha uma hóspede. E, diferente de tantos outros animais, ela não vai destruir seu telhado, fazer ninhos com lixo ou causar infestação. Ao contrário, ela contribui com a limpeza invisível do ecossistema doméstico.
Um privilégio raro em tempos urbanos
Em meio à urbanização crescente e à perda de habitat natural, é raro conviver com uma espécie selvagem em ambiente doméstico. A coruja-das-torres, com seu olhar profundo e voo silencioso, representa um elo entre o mundo urbano e o natural.
Ela não é presságio de morte, como diz o folclore. Ao contrário, é sinal de vida — e de um ecossistema que ainda pulsa. Enxergar a presença dela como algo positivo é uma forma de mudar a relação que temos com a fauna e com o próprio espaço em que vivemos.
Leia mais artigos aqui














































