Um novo patamar para as finanças verdes no Brasil
Ao encerrar 2025 com mais de R$ 14 bilhões em financiamentos contratados, o programa Eco Invest Brasil se firma como um divisor de águas na política ambiental e econômica do país. Mais do que um instrumento de crédito, a iniciativa liderada pelo Governo Federal reposiciona o Brasil no centro do debate global sobre financiamento climático, mostrando que é possível transformar compromissos ambientais em projetos concretos, com escala e impacto real.

Segundo o Tesouro Nacional, os recursos contratados até agora decorrem do primeiro leilão do programa, realizado em outubro de 2024. Em apenas um ano, o Eco Invest deixou de ser uma proposta inovadora para se tornar referência internacional em finanças verdes, atraindo investidores nacionais e estrangeiros interessados em projetos alinhados à transição ecológica.
O programa integra o Plano de Transformação Ecológica – Novo Brasil e é coordenado conjuntamente pelo Ministério da Fazenda e pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Essa articulação institucional reforça a ideia de que a agenda ambiental deixou de ser um tema setorial e passou a ocupar posição estratégica no desenho do desenvolvimento econômico brasileiro.
Capital misto e inovação financeira como motores da transição
Um dos pilares do Eco Invest Brasil é o uso do financiamento misto, conhecido internacionalmente como blended finance. Nesse modelo, recursos públicos e privados são combinados de forma estratégica para reduzir riscos e ampliar a atratividade de projetos sustentáveis. O chamado capital catalítico, aportado pelo governo e por instituições financeiras privadas, aceita maior exposição a riscos de mercado, considerando não apenas o retorno financeiro, mas também o impacto social e ambiental.
Essa arquitetura financeira permite destravar investimentos que, em condições tradicionais, dificilmente sairiam do papel. Um dos instrumentos mais inovadores adotados pelo programa foi o hedge cambial, mecanismo de proteção contra variações do câmbio que aumentou significativamente a participação de capital estrangeiro nos leilões.
Em nota oficial, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, destacou que o Eco Invest recolocou o Brasil no radar das grandes decisões globais sobre financiamento climático. Para ele, o programa demonstrou que o país reúne escala, carteira de projetos e capacidade institucional para converter capital em resultados concretos na economia real.

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Saneamento, energia limpa e adaptação climática
Os recursos mobilizados pelo Eco Invest Brasil se distribuem por diferentes eixos estratégicos. Na área de economia circular, cinco projetos concentram investimentos estimados em R$ 2,7 bilhões, voltados principalmente à ampliação da coleta e do tratamento de esgoto. Essas iniciativas devem beneficiar diretamente mais de 2 milhões de pessoas nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul, reforçando a relação entre saneamento, saúde pública e sustentabilidade ambiental.
A maior fatia dos recursos, superior a R$ 7 bilhões, está direcionada à transição energética. Entre os destaques está a construção de uma biorrefinaria no interior da Bahia, com capacidade para produzir mais de 20 mil barris de óleo vegetal destinados à fabricação de combustível sustentável de aviação (SAF) e diesel renovável. Esses combustíveis são compatíveis com a frota aérea atual e representam um passo relevante na descarbonização do setor de transportes.
O programa também avançou no financiamento de projetos de adaptação climática, especialmente na modernização da infraestrutura elétrica. Estados como Bahia, São Paulo e Mato Grosso do Sul receberam investimentos para o aterramento de linhas de transmissão vulneráveis a eventos extremos, como chuvas intensas e ventos fortes. A medida busca reduzir interrupções no fornecimento de energia e aumentar a resiliência do sistema diante de um clima cada vez mais imprevisível.
Leilões, Amazônia e projeção internacional
O alcance do Eco Invest Brasil foi ampliado ao longo de 2025 com a realização de novos leilões temáticos. O segundo leilão, realizado em parceria com o Ministério da Agricultura e Pecuária, teve foco na recuperação de terras degradadas. A iniciativa mobilizou R$ 31,4 bilhões para restaurar 1,4 milhão de hectares em todos os biomas brasileiros, com destaque para o Cerrado.
No segundo semestre, outros dois leilões reforçaram a diversidade da carteira do programa. O terceiro foi direcionado a investimentos em participação societária, atraindo capital para startups e empresas em expansão ligadas à economia verde. Já o quarto leilão, anunciado durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), priorizou projetos de bioeconomia e turismo sustentável, com foco especial na Região Amazônica. Ambos permanecem abertos, com recebimento de propostas até o início de 2026.
Considerando os três primeiros leilões, o Eco Invest já mobilizou mais de R$ 75 bilhões em capitais, sendo R$ 46 bilhões captados no exterior. Atualmente, o programa conta com 12 bancos credenciados, entre instituições públicas e privadas, o que amplia sua capilaridade e capacidade de execução.
Durante a COP30, o Tesouro Nacional lançou o Monitor Eco Invest Brasil, uma plataforma pública que reúne informações detalhadas sobre os projetos financiados, como localização, volume de recursos e estágio de execução. Com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento e da Embaixada do Reino Unido no Brasil, o programa consolida-se como uma das principais apostas do país para acelerar a transição ecológica e atrair financiamento sustentável em escala global.
















































