Um estudo do Instituto Escolhas revela que a restauração florestal na Amazônia poderia criar um milhão de empregos e reduzir a pobreza no estado do Pará pela metade. Este é apenas um exemplo de como os empregos verdes podem transformar o futuro da juventude brasileira. A necessidade é urgente, já que dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que um em cada cinco jovens brasileiros entre 15 e 29 anos está fora do sistema educacional e do mercado de trabalho, com essa proporção aumentando para um em cada quatro em alguns estados da Amazônia.
A evasão escolar de jovens impacta negativamente o PIB em cerca de 3% ao ano. Além disso, há perdas significativas na produtividade e na remuneração média de trabalhadores que não concluíram o ensino básico. As barreiras socioeconômicas e a falta de oportunidades de emprego e qualificação explicam em grande parte por que muitos jovens não estão no mercado de trabalho.
Mudanças nessa realidade exigem políticas que garantam a permanência dos estudantes na escola, como o recém-lançado programa Pé-de-Meia. Contudo, é necessário ir além: é preciso impulsionar o desenvolvimento econômico em regiões com menos oferta de emprego, oferecendo qualificação profissional que atenda às demandas do mercado e aos interesses dos jovens. A economia verde surge como uma ferramenta vital para essa inclusão.
Em resposta às mudanças climáticas, a economia verde envolve esforços para mitigar e adaptar-se aos efeitos do aquecimento global. O relatório de 2023 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) estima que os países em desenvolvimento precisarão de US$ 127 bilhões até 2030 e quase US$ 300 bilhões anuais até 2050 para se adaptarem às novas condições climáticas. Já o Plano de Transformação Ecológica do governo federal projeta investimentos anuais entre US$ 130 bilhões e US$ 160 bilhões na próxima década, com avanços em infraestrutura, pesquisa, inovação, empreendedorismo e a criação de novos empregos verdes.
O setor de energias renováveis já exemplifica esses esforços. A busca pela descarbonização tem gerado empregos em centenas de parques solares e eólicos, especialmente no Nordeste do Brasil. Na Amazônia, o combate ao desmatamento e a mudança no uso do solo poderiam gerar benefícios ambientais e econômicos significativos, além de criar empregos para os jovens locais. A transição de uma economia baseada no desmatamento e pecuária para uma economia verde e sustentável é essencial.
O compromisso do Brasil de restaurar 12 milhões de hectares de florestas, conforme sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), é uma oportunidade promissora. A ONG The Nature Conservancy aponta que a restauração florestal pode gerar um emprego a cada dois hectares, uma taxa muito superior à da pecuária. Atividades agrossilvopastoris também reduzem os impactos ambientais, aumentam o número de trabalhadores empregados e a rentabilidade por hectare.
A bioeconomia e a economia da floresta em pé também mostram grande potencial. Entre 2017 e 2019, 60 produtos da floresta geraram US$ 298 milhões em exportações. Embora essa soma represente apenas 0,2% do mercado global, há um enorme potencial a ser explorado, podendo aumentar significativamente essa participação nos próximos anos.
Para concretizar esse potencial, é crucial implementar políticas públicas que incentivem e acelerem a transição para uma economia verde. O Plano de Transformação Ecológica do ministro Fernando Haddad é um passo inicial, mas é necessário investir mais em infraestrutura e combater barreiras no ambiente de negócios, como a regularização fundiária e a concessão de áreas públicas degradadas para projetos de restauração florestal. Além disso, programas de capacitação profissional voltados para a bioeconomia são essenciais.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), através do Fundo Amazônia, já demonstra apoio a empreendimentos que aliam retorno econômico, social e ambiental. Agora, é necessário ser mais ambicioso nos investimentos e flexibilizar as garantias exigidas para projetos de restauração.
Na educação, os itinerários formativos da Educação Profissional e Tecnológica (EPT) são ferramentas importantes para preparar os jovens. Colaborações como a do governo de Pernambuco com o setor de energia renovável poderiam ser replicadas na Amazônia Legal, com governos e setor produtivo trabalhando juntos para desenvolver currículos que atendam às necessidades dos empregos verdes.
A economia verde não é apenas uma oportunidade econômica, mas também uma chance de transformar a realidade da juventude na Amazônia.