Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade de São Paulo (USP) determinaram, pela primeira vez com precisão, os limites verticais dos ambientes marinhos do Atlântico Sudoeste. Este estudo, apoiado pela FAPESP, foi publicado na revista Marine Environmental Research e trouxe uma nova compreensão sobre a profundidade dos ambientes mesofóticos, situados entre as partes mais superficiais e profundas do oceano.
Principais Descobertas
Os pesquisadores identificaram que, ao contrário do que sugeria a literatura anterior, os ambientes mesofóticos na região costeira subtropical situam-se entre 15 e 18 metros de profundidade, e não a 30 metros como se acreditava. Este achado foi obtido através de medições da incidência de luz e inventários da fauna de peixes.
Maisha Gragnolati, a principal autora do estudo, explica: “Encontramos uma incidência de luz reduzida a apenas 10% do que é visto na superfície, além de uma fauna de peixes distinta e espécies que transitam entre essas profundidades.” O estudo foi conduzido durante o mestrado de Gragnolati no Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Ecologia Marinha e Costeira (PPGBEMC) do Instituto do Mar (IMar) da Unifesp.
Diferenças Regionais e Metodológicas
A literatura científica existente baseava-se principalmente em estudos de ambientes tropicais e recifes de coral. No entanto, a região subtropical do Atlântico Sudoeste é dominada por recifes rochosos, que interagem de maneira diferente com a luz e os organismos marinhos.
Fábio Motta, professor do Laboratório de Ecologia e Conservação Marinha (LabecMar) da Unifesp e coordenador do estudo, destaca: “Os recifes rochosos na região subtropical têm uma dinâmica distinta de interação com a luz e os organismos.”
Metodologia e Resultados
O estudo foi realizado em três unidades de conservação marinhas do Estado de São Paulo: o Parque Estadual da Laje de Santos, a Área de Proteção Ambiental Marinha do Litoral Centro e a Estação Ecológica Tupiniquins. Foram analisados 12 recifes, onde os pesquisadores mediram temperatura, relevo, profundidade e propagação de luz, além de realizar inventários de espécies de peixes.
Os pesquisadores utilizaram BRUVS (filmagens subaquáticas remotas com isca) para capturar imagens em diferentes profundidades. Esses dados ajudaram a definir as fronteiras verticais do oceano, caracterizadas por uma incidência de luz reduzida e ausência de peixes herbívoros, que dependem de luz para a fotossíntese.
Os vídeos capturados foram analisados com um software que identifica espécies de peixes, permitindo a contagem, medição e estimativa de abundância relativa e biomassa. Foi constatada uma diferença de 73% na diversidade entre o ambiente mesofótico e as áreas rasas, com algumas espécies sendo mais representativas em cada faixa de profundidade.
Implicações para a Conservação
O estudo também destacou a eficácia das unidades de conservação marinhas de proteção integral. O Parque Estadual da Laje de Santos, por exemplo, apresentou uma riqueza 2,5 vezes maior e uma biomassa até oito vezes maior de espécies-alvo em comparação com áreas onde a pesca é permitida.
Embora o litoral paulista tenha a maior rede de áreas marinhas protegidas do país, com 53,7% da região costeira sob alguma forma de proteção, apenas 5,7% do território tem a pesca proibida, e ainda enfrenta a maior ocorrência de espécies marinhas ameaçadas de extinção no Brasil.
Este estudo foi premiado no início de maio durante o Encontro Recifal Brasileiro (EReBra), em Niterói (RJ), na categoria de melhor apresentação oral.
O artigo completo, Vertical structure of reef fish assemblages and light penetration reveal new boundaries of mesophotic ecosystems in the subtropical Southwestern Atlantic, está disponível para assinantes em: ScienceDirect.