Em um tranquilo bairro no sul de Los Angeles, a transformação não está nas grandes construções ou nas startups de tecnologia, mas nos jardins das casas.

De executivo a agricultor urbano
À frente dessa revolução silenciosa está Jamiah Hargins, um ex-trader do mercado financeiro que trocou o terno pelo regador e fundou a Crop Swap LA, uma organização sem fins lucrativos que transforma gramados suburbanos em microfazendas sustentáveis.
Sua virada de vida começou com o nascimento da filha. “Senti que precisava garantir o básico para minha família, começando pela comida”, diz ele. Essa decisão deu início a um movimento de resiliência urbana que se espalha pelos bairros de Los Angeles.

Das finanças para o futuro regenerativo
Hargins começou trocando alimentos com vizinhos, mas a ideia evoluiu rapidamente. “Percebi que os quintais desperdiçados podiam virar fontes de alimento, renda e conexão comunitária”, explica. Com apoio da Fundação Goldhirsh, instalou a primeira microfazenda com energia solar, captação de água da chuva e um inovador sistema de filtragem com plantas aquáticas.
Hoje, essa mesma fazenda armazena até 38 mil litros de água da chuva, metade potável, metade para irrigação. “É a única água que eu bebo”, diz ele. “Cada fazenda nossa recicla água e é 100% movida a energia solar.”
Hortas como infraestrutura urbana
A Crop Swap LA já cultiva alimentos em três microfazendas e sete nanofazendas espalhadas por escolas, igrejas e residências. A proposta é simples: comida cultivada localmente, vendida localmente. Nada vai para além de um raio de 1,5 km do ponto de origem.
Cerca de 80 famílias recebem semanalmente sacolas do programa CSA (Community Supported Agriculture). O projeto também atende moradores de baixa renda que usam o benefício alimentar do governo para pagar apenas US$ 10 por semana por alimentos frescos e nutritivos.
Além da colheita: segurança, emprego e educação
Para Hargins, o projeto vai muito além da comida. “Estamos construindo resiliência contra crises, seja fogo, fome ou desemprego. E estamos treinando moradores para liderar esse processo.”
Ele também aposta na educação infantil. Seu livro Captain Plant It, que narra as aventuras de uma cenoura super-heroína, está ajudando crianças a enxergar o potencial agrícola dos próprios bairros. “Um menino me apontou na rua e disse: ‘Olha, é o Captain Plant It’”, lembra, rindo.

Sustentabilidade financeira com propósito
Metade do orçamento da Crop Swap LA vem de doações e subsídios. A outra metade é autossustentada, com receitas de instalação de hortas, assinaturas do CSA e oficinas educacionais. Agora, Hargins quer ir além: está lançando um Fundo Patrimonial para Agricultura Urbana, com o objetivo de adquirir e proteger terras para cultivo no longo prazo.
“Nosso objetivo é chegar a 100 fazendas que alimentem 100 mil pessoas em 10 anos”, afirma.
A hora de plantar é agora
Hargins faz um apelo direto a empresas com propósito: não como caridade, mas como parceria estratégica. “Se você quer mostrar que lucro e impacto podem andar juntos, aqui está sua chance. Financie uma horta. Doe um caminhão. Patrocine um sistema de água.”
Empresas como Kellogg’s e GreenCoast Hydro já se juntaram ao movimento. Mas ele quer ver mais nomes de peso como Honda ou Rivian para ajudar a expandir esse modelo replicável de cidade jardim.
Em um mundo dominado por sistemas frágeis e extrativos, Jamiah Hargins está plantando algo novo: esperança, comida e independência no quintal de cada cidadão.








































