Conectividade sustentável no Brasil: laboratório digital da COP30


No palco de preparação para a COP30, que acontecerá em Belém do Pará, o Brasil está assumindo a ambiciosa tarefa de virar laboratório de inovação digital para a sustentabilidade — reunindo conectividade, inclusão social e tecnologia com o propósito de preservar a Amazônia. Nesse cenário, a transformação digital se torna peça-chave para articular desenvolvimento econômico, justiça social e proteção ambiental de forma interligada.

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Para o vicepresidente de Inovação da empresa Arqia, Daniel Fuchs, o país tem à frente um conjunto de 30 objetivos — delineados na chamada “Quarta Carta da Presidência da COP30” — que apontam para uma digitalização ética, inclusiva e orientada pela governança. Desses, os que mais tocam a realidade brasileira envolvem o fortalecimento de uma infraestrutura digital pública, a promoção da conectividade como instrumento de inclusão e o uso responsável de tecnologias emergentes, como a inteligência artificial.

Num território de proporções continentais como o brasileiro, ampliar a cobertura de fibra óptica, redes 5G, redes privativas e comunicações por satélite torna-se essencial para integrar comunidades até agora à margem do universo digital. Como observa Fuchs, quando uma escola em uma região remota recebe acesso de qualidade à internet, abre-se uma porta que vai muito além do simples “estar online”: trata-se de reduzir desigualdades, dar voz a territórios periféricos e preparar uma nova geração para a economia digital. Paralelamente, ele ressalta que a governança de dados e o respeito à diversidade cultural precisam caminhar lado a lado com a expansão tecnológica — o Brasil tem a chance de mostrar ao mundo que digitalização pode pautar-se pela inclusão e ética.

Os programas públicos como Wi‑Fi Brasil, Norte Conectado e Escolas Conectadas já levam internet de qualidade a regiões historicamente excluídas — especialmente na Amazônia. Essas iniciativas não apenas lançam a base física da conectividade, mas criam as condições para que aplicações de ponta – Internet das Coisas (IoT), monitoramento ambiental ou telemedicina – prosperem. Assim, conectar comunidades ribeirinhas ou escolas em áreas remotas significa conectar vidas, gerar oportunidades e apoiar compromissos climáticos, uma vez que a digitalização reduz desperdícios e eleva a eficiência em cadeias produtivas e serviços públicos.

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A chamada “infovia digital” — composta por cabos submersos, redes de fibra óptica e satélites — assume papel estratégico nesse desenho. A combinação de alta capacidade, baixa latência e alcance amplo permite que o Brasil se fortaleça na Amazônia e crie bases que associam tecnologia, natureza e desenvolvimento sustentável.

Tecnologias avançadas, como a inteligência artificial, entram no jogo com promessas ambiciosas: prever eventos climáticos extremos, otimizar o consumo de energia, reduzir emissões nas cadeias produtivas. No setor agrícola, por exemplo, algoritmos ajudam a decidir com precisão sobre irrigação, fertilizantes e logística; no ambiente urbano, modelam mobilidade, saneamento e cidades inteligentes. Mas para que esse futuro se realize de fato, é necessário que a conectividade seja estável e em larga escala — e que a governança de dados funcione com ética, transparência e respeito.

O setor privado também tem protagonismo. A plataforma Brasil de Soluções reúne 135 iniciativas de diferentes portes e segmentos que não se limitam a adotar tecnologias limpas, mas repensam processos inteiros para reduzir desperdícios e gerar valor duradouro. Esse tipo de rede conecta impacto ambiental e econômico, ajuda a escalar soluções locais e internacionaliza o know-how brasileiro.

O 5G, em especial, emerge como peça-chave da transformação digital: em agricultura, saúde, energia e transporte, a combinação de fibra óptica, IoT e 5G permite aplicações críticas como cirurgias remotas, veículos autônomos ou redes inteligentes de energia. No Brasil, mais de 11 mil provedores de internet — muitos locais — têm sido determinantes na capilaridade da digitalização, ajudando a levar conectividade a nichos regionais e a impulsionar inovação descentralizada.

Há ainda iniciativas científicas estratégicas como o experimento AmazonFACE, que une ciência e tecnologia na Amazônia. O projeto mede os efeitos do aumento de CO₂ e das mudanças climáticas sobre a maior floresta tropical do mundo, produzindo dados para orientar políticas públicas e estratégias de mitigação. Essa ciência conecta ambientes remotos, tecnologia de ponta e governança climática.

Mas os desafios permanecem. A desigualdade regional, a deficiência da infraestrutura elétrica em áreas remotas e os custos elevados de implantação dificultam o acesso à tecnologia. Além disso, não basta levar o cabo ou o sinal: é preciso capacitar as pessoas para utilizar essas tecnologias, alfabetizar digitalmente e garantir que a conectividade venha acompanhada de oportunidades. A regulação também tem que evoluir, para equilibrar privacidade, segurança de dados e inovação.

Na educação, conectar escolas significa abrir o mundo para milhões de jovens. Na saúde, significa levar telemedicina e capacitação além dos centros urbanos. Na economia, significa permitir que pequenos produtores e empreendedores acessem mercados e tecnologias que antes lhes eram inacessíveis. E os dados gerados em tempo real ajudam gestores a tomar decisões adaptadas às necessidades locais.

Para Fuchs, o legado da COP30 pode ser justamente essa: mostrar ao mundo que inclusão, inovação e sustentabilidade podem caminhar juntas. Espera-se que, ao término do evento, haja mais escolas conectadas, projetos de IoT ambiental em funcionamento e maior visibilidade internacional para soluções brasileiras. O impacto não ficará só no Brasil. O país pode inspirar outras nações a digitalizar com propósito — unindo clima, inovação e justiça social.

Com a COP30 se aproximando, o Brasil tem hoje uma oportunidade singular: provar que tecnologia não precisa ser sinónimo de exclusão ou aceleração desenfreada, mas de inclusão, preservação, transformação compartilhada. A Amazônia, ao mesmo tempo que exige cuidado, pode ser palco de uma nova era digital — mais conectada, mais justa, mais sustentável — e o Brasil pode liderar esse caminho.