Com a COP30 se aproximando e Belém se preparando para sediar um dos eventos climáticos mais importantes da década, uma nova forma de governança climática começa a ganhar forma e voz jovem, trata-se da iniciativa Town Hall COP. Promovida pelo ICLEI, que busca aproximar a agenda global do clima das realidades locais, democratizando o acesso às decisões e priorizando vozes historicamente marginalizadas.


Origem da iniciativa
Nascida a partir dos Local Stocktakes, realizados em 2023 em preparação à COP28, a iniciativa propõe um modelo descentralizado de ação climática: pequenas conferências climáticas locais, organizadas por municípios, em parceria com a sociedade civil, setor privado, juventude e comunidades locais. Em essência, é um movimento de base que tem como objetivo principal alinhar as estratégias locais com as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).
Em 2025, o protagonismo da juventude nesses espaços é notável: quase um terço das propostas de Town Hall COP são lideradas por jovens, muitos deles vinculados às Local Conferences of Youth (LCOYs), eventos nacionais organizados por jovens que alimentam o processo de elaboração da Global Youth Statement, coordenada pela YOUNGO e submetida à UNFCCC.

Juventude em destaque: do diagnóstico à formulação
Os primeiros Local Stocktakes, realizados por 26 cidades em 18 países e seis continentes, demonstraram que a juventude pode e deve ocupar o centro das decisões climáticas. Eventos liderados por jovens em Acra (Gana), Campala (Uganda) e Nairóbi (Quênia) marcaram uma inflexão: não apenas como convidados, mas como protagonistas que pautam prioridades locais e pressionam por governança adaptativa e inclusiva.
Essas conferências não foram apenas momentos de escuta, foram espaços de reivindicação por mecanismos concretos de responsabilização, adaptação rápida e inclusão de grupos vulneráveis. As propostas formuladas nesses fóruns chegaram até a COP28, ganhando visibilidade no Dia da Juventude e no Global Youth Statement.
Da conferência à publicação científica
O impacto das ações jovens foi além do ativismo. A experiência de Nairóbi resultou na publicação do artigo “Strengthening Local Climate Governance: Insights From Nairobi’s Subnational Government Stocktake”, lançado em março de 2025 na Journal of City Climate Policy and Economy. O estudo, coassinado por Karishma Asarpota (ICLEI), Juliet Oluoch (Ustawi Analytica), Emily Bolo (Universidade de Nairóbi) e Tom Randa (UNICEF), destaca como a participação comunitária fundamentada pode gerar recomendações aplicáveis a múltiplos níveis de governança.
Entre as propostas-chave do artigo estão:
- Integrar as prioridades locais aos planos nacionais;
- Coordenar atores em todos os níveis de governo;
- Compartilhar conhecimento entre cidades;
- Monitorar com rigor e transparência;
- Financiar a ação climática local, incluindo soluções lideradas por jovens.
O estudo também revela o descompasso persistente entre a formulação de políticas globais e a capacidade local de implementá-las, reiterando a urgência de uma governança climática verdadeiramente multinível.
Campinas e o “Mutirão pelo Clima”: juventude como agente de transformação
No Brasil, Campinas tornou-se exemplo de como integrar a juventude no coração da ação climática local. De 11 a 13 de junho de 2025, a cidade organizou seu
em conjunto com a 2ª Reunião Regional Sudeste do ICLEI América do Sul. O evento teve como destaque o lançamento do programa “Mutirão pelo Clima”, um chamado público para propostas lideradas por jovens com foco em adaptação e resiliência.
Inspirada pela segunda carta da Presidência da COP30, a iniciativa convocou coletivos, escolas, ONGs e associações juvenis a apresentarem ações locais contra os impactos climáticos. Essas propostas representam as chamadas “contribuições autodeterminadas” — ações voluntárias que se somam às NDCs, traduzindo ambições globais em práticas concretas no território.
Durante o painel sobre Justiça Climática, duas jovens lideranças se destacaram:
- Joana Gabriela, do Conselho Jovem do ICLEI e fundadora do projeto Mulheres que Alimentam Cidades, além de membro da Rede Brasileira de Biodiversidade e Clima (RBBC), Global Shapers e GYBN;
- Amanda Costa, fundadora da Perifa Sustentável, reconhecida por sua atuação em justiça socioambiental e periferias urbanas.
As contribuições da juventude também moldaram a Declaração de Campinas, documento final do evento que responde à convocação da Climate Task Force da Presidência da COP30. O texto reúne compromissos dos governos locais da região Sudeste com a agenda do clima e da biodiversidade, incorporando justiça, inclusão e conexão com os processos globais.

Modelo replicável: Town Halls se espalham pelo Brasil
A abordagem adotada em Campinas já começa a ser replicada em outras cidades brasileiras. O ICLEI América do Sul está articulando, com apoio de conselhos jovens, universidades, e organizações como Engajamundo e GYBN, a presença de pelo menos dois jovens painelistas e uma equipe de voluntários treinados para cada Town Hall COP no país.
Essa estrutura participativa visa garantir que a juventude esteja envolvida desde a concepção até a sistematização dos encontros, valorizando o conhecimento territorial e a capacidade organizativa das novas gerações.
Daring Cities: a juventude no centro dos debates em Bonn
Nos Diálogos de Bonn 2025, a juventude continua sendo protagonista. No dia 18 de junho, uma sessão especial sobre os Town Hall COPs trará experiências de diversos países, com destaque para James Magesa, jovem líder da LCOY Tanzânia. Ele falará sobre como a ação climática liderada por jovens pode influenciar os planos nacionais e impulsionar a cooperação multinível.
Esse ciclo de escuta, articulação e mobilização, promovido pelo Daring Cities e pelo ICLEI, reforça o objetivo de transformar os Town Hall COPs em plataformas permanentes de participação, aprendizado e incidência, ligando o local ao global.












































