Uma pesquisa recente da National Geographic e da Expedição Perpetual Planet Amazônia da Rolex, publicada na revista Nature Communications, sugere que a proteção ampliada dos manguezais brasileiros pode ser uma estratégia eficaz para o Brasil atingir suas metas de redução de emissões de carbono. O estudo, intitulado “A inclusão dos manguezais da Amazônia no programa REDD+ do Brasil”, contou com a colaboração do professor Angelo Bernardino, do Departamento de Oceanografia da Ufes e explorador da National Geographic.
O estudo revela que os manguezais brasileiros têm um potencial não explorado para a mitigação climática, sendo capazes de sequestrar cerca de 468,3 toneladas de carbono por hectare. Isso representa uma capacidade de sequestro de carbono três a vinte vezes maior do que a dos biomas de terras altas do Brasil. O estudo defende a inclusão dos manguezais brasileiros nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) do Brasil, como parte do Acordo de Paris. Além disso, sugere que esses manguezais possam ser usados no sistema voluntário de crédito de carbono para financiar a preservação das florestas através da iniciativa REDD+.
O Brasil possui o segundo maior conjunto de manguezais do mundo. No entanto, a atual estratégia nacional do REDD+ não considera a mitigação do desmatamento de manguezais no contexto de pagamentos por resultados para a redução de emissões.
Para entender melhor o potencial impacto dos manguezais e defender esses ecossistemas costeiros vitais, Bernardino e sua equipe de pesquisadores analisaram 900 amostras de solo e medidas de árvores de mais de 190 parcelas florestais. O objetivo era determinar os níveis de emissão de manguezais em áreas intactas e desmatadas perto da foz do Rio Amazonas, incluindo Sucuriju, Araguari e Bailique, e a leste, incluindo Curuçá, Maracanã e Bragança.
Bernardino, o principal autor do estudo, observa que “as metas atuais de redução de emissões do governo brasileiro não destacam os benefícios climáticos dos manguezais na Amazônia”. Ele acrescenta: “Nossas descobertas sugerem que, ao evitar a perda de apenas um hectare de manguezais, conseguimos proteger o equivalente a mais de 100 hectares de florestas secundárias de terras altas, em termos de emissões de carbono evitadas. Parar o desmatamento de manguezais no bioma da Amazônia brasileira evitaria emissões equivalentes às emitidas por mais de 200 mil carros a gasolina todos os anos. Temos uma oportunidade única de abordar essa lacuna para aprimorar os esforços de conservação do Brasil no bioma Amazônia”.