O Pará tem dado sinais de que pretende articular justiça climática, equidade racial e conservação ambiental em um mesmo horizonte de ação pública. Um exemplo foi a participação do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará (Ideflor-Bio) na Jornada para a Equidade Racial, promovida pelo Tribunal de Contas do Estado do Pará (TCE-PA). O encontro fez parte da programação do Pacto pela Equidade Racial, um compromisso firmado por instituições governamentais e organizações da sociedade civil para reduzir desigualdades históricas.

Na ocasião, o Ideflor-Bio apresentou iniciativas voltadas à valorização dos povos indígenas e comunidades tradicionais, destacando que esses grupos desempenham papel essencial não apenas na conservação da floresta, mas também na manutenção de serviços ambientais que beneficiam toda a sociedade. Para o Instituto, proteger esses territórios significa garantir água, biodiversidade e equilíbrio climático em escala local e global.
Representado pela analista ambiental Cláudia Kahwage, o Instituto levou ao debate uma contribuição inédita: a nota técnica “Atuação dos Órgãos Estaduais na Gestão Ambiental de Terras Indígenas no Pará”. O documento enfatiza a necessidade de maior articulação entre União, Estado e municípios para assegurar proteção eficaz a esses territórios, que juntos somam cerca de 30 milhões de hectares no estado. A proposta central é a criação de um Sistema Estadual de Gestão Ambiental de Terras Indígenas (Segati), que permitiria integrar esforços institucionais, garantir governança participativa e potencializar ações de monitoramento e conservação.
Ao propor o Segati, o Ideflor-Bio reforça a ideia de que a proteção das Terras Indígenas deve ser compreendida como parte de uma política pública de justiça climática e de reparação histórica. Isso porque essas áreas não apenas concentram grande diversidade biológica, mas também guardam modos de vida que, ao longo de séculos, resistiram às pressões externas e asseguraram a preservação da floresta amazônica.

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Durante sua exposição, Cláudia Kahwage convidou outras instituições a se engajarem no fortalecimento dessa agenda. A mensagem foi clara: não se trata apenas de proteger florestas, mas de assegurar direitos e dignidade a povos que historicamente têm sido os maiores defensores da natureza. Essa visão amplia o escopo da política ambiental ao conectá-la diretamente com justiça social, étnica e racial.
O Instituto também aproveitou a Jornada para destacar iniciativas voltadas às comunidades quilombolas do Pará, com ênfase na valorização da sociobiodiversidade e no apoio a projetos de desenvolvimento sustentável. Ao apresentar essas ações, o Ideflor-Bio reforçou que equidade racial e conservação ambiental caminham lado a lado, já que a proteção dos territórios tradicionais se conecta à redução das desigualdades estruturais que afetam populações historicamente marginalizadas.
Um gesto simbólico reforçou essa narrativa: a doação, à biblioteca do TCE-PA, de publicações técnicas já produzidas pelo Instituto sobre Terras Indígenas. A entrega materializou a ideia de que conhecimento é ferramenta de transformação social. Ao ampliar o acesso a dados e análises, o Ideflor-Bio busca estimular novos atores a compreenderem a relação entre povos tradicionais e conservação ambiental.
O presidente do Instituto, Nilson Pinto, destacou que a adesão ao pacto reflete o compromisso do Governo do Pará com políticas inclusivas e sustentáveis. Para ele, reconhecer o protagonismo indígena na proteção da Amazônia é condição indispensável para construir um futuro ambientalmente equilibrado. “A equidade racial e a justiça climática caminham juntas. Reconhecer o papel dos povos indígenas na conservação da floresta é reconhecer que não há futuro sustentável sem a valorização de quem historicamente protegeu esses territórios”, afirmou.
O protagonismo do Ideflor-Bio na Jornada para a Equidade Racial sinaliza um caminho que conecta diversidade cultural, gestão ambiental e justiça social. A criação do Segati, se implementada, poderá ser um marco para a governança das Terras Indígenas no Pará, permitindo que essas áreas sejam tratadas como o que de fato são: pilares de estabilidade climática e de patrimônio cultural da humanidade.
Ao assumir essa agenda, o Instituto mostra que a gestão ambiental precisa ser conduzida de forma integrada, levando em conta não apenas critérios técnicos de conservação, mas também dimensões humanas, históricas e identitárias. Em tempos de emergência climática, o Pará dá um recado: não há solução possível sem ouvir, respeitar e incluir aqueles que sempre estiveram na linha de frente da defesa da Amazônia.









































