Com cerca de 350 milhões de lâmpadas LED comercializadas anualmente no Brasil, o país enfrenta um desafio crescente: como descartar corretamente esse tipo de resíduo, que contém metais preciosos e substâncias potencialmente tóxicas.

Solução inovadora para o descarte crescente no Brasil
Pensando nisso, pesquisadores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e da empresa Tramppo Reciclagem, de Osasco (SP), uniram esforços para desenvolver uma rota de reciclagem mecanizada e sustentável para esse tipo de material.

O processo, que já gerou duas patentes registradas no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), representa um avanço significativo na economia circular e na recuperação de recursos estratégicos.
Rota automatizada reduz riscos e amplia eficiência
A proposta desenvolvida pelo IPT e pela Tramppo consiste na desmontagem física das lâmpadas LED, separando manualmente ou por meio de equipamentos cada um dos seus componentes: vidro, plástico, cerâmica, metais e elementos eletrônicos. O diferencial da nova tecnologia está no uso de um moinho autógeno — equipamento cilíndrico que desmonta a parte eletrônica das lâmpadas sem a necessidade de triturar todos os materiais finamente.
“O que criamos foi uma etapa anterior à metalurgia extrativa, baseada na separação física. Com isso, reduzimos o uso de reagentes químicos e ampliamos o aproveitamento de materiais como vidro e plástico, normalmente descartados em processos tradicionais”, explica Sandra Lúcia de Moraes, diretora do IPT e gerente do projeto.
Do laboratório à indústria
O protótipo em fase de testes opera atualmente com capacidade de processar até 500 quilos de lâmpadas por dia. A meta da Tramppo é quadruplicar essa capacidade com ajustes na linha produtiva. O vidro separado já é encaminhado para a indústria cerâmica, o plástico vai para recicladoras e os metais raros são extraídos por uma empresa estrangeira. Há planos para nacionalizar esse processo e recuperar, localmente, metais presentes nos terminais e fitas LED.

“Estamos falando de uma cadeia que envolve ouro, prata, cobre e elementos de terras-raras. Recuperar esses materiais significa reduzir nossa dependência da mineração tradicional e dos impactos ambientais associados”, afirma Carlos Alberto Pachelli, sócio-fundador da Tramppo.
Pesquisa gaúcha segue caminho semelhante
No Rio Grande do Sul, pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) também estudam rotas de reciclagem por meio do processamento mecânico. A equipe liderada pelo engenheiro químico Daniel Bertuol utiliza técnicas como moagem, separação magnética e eletrostática para desmembrar os componentes das lâmpadas.
Embora com abordagens diferentes, o grupo gaúcho não utiliza moinho autógeno nem realiza o corte prévio dos terminais, os dois estudos se complementam no objetivo de promover a reciclagem de LED de forma mais eficiente e menos agressiva ao meio ambiente.
Novos caminhos para a economia circular
O Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), também desenvolve pesquisas focadas na extração seletiva de metais críticos de resíduos de LED. De acordo com a química Larissa Oliveira Alexandre, o processo estudado no Cetem não gera efluentes líquidos e apresenta concentrações de metais como cobre, prata e ítrio superiores às encontradas em minérios naturais.

A especialista em economia circular e mineração urbana Lúcia Helena Xavier destaca a importância de etapas automatizadas de separação: “Sem isso, os processos de reciclagem perdem viabilidade econômica. O avanço do IPT e da Tramppo é uma contribuição valiosa para superar essa lacuna no Brasil”.
A expectativa dos pesquisadores é que, com a consolidação dessas tecnologias, o país possa liderar globalmente a reciclagem eficiente de lâmpadas LED, unindo sustentabilidade, inovação e valorização de resíduos.

Fonte: Pesquisa FAPESP







































