Encontrar uma lagarta devorando as folhas da sua alface ou tomate pode ser frustrante para qualquer jardineiro. O instinto imediato é pegá-la e eliminá-la para proteger a horta. Mas, antes de agir, pare e pense: essas pequenas criaturas desempenham papéis fundamentais no ciclo natural. As lagartas no jardim não são apenas futuras borboletas ou mariposas – elas também são alimento para outros animais e contribuem para a saúde do ecossistema. Neste artigo, vamos explorar por que as lagartas merecem um lugar na sua horta e como lidar com elas de forma sustentável, respondendo à pergunta: lagartas fazem bem?

Lagartas e o ciclo natural
Lagartas são a fase larval de borboletas e mariposas, pertencentes à ordem dos lepidópteros. Durante essa etapa, elas se alimentam vorazmente de folhas para armazenar energia para a metamorfose, o processo pelo qual se transformam em adultos alados. Cada lagarta que você vê na sua horta é uma futura borboleta ou mariposa, pronta para polinizar plantas ou embelezar o ambiente com suas cores vibrantes.

O ciclo de vida de uma borboleta – ovo, lagarta, pupa (crisálida) e adulto – é uma das maravilhas da natureza. Por exemplo, a lagarta da borboleta-monarca (Danus plexippus) se alimenta exclusivamente de plantas do gênero Asclepias, enquanto outras espécies, como as do gênero Heliconius, preferem maracujazeiros. Essas escolhas alimentares específicas conectam as lagartas às plantas da horta, criando um equilíbrio natural. Eliminar lagartas interrompe esse ciclo, reduzindo a população de polinizadores essenciais para a produção de frutas, legumes e sementes.
Lagartas como futuras polinizadoras
Quando uma lagarta completa sua metamorfose, ela se torna uma borboleta ou mariposa, desempenhando um papel crucial na polinização. Borboletas, como a Papilio thoas, comum em hortas tropicais, visitam flores para se alimentar de néctar, transferindo pólen de uma planta para outra. Esse processo é vital para a reprodução de muitas culturas agrícolas, como abóboras, melancias e ervas. Sem polinizadores, a produtividade da sua horta poderia diminuir significativamente.

Estudos estimam que cerca de 75% das culturas agrícolas globais dependem, pelo menos em parte, de polinizadores como borboletas. Na América do Sul, espécies como a Agraulis vanillae (borboleta-da-manjericão) ajudam a polinizar plantas ornamentais e comestíveis. Matar lagartas significa reduzir o número de borboletas no futuro, prejudicando não apenas a sua horta, mas também os ecossistemas locais.
Alimento para a cadeia alimentar
Lagartas são uma fonte essencial de alimento para muitos animais. Pássaros, como joões-de-barro e bem-te-vis, dependem delas para alimentar seus filhotes. Répteis, como lagartixas, e até pequenos mamíferos, como morcegos insetívoros, consomem lagartas regularmente. Até mesmo outros insetos, como vespas parasitoides, utilizam lagartas como hospedeiras para suas larvas, ajudando a controlar populações de pragas de forma natural.

Em uma horta equilibrada, a presença de lagartas atrai predadores naturais que mantêm outras pragas sob controle. Por exemplo, uma lagarta pode atrair um pássaro que também come pulgões ou gafanhotos, reduzindo a necessidade de pesticidas químicos. Ao eliminar lagartas, você pode romper essa cadeia alimentar, desequilibrando o ecossistema da sua horta e favorecendo o aumento de outras pragas.
Os danos das lagartas: mito ou realidade?
É verdade que algumas lagartas podem causar danos visíveis, comendo folhas de plantas cultivadas. No entanto, na maioria dos casos, esses danos são menos graves do que parecem. Plantas saudáveis têm uma capacidade notável de se recuperar de perdas moderadas de folhagem. Além disso, muitas lagartas são específicas, alimentando-se apenas de certas plantas. Por exemplo, a lagarta da borboleta-couve (Pieris brassicae) prefere brócolis e couve, mas raramente destrói uma horta inteira.
Em vez de matar lagartas, considere estratégias de manejo sustentável. Plantar espécies variadas pode atrair lagartas para plantas menos valiosas, como ervas silvestres, enquanto protege suas culturas principais. Outra técnica é usar barreiras físicas, como telas de proteção, para evitar que lagartas cheguem às plantas mais sensíveis. Essas abordagens mantêm o equilíbrio natural sem prejudicar a biodiversidade.
Lagartas e a biodiversidade da horta
Uma horta com lagartas é um sinal de saúde ecológica. A presença dessas criaturas indica que o ambiente é diverso o suficiente para sustentar diferentes formas de vida. Hortas monoculturais, com apenas uma ou duas espécies de plantas, são menos atrativas para borboletas e outros insetos benéficos. Já uma horta com flores, ervas e plantas nativas cria um habitat acolhedor para lagartas no jardim, promovendo a biodiversidade.
Por exemplo, plantar manjericão, girassóis ou margaridas pode atrair borboletas adultas para colocar seus ovos, enquanto ervas como salsa e coentro são favoritas de algumas lagartas. Essas plantas também atraem outros polinizadores, como abelhas, que aumentam a produtividade da horta. Uma horta diversa não apenas é mais resiliente a pragas, mas também oferece um espetáculo visual com a chegada de borboletas coloridas.
Como conviver com lagartas na horta?
Se você quer proteger sua horta sem matar lagartas, aqui estão algumas dicas práticas:
- Plante diversidade: Inclua plantas nativas e flores que atraiam borboletas e predadores naturais, como calêndulas e lavandas.
- Use barreiras: Telas de tule ou redes finas podem proteger culturas específicas sem prejudicar lagartas.
- Monitore com cuidado: Verifique regularmente sua horta e remova lagartas manualmente, realocando-as para plantas menos importantes, se necessário.
- Evite pesticidas químicos: Eles matam não apenas lagartas, mas também outros insetos benéficos, como abelhas e joaninhas.
- Eduque-se: Aprenda a identificar lagartas comuns na sua região. Algumas, como as da borboleta-monarca, são protegidas e essenciais para a conservação.
Outra ideia é criar um “canteiro de borboletas” em um canto da horta, com plantas hospedeiras específicas, como o maracujá para Heliconius ou o capim-limão para outras espécies. Isso atrai lagartas para longe das suas culturas principais, mantendo o equilíbrio.
Por que lagartas fazem bem?
A pergunta “lagartas fazem bem?” tem uma resposta clara: sim, elas são essenciais para a saúde do ecossistema. Além de se tornarem polinizadores, as lagartas sustentam a cadeia alimentar e promovem a biodiversidade. Proteger essas criaturas é uma forma de investir na resiliência da sua horta e na conservação da natureza. Como disse a bióloga Rachel Carson, “a natureza não opera em compartimentos separados; tudo está interligado”.

Da próxima vez que encontrar uma lagarta na sua horta, resista à tentação de eliminá-la. Veja-a como uma aliada, uma promessa de borboletas e um sinal de que sua horta está viva. Para aprender mais sobre como criar uma horta amigável à biodiversidade, confira recursos do Embrapa ou do Fundo Amazônia.
Você já encontrou lagartas na sua horta? Como lida com elas? Compartilhe suas experiências nos comentários ou nas redes sociais e ajude a espalhar a importância de proteger esses pequenos elos da natureza!


































