Sabesp (SBSP3) é Privatizada por R$ 14,8 Bilhões

Autor: Redação Revista Amazônia

 

Nesta quinta-feira, 18 de julho, foi concluída a maior oferta de ações da história do setor de saneamento no Brasil, marcando a privatização da Sabesp (SBSP3), que arrecadou um total de R$ 14,8 bilhões. Desse montante, a Equatorial (EQTL3) desembolsará R$ 6,9 bilhões pela aquisição de 15% do capital da empresa, ao preço de R$ 67 por ação. O restante foi arrecadado por meio de uma oferta global que atraiu 310 investidores institucionais.

No total, foram vendidas 191,7 milhões de ações da Sabesp, além de um lote adicional de 28,7 milhões, todas ao mesmo preço de R$ 67 por ação.

A demanda total pelo mercado pelas ações da Sabesp atingiu R$ 187 bilhões, um recorde para uma oferta pública no Brasil, conforme antecipado pelo Estadão/Broadcast. Contudo, esse número está inflado, pois muitos investidores solicitaram mais ações do que pretendiam comprar, prevendo um rateio no final. Isso gerou uma valorização das ações da Sabesp na B3, que fecharam cotadas a R$ 82 na quarta-feira.

Do total da demanda, 53% vieram de investidores estrangeiros – fundos da Ásia, Europa, Oriente Médio e Estados Unidos – e o restante de gestoras locais. Segundo agentes do mercado, a demanda foi puxada por fundos de infraestrutura que investem em água, utilities (prestadoras de serviços em energia e saneamento) e que adotam práticas sustentáveis (ESG).

Para atrair esses investidores, o governador Tarcísio de Freitas e a secretária de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, Natália Resende, realizaram roadshows nos EUA, Londres, Zurique, Miami, Paris e Genebra. No Brasil, os encontros ocorreram em São Paulo e no Rio de Janeiro, com a participação de cerca de 270 investidores (140 locais e 130 internacionais).

Em fevereiro de 2023, a gestão de Tarcísio de Freitas iniciou os estudos para o processo de desestatização. Em dezembro, o projeto de lei para a privatização da Sabesp foi aprovado, iniciando um processo de preparação que durou quase oito meses. Com a venda concluída, a participação do governo paulista no capital da Sabesp caiu de 50,3% para 18%.

Solenidade na B3

A liquidação das ofertas de compra ocorrerá na próxima segunda-feira, 22 de julho, na B3, com uma solenidade que marcará a privatização da Sabesp, com a presença do governador Tarcísio de Freitas e da secretária Natália Resende, além de representantes dos bancos coordenadores da operação.

A oferta de ações da Sabesp teve como coordenador principal o BTG Pactual, com participação de Itaú BBA, Citi, Bank of America e UBS BB. Bradesco BBI, Goldman Sachs, JPMorgan, Morgan Stanley, JSafra, Santander e XP também participaram.

Críticas e Manifestações

O processo de privatização foi alvo de muitas manifestações e críticas. Nos últimos meses, ocorreram protestos na sede da Equatorial e em câmaras de vereadores de várias cidades, inclusive São Paulo, durante as votações para aprovação do processo. Partidos de esquerda, como PT, PV, Rede, PSOL e PCdoB, entraram com ações na Justiça e no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a venda da estatal.

Um dos principais argumentos dos opositores é que a Sabesp está sendo vendida a um preço baixo. A Equatorial, única empresa a apresentar oferta para ser investidora de referência, propôs R$ 67 por ação, valor abaixo das cotações de mercado na época e ainda mais distante das atuais. Recentemente, a ação da Sabesp atingiu a máxima histórica de R$ 85, recuando para R$ 82 ontem – ainda 20% acima do preço oferecido pela Equatorial.

Investimentos e Restrições

A desestatização da Sabesp prevê um compromisso de investimentos de cerca de R$ 70 bilhões até 2029 para a universalização dos serviços de água e esgoto no Estado de São Paulo. A Equatorial também está restrita de investir em áreas concorrentes à Sabesp e não poderá vender suas ações até lá. Além da Equatorial, outras empresas, como IG4, Veolia, Aegea, Cosan, Brookfield e Votorantim, chegaram a avaliar a participação na privatização.

Para pagar os R$ 6,9 bilhões ao governo de São Paulo, a Equatorial obteve um empréstimo-ponte com quatro bancos, com prazo de 18 meses. Paralelamente, emitiu notas comerciais, liquidadas na última terça-feira, 16, que serão usadas como garantia para os empréstimos. Itaú BBA, Safra, UBS BB e Bradesco BBI participaram dessa emissão.

Capacidade de Gestão

A Equatorial, única empresa a fazer uma proposta para ser acionista de referência, se consolidou nos últimos 25 anos no setor de energia elétrica. Atualmente, possui 7 distribuidoras, 3 mil quilômetros de linhas de transmissão e negócios em energias renováveis. A entrada no saneamento ocorreu há apenas dois anos, com a concessão da CSA, no Amapá, por R$ 930 milhões.

A aquisição de 15% do capital da Sabesp representa um grande avanço na atuação da Equatorial nesse setor. Como acionista de referência, a Equatorial terá direito a indicar o presidente e os diretores da Sabesp, além de três assentos no conselho de administração. O governo paulista indicará outros três nomes e mais três serão conselheiros independentes.

A Equatorial é o terceiro maior grupo de distribuição de energia do país em número de clientes, atendendo mais de 10 milhões de consumidores. Em 2023, faturou cerca de R$ 40 bilhões, com lucro consolidado de R$ 2,8 bilhões. Com capital pulverizado, a empresa não tem um controlador definido, sendo seus principais acionistas os fundos Opportunity (6,3%), Atmos (5,7%) e Capital World Investors (5,2%).

Embora tenha pouca experiência em saneamento, o mercado vê a operação como positiva tanto para a Equatorial, conhecida por sua capacidade de gestão, quanto para a Sabesp, com sua operação consolidada no setor.


Edição atual da Revista Amazônia

Assine nossa newsletter diária