Segurança alimentar e preservação ambiental
Em meio à crise climática, a produção de alimentos sustentáveis tornou-se uma prioridade global, especialmente considerando que 2,3 bilhões de pessoas enfrentam algum nível de insegurança alimentar e 735 milhões passam fome. Este cenário foi discutido por pesquisadores durante a mais recente edição do Ciclo ILP-FAPESP de Ciência e Inovação, realizada virtualmente em 3 de junho.
Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP, destacou na abertura do evento que segurança alimentar e sustentabilidade são temas recorrentes em conferências internacionais e fazem parte das negociações da Conferência do Clima da ONU. Ele enfatizou a importância do Brasil como um grande produtor agrícola global que contribui para a redução da fome, mas que enfrenta pressões para adotar práticas sustentáveis.
Antonio Marcio Buainain, professor do Instituto de Economia da Unicamp, lembrou que por décadas a fome foi vista principalmente como um problema de oferta de alimentos. Ele citou Josué de Castro, um dos fundadores da FAO, que em 1946 já apontava a coexistência de fome e abundância em seu livro “Geografia da Fome”. Buainain argumentou que a fome é um problema multifatorial, incluindo acesso aos alimentos e situações de guerra ou desastres, como os recentes no Rio Grande do Sul.
Regina Aparecida Leite de Camargo, professora da Unesp em Jaboticabal, apresentou o conceito de sindemia global, que relaciona alimentação, saúde e meio ambiente, manifestando-se como desnutrição, obesidade e mudanças climáticas. Ela destacou que é vergonhoso que ainda existam 735 milhões de pessoas passando fome e 2,3 bilhões em insegurança alimentar, além de um aumento significativo no sobrepeso desde 1990.
Sustentabilidade na Produção Agrícola
Com o crescimento da população e da demanda por alimentos, a importância da ação humana na mudança climática tornou-se evidente. José Roberto Postali Parra, professor da Esalq-USP, destacou o papel do controle biológico de pragas como uma solução sustentável. Ele dirige o Centro de Excelência em Controle Biológico (SparcBio), uma parceria entre a FAPESP e a Koppert Biological Systems.
Parra explicou que o Brasil, líder em agricultura tropical, desenvolveu suas próprias tecnologias de controle biológico para regiões tropicais, adaptadas à realidade local. Atualmente, existem 695 produtos biológicos registrados, um número ainda inferior aos 3.700 produtos químicos registrados.
Ele ressaltou que, embora o controle biológico tenha se profissionalizado e crescido nos últimos anos, ainda é mais comum em grandes propriedades. O objetivo é que essas tecnologias se tornem acessíveis também para pequenos produtores no futuro.
O evento contou com a participação de Natacha Jones, diretora-executiva do ILP, e do deputado estadual Itamar Borges, presidente da Comissão de Atividades Econômicas da Assembleia Legislativa de São Paulo.
O debate completo está disponível no link: Assista ao debate.