Califórnia proíbe oficialmente o uso da maioria dos recipientes de isopor


A partir de 1º de janeiro, a Califórnia proibiu oficialmente o uso de recipientes de isopor em grande parte do estado, como parte de seus esforços para combater a poluição plástica. O poliestireno expandido, o nome técnico do isopor, é um dos plásticos mais difíceis de reciclar, e essa medida visa reduzir seu impacto ambiental, especialmente considerando que ele se fragmenta em microplásticos, prejudicando o meio ambiente e a vida marinha.

Eliminar 3,9 bilhões de peças de isopor/ano

Anja Brandon, diretora de política de plásticos da Ocean Conservancy, destacou que a proibição pode resultar na eliminação de até 3,9 bilhões de peças de isopor por ano. O foco da medida está nos impactos ambientais causados pela espuma de poliestireno, que é levada por correntes marítimas e se espalha por grandes distâncias, criando um problema de resíduos praticamente incontrolável.

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A proibição foi estabelecida pela Lei de Prevenção da Poluição Plástica e Responsabilidade do Produtor de Embalagens da Califórnia (SB 54), sancionada em 2022, que exige que as empresas comprovem que pelo menos 25% de seus produtos de isopor sejam reciclados – uma meta praticamente impossível, pois menos de 1% do poliestireno é realmente reciclado, conforme dados da Agência de Proteção Ambiental (EPA). Como resultado, essa exigência acabou se transformando de fato em uma proibição, forçando as indústrias a buscar alternativas mais ecológicas.

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Objetivo da legislação

O senador Ben Allen, autor da legislação, explicou que o objetivo não é proibir produtos, mas garantir que as opções no mercado atendam a critérios de reciclabilidade, sustentabilidade e viabilidade ambiental. Allen e outros legisladores acreditam que o poder econômico da Califórnia pode influenciar mudanças em indústrias não apenas nos EUA, mas globalmente, dada a importância do estado no comércio mundial.

Apesar de sua leveza e praticidade, o isopor tem um grande impacto ambiental ao longo de seu ciclo de vida. Sua reciclagem é difícil e ineficiente devido à grande quantidade de material necessária para formar um volume reciclável significativo. Além disso, os resíduos de isopor frequentemente acabam nos oceanos, onde se desintegram em microplásticos, representando uma ameaça invisível, mas grave, para o meio ambiente e a saúde humana.

Ocean Conservancy

Brandon, da Ocean Conservancy, ressaltou que existem alternativas mais eficientes e menos prejudiciais, como materiais reutilizáveis ou recicláveis, que poderiam substituir o isopor. Dados da organização mostram que os itens de espuma estão consistentemente entre os 10 principais resíduos encontrados em limpezas costeiras internacionais, embora representem uma pequena parcela do uso geral de plásticos.

A proibição da Califórnia segue um precedente positivo observado em Maryland, o primeiro estado a adotar uma medida semelhante, onde as limpezas de praia revelaram uma redução de 65% nos resíduos de isopor. Isso demonstra que políticas como essa têm um impacto direto na redução da poluição plástica nos oceanos.

No entanto, nem todos os setores da indústria estão satisfeitos com a nova legislação. A Dart Container, um dos maiores fabricantes de produtos de poliestireno, anunciou uma redução em suas operações no estado, citando as dificuldades em cumprir os novos padrões de reciclagem. O CEO da empresa, Keith Clark, afirmou que a empresa está ajustando suas operações para atender à demanda por soluções alternativas.

Tendência das indústrias

Por outro lado, a tendência na indústria como um todo está se inclinando para a eliminação de materiais problemáticos. Erin Simon, do World Wildlife Fund, sublinhou que a remoção gradual de produtos como o isopor é uma prioridade para reduzir os impactos ambientais mais graves. Jonathan Quinn, CEO do US Plastics Pact, reforçou que mais de 100 organizações estão trabalhando para criar um plano que exclua materiais prejudiciais, como o poliestireno, das cadeias de suprimentos.

Exemplo da Califórnia para o mundo

A proibição na Califórnia também promete impulsionar esforços globais para combater a poluição plástica. A Organização das Nações Unidas (ONU) está em negociações para um tratado global sobre resíduos plásticos, e defensores como Brandon acreditam que as ações em nível estadual podem acelerar a adoção de práticas mais sustentáveis nas indústrias, muitas vezes mais rapidamente do que acordos internacionais.

Com outros 10 estados e mais de 100 cidades nos EUA também implementando proibições ou restrições ao isopor, a Califórnia pode se tornar um modelo para o que muitos esperam ser o padrão mundial no enfrentamento da poluição por plásticos de uso único.


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