Açúcar Natural: Um Lobo em Pele de Cordeiro?

Autor: Redação Revista Amazônia

A frutose, conhecida como o “açúcar natural das frutas”, tem sido associada a uma série de problemas de saúde quando consumida em excesso. Este monossacarídeo não é apenas encontrado nas frutas, mas também compõe o xarope de milho, um ingrediente comum em muitos alimentos processados e bebidas. De fato, a frutose adoça entre 20% e 80% mais do que a glicose pura.

O Impacto da Frutose na Saúde

Pesquisadores brasileiros publicaram recentemente um estudo no International Journal of Obesity, que revelou que filhos de pais que consomem frutose em excesso podem desenvolver precocemente distúrbios nos sistemas nervoso autônomo, cardiovascular e metabólico. Isso aumenta o risco de desenvolverem doenças crônicas, como diabetes e obesidade, na fase adulta.

Os resultados confirmam dados da literatura científica relacionados ao surgimento de distúrbios metabólicos – como níveis elevados de triglicérides (a partir de 150 mg/dL) e resistência à insulina – em descendentes de pais com consumo excessivo de frutose. Além disso, a prole apresentou aumento da pressão arterial e um comprometimento na sensibilidade do barorreflexo, um mecanismo de regulação fisiológica do sistema cardiovascular que ajuda a manter a pressão arterial dentro dos limites considerados normais.

A Epidemia de Obesidade

O consumo excessivo de frutose tem sido associado às altas taxas de sobrepeso e obesidade na população mundial, incluindo crianças. Estima-se que mais da metade da população global – o que representa cerca de 4 bilhões de pessoas – estará acima do peso ou com obesidade até 2035 caso não sejam adotadas ações significativas para conter o problema.

No Brasil, a estimativa é de que 41% dos adultos tenham obesidade nos próximos 12 anos. Atualmente, esse percentual é de 17,1%, segundo o Covitel 2023 (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), do Ministério da Saúde. Dados da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) apontam que entre 60% e 90% dos portadores da doença estejam também com obesidade, sendo que a incidência é maior após os 40 anos.

A Importância da Prevenção

“A medicina trabalhou durante muitos anos somente apagando incêndio, atuando quando a doença já estava instalada. Hoje temos elementos e estudos científicos que contribuem para uma medicina preventiva. Estamos com uma bomba-relógio para as próximas gerações caso não haja avanço nesse tipo de prevenção”, avalia a fisiologista Kátia De Angelis, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e autora correspondente do artigo.

Segundo a pesquisadora, o estudo reforça a importância do sistema nervoso autônomo (SNA) na regulação de várias funções corporais, podendo ser um sinalizador para detectar precocemente a propensão de crianças a desenvolver esses tipos de doença na fase adulta.

É claro que o consumo excessivo de frutose não é o único fator para a obesidade, mas veio acompanhado das tendências de crescimento do acúmulo de sobrepeso e obesidade na população. Portanto, é crucial que medidas preventivas sejam tomadas para combater essa epidemia de obesidade. A Associação Americana do Coração (AHA) recomenda limitar a ingestão de açúcar a 100 calorias por dia para mulheres (equivalente a 26 gramas) e 150 calorias para homem (39 gramas) para uma dieta saudável.


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