Estudantes indígenas debatem justiça climática e direitos humanos em Manaus

A capital amazonense recebe o XII Encontro Nacional dos Estudantes Indígenas, um evento crucial para fortalecer o protagonismo indígena e valorizar as ciências ancestrais na busca por um futuro mais justo e sustentável.


A cidade de Manaus, coração da Amazônia, prepara se para um evento de inestimável importância: o XII Encontro Nacional dos Estudantes Indígenas, conhecido como ENEI. De cinco a oito de agosto de 2025, o Centro de Convenções Vasco Vasques será o epicentro de discussões vitais sobre Justiça Climática e Direitos Humanos, com um foco particular nas ciências indígenas como um elo essencial para o equilíbrio entre a humanidade e o mundo terrestre.

XII

Este encontro transcende a mera reunião; ele se configura como um grito potente, um convite irrecusável à reflexão sobre o papel insubstituível dos saberes ancestrais na construção de um futuro mais harmonioso.

O despertar do protagonismo indígena

A organização do ENEI 2025 é um testemunho da força e da articulação do movimento estudantil indígena.

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Liderado pelo Movimento dos Estudantes Indígenas do Amazonas MEIAM, com o apoio fervoroso de estudantes de todo o país, da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Amazonas APIAM e do Fórum de Educação Escolar e Saúde Indígena FOREEIA. O evento conta ainda com o suporte institucional de pesos pesados como a Universidade do Estado do Amazonas UEA, a Universidade Federal do Amazonas UFAM e a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira COIAB. Essa colaboração multifacetada é a própria materialização do espírito de rede que permeia o encontro, unindo movimentos estudantis regionais e redes de pesquisa em um propósito comum.

O objetivo primordial do ENEI é inequívoco: impulsionar o protagonismo indígena no ensino superior e abrir um vasto e fértil campo para um debate público, científico e intercultural sobre temas que nos tocam a todos. Justiça climática, direitos humanos e a valorização das ciências indígenas não são apenas palavras da moda; são pilares para a edificação de uma resistência vibrante e a construção de um bem viver coletivo, uma filosofia que nos remete à conexão intrínseca entre o ser humano e a natureza. As inscrições para participação podem ser feitas no link do evento.

Saberes ancestrais para um futuro sustentável

O manifesto lançado pela organização do ENEI ressoa como um chamado à ação, uma reiteração veemente da crença inabalável nos saberes ancestrais como a mais promissora das soluções para a intrincada crise climática. “As ciências indígenas oferecem soluções únicas para os desafios da crise climática e das desigualdades sociais”, pontua o documento, com uma clareza que desarma qualquer ceticismo.

Mais do que um encontro, o ENEI é “uma convocação ao reconhecimento dos saberes ancestrais como pilares de um futuro mais justo e sustentável”. É um lembrete contundente de que a sabedoria acumulada por milênios em harmonia com a terra detém as chaves para desvendar os complexos nós do presente.

Um mergulho em pautas essenciais

A programação do XII ENEI foi concebida para ser um mosaico de temas urgentes e inovadores. Desde o aprofundamento nas ciências indígenas até a discussão de políticas públicas para a permanência indígena no ensino superior, cada tópico foi cuidadosamente selecionado para instigar o pensamento crítico e a troca de experiências.

A intercientificidade será explorada como uma ponte entre diferentes mundos do conhecimento, enquanto o racismo institucional será confrontado em sua brutalidade. A descolonização dos saberes é um convite à revisão de paradigmas arraigados, e a construção das universidades indígenas no Brasil aponta para um futuro onde a educação se ergue sobre alicerces culturalmente enraizados.

O formato do evento é tão rico quanto seu conteúdo. Conferências temáticas proporcionarão visões aprofundadas, enquanto mesas redondas e rodas de conversa abrirão espaço para o diálogo horizontal e a construção coletiva de ideias. Apresentações de trabalhos acadêmicos demonstrarão a efervescência da produção intelectual indígena, e lançamentos de livros e documentários trarão novas perspectivas e narrativas.

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A feira de artesanato indígena e a mostra de audiovisual indígena celebrarão a riqueza cultural e artística dos povos originários, enquanto as atividades culturais com danças, cantos, rituais e culinária tradicional prometem uma imersão completa na vibrante herança dos participantes. A presença de lideranças indígenas locais e nacionais, artistas convidados, pesquisadores reconhecidos e representantes de instituições de ensino superior garante um intercâmbio de saberes e experiências de alto nível, enriquecendo o debate e fortalecendo as redes de colaboração.

Reconhecimento e legado

O ENEI 2025 não apenas olha para o futuro, mas também honra o passado e aqueles que pavimentaram o caminho. Duas premiações de grande significado serão entregues: o Prêmio Cris Baré, uma homenagem à advogada Cristiane Soares Baré, uma líder indígena de destaque do povo Baré, do Alto Rio Negro Amazonas, que nos deixou em julho de 2024. Sua memória será eternizada como um farol de luta e resistência.

O II Prêmio Ornaldo Sena reconhecerá trabalhos acadêmicos e iniciativas de destaque produzidos por estudantes indígenas, celebrando o legado de Ornaldo Baltazar Sena Ibã, um médico indígena da etnia Huni Kuin Acre, que teve um papel ativo e inesquecível no movimento estudantil indígena e que faleceu em setembro de 2024. Essas homenagens são mais do que simples reconhecimentos; são a afirmação de que a luta e a dedicação desses líderes ecoam e inspiram as novas gerações.

Lema

O lema que inspira o encontro, “Posso ser quem você é, sem deixar de ser quem sou”, sintetiza a essência do ENEI: a busca incansável por pontes entre diferentes saberes e culturas, sem que isso signifique a perda da própria identidade. É um chamado à compreensão mútua, ao respeito e à celebração da diversidade. Ao reconhecer a contribuição única das ciências indígenas para a crise climática e as desigualdades sociais, o ENEI reafirma que a solução para os desafios globais reside, em grande parte, na escuta atenta e na valorização das vozes ancestrais, que nos lembram de nossa interdependência com a natureza e com uns aos outros.

Este evento em Manaus não é apenas um encontro de estudantes; é um marco na história da luta indígena, um farol de esperança que ilumina os caminhos para um futuro mais equitativo e resiliente. É a Amazônia, com sua biodiversidade e seus povos guardiões, oferecendo ao mundo um modelo de sabedoria e coexistência. Mais informações podem ser acessadas nesse link.