Tecnologia aérea revela na Amazônia o maior ninhal de tartarugas do mundo


A vasta e misteriosa Amazônia, guardiã de segredos incalculáveis, acaba de revelar um de seus mais impressionantes tesouros: o local de maior desova de tartarugas da Amazônia, a Podocnemis expansa, em todo o mundo. Essa descoberta monumental, fruto de um estudo inovador publicado na prestigiada revista científica Journal of Applied Ecology, promete redefinir as estratégias de conservação para esses répteis imponentes, que atualmente enfrentam o espectro da extinção. A contagem precisa de indivíduos de uma espécie é o alicerce de qualquer esforço de proteção, e essa pesquisa traz à luz uma metodologia que pode ser um divisor de águas.

Amazônia

Drones Desvendam o Maior Berçário de Tartarugas do Planeta

 

A Podocnemis expansa, uma espécie de grande porte que pode ultrapassar os 90 centímetros de comprimento e os 59 quilos, habita o majestoso rio Amazonas e seus afluentes. Sua existência, contudo, é uma luta constante contra a perda de habitat, a poluição crescente, a construção de represas e, de forma ainda mais cruel, a caça. A demanda por sua carne e ovos no mercado ilegal tem sido uma das maiores ameaças à sua sobrevivência.

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Desova de tartarugas – Fonte: 18 Horas

 

É nesse cenário desafiador que a nova pesquisa, liderada pela Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, em colaboração com pesquisadores do Brasil e da Bolívia, surge como um sopro de esperança. Ao empregar uma técnica inovadora com drones para mapear e contabilizar esses animais no Rio Guaporé, na região amazônica que se estende entre a Bolívia e o Brasil, o estudo não apenas confirmou a grandiosidade da desova, mas também apontou o caminho para uma conservação mais eficaz.

Drones, Imagens e um Toque de Engenhosidade

 

Desde 2024, a equipe de pesquisadores da Universidade da Flórida tem utilizado drones para a desafiadora tarefa de mapear e contabilizar a população de tartarugas. Essa tecnologia aérea, por si só um avanço, foi aliada a uma técnica inovadora conhecida como ortomosaico. Nesse processo, centenas de imagens aéreas de alta resolução capturadas pelo drone são cuidadosamente sobrepostas, criando um mapa detalhado que permite estimar a quantidade de animais no ambiente com uma precisão sem precedentes. Ismael Brack, ecologista da Universidade, explica que a metodologia desenvolvida para a contagem de tartarugas não se limita a essa espécie; ela pode ser aplicada com sucesso a outras espécies que enfrentam desafios semelhantes de monitoramento.

No entanto, a eficiência da técnica do ortomosaico não era absoluta. O movimento constante das tartarugas representava um obstáculo, levando à contagem de um mesmo indivíduo mais de uma vez e introduzindo uma margem de erro. A solução para essa defasagem foi surpreendentemente simples, mas notavelmente eficaz: tinta branca. Não, não era uma licença poética, mas uma ferramenta prática. Os pesquisadores marcaram os cascos de 1.187 tartarugas da Amazônia com um material não tóxico. Por um período de 12 dias, um drone sobrevoou o Rio Guaporé, realizando quatro viagens diárias de ida e volta, capturando cerca de 1.500 fotos por dia. Com o auxílio de um software especializado e modelos estatísticos avançados, os estudiosos puderam analisar as imagens com maior precisão, identificando padrões de comportamento e movimentação das tartarugas.

Inicialmente, as contagens variavam drasticamente, de 16 mil a 79 mil indivíduos. Contudo, com a aplicação dos métodos aprimorados da equipe, a estimativa se tornou muito mais precisa: aproximadamente 41 mil tartarugas. Esse número não apenas confere ao local o título de “maior desova de tartarugas do mundo”, mas também fornece uma base sólida para futuras ações de conservação. Agora, o próximo passo ambicioso dos cientistas é expandir esses estudos para outros países da América do Sul e continuar aprimorando o uso de drones no monitoramento da vida selvagem.

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O Imperativo da Contagem: Por Que Isso Importa

 

A importância de uma contagem precisa de indivíduos em uma espécie não pode ser subestimada. Como ressaltou o ecologista Ismael Brack: “Se os cientistas não conseguirem estabelecer uma contagem precisa dos indivíduos de uma espécie, como saberão se a população está em declínio ou se os esforços para protegê la estão sendo bem sucedidos?” Essa questão retórica sublinha a urgência e a relevância de pesquisas como esta. Sem dados confiáveis sobre o tamanho e a dinâmica populacional, as estratégias de conservação são meras conjecturas, sem a base científica necessária para garantir sua eficácia.

A descoberta da maior desova de tartarugas da Amazônia e a metodologia inovadora empregada pelos pesquisadores representam um farol de esperança. Ao armar os conservacionistas com ferramentas mais precisas e eficientes para monitorar essas populações, a pesquisa abre um novo caminho para a proteção de espécies ameaçadas. É um lembrete contundente de que a tecnologia, quando aliada ao conhecimento científico e a um profundo compromisso com a biodiversidade, pode ser uma força poderosa para o bem, ajudando a desvendar os mistérios da natureza e a garantir um futuro para suas mais preciosas criaturas. A Amazônia, mais uma vez, nos surpreende e nos convida a redobrar nossos esforços em sua defesa, agora com uma visão mais clara e promissora do que nunca.