Macapá começou a ganhar contornos de um novo polo de inovação na Amazônia. Uma comitiva da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) esteve na capital amapaense para acompanhar de perto projetos que unem pesquisa, bioeconomia e tecnologia, como parte da Jornada de Integração Regional e Interiorização do Desenvolvimento. As visitas, realizadas na quinta-feira (21), percorreram desde obras estruturantes até startups que apostam em insumos locais para gerar produtos de alto valor agregado.
O destaque foi o Parque de Inovação Tecnológica do Amapá, batizado de Foz Amazonas Tech Park, que será o primeiro do estado. Instalado em um antigo hotel, o espaço de 13 mil m² abrigará empresas de base tecnológica, aceleradoras, incubadoras, universidades e institutos de ciência. A obra, financiada pelo governo estadual com apoio de R$ 8 milhões da Finep, tem entrega prevista para novembro de 2025. O objetivo é que o parque seja credenciado pelo CAPDA (Comitê de Atividades de Pesquisa da Amazônia), garantindo acesso a recursos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I).
“É importante estarmos próximos dessas iniciativas para entender como podem se integrar ao ecossistema regional. O credenciamento abrirá portas para novos investimentos e consolidação do Amapá como ator relevante em PD&I”, afirmou Luiz Frederico Aguiar, superintendente adjunto Executivo da Suframa.
Bioeconomia em movimento
A agenda também mostrou como a bioeconomia tem se transformado em vetor de inovação no estado. A empresa Amazon Cure anunciou que receberá R$ 7,9 milhões do Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio) para desenvolver dois projetos farmacêuticos. O primeiro, voltado a produtos cicatrizantes para tratamento de feridas diabéticas, usará insumos florestais e receberá R$ 4,1 milhões. O segundo, de R$ 3,8 milhões, investirá em soluções de saúde sexual a partir do jambu, planta tradicional da Amazônia.
Outro exemplo é a Yara Couro da Amazônia, startup que lidera a implantação do primeiro curtume verde da região. Com R$ 2 milhões de recursos do PPBio, a empresa já processa 90 quilos semanais de pele de peixe para produzir couro e acessórios, envolvendo 21 famílias fornecedoras. O projeto inclui ainda biodigestores comunitários para aproveitamento integral dos resíduos, articulando sustentabilidade ambiental e inclusão produtiva.
O roteiro foi concluído no Senai Amapá, onde os visitantes conheceram laboratórios de alimentos e biotecnologia. O primeiro desenvolve produtos como pães e geleias à base de insumos amazônicos; o segundo, ainda em fase de credenciamento no Capda, mira aplicações em biotecnologia com foco regional. Para Jane Palmerim, coordenadora de Inovação e Tecnologia do Senai, a aproximação com a Suframa fortalece a conexão entre ensino, pesquisa e indústria.
Um ecossistema em formação
Para Waldenir Vieira, superintendente-adjunto de Desenvolvimento e Inovação Tecnológica da Suframa, os exemplos visitados refletem o potencial do Amapá em consolidar um ecossistema de inovação conectado à Amazônia e ao Brasil. “O estado reúne condições de integrar empresas, startups e instituições em soluções que podem gerar impacto tecnológico e econômico duradouro”, afirmou.
A Jornada segue nesta sexta-feira (22) com painéis sobre incentivos fiscais, uso de matéria-prima regional em projetos da Suframa, soluções de crédito do Banco da Amazônia e políticas de PD&I. Também estão previstas apresentações de cases de sucesso em bioeconomia, indústria 4.0 e empreendedorismo inovador.
Mais do que um roteiro técnico, a programação deixa claro que Macapá busca se reposicionar no mapa da inovação amazônica. O desafio é transformar iniciativas pontuais em uma rede articulada, capaz de gerar negócios, ciência e desenvolvimento sem romper com os vínculos que a floresta impõe.
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