Relatório mostra expansão das áreas de risco geológico em Manaus


As encostas de Manaus, os igarapés que cortam a cidade e os bairros populares que crescem em ritmo acelerado revelam uma realidade preocupante: cada vez mais pessoas vivem sob risco constante de desastres naturais. Um levantamento atualizado pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB)
mostra que cerca de 112 mil moradores estão hoje em áreas classificadas como de risco alto e muito alto para deslizamentos, inundações, enxurradas e processos erosivos.

Teatro_amazonas -Wikipedia

O estudo, apresentado na Superintendência Regional de Manaus pelo pesquisador Elton Andretta, evidencia como a ocupação urbana se expandiu sobre áreas frágeis, expondo mais famílias a tragédias que se repetem todos os anos, especialmente durante o período chuvoso. Entre 2019 e 2025, a população vulnerável saltou de 73 mil para mais de 112 mil pessoas. O dado chama a atenção porque, embora o número de setores mapeados tenha diminuído de 634 para 438, o total de domicílios cresceu para 28 mil. Isso revela que o problema deixou de ser pontual para se tornar concentrado e massivo.

Segundo os técnicos do SGB, a mudança está ligada não apenas ao crescimento urbano desordenado, mas também ao uso de tecnologias mais avançadas de monitoramento. Imagens de satélite de alta resolução, drones e informações do Censo 2022 do IBGE
ampliaram a precisão do diagnóstico, permitindo identificar áreas contínuas de risco que antes apareciam fragmentadas.

O mapa revela que as seis zonas administrativas da capital têm setores vulneráveis, mas as zonas Leste e Norte lideram em concentração. Só a Zona Leste reúne 130 setores com quase 12 mil domicílios em risco. Na Zona Norte, são 198 setores e mais de 9 mil moradias. Bairros populosos como Jorge Teixeira, Cidade Nova, Gilberto Mestrinho, Alvorada, Mauazinho e Nova Cidade somam cerca de 52 mil pessoas vivendo em encostas instáveis ou às margens de igarapés sujeitos a inundações repentinas.

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Manaus vista de cima -Foto: Duda Menegassi

O que Manaus pode esperar?

O cenário descrito pelo estudo não é apenas estatístico. Nos últimos quatro anos, a Defesa Civil de Manaus
registrou mais de 1.200 ocorrências relacionadas a desastres naturais, quase todas nos meses de chuva intensa, entre janeiro e abril. Trata-se de uma rotina dramática para milhares de famílias que convivem com deslizamentos, casas interditadas, perdas materiais e, em muitos casos, a ameaça direta à vida.

Os riscos identificados se dividem em dois grandes grupos: movimentos de massa, como deslizamentos e erosões em encostas íngremes, e processos hidrológicos, como alagamentos e enchentes em áreas próximas a igarapés. Ambos são agravados pela falta de infraestrutura urbana, drenagem insuficiente e ocupações irregulares em terrenos inadequados.

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O relatório vai além do diagnóstico e apresenta recomendações. Entre as principais, estão a formulação de um plano municipal integrado de redução de riscos, obras estruturais de contenção e drenagem, sistemas de alerta comunitário e educação ambiental em escolas e comunidades. Outra medida destacada é o reassentamento temporário de famílias em áreas de risco crítico, associado a uma fiscalização mais rigorosa sobre novos loteamentos em terrenos impróprios.

Os dados do Censo revelam ainda a dimensão social do problema: mais da metade da população manauara, cerca de 54%, vive em favelas ou comunidades urbanas precárias, e apenas 38% têm acesso à rede de esgoto. Esse contexto torna ainda mais urgente a adoção de políticas habitacionais capazes de oferecer alternativas seguras, evitando que a cidade siga crescendo sobre encostas frágeis e margens de igarapés.

Além disso, a intensificação das chuvas provocada pelas mudanças climáticas aumenta o risco de tragédias. Se não houver investimento em infraestrutura e planejamento urbano, as projeções indicam que a vulnerabilidade tende a crescer, reforçando a necessidade de atualizações periódicas do mapeamento e de ações preventivas permanentes.

O documento do SGB já foi entregue à Prefeitura de Manaus
e à Defesa Civil Municipal. A expectativa é que sirva de base para novas políticas públicas e projetos estruturantes, orientando desde a construção de obras até o reassentamento de famílias. Como alerta o estudo, os números são um retrato da realidade atual, mas também um aviso sobre o futuro: sem mudanças profundas na forma como a cidade ocupa seu território, Manaus continuará sendo um palco de desastres anunciados.