Ciência de síntese para a Amazônia, Fapespa e SinBiose abrem oportunidade única para pesquisadores


Uma nova e empolgante onda de financiamento para a ciência brasileira está em andamento, e a Amazônia, mais uma vez, ocupa um lugar de destaque. O Centro de Síntese em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (SinBiose) lançou sua segunda chamada pública, com um investimento robusto de R$ 6 milhões, mais do que o dobro da edição anterior. Pesquisadores de todo o Brasil, e especialmente do Pará, têm agora a oportunidade de submeter propostas até o dia 9 de outubro. A participação da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas, como parceira estratégica do programa, garante que a expertise e a riqueza de dados da região amazônica estarão no centro das análises.

Marcello Casals Jr/Agência Brasil

A proposta central do SinBiose reside na “ciência de síntese”, uma abordagem que transcende a pesquisa tradicional, que muitas vezes é focada em nichos disciplinares. Em vez disso, a ciência de síntese atua como uma ponte, reunindo e integrando vastos volumes de dados já existentes — de estudos ecológicos a informações epidemiológicas e econômicas. O objetivo não é apenas gerar mais dados, mas sim transformar a riqueza de informações dispersas em um conhecimento novo, coeso e, acima de tudo, relevante para a sociedade. A meta final é produzir análises que possam ser diretamente aplicadas na formulação de políticas públicas eficazes, unindo o rigor científico à necessidade prática de governança. É a diferença entre ter um monte de peças de um quebra-cabeça e, finalmente, montar o quadro completo.

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Presidência do CAPES – Reprodução

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O programa demonstra sua maturidade e visão estratégica ao introduzir uma novidade nesta edição: a categoria de projetos focados em comunicação científica com uma interface direta com a tomada de decisão. Isso é um reconhecimento explícito de que o conhecimento, por mais avançado que seja, precisa ser acessível e compreensível para ser útil. Para essa nova modalidade, o investimento previsto é de até R$ 400 mil, enquanto os projetos de síntese de conhecimento podem receber até R$ 700 mil. A distribuição dos recursos é flexível, permitindo que as propostas contemplem custos de capital, custeio e bolsas de pesquisa, adaptando-se às necessidades específicas de cada projeto.

O apoio a esta iniciativa vem de múltiplas frentes. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), principal investidor com R$ 5,6 milhões, conta com o apoio do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap). A participação das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (FAPs) de sete estados — Fapeam (Amazonas), Fapesb (Bahia), Fapema (Maranhão), Fapemig (Minas Gerais), Fapespa (Pará), Facepe (Pernambuco) e Fapepi (Piauí) — é um testemunho da capilaridade e da relevância do programa. Essa colaboração descentralizada é crucial para impulsionar a pesquisa em diferentes biomas e realidades socioeconômicas do Brasil.

O sucesso da primeira chamada, realizada em 2019, serve como uma poderosa vitrine dos resultados que a ciência de síntese pode alcançar. Com um investimento total de R$ 2,7 milhões, sete projetos foram aprovados, resultando em 37 artigos publicados em periódicos de alto impacto. Jean Paul Metzger, membro do conselho científico do SinBiose, resumiu o espírito do programa ao afirmar que ele consegue “potencializar essa inteligência coletiva quando as pessoas trabalham de forma colaborativa”.

Além das publicações acadêmicas, os projetos geraram entregas inovadoras para a sociedade, como a base de dados Taoca, que organiza dados ecológicos da Amazônia, e uma série de Policy Briefs, documentos concisos e acessíveis que destilam as principais descobertas para o público não-acadêmico e, especialmente, para os tomadores de decisão. A capacidade de traduzir a ciência complexa em recomendações claras e práticas é o que realmente diferencia o programa. O presidente do CNPq, Ricardo Galvão, enfatizou a importância estratégica do SinBiose como uma adaptação do modelo de centros de síntese internacionais para a realidade brasileira, resgatando e reforçando a longa tradição do CNPq em fomentar a pesquisa e a biodiversidade. A chamada, portanto, não é apenas um convite para pesquisar, mas para inovar e moldar o futuro do conhecimento aplicado no país.