A COP30, marcada para novembro em Belém, promete ser mais do que um encontro diplomático: será um teste de fogo para o futuro da cooperação internacional diante da crise climática. A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, definiu o evento como uma oportunidade histórica para fortalecer o multilateralismo climático, a convicção de que apenas a ação coletiva entre países pode dar conta do desafio global.

Durante coletiva de imprensa em Nova York, logo após o encerramento do último encontro regional do Balanço Ético Global, Marina foi categórica: “A COP30 é uma forma de buscarmos novos paradigmas. O multilateralismo corre o risco de ser estilhaçado, e isso seria o pior dos mundos”.
O alerta da ministra não é retórico. Um dos pontos mais sensíveis do cenário internacional é a decisão dos Estados Unidos de se retirarem, em janeiro de 2026, do Acordo de Paris, marco global firmado em 2015 durante a COP-21 para conter o aquecimento da Terra. A saída de Washington, maior potência econômica do planeta e segundo maior emissor de gases de efeito estufa, ameaça enfraquecer o pacto global.
Para Marina, é impossível minimizar os impactos desse gesto. “Claro que isso é um prejuízo enorme. Se não estão alinhados ao Acordo de Paris, há um imenso retrocesso. Mas, ao mesmo tempo, é também a chance de os demais países darem uma demonstração de fortalecimento do multilateralismo”, ponderou.
Ao lado dela estavam o embaixador André Corrêa do Lago, presidente designado da COP-30, Karenna Gore, fundadora do Centro de Ética da Terra, e Selwin Hart, conselheiro especial do secretário-geral da ONU para Ação Climática e Transição Justa. Todos reforçaram a urgência de preservar a diplomacia como instrumento de ação coletiva em meio a uma conjuntura marcada por retrocessos e desconfiança.

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O desafio da transição energética
A ministra também destacou que a próxima década será decisiva. Segundo cálculos, o mundo precisará mobilizar até 2035 cerca de US$ 1,3 trilhão para apoiar países em desenvolvimento em duas frentes: reduzir emissões e se adaptar aos impactos já inevitáveis da mudança do clima.
Isso implica acelerar a substituição gradual dos combustíveis fósseis — petróleo, carvão e gás natural — por fontes renováveis como solar, eólica, hidrelétrica e biomassa. Marina reconhece que ainda há limitações para suprir toda a demanda energética global com soluções limpas, mas argumenta que a paralisia é a pior escolha possível. “Não podemos cair na eterna desculpa de não investir em alternativas porque elas ainda não são suficientes. É justamente o investimento que fará com que sejam viáveis.”
Ela reforçou compromissos já assumidos em fóruns multilaterais: triplicar a participação das energias renováveis, duplicar a eficiência energética e acelerar a diversificação das matrizes nacionais. O recado foi claro: adiar decisões custará caro não apenas para o meio ambiente, mas também para a economia e a estabilidade social.
A questão dos preços em Belém
Nem só de diplomacia se faz uma COP. A organização do evento em Belém enfrenta dificuldades logísticas, em especial o preço da hospedagem. Marina classificou como “inaceitáveis” os valores cobrados por hotéis e imóveis durante o período da conferência. Relatos apontam aumentos de até dez vezes no valor das diárias, algo que, segundo ela, “é o absurdo do absurdo”.
O governo federal, em parceria com o Governo do Pará, estuda mecanismos legais para conter a escalada. O embaixador André Corrêa do Lago detalhou que a meta é garantir quartos acessíveis para delegações de países de menor desenvolvimento relativo e pequenas ilhas, além de oferecer condições mínimas para sociedade civil, academia, setor privado e imprensa. “Sem eles, não há COP”, alertou.
Ao traçar esse panorama, Marina reforçou que a COP-30 será mais do que uma cúpula ambiental: será um palco para avaliar a resiliência do próprio sistema multilateral. Se a cooperação internacional falhar, o risco é mergulhar em um mundo fragmentado, incapaz de responder à altura da emergência climática.
Belém, cidade marcada pela Amazônia como símbolo e cenário, se tornará em novembro o epicentro de uma disputa que vai além da floresta: trata-se de decidir se os países ainda são capazes de agir juntos em nome de um bem comum. O futuro do multilateralismo climático, como lembra a ministra, está em jogo — e perder essa batalha seria, de fato, “o pior dos mundos”.








































