A preparação para a COP30 em Belém vai muito além das negociações diplomáticas entre países. Nesta quinta-feira (02), a visita do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo, à Casa da Cúpula dos Povos, reforçou que o protagonismo da sociedade civil será uma peça-chave para o êxito da conferência.

Segundo o ministro, não há sustentabilidade real se a população não for parte ativa do processo. “Não existe política pública sustentável se não tiver participação social”, afirmou. A fala ecoa como um convite a movimentos sociais, organizações e comunidades para ocuparem, de forma legítima e decisiva, os espaços de diálogo que a Cúpula dos Povos pretende abrir em novembro.

O peso da participação social
Marcada para acontecer de 12 a 16 de novembro, a Cúpula dos Povos deve reunir cerca de 10 mil participantes em Belém. A expectativa é de que esse encontro se torne um espaço de convergência entre vozes diversas — indígenas, ribeirinhas, quilombolas, juventudes, acadêmicas e urbanas — que já atuam no enfrentamento da crise climática a partir de realidades locais.
O governo federal, por meio da Secretaria-Geral, anunciou apoio ampliado à infraestrutura do evento. A medida busca garantir condições adequadas para a multiplicidade de atividades, que vão de debates e assembleias até apresentações culturais e feiras de economia solidária. A própria logística, segundo Macêdo, será desenhada para assegurar acessibilidade e acolhimento.
A Cúpula dos Povos, tradicionalmente organizada em paralelo às Conferências da ONU sobre o Clima, surgiu como contraponto e complemento ao espaço oficial das negociações. Enquanto os governos discutem metas e compromissos, os povos e organizações apresentam propostas, denúncias e alternativas construídas coletivamente. Nesse sentido, Belém desponta como palco de um encontro que pretende deixar marcas tanto políticas quanto simbólicas.

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Um campo democrático de diálogo
O tom das falas durante o encontro em Belém deixou claro que há um reconhecimento mútuo entre governo e sociedade civil. Para os movimentos presentes, existe hoje um espaço político propício ao diálogo. Júlia Martins, representante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), destacou a afinidade entre as agendas. “Temos convergências, como a defesa da democracia, o posicionamento contra as guerras, o fim do genocídio da Palestina, a soberania nacional e a agenda climática e ambiental”, afirmou.
A referência direta à conjuntura internacional evidencia que os debates da Cúpula vão além das pautas ambientais. Trata-se de um espaço político que articula justiça climática com justiça social, onde soberania, paz e direitos humanos caminham juntos. Nesse sentido, a Cúpula dos Povos se projeta como uma arena de disputa de narrativas, onde o futuro da Amazônia e do planeta se conecta a lutas globais.

Construção coletiva como legado
Márcio Macêdo sintetizou essa perspectiva ao afirmar: “A Cúpula dos Povos será um dos grandes momentos da COP30. Nós vamos construir juntos, a várias mãos, a COP com a maior participação social da história”. A ideia de construção coletiva é, portanto, não apenas uma promessa, mas também um desafio.
Para que essa promessa se cumpra, será preciso articular forças em múltiplos níveis: governos locais, movimentos sociais, redes internacionais e instituições de pesquisa. Todos terão de atuar em sintonia para que o encontro seja, de fato, uma vitrine de inovação democrática.
O Brasil, ao sediar a COP30, tem diante de si a oportunidade de consolidar uma nova referência global: a de uma transição ecológica que não se restringe a metas técnicas, mas que é profundamente moldada pela participação popular. Esse caminho não será simples, mas a mobilização em torno da Cúpula dos Povos indica que há energia social suficiente para impulsioná-lo.
Ao final, o que se anuncia em Belém é mais do que um evento paralelo. É a possibilidade de afirmar, diante do mundo, que enfrentar a crise climática passa por ouvir e dar centralidade a quem historicamente foi marginalizado nos processos de decisão. A Cúpula dos Povos promete ser, assim, um espaço de memória, de resistência e de futuro.






































