Pesquisadores analisam efeitos das mudanças climáticas em répteis e anfíbios em Roraima

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Autor: Redação Revista Amazônia
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Uma equipe de cientistas passou 28 dias na Estação Ecológica de Maracá, a terceira maior ilha fluvial do Brasil, localizada no estado de Roraima, para investigar como répteis e anfíbios locais estão respondendo ao aumento das temperaturas causadas pelas mudanças climáticas. Durante a expedição, os pesquisadores coletaram cerca de 400 exemplares desses animais, além de dados ecológicos e morfológicos que serão usados para avaliar as respostas fisiológicas das espécies diante do aquecimento global.

“O objetivo do nosso estudo é entender o impacto das mudanças climáticas sobre a herpetofauna (répteis e anfíbios) da Amazônia, ajudando a aprimorar os modelos que preveem riscos de extinção e as capacidades de adaptação das espécies ao novo clima”, explicou Fernanda Werneck, coordenadora do projeto e pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). A pesquisa faz parte do projeto “Mudanças Climáticas e a Sociobiodiversidade Amazônica”, com apoio da Iniciativa Amazônia+10.

Desafios Logísticos e Contexto da Região

photoA expedição, que recebeu apoio de várias fundações de amparo à pesquisa, como FAPESP e Fapeam, enfrentou desafios logísticos consideráveis. A ilha é uma unidade de conservação integral e, embora o acesso seja restrito a pesquisas científicas, a região enfrenta pressões externas como caça e pesca ilegais, além do garimpo. A área também está localizada perto da Terra Indígena Yanomami, uma região historicamente afetada por atividades ilegais. A expedição foi realizada com apoio da Força Nacional de Segurança Pública, garantindo a proteção da equipe durante a coleta de dados.

Felipe Augusto Zanusso Souza, coordenador da logística da expedição, relatou que, apesar da tensão na região devido à presença de grupos criminosos, os trabalhos ocorreram sem incidentes, conforme o cronograma planejado.

Pesquisa em Campo e Experimentos em Laboratório

Durante os 28 dias de campo, os pesquisadores instalaram armadilhas em 20 pontos da ilha e realizaram buscas ativas tanto durante o dia quanto à noite para capturar répteis e anfíbios. Esses animais foram levados para um laboratório de campo, onde passaram por uma série de testes para avaliar suas respostas térmicas e locomotoras.

Um dos experimentos consistiu em medir a temperatura preferencial das espécies, criando um ambiente controlado com um gradiente de temperatura variando de 20°C a 40°C, para observar como os animais reagiam a diferentes níveis de calor. Outro experimento avaliou a tolerância térmica, medindo a capacidade dos animais de suportar temperaturas extremas antes de serem incapazes de corrigir a posição corporal.

Juliana Luzete Monteiro, doutoranda da Universidade de São Paulo (USP), foi uma das pesquisadoras que participou da coleta de dados. Ela estuda o desempenho locomotor de lagartos amazônicos e analisou diferenças de desempenho entre machos e fêmeas da espécie Hemidactylus.

Resultados Esperados e Monitoramento Continuado

Os dados coletados durante a expedição, como os resultados dos testes genéticos e das respostas térmicas dos animais, serão analisados nos laboratórios das universidades participantes, com publicações previstas para os próximos anos. Além disso, os animais coletados serão preservados na Coleção de Anfíbios e Répteis do Inpa, disponível para futuras pesquisas.

O projeto também inclui a análise de populações ribeirinhas para entender suas percepções sobre as mudanças ambientais e climáticas. Matheus Ganiko Dutra, pesquisador da USP, está conduzindo essa pesquisa, que explora a relação entre o clima, o ambiente e as comunidades locais.

Importância da Pesquisa para a Mitigação dos Efeitos das Mudanças Climáticas

Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), as temperaturas globais podem aumentar entre 3,5°C e 5,7°C até 2050, dependendo das emissões de gases de efeito estufa. Com isso, é crucial entender como essas mudanças afetarão as espécies amazônicas e quais medidas de mitigação poderão ser adotadas para proteger a biodiversidade.

“Ao monitorar a resposta de répteis e anfíbios ao aquecimento global, podemos prever os impactos e auxiliar na formulação de estratégias para a conservação da biodiversidade com base em dados científicos sólidos”, conclui Fernanda Werneck.

A expedição contou com a colaboração de uma grande equipe de pesquisadores, pós-doutorandos, mestrandos e doutorandos de instituições como Inpa, USP, UFPA, UFPR, UFT e Ufam, com o apoio logístico de assistentes de campo e outros profissionais.


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