COP30 projetará o agro tropical sustentável do Brasil ao mundo


A escolha de Belém como palco da COP 30 carrega um simbolismo potente: é ali, no coração da Amazônia Tropical, que o Brasil pretende mostrar ao mundo como a agricultura tropical sustentável pode se tornar modelo global. Na condição de Enviado Especial para Agricultura da conferência, o ex-ministro Roberto Rodrigues assume a missão de traduzir ao mundo o que o país construiu nas últimas décadas: produção tropical com tecnologia, manejo e cuidado com o solo, com safras múltiplas e forte compromisso climático e social.

Agência Gov - Divulgação

Roberto Rodrigues afirma que, embora a COP30 não seja uma conferência exclusivamente dedicada ao agro, ela representa uma oportunidade histórica para projetar o modelo brasileiro de agricultura tropical sustentável como inspiração para outras nações nos trópicos. Ele acredita que o Brasil poderá demonstrar não só o que fez, mas o que pode multiplicar em países com clima e solos semelhantes. Sua missão, diz ele, será mostrar ao mundo “a eficiência e a capacidade de replicação do agro brasileiro nos trópicos”.

Em outubro, ele explica, será lançada uma publicação que resume os últimos cinquenta anos da trajetória agrícola nacional. O documento reunirá dados numéricos e memórias para revelar como ciência, tecnologia e políticas públicas aceleraram o salto produtivo tropical sustentável do país, incluindo culturas, proteínas e bioenergia. Rodrigues vê nesse relato um instrumento simbólico e prático: ele não rememora apenas conquistas — pretende alimentar uma narrativa inspiradora para países tropicais ainda em construção.

Para ele, a agricultura tropical brasileira surge como um capital estratégico para as negociações climáticas. Os trópicos, sugere, precisam ganhar voz no debate global. Mas a voz não basta: é necessário que haja financiamento internacional para transferência tecnológica e subsídios para países que não dispõem dos mesmos recursos. Igualmente essencial, segundo Rodrigues, é flexibilizar regras de comércio que hoje penalizam quem parte do zero para implementar produções sustentáveis. Ele insiste que o mundo tropical deve assumir protagonismo nas quatro grandes crises modernas: segurança alimentar, transição energética, desigualdade social e clima — e que essa liderança será um caminho para paz.

No campo de energias renováveis, Rodrigues ressalta como o Brasil já combina produção rural e mitigação climática. Ele recorda que o etanol de cana emite cerca de 9% do CO₂ da gasolina e que o biodiesel de soja reduz emissões em comparação ao diesel fóssil. Sua análise considera ainda as florestas plantadas: com cerca de 10 milhões de hectares, elas são aliadas no sequestro de carbono. Ele destaca que a Lei do Combustível do Futuro — sancionada em 2024 — estabelece programas para etanol, biodiesel, biometano e regula captura e estocagem de carbono, liberando investimentos estimados em R$ 260 bilhões até 2037 e evitando a emissão de até 705 milhões de toneladas de CO₂.

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Fonte: COP30 Brasil 2025

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Rodrigues enfatiza que esse arsenal tecnológico e institucional é o que o Brasil leva à COP30 como argumento de autoridade. Ele se refere ao “tripé” que sustentou a revolução agropecuária nacional: agricultores que aplicaram o conhecimento, pesquisadores que o geraram e institucionalidade que protegeu a ciência de interferências políticas. A despeito de problemas estruturais — deficiências logísticas, insegurança jurídica, falta de políticas de renda ou acordos comerciais robustos — ele sustenta que o modelo brasileiro já é sustentabilidade real, com números, impacto social e consistência ambiental. Ele lembra: todo agricultor sério quer que a lei seja cumprida; o desmatamento ilegal, ressalta, não pode ser tolerado por ninguém.

Rodrigues aborda ainda o papel simbólico do agro: comunicar claramente à sociedade urbana que alimentos, tecidos, transportes, vestuário — tudo depende da produção rural. Ele defende que as cidades integrem essa compreensão. Em suas palavras finais, convoca: “agro é paz” — porque, sem alimento, não há estabilidade. Ele aposta que o Brasil, ao alimentar o mundo de modo sustentável, contribuirá para garantir paz universal.

Durante a conferência, Rodrigues pretende articular debates paralelos, conectar setores e promover o que chama de “agenda única do agro”. Ele já lidera esforços que envolvem entidades do setor, institutos de pesquisa e think tanks. Espera que o Fórum Brasileiro de Agricultura Tropical — que articula centros de pesquisa e atores produtivos — ganhe espaço como interlocutor consolidado. Em sua visão, a COP de Belém precisa ser mais do que discursos: deve originar um programa ambicioso, com continuidade após a conferência, que abrace transferência de tecnologia, financiamento climático e governança sustentável.

O Brasil chega à COP30 com a aposta de que seu agro tropical já é solução e que pode inspirar outros países. Essa narrativa será posta à prova. Mas, se bem construída e apoiada por compromissos reais, a conferência tem tudo para mostrar que o modelo tropical sustentável brasileiro não é um caso isolado — pode se tornar uma ponte para um futuro onde os trópicos produzam com justiça, precisão e dignidade.