Projeto Orion: Brasil inaugura uma nova era em biossegurança global


Único no mundo, o Projeto Orion colocará o Brasil na vanguarda da pesquisa científica e da governança em biossegurança. A iniciativa integrará um laboratório de contenção biológica de nível máximo (BSL-4) ao Sirius, acelerador de partículas de última geração localizado em Campinas (SP), administrado pelo Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).

Complexo laboratorial receberá, até 2026, R$ 1 bilhão em investimentos por meio do Novo PAC. - Foto: Rafael Nascimento/MS

Com um investimento estimado em 280 milhões de dólares e conclusão prevista para 2027, o Orion será o único complexo do planeta a unir um laboratório BSL-4 a uma fonte de luz síncrotron. Essa combinação permitirá pesquisas inéditas em biologia estrutural e análise de patógenos altamente letais, colocando o Brasil em um novo patamar científico e estratégico. A Alemanha figura como parceira internacional central na cooperação técnica.

Da Rio-92 à COP30: o amadurecimento de uma agenda estratégica

Nas últimas três décadas, o Brasil se consolidou como um ator-chave na governança ambiental e climática global, sediando eventos históricos como a Rio-92 e a Rio+20. Às vésperas da COP30, em novembro de 2025, o país avança também no campo da biossegurança e da biosegurança — temas que ganham centralidade em um século marcado por rápidas transformações tecnológicas e riscos emergentes.

A ministra Luciana Santos, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), destacou que o Orion representa “um divisor de águas para a soberania científica e para a segurança sanitária nacional”, fortalecendo o papel do Brasil como articulador de políticas de inovação responsáveis.

Enquanto a biotecnologia expande fronteiras em saúde, agricultura e meio ambiente, crescem também as preocupações com o uso dual dessas tecnologias — isto é, sua aplicação tanto para fins benéficos quanto para riscos de segurança. A biossegurança busca prevenir exposições acidentais a agentes biológicos, enquanto a biosegurança atua para evitar acessos não autorizados, perdas ou uso indevido de materiais e dados sensíveis.

De compromissos globais à política nacional

O marco internacional mais importante nessa trajetória foi o Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança, adotado em 2000 no âmbito da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB). O tratado estabeleceu mecanismos legais para monitorar e regular organismos geneticamente modificados (OGMs), vinculando biossegurança às práticas de engenharia genética.

O Brasil respondeu com a Lei de Biossegurança de 2005, que reformulou a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e criou o Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS), sob coordenação do MCTI. O país passou, então, a integrar de forma ativa a rede internacional de prevenção e monitoramento de riscos biotecnológicos.

Com a pandemia de COVID-19, a necessidade de fortalecer a infraestrutura científica tornou-se urgente. Grupos técnicos da Câmara de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CREDEN), vinculada ao Conselho de Segurança Nacional, iniciaram estudos para criar uma Política Nacional de Biossegurança e Biosegurança mais abrangente — incluindo a instalação de um laboratório BSL-4 capaz de responder a agentes desconhecidos e altamente patogênicos.

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Foto: Bruno Peres/MCTIC

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Orion: inovação, soberania e cooperação internacional

Lançado em 2024 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Orion é parte do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e recebe recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). O projeto conta com apoio do Ministério da Saúde (MS) e dialoga com a política Nova Indústria Brasil (NIB), reforçando a integração entre defesa, ciência e saúde pública.

A expectativa é que o complexo também fortaleça o Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS), estratégia que articula pesquisa, produção e inovação em favor do Sistema Único de Saúde (SUS).

Atualmente, a América Latina não dispõe de infraestrutura laboratorial para pesquisa com organismos de alta patogenicidade. Mesmo com avanços em biociências, a região depende de apoio externo para estudos de alto risco biológico. Entre os países do BRICS, o Brasil é o único sem um laboratório BSL-4 — uma lacuna que o Orion pretende preencher.

Mais do que um investimento em infraestrutura, o Orion expressa uma visão de futuro: a de que ciência, segurança e cooperação internacional podem caminhar juntas. O projeto reforça a ambição brasileira de alcançar autonomia estratégica na biotecnologia e na saúde, ao mesmo tempo em que contribui para a construção de um sistema global mais ético, equitativo e resiliente diante dos desafios do Antropoceno.