Dia 2 da COP30: cidades e comunidades movem a ação climática


Belém viveu nesta terça-feira um segundo dia intenso da COP30, marcado pela força das soluções locais e pela crença de que a transição climática começa nos territórios — nas ruas, nas prefeituras, nas comunidades. A jornada girou em torno da adaptação, infraestrutura, cidades, água, resíduos, governos locais, ciência e tecnologia, economia circular e bioeconomia, com o mote: “Impulsionar a ação local para construir resiliência e melhorar vidas.”

Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Cidades e governos locais protagonizam a implementação

A campanha global Beat the Heat Implementation Drive, liderada pela Presidência da COP30 e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em parceria com a Cool Coalition, passou oficialmente da fase de planejamento à execução. O esforço mobiliza cidades e financiamentos para proteger 3,5 bilhões de pessoas do calor extremo em 185 cidades com soluções de resfriamento verde, como florestas urbanas, telhados vegetados e tecnologias de alta eficiência energética.

O Brasil também anunciou dois marcos importantes na Reunião Ministerial de Alto Nível sobre Urbanização e Mudança Climática:

  • o Plano para Acelerar a Governança Multinível (PAS), coordenado pelos Ministérios do Meio Ambiente e das Cidades em parceria com o ONU-Habitat, que busca integrar estruturas subnacionais em 100 NDCs até 2028 e capacitar 6 mil servidores públicos;

  • e a nova copresidência da Coalizão por Parcerias Multiníveis de Alta Ambição (CHAMP), agora liderada conjuntamente por Brasil e Alemanha até 2027. A coalizão, apoiada por 77 países e pela União Europeia, inaugura também Plataformas Nacionais de Localização de Financiamento (CPLFs) em Camarões e Madagascar, com meta de mobilizar US$ 350 milhões até 2028 e envolver 200 governos locais.

Essas medidas marcam um ponto de virada: a governança climática multinível deixa de ser retórica e passa a estruturar a execução real da agenda climática.

Água no centro da adaptação climática

Em Belém, ministros e especialistas de mais de 50 países se reuniram na Reunião Ministerial “Águas da Mudança”, que culminou na Declaração Conjunta sobre Água e Ação Climática, reafirmando o papel da água como eixo central da adaptação global.

O destaque foi o Programa de Investimento em Água da América Latina e do Caribe, liderado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe (CAF) e pela Parceria Global pela Água (GWP), com previsão de US$ 20 bilhões até 2030 para garantir segurança hídrica, modernizar sistemas de irrigação e fortalecer a resiliência a secas e enchentes.

O Brasil apresentou ainda dois Planos de Aceleração: um voltado à Gestão e Governança Participativa da Água e outro ao Acesso à Água Doce para Comunidades Vulneráveis, em parceria com a OCDE, o SIWI, a AGWA e a Wetlands International.

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Foto: Sergio Moraes/COP30

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Reduzindo o metano e promovendo economia circular

A iniciativa No Organic Waste (NOW), apoiada pelo Global Methane Hub, lançou um plano global para reduzir 30 % das emissões de metano de resíduos orgânicos até 2030. O compromisso de US$ 30 milhões — sendo US$ 10 milhões destinados à América Latina — financiará projetos urbanos, centrais de compostagem e redes de bancos de alimentos, com impacto direto: recuperação de 20 milhões de toneladas de alimentos excedentes por ano, alimentação de 50 milhões de pessoas e integração de 1 milhão de trabalhadores de resíduos na economia circular.

No Brasil, o tema foi ampliado pelo Mutirão pela Gestão Sustentável de Resíduos Eletrônicos e Inclusão Digital, liderado pelo Ministério das Comunicações e pela Presidência da COP30. A ação doou 100 computadores recondicionados a centros comunitários e celebrou a capacitação de 2.700 jovens em reciclagem e recondicionamento — exemplo de como tecnologia, inclusão e economia circular podem andar juntas.

Construções sustentáveis e zero emissões

Na área da infraestrutura, a Buildings Breakthrough Initiative, coordenada pela Global Alliance for Buildings and Construction (GlobalABC), anunciou padrões globais para edificações de quase zero emissão e alta resiliência (NZERBs). Seis países — Colômbia, França, Finlândia, Gana, Japão e Quênia — aderiram a um Marco Global de Ação sobre Compras Públicas, que busca transformar o mercado de obras públicas em motor de sustentabilidade.

Inovação e participação digital

A Maloca, plataforma interativa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), também ganhou destaque ao expandir a participação global na COP30 por meio de ambientes virtuais imersivos, onde comunidades e povos indígenas apresentaram soluções em educação, agroecologia e infraestrutura verde.

Encerramento: a base como força da transformação

O dia terminou com a Plenária Ministerial Global Mutirão, reunindo ministros e prefeitos de mais de 80 países, reafirmando que o futuro do Acordo de Paris está sendo construído a partir da base — das cidades e comunidades que lideram, na prática, o combate à crise climática.


Agenda do Dia 3 – 12 de novembro

Temas: saúde, empregos, educação, cultura, justiça e direitos humanos, integração da informação e trabalhadores.
Eixo: Empoderar e capacitar pessoas para acelerar o progresso.

9:00 – 10:15 Lançamento de Alto Nível da Iniciativa Global “Empregos e Competências para a Nova Economia” e apresentação do primeiro Relatório e Agenda de Ação.
9:30 – 10:30 Promoção da Integridade da Informação sobre Mudança Climática.
10:30 – 12:00 Evento Ministerial de Alto Nível “Adaptação Indígena”.
12:30 – 13:30 Lançamento do PAS e Declaração Ministerial sobre Compras Públicas Sustentáveis para uma Transição Justa.
14:30 – 17:45 Evento de Alto Nível “Cúpula dos Proprietários de Ativos”.
17:00 – 18:00 Narrativas e Contação de Histórias para Enfrentar a Crise Climática.