Ibama intensifica combate ao garimpo na floresta contínua amazônica


O Ibama reforçou nas últimas semanas sua ofensiva contra o garimpo ilegal na maior área contínua de floresta tropical protegida do mundo, com foco estratégico no Amapá. Em uma operação batizada de Xapiri Karuãna, o órgão ambiental atuou tanto na Floresta Estadual do Amapá quanto no Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, denunciando irregularidades em lavras, suspensões de licenças e até destruindo maquinário pesado usado por mineradores ilegais.

Foto: Dipro/Ibama

O panorama da atuação do Ibama revela o nível de gravidade das violações. Segundo as equipes, foram constatados descumprimento de condicionantes ambientais, uso intensivo de mercúrio – substância proibida em áreas sensíveis – supressão vegetal em Áreas de Preservação Permanente (APP) e mineração para além dos limites legalmente permitidos. Diante dessas infrações, o Ibama decidiu suspender atividades de pesquisa e extração de três lavras garimpeiras até que todas as irregularidades sejam sanadas.

As ações ganharam corpo em 13 de novembro. Na Floresta dos Angelins Gigantes, no Pará, o Ibama desmantelou uma estrutura aérea clandestina montada para abastecer operações ilegais: embargou um hangar e uma pista improvisada, aplicou R$ 4,8 milhões em multas e destruiu um arsenal pesado de equipamentos — entre eles, um avião adaptado para carga, oito escavadeiras hidráulicas, uma draga, um barco, uma caminhonete, motores, geradores, e mais de 4 acampamentos clandestinos. Também foram inutilizados mais de 3 000 litros de diesel e 300 litros de combustível de aviação. A área tem especial relevância simbólica e ecológica porque abriga uma das maiores árvores da Amazônia — um angelin gigante de cerca de 88 metros.

Essa floresta é conhecida por abrigar algumas das árvores mais altas do bioma amazônico, como os lendários angelins gigantes que inspiram estudos de ecologia e conservação. Essas árvores têm papel importante na dinâmica climática local: sua grande copa faz evapotranspiração intensa, contribuindo para manter os chamados “rios voadores” — massas de umidade que alimentam chuvas até em outras regiões do Brasil.

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Garimpo

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Ao apontar irregularidades e punir os infratores, o Ibama busca não apenas desencorajar o garimpo ilegal, mas também proteger ecossistemas cruciais para o clima global. A região onde se desenrola essa operação – o mosaico formado pela Floresta Estadual do Amapá e o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque – é uma das mais extensas áreas protegidas de floresta tropical do planeta. O Parque Nacional é administrado pelo ICMBio, agência federal responsável pela gestão de unidades de conservação, e abriga uma biodiversidade extremamente rica e remota.

Já a Floresta Estadual do Amapá, conhecida como Flota Amapá, cobre mais de 2,3 milhões de hectares e foi criada para promover o uso sustentável dos recursos florestais, a pesquisa científica e a participação de comunidades tradicionais.

A operação do Ibama impressiona não apenas pelo aparato usado para desmantelar as estruturas ilegais, mas pela clara articulação entre fiscalização, proteção ambiental e defesa do clima. Para a autarquia, as multas e apreensões não são fins em si mesmos, mas meios para preservar uma das fortalezas naturais mais estratégicas da Amazônia.

Há uma dimensão simbólica forte nessa operação. A destruição de equipamentos em apoio direto à extração ilegal subterrânea reforça a mensagem de que não haverá tolerância para o avanço do garimpo em unidades de conservação. Além disso, proteger a Floresta dos Angelins Gigantes significa proteger não apenas árvores monumentais, mas também a integridade de sistemas hídricos essenciais ao clima sul-americano.

Do ponto de vista ambiental, a operação representa uma virada: em vez de apenas relatar crimes, o Ibama age para neutralizar as frentes de exploração ilegal mais agressivas. Do ponto de vista climático, a ação defende áreas que funcionam como reservatórios de carbono e mantenedoras do ciclo hidrológico que alimenta regiões distantes da Amazônia. E do ponto de vista social, a fiscalização fortalece a proteção de territórios vulneráveis, cujos habitantes são frequentemente vítimas de ilegalidade.

As consequências vão além do curto prazo. Ao coibir o garimpo ilegal nessas áreas protegidas, o Ibama ajuda a garantir a continuidade de processos ecológicos vitais e a defender riachos, matas e comunidades que dependem da floresta para sobreviver. Contra esse pano de fundo, a operação Xapiri Karuãna não é apenas uma ação de fiscalização — é parte de uma estratégia mais ampla para proteger a Amazônia e o clima global.