O avanço da urbanização em Manaus continua a evidenciar um fenômeno que se repete há anos, mas que ganha novas nuances a cada estação: a aproximação da fauna silvestre de áreas densamente povoadas. Em novembro, esse movimento ficou ainda mais evidente. O Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) registrou 38 resgates de animais silvestres somente na capital, a partir de chamados feitos diretamente pela população. Os números, mais do que estatísticas mensais, revelam o desafio constante de conciliar a vida urbana com a rica biodiversidade amazônica.

A operação é conduzida pela Gerência de Fauna do instituto, responsável por atender situações em que animais silvestres aparecem em locais de intenso fluxo humano ou se encontram em risco. Em novembro, aves, mamíferos e répteis circularam por bairros residenciais e zonas comerciais, muitas vezes desorientados ou buscando refúgio.
Entre as espécies mais frequentes estão o periquito-asa-branca, o periquitão-do-maracanã e o pariri, todos encontrados em múltiplas ocorrências. Rapinantes como o gavião-carijó também figuraram entre os resgates, revelando como até predadores adaptados a ambientes mais amplos podem acabar em situação de vulnerabilidade dentro da cidade. Répteis como a jiboia reforçam outra realidade: não é raro que serpentes sejam vistas em quintais, garagens ou mesmo dentro de residências, especialmente em áreas próximas a fragmentos de floresta.
O diretor-presidente do Ipaam, Gustavo Picanço, destaca que o envolvimento da população é determinante para o sucesso da operação, mas reforça que é preciso compreender os limites de atuação do órgão. Ele lembra que a Gerência de Fauna atua exclusivamente no resgate de espécies silvestres, não sendo responsável pelo recolhimento de animais domésticos como cães e gatos ou de espécies consideradas sinantrópicas, caso de pombos, ratos e morcegos. A orientação correta, afirma, evita desperdício de tempo e garante que situações de risco real sejam atendidas com agilidade.

SAIBA MAIS:Operação no RJ desmonta rede de tráfico de animais silvestres
Outras espécies chamaram atenção ao longo do mês. Foram registrados resgates de preguiça-real, araçari-de-bico-branco, cutias, macacos-de-cheiro, gambás, saracuras e diversas outras espécies que, à primeira vista, não parecem habituadas a centros urbanos. Essas ocorrências mostram que os limites entre cidade e floresta são, em Manaus, mais tênues do que se imagina.
Os bairros de maior incidência também ajudam a mapear esse comportamento. Tarumã liderou com quatro casos, seguido por Flores, São José Operário e Distrito Industrial 1, cada um com três ocorrências. Chapada, Ponta Negra, Centro, Parque 10, Mauazinho, Cidade Nova, Nova Cidade, Japiim e Jorge Teixeira registraram duas chamadas cada, ilustrando uma distribuição diversa ao longo da capital.
A responsável pela Gerência de Fauna, Sônia Canto, reforça que o primeiro passo do atendimento não é a entrega de animais na sede do órgão, mas sim o envio de informações básicas por WhatsApp, incluindo foto e localização. O protocolo permite que a equipe avalie rapidamente a situação, evitando riscos tanto para os animais quanto para os moradores.
Depois do resgate, vem a etapa de avaliação e triagem. O médico-veterinário Eduardo Marques, integrante da equipe, explica que muitos animais podem ser reconduzidos à natureza logo após a análise técnica. Ele reforça que oferecer alimento – especialmente pão, bolachas ou frutas industrializadas – pode prejudicar gravemente a saúde das espécies.
Os animais que necessitam de cuidado prolongado são encaminhados ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), administrado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Ali, passam por tratamento veterinário e reabilitação até que estejam aptos para retorno ao habitat natural. As solturas são feitas em Áreas de Soltura de Animais Silvestres autorizadas pelo próprio Ibama.
Para acionar o resgate, a população deve enviar foto e localização do animal para o WhatsApp da Gerência de Fauna: (92) 98438-7964, de segunda a sexta, das 8h às 14h.



















































