Uma parceria entre cientistas e quebradeiras de coco babaçu no Maranhão resultou na criação de dois novos produtos inovadores: um hambúrguer vegetal e uma farinha de amêndoas, ambos feitos a partir do coco babaçu.
Além de serem nutritivos e sustentáveis, os produtos atendem a demandas de mercado por alimentos naturais, ricos em proteínas e livres de glúten e lactose. A iniciativa, que combina saberes tradicionais e científicos, também promove a valorização do trabalho das quebradeiras de coco e a diversificação da cadeia produtiva do babaçu, um dos símbolos da sociobiodiversidade brasileira.
O projeto
O projeto foi desenvolvido em colaboração com mulheres da Cooperativa Mista da Agricultura Familiar e do Extrativismo do Babaçu (Coomavi), da Associação Clube de Mães Quilombolas Lar de Maria e da Associação de Quebradeiras de Coco de Chapadinha, além de pesquisadores da Embrapa, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e da Universidade Federal do Ceará (UFC). O financiamento veio da Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ), com o objetivo de fortalecer a bioeconomia local e gerar renda para comunidades tradicionais.
Do Resíduo ao Hambúrguer: A Transformação do Babaçu
O hambúrguer de babaçu foi criado a partir do bagaço da amêndoa, um resíduo que antes era usado apenas como ração animal. Por meio de um processo de torra e moagem, o bagaço foi transformado em farinha, que se tornou a base para o novo produto. A farinha de amêndoa de babaçu é rica em proteínas, lipídios e carboidratos, oferecendo uma alternativa nutritiva e sustentável para a alimentação.
O hambúrguer foi desenvolvido com ingredientes simples e acessíveis, como casca de banana (que atua como agente estruturante), farinha de arroz (para dar liga) e temperos naturais. A casca de banana, além de agregar sabor e maciez, é rica em fibras, vitaminas e minerais, contribuindo para a qualidade nutricional do produto. O hambúrguer não contém conservantes e pode ser armazenado por até seis meses no freezer.
“A ideia era reaproveitar 100% do babaçu, transformando um resíduo em matéria-prima de alto valor agregado”, explica o professor Harvey Villa, da UFMA, que liderou o desenvolvimento do produto. “O hambúrguer é uma opção saudável e saborosa, que atende tanto a veganos quanto a consumidores em geral.”
Farinha de Amêndoa: Versatilidade e Sustentabilidade
Além do hambúrguer, a farinha de amêndoa de babaçu também foi incorporada em outras formulações, como biscoitos, pães, bolos, mingaus e sorvetes. A farinha substitui o coco ralado em diversas receitas, agregando crocância e sabor, além de ser mais nutritiva. “Aprendemos a transformar o bagaço em farinha, algo que antes não fazíamos. Agora, evitamos desperdícios e criamos produtos de alta qualidade”, comenta Rosângela Lica, da Coomavi.
Aceitação do Mercado e Impacto Social
Os novos produtos passaram por testes de análise sensorial, realizados com alunos de gastronomia do Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IEMA). Os resultados foram positivos, com alta aceitação em relação ao sabor, textura e aparência. “Os consumidores veganos estão adorando, e os não veganos também”, comemora Rosângela Licar, da Coomavi.
Além de atender a nichos de mercado, os produtos fortalecem a economia local e promovem a autonomia das quebradeiras de coco. “O babaçu não é um simples coco; é um trabalho que gera renda, qualidade de vida e cidadania”, destaca Maria Domingas, da comunidade quilombola Pedrinhas Clube de Mães.
Inovação Social e Reconhecimento
O projeto também teve um impacto significativo na formação de jovens cientistas e no fortalecimento das comunidades tradicionais. “Participar dessa pesquisa ampliou minha visão sobre o potencial da sociobiodiversidade e a importância de valorizar os saberes tradicionais”, afirma Samara Bontempo, bolsista do projeto.
Como reconhecimento pelo trabalho inovador, a equipe foi finalista do Con X Tech Prize: Amazônia, uma competição global que premia iniciativas que promovem economias regenerativas e o desenvolvimento sustentável na Amazônia.
O Futuro do Babaçu
O Maranhão é o maior produtor de coco babaçu do Brasil, com mais de 300 mil quebradeiras de coco envolvidas na atividade. A pesquisa não apenas diversificou os produtos derivados do babaçu, mas também ressignificou o extrativismo, mostrando que é possível conciliar tradição, inovação e sustentabilidade.
“Estamos felizes em colaborar para que o babaçu explore suas potencialidades, gerando renda, qualidade de vida e desenvolvimento sustentável para o Maranhão”, afirma Westphalen Nunes, representante da GIZ no Brasil.
Com sabor, nutrição e impacto social, o hambúrguer de babaçu e a farinha de amêndoa são exemplos de como a ciência e a tradição podem se unir para criar soluções inovadoras e transformadoras.
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