Para o climatologista Carlos Nobre, a COP30 será decisiva para proteger a floresta amazônica, evitar o ponto de não retorno e preservar o equilíbrio climático global.
O ponto de não retorno está próximo
A COP30, marcada para novembro de 2025 em Belém (PA), não será apenas mais uma conferência sobre o clima. Segundo o cientista Carlos Nobre, ela representa uma oportunidade única — e talvez a última — para impedir que a Amazônia ultrapasse seu ponto de colapso ecológico.
Esse ponto crítico, chamado de tipping point, ocorre quando o desmatamento e as mudanças climáticas comprometem irremediavelmente a capacidade da floresta de se autorregenerar, levando a uma transição para um bioma semelhante a uma savana degradada.
Um cenário de risco real e iminente
Hoje, cerca de 20% da Amazônia brasileira já foi desmatada. Estudos indicam que a combinação de desmatamento entre 20% e 25% com um aumento médio da temperatura global entre 2°C e 2,5°C provocará um colapso irreversível da floresta.
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Em 2024, a temperatura global já ultrapassou 1,55°C em relação ao período pré-industrial. Isso significa que estamos perigosamente perto do limite.
As consequências do colapso amazônico
O colapso da Amazônia afetaria não só sua biodiversidade e os povos que nela vivem, mas também o regime de chuvas de toda a América do Sul, comprometendo a agricultura, os rios e o abastecimento hídrico de regiões como o Cerrado, Sudeste e até a Bacia do Prata.
Além disso, haverá perda de espécies, emissões descontroladas de carbono, avanço das desigualdades sociais e ecológicas e a destruição de um patrimônio natural e cultural de valor inestimável.
O que precisa ser feito agora
- Zerar o desmatamento e a degradação florestal
- Cumprir o Acordo de Paris e manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C
- Fortalecer a governança regional e transnacional
- Investir em soluções baseadas na natureza, como restauração florestal e bioeconomia
O papel dos povos indígenas
Carlos Nobre destaca que os povos indígenas são os verdadeiros guardiões da floresta. Com ocupação milenar na região, eles preservam cerca de 1,15 milhão de km² — 23% da Amazônia brasileira — responsáveis por até 25% da produção de chuvas da floresta.
Essas populações têm gerado e preservado conhecimento sobre 2.300 espécies nativas, fundamentais para as indústrias de alimentos, cosméticos e fármacos. Esse saber, muitas vezes registrado apenas em línguas indígenas, precisa ser valorizado e protegido.
Energia limpa a partir da floresta
Outra estratégia apontada pelo cientista é a produção de energia renovável a partir de resíduos da biodiversidade, como bagaço de açaí e castanha-do-pará. Só entre Amazonas e Pará, estima-se que 1 milhão de toneladas desses resíduos sejam aproveitáveis, com potencial energético de até 1,32 milhão de MWh por ano — o suficiente para abastecer 200 mil residências fora da rede elétrica.
Essa energia pode ser complementada por placas solares e turbinas hidrocinéticas, ampliando o acesso à eletricidade sem desmatamento.
Um chamado global para ação
A COP30 em Belém deve ser um ponto de virada. A comunidade internacional precisa agir com base em ciência, inovação, justiça social e respeito aos saberes tradicionais.
“O mundo não pode falhar com a Amazônia”, alerta Carlos Nobre. “Proteger a floresta e os povos que nela vivem é crucial para o futuro da humanidade.”
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