Se você nasceu em 1990, tem 63% de chance de enfrentar desastres naturais na vida, a exemplo de uma enchente catastrófica. Para quem nascer em 2025, essa probabilidade salta para 86%. Essa estimativa alarmante faz parte de um novo relatório do Escritório da ONU para Redução do Risco de Desastres (Undrr), que destaca o aumento drástico tanto na frequência quanto na intensidade dos desastres naturais ao redor do mundo.
Catástrofes mais frequentes e caras
O custo global das catástrofes ultrapassa os US$ 2,3 trilhões por ano, um impacto econômico dez vezes superior às estimativas anteriores. Além dos prejuízos imediatos, os eventos extremos afetam profundamente a saúde, educação, habitação e empregos, criando um ciclo vicioso de perdas duradouras.
A resposta humanitária não dá conta
Segundo Jenty Kirsch-Wood, chefe de análise de risco global da Undrr, o atual modelo de resposta humanitária tornou-se insustentável. Ela alerta que é preciso investir com inteligência, priorizando ações que aumentem a resiliência das comunidades e aliviem a pressão sobre os cofres públicos.
A especialista chama atenção para três ameaças principais que podem levar a um colapso sistêmico: o aumento da dívida pública aliado à queda de arrecadação, a impossibilidade de cobertura por seguradoras em regiões de alto risco, e a perpetuação de necessidades humanitárias emergenciais.
Desmatamento da Amazônia pode causar prejuízos bilionários
O relatório dedica uma parte importante ao Brasil, alertando que a degradação da Amazônia Meridional poderá custar até US$ 186 bilhões à economia do país até 2050. A conta inclui perdas nos setores de soja e carne bovina em um cenário de governança ambiental frágil.
Curiosamente, os custos de manter a floresta em pé, cerca de US$ 19,5 bilhões, seriam quase dez vezes menores do que os prejuízos causados pelo desmatamento. A conversão da floresta em savana, segundo o Undrr, é uma possibilidade real se a destruição continuar.
Moçambique mostra que prevenção funciona
O relatório também traz um exemplo positivo: Moçambique, que investiu em ações antecipadas para combater a seca. Com um custo médio de US$ 44 por família, os benefícios chegaram a US$ 99, mais do que o dobro do investimento.
Essas ações ajudaram a reduzir mortes de gado, aumentar a produtividade agrícola e melhorar a segurança alimentar. O caso demonstra que a gestão preventiva de desastres é não só eficaz, mas financeiramente vantajosa.
Prevenir é mais barato do que remediar
Apesar das evidências, a maioria dos recursos globais ainda é direcionada para respostas emergenciais e recuperação após desastres. O Undrr defende que isso mude: cada dólar investido na prevenção de riscos pode render um retorno de até US$ 15 em perdas evitadas.
Ferramentas como sistemas de alerta precoce e infraestrutura para controle de enchentes já se provaram eficientes. A agência alerta que o setor privado precisa se envolver mais ativamente, ajudando a quebrar o ciclo de perdas e reconstrução constante que aflige muitos países.
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