Com a chegada do verão, o Brasil se vê novamente em alerta máximo contra a dengue, uma doença infecciosa transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. Nesse contexto, um novo avanço tecnológico promete transformar a maneira como lidamos com o controle dessas epidemias nas áreas urbanas. Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da University of Sheffield (Reino Unido) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolveram um modelo computacional capaz de prever áreas com alto risco de infestação pelo mosquito, utilizando fotos das fachadas dos edifícios.
O projeto, financiado pela FAPESP e apoiado pelo Instituto Serrapilheira, lançou mão de uma abordagem inovadora, combinando informações do Índice de Condições de Moradia (ICM) com análise de imagens das fachadas dos imóveis. O objetivo é identificar rapidamente áreas urbanas com maior probabilidade de abrigar o vetor da dengue, permitindo uma intervenção mais precisa e eficaz por parte dos agentes de saúde.
Os resultados preliminares do estudo, divulgados em versão preprint no repositório medRxiv, apontam para uma revolução no monitoramento e controle da dengue. O modelo computacional, denominado PCINet, foi testado em 200 quarteirões da cidade de Campinas, onde se mostrou capaz de prever as condições das fachadas dos edifícios com base apenas em fotografias.
Francisco Chiaravalloti Neto, coordenador do estudo e professor do Laboratório de Análise Espacial em Saúde (Laes) da Faculdade de Saúde Pública (FSP-USP), destaca o potencial dessa tecnologia para otimizar o trabalho de combate à dengue. Ele ressalta que o uso de imagens do nível da rua, como aquelas disponíveis no Google Street View ou no OpenStreetMap, aliado ao PCINet, pode reduzir significativamente o número de visitas presenciais necessárias para identificar áreas de alto risco.
Os próximos passos do projeto incluem a validação da técnica em cidades de diferentes tamanhos e características. Uma vez validada, a metodologia poderá ser aplicada em qualquer município brasileiro, permitindo aos órgãos de saúde pública direcionar suas ações de combate à dengue de forma mais eficiente e precisa.
Com essa nova ferramenta em mãos, os pesquisadores acreditam que será possível indicar às autoridades as regiões com maior probabilidade de infestação pelo Aedes aegypti, permitindo uma resposta mais ágil e direcionada no combate às arboviroses, como a dengue, zika e chikungunya.