O desafio do custo de capital: Por que países em desenvolvimento enfrentam barreiras à energia sustentável

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Autor: Redação Revista Amazônia
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Enquanto o mundo avança em direção à transição energética, os países em desenvolvimento enfrentam um obstáculo crítico que ameaça atrasar suas metas climáticas: o alto custo de capital. Essa barreira, que eleva os custos de financiamento de projetos de energia limpa, cria uma lacuna entre o potencial desses países e a realidade econômica de implementar soluções sustentáveis. Segundo o roteiro do G20 para aumentar investimentos em energia limpa, o custo de capital nas economias em desenvolvimento pode ser até três vezes maior do que em países desenvolvidos, desencorajando investimentos privados e aumentando os desafios para alcançar as metas do Acordo de Paris. Chile 1080x810 2

O impacto dessa disparidade é significativo. Nos países desenvolvidos, onde os custos de financiamento são mais baixos, projetos de energia limpa conseguem oferecer retornos atrativos para investidores. Já nos países em desenvolvimento, o alto custo torna esses projetos menos competitivos em relação às alternativas baseadas em combustíveis fósseis. Isso perpetua um ciclo de dependência de fontes de energia poluentes, ao mesmo tempo em que limita o acesso a tecnologias mais limpas e econômicas no longo prazo.

Por que o Custo de Capital é Tão Alto?

O custo elevado de capital nos países em desenvolvimento está diretamente relacionado a riscos financeiros e institucionais. A instabilidade econômica, a falta de previsibilidade regulatória e as deficiências nos marcos jurídicos contribuem para uma percepção de alto risco por parte dos investidores internacionais. Isso, por sua vez, aumenta as taxas de juros e os prêmios de risco associados aos financiamentos nesses mercados.

Além disso, muitos desses países carecem de mercados de capitais robustos, o que limita a capacidade de financiar projetos localmente. A falta de instrumentos financeiros acessíveis e de crédito disponível para pequenos e médios empreendedores agrava ainda mais o problema. Como resultado, as economias em desenvolvimento são forçadas a depender de capital estrangeiro, que muitas vezes chega com condições onerosas.

Outro fator crítico é a ausência de dados confiáveis sobre riscos específicos do setor de energia limpa nesses países. Sem informações claras sobre taxas de inadimplência e retornos ajustados ao risco, investidores têm dificuldade em avaliar o potencial de projetos em mercados emergentes. Isso cria uma barreira adicional para a entrada de capital privado em larga escala.

O Que Pode Ser Feito?

O roteiro do G20 propõe uma série de soluções para enfrentar esse desafio, começando por iniciativas para reduzir os riscos percebidos e, consequentemente, os custos de financiamento. Uma das estratégias é o uso de instrumentos de mitigação de riscos, como garantias de crédito, dívidas subordinadas e financiamentos concessionais. Esses instrumentos podem ajudar a atrair investidores institucionais, ao oferecer proteção contra perdas iniciais e aumentar a viabilidade de projetos de energia limpa.

Além disso, o roteiro sugere reformas estruturais nos países em desenvolvimento, como o fortalecimento do estado de direito, a melhoria das condições macroeconômicas e o aumento da transparência nos setores de energia. Essas ações, embora demandem tempo, são fundamentais para construir confiança no mercado e reduzir os custos de capital a longo prazo.

A cooperação internacional também é essencial. Instituições financeiras de desenvolvimento (DFIs) têm um papel crucial em catalisar investimentos, oferecendo capital inicial para projetos e ajudando a atrair financiamento privado. Segundo o roteiro, a participação de DFIs em projetos de energia limpa pode aumentar significativamente a confiança dos investidores, ao garantir que riscos sejam compartilhados entre diferentes partes interessadas.

Casos de Sucesso e Lições Aprendidas

Embora o desafio do custo de capital seja significativo, há exemplos de países que conseguiram superar barreiras semelhantes. O Brasil, por exemplo, implementou com sucesso leilões competitivos para projetos de energia renovável, o que ajudou a reduzir custos e atrair investidores privados. Esses leilões ofereceram contratos de longo prazo que garantiram retornos previsíveis, tornando projetos de energia solar e eólica mais atrativos.

Outro exemplo positivo vem da Índia, que introduziu instrumentos financeiros inovadores, como os títulos verdes, para atrair investidores internacionais. Além disso, programas como o Perform, Achieve and Trade (PAT), focado em eficiência energética, mostraram que políticas públicas bem desenhadas podem criar um ambiente mais favorável para investimentos em energia limpa.

O Impacto Global do Custo de Capital

Resolver a questão do custo de capital não é apenas uma prioridade para os países em desenvolvimento, mas também para a comunidade global. Sem investimentos suficientes em mercados emergentes, o mundo terá dificuldade em alcançar as metas climáticas e limitar o aquecimento global a 1,5°C. Isso porque esses países não apenas abrigam a maior parte da população mundial, mas também representam os mercados com maior crescimento na demanda por energia.

Investir em energia limpa nesses países não é apenas uma questão de justiça climática, mas também uma oportunidade econômica. À medida que os custos das tecnologias limpas continuam a cair, há um potencial significativo para criar novos mercados e impulsionar o crescimento sustentável em regiões em desenvolvimento.

Um Caminho para a Ação

O roteiro do G20 é claro: enfrentar o desafio do custo de capital exige uma abordagem coordenada e multilateral. Governos, instituições financeiras e investidores privados precisam trabalhar juntos para criar soluções que tornem os investimentos em energia limpa mais acessíveis e atrativos. Isso inclui não apenas a mobilização de recursos financeiros, mas também o fortalecimento de capacidades locais e o desenvolvimento de políticas públicas que incentivem a transição energética.

Embora os desafios sejam muitos, as oportunidades são ainda maiores. Com ações estratégicas e parcerias eficazes, é possível transformar os países em desenvolvimento em protagonistas da transição energética global, garantindo um futuro mais sustentável e inclusivo para todos.


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