Transporte mais limpo: setor apresenta plano para cortar 68% das emissões de CO₂ até 2050

Autor: Redação Revista Amazônia

A caminho da COP30, o setor de transportes brasileiro deu um passo estratégico rumo à transição verde. Nesta segunda-feira (12), uma coalizão formada por cerca de 50 entidades entregou ao governo federal um ambicioso plano de descarbonização, com o objetivo de reduzir em 68% as emissões de gases de efeito estufa do setor até 2050. A proposta é fruto de uma demanda da presidência da próxima Conferência do Clima da ONU, que será sediada em Belém (PA), em 2025.

A Coalizão para a Descarbonização dos Transportes estruturou seu trabalho em três frentes principais: medir as emissões atuais e projetadas, identificar os principais vetores de redução e estimar os impactos das ações propostas. A meta é transformar um dos setores mais poluentes da economia brasileira em um dos pilares da transição climática nacional.

Segundo dados do plano, em 2023 o setor de transportes foi responsável por 260 milhões de toneladas de CO₂, o equivalente a 11% das emissões brutas do Brasil. Caso nenhuma medida seja adotada, esse número pode saltar para 424 milhões de toneladas em 2050, acompanhando o crescimento natural da demanda por transporte. A proposta da coalizão busca não apenas conter esse crescimento, mas reduzir as emissões para 137 milhões de toneladas, mesmo com o aumento do volume transportado.

O que está por trás da proposta?

A iniciativa é liderada por organizações como Motiva (novo nome da CCR), o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) e o Observatório Nacional de Mobilidade Sustentável do Insper. O trabalho foi coordenado em resposta a um convite do embaixador André Corrêa do Lago, representante da presidência brasileira na COP30, que solicitou planos concretos de cinco setores-chave da economia.

Durante o evento de entrega em Brasília, Corrêa do Lago destacou o pioneirismo da proposta: “É o primeiro documento que sai, de uma maneira absolutamente clara, mostrando esse compromisso com o Brasil e a forma brasileira de chegar à sua transição.”

Gráfico mostrando o consumo de combustível e as emissões de CO2 do setor aéreo de 2015 a 2021, além da meta global de emissões para 2050.
Consumo de combustível e emissões de CO2 do setor aéreo.

A diretora-executiva da COP30, Ana Toni, reforçou a importância estratégica do plano. “Esse tipo de coalizão e documento é fundamental não só para a COP, mas para consolidar nosso Plano Clima”, disse.

As 90 ações e os pilares da transformação

O plano propõe 90 ações concretas de descarbonização, que exigiriam cerca de R$ 600 bilhões em investimentos até 2050. As medidas envolvem desde incentivos à eletrificação da frota até uma ampla reestruturação da matriz logística brasileira, promovendo maior eficiência e uso de biocombustíveis.

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Dentre essas ações, três se destacam por sua capacidade de gerar mais da metade da redução total planejada. De acordo com Marina Grossi, presidente do CEBDS, “não são as mais fáceis, mas são as mais impactantes”. Ela afirma que os próximos anos serão decisivos para que o Brasil saia do campo das promessas e avance na implementação prática da descarbonização.

Eletrificação em destaque

A principal aposta da coalizão é a eletrificação da frota, especialmente no transporte urbano. A proposta é que, até 2050, 50% dos carros de passeio e 300 mil ônibus sejam movidos a eletricidade. Como a matriz elétrica brasileira é majoritariamente composta por fontes renováveis, esse movimento tem potencial para evitar 145 milhões de toneladas de CO₂.

Vale ressaltar que o plano não considera, por enquanto, os impactos da eletrificação de caminhões pesados, devido à atual limitação tecnológica e custo elevado. No entanto, o avanço das baterias e a redução de preços nos próximos anos poderão tornar essa alternativa cada vez mais viável.

Biocombustíveis e mudança de matriz logística

Outro eixo relevante é o incentivo ao uso de biocombustíveis, como o etanol e o biodiesel, já amplamente utilizados no Brasil. A proposta visa fortalecer a indústria nacional, investir em novas gerações de biocombustíveis e ampliar o uso em modais como transporte ferroviário e aquaviário.

Além disso, a coalizão propõe uma mudança profunda na matriz logística brasileira, historicamente dependente do transporte rodoviário. A meta é aumentar a participação de trens e hidrovias, que emitem menos por tonelada transportada. Essa transição é vista como estratégica para reduzir a pegada de carbono de forma estrutural.

Comparações internacionais e viabilidade

Apesar do desafio, o Brasil tem uma vantagem competitiva: sua matriz elétrica é mais limpa que a de países desenvolvidos. Segundo o plano, mesmo em 2050, a emissão per capita do setor de transportes no Brasil deverá ser de 1,9 tonelada de CO₂, bem abaixo dos níveis atuais dos Estados Unidos (6 toneladas) e da França (2,5 toneladas).

Com as tecnologias disponíveis hoje, o setor acredita ser possível alcançar uma redução de 47% em relação às emissões atuais. Os outros 21 pontos percentuais de corte dependerão de inovações tecnológicas, políticas públicas consistentes e investimentos coordenados entre o setor privado e o governo.

O papel da COP30

A entrega deste plano marca o início de uma nova fase de preparação para a COP30, que será realizada pela primeira vez na Amazônia. Para Marina Grossi, “é fundamental mostrar ao mundo que o Brasil tem não só potencial, mas propostas reais para liderar a agenda de sustentabilidade”.

O documento agora será incorporado aos debates nacionais sobre o Plano Clima e poderá influenciar a formulação de políticas públicas, programas de incentivo à inovação e financiamentos verdes.


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