Maranhão lança Conexão Resíduos para combater lixões e fortalecer municípios


O desafio de tratar o lixo no interior do Maranhão começa a ganhar contornos mais organizados e participativos. A Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Naturais do Maranhão (Sema) iniciou recentemente a mobilização presencial do programa Conexão Resíduos, com o objetivo de apoiar os municípios na criação e implantação dos seus próprios planos de gestão integrada de resíduos sólidos — os chamados PMGIRS. A ação representa uma virada no compromisso com o saneamento, a saúde pública e a sustentabilidade em diferentes regiões do estado, com o envolvimento de governos locais, sociedade civil, setor privado e comunidades.

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Os primeiros seminários que marcam essa fase de construção participativa ocorrem nos municípios de Santa Luzia do Tide e Porto Franco, nos dias 2 e 4 de dezembro, respectivamente. Nessas ocasiões, será apresentado o diagnóstico situacional de cada localidade — um mapeamento detalhado da infraestrutura existente, dos pontos críticos como lixões ou áreas de descarte irregular, e das demandas urgentes ligadas ao manejo de resíduos. A partir daí, os participantes coletivamente definirão metas, diretrizes e estratégias para a gestão sustentável dos resíduos sólidos, com base em modelos prontos desenvolvidos pela Sema.

Desde setembro, equipes técnicas da Sema têm percorrido municípios maranhenses, orientando prefeituras sobre a metodologia de diagnóstico, visitando locais sensíveis e reunindo dados sobre a realidade institucional e ambiental de cada território. Esse levantamento preliminar é a base para que os futuros PMGIRS não sejam documentos de intentos, mas planos operacionais, adaptados à realidade local, com metas claras e participação comunitária. A ideia é encerrar o ciclo dos lixões a céu aberto por meio de soluções ambientalmente adequadas e inclusivas.

A construção dos planos será coletiva: moradores locais, associações comunitárias, cooperativas de catadores, empresas privadas, lideranças municipais e órgãos públicos deverão colaborar, desenhando um sistema que respeite as particularidades de cada cidade. A inclusão da sociedade civil e do setor privado como parte do processo aumenta a legitimidade das ações e facilita o comprometimento com a implementação. O momento também servirá para sensibilizar e mobilizar a população sobre boas práticas de separação, coleta e destinação do lixo, algo que historicamente tem ficado fora do alcance de muitas comunidades rurais e semiurbanas.

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Além do diagnóstico e da definição de metas, os seminários contarão com uma capacitação técnica sobre licenciamento ambiental. A proposta é atualizar gestores, técnicos municipais e lideranças locais sobre normas e exigências legais, gestão de projetos e os impactos ambientais associados ao manejo inadequado de resíduos. Essa formação visa garantir que os futuros planos municipais estejam em conformidade com a legislação, evitando falhas que possam comprometer a eficácia do sistema e os direitos ambientais da população.

Para a superintendente de Gestão de Resíduos da Sema, Laiana Linhares, a iniciativa está alinhada às diretrizes do Plano de Governo Maranhense 2023–2026, especialmente no eixo denominado “Maranhão Sustentável”. Segundo ela, o projeto de resíduos sólidos é peça-chave para garantir o encerramento humanizado dos lixões e promover alternativas viáveis de destinação, reciclagem e reaproveitamento. “Não basta apenas fechar os lixões; é necessário construir, de forma coletiva, soluções permanentes que integrem gestão ambiental, saúde pública, economia local e participação social”, afirma.

A importância da ação vai além do descarte correto do lixo. A gestão integrada traz benefícios amplos: evita contaminação do solo e da água, reduz riscos à saúde da população, valoriza o material reciclável, gera trabalho e renda para cooperativas de catadores, e fortalece a governança local. Em longo prazo, um sistema de resíduos bem estruturado contribui para a qualidade de vida, para o meio ambiente e para o desenvolvimento sustentável dos municípios.

O formato do programa — com diagnóstico local, participação comunitária, capacitação técnica e planejamento estruturado — evidencia uma mudança de paradigma: o lixo deixa de ser visto como problema isolado e passa a ser tratado como um desafio coletivo e sistêmico, que exige articulação entre diferentes atores. O “Conexão Resíduos” pode se tornar um modelo de referência para estados brasileiros que ainda lutam com o descarte irregular e a ausência de políticas efetivas de saneamento.

Ao priorizar o diálogo, a inclusão de atores diversos e a formação técnica, o governo do Maranhão demonstra que a gestão de resíduos sólidos não é só uma questão ambiental — é também uma questão de justiça social, saúde pública e dignidade humana. O sucesso dessa iniciativa dependerá da participação ativa de prefeitos, gestores, da sociedade civil e da própria população; mas os primeiros passos já indicam uma rota promissora para o futuro dos municípios envolvidos.