Tamarutaca: como a lacraia-do-mar mantém o equilíbrio no manguezal

Autor: Redação Revista Amazônia

Entre as raízes entrelaçadas dos manguezais, onde o sal e o barro se fundem, vive uma criatura tão discreta quanto poderosa. A tamarutaca, também conhecida como lacraia-do-mar ou mantis shrimp, é uma espécie que desafia os padrões marinhos tanto pela força quanto pela importância ecológica. Com garras rápidas como um soco de boxe e olhos que enxergam como poucos no mundo animal, ela pode parecer uma curiosidade exótica, mas seu papel é fundamental para a saúde de todo o ecossistema costeiro.

Tamarutaca e sua função no equilíbrio ecológico dos manguezais

A tamarutaca é uma predadora de topo em seu microambiente. Isso significa que ela controla populações de caranguejos pequenos, moluscos, camarões e até peixes. Esse controle evita o desequilíbrio nas cadeias tróficas e mantém a diversidade sob controle natural. Em outras palavras, ela atua como uma “zeladora” do manguezal, garantindo que nenhuma espécie se sobreponha às demais de forma destrutiva.

Sua presença indica que o manguezal está funcionando como deveria. Locais onde a tamarutaca desaparece tendem a apresentar desequilíbrios, como explosão de algumas espécies e sumiço de outras. O papel de predador que ela desempenha é silencioso, mas essencial, mantendo o ciclo da vida fluindo nas zonas úmidas costeiras.

A estrutura corporal da tamarutaca é uma arma natural

Apesar de parecer apenas mais um crustáceo, a tamarutaca possui uma estrutura física impressionante. Suas garras podem ser divididas em dois tipos: esmagadoras e cortadoras. As do tipo “esmagador” são como martelos hidráulicos — capazes de quebrar conchas duríssimas com um golpe. Já as do tipo “cortador” se assemelham a lâminas que cortam como navalhas afiadas.

Além disso, seus olhos compostos são considerados os mais sofisticados do reino animal. Cada olho é capaz de perceber polarização da luz, cores ultravioletas e até identificar diferentes espectros de forma independente. Isso a torna uma caçadora extremamente precisa, mesmo em águas turvas ou com pouca luz — como é comum no ambiente dos manguezais.

Um comportamento territorial da tamarutaca molda o solo marinho

As tamarutacas são territorialistas por natureza. Elas cavam buracos na lama do manguezal e defendem essas moradas com unhas e garras — literalmente. Esse comportamento tem efeitos diretos no solo do ecossistema. A escavação constante promove a aeração do solo e facilita a drenagem da água, beneficiando raízes de mangue e outros organismos subterrâneos.

Além disso, seus túneis funcionam como micro-habitats para diversas formas de vida menores. Em seu esforço por manter um espaço seguro para si, a tamarutaca acaba beneficiando todo um conjunto de pequenos seres que compartilham o mesmo território.

O papel silencioso na cadeia alimentar

A tamarutaca é uma espécie que fica entre os invertebrados predadores e os animais que se alimentam de detritos. Quando ela morre, seu corpo se transforma em alimento para caranguejos, peixes e bactérias, reintegrando nutrientes no solo. Isso a coloca em uma posição de destaque tanto no topo quanto na base da cadeia alimentar.

Ela também tem um efeito indireto importante: ao predar animais herbívoros ou detritívoros em excesso, permite que as algas e detritos não se acumulem ou desapareçam completamente. Esse equilíbrio mantém o solo fértil, evita eutrofização e favorece a renovação constante do mangue.

Indicador natural da saúde ambiental

Por ser sensível a mudanças bruscas no ambiente, a presença da tamarutaca funciona como um indicador biológico. Em manguezais onde há poluição, excesso de resíduos ou desmatamento, as populações dessa espécie tendem a desaparecer. Cientistas e ambientalistas costumam estudar sua presença como um sinal de alerta ou como confirmação de que um sistema está saudável.

Sua ausência prolongada pode indicar que o ciclo de nutrientes foi quebrado, que há excesso de matéria orgânica acumulada ou até contaminação por metais pesados. Ou seja, quando a tamarutaca some, o manguezal pode estar doente — mesmo que tudo pareça normal à primeira vista.

Tamarutaca como a lacraia-do-mar mantém o equilíbrio no manguezal
Imagem criada com IA

Curiosidades da tamarutaca que encantam e assustam

Apesar de pequena, a tamarutaca pode aplicar golpes que chegam à força de uma bala calibre .22. Seus ataques são tão rápidos que geram bolhas de cavitação na água — pequenos “estalos” que podem ferir a presa mesmo sem contato direto. Essa habilidade faz dela uma das criaturas mais fascinantes dos mares.

Outra curiosidade está no campo visual. A tamarutaca pode ver até 12 tipos de cores primárias (nós, humanos, enxergamos apenas três: vermelho, verde e azul). Isso faz com que ela perceba o mundo com uma riqueza de detalhes praticamente inimaginável para nós.

Por que preservar a tamarutaca é preservar todo o manguezal

Proteger a tamarutaca é proteger o equilíbrio do mangue. E proteger o mangue é proteger a vida costeira como um todo — desde os peixes que alimentam comunidades até a vegetação que impede a erosão do solo e filtra poluentes naturais. O ciclo é interdependente, e a lacraia-do-mar é uma peça fundamental.

Ao valorizar essa espécie aparentemente “estranha” ou “invisível” ao olhar comum, estamos reconhecendo que a natureza tem seus próprios guardiões. E que muitas vezes, são esses seres discretos que garantem a resiliência dos biomas que sustentam nossas vidas.

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