Árvores Caídas na Amazônia Se Transformam em Móveis e Obras de Arte

Autor: Redação Revista Amazônia

Árvores caídas em obras de arte

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Árvores caídas a obras de arte – Foto: Rogério Azevedo de Barros Mendes

Na Amazônia, comunidades locais estão mudando suas vidas através de projetos inovadores que transformam árvores caídas em móveis, obras de arte e produtos de alto valor. Entre essas iniciativas estão o Ateliê da Floresta e a Movelaria Comunitária Sustentável, projetos apoiados pelo LIRA/IPÊ – Legado Integrado da Região Amazônica, que criam novas oportunidades, geram renda e promovem um futuro mais sustentável para a região.

“Essas iniciativas demonstram que é possível aliar conservação ambiental com desenvolvimento econômico, trazendo benefícios tanto para a floresta quanto para seus habitantes”, afirma Fabiana Prado, gerente do LIRA/IPÊ, uma iniciativa do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) dedicada à preservação da floresta e ao desenvolvimento de negócios comunitários na Amazônia.

Ateliê da Floresta

Inaugurado em 9 de junho de 2024, o Ateliê da Floresta, localizado na Reserva Extrativista Chico Mendes, em Xapuri, Acre, transforma resíduos de madeira em arte, móveis e utensílios, criando uma nova fonte de renda e orgulho para a comunidade. Idealizado por Raimundo Mendes de Barros, conhecido como Raimundão, e outros líderes do movimento agroextrativista acreano, o projeto se concretizou com o apoio do LIRA/IPÊ e do projeto Nossabio – Territórios Conservados, da SOS Amazônia.

Desde sua primeira exposição, o Ateliê atraiu interesse de galerias em Manaus e São Paulo. Construído pela SOS Amazônia em parceria com a Amoprex (Associação dos Moradores e Produtores da Reserva Extrativista Chico Mendes em Xapuri) e com apoio do LIRA/IPÊ, o Ateliê não só gera renda, mas também ajuda a conservar a floresta, mantendo vivos os ideais de Chico Mendes. “Me chamaram de gagá, de velho doido com ideias mirabolantes, assim como chamaram Chico Mendes. Ele sonhava que um dia os caboclos fossem considerados iguais aos da cidade. Só porque nascemos no mato, não temos os mesmos direitos?”, disse Raimundão na inauguração.

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Foto: Rafael Froner Lume

O desenvolvimento do projeto envolveu encontros com a comunidade, capacitação de artesãos, oficinas de gestão e associativismo, consultoria de mercado, aquisição de ferramentas e maquinários, criação de um manual de identidade visual e obtenção de licenciamento para uso sustentável da madeira. O ICMBio licenciou 50 metros cúbicos de madeira de 20 espécies diferentes.

“O Ateliê da Floresta é um símbolo de luta e persistência de 14 anos, representando um sonho realizado para nossa comunidade e serve como exemplo para outras, mostrando que a floresta em pé vale muito mais. Trabalhamos com resíduos florestais, transformando-os em artesanato que conta nossa história de luta e conservação. Este projeto já está gerando recursos e tem grande expectativa de gerar renda significativa para cada família envolvida”, conta Rogério Azevedo de Barros, filho de Raimundão.

“A iniciativa atraiu principalmente jovens e mulheres, o que é muito positivo. Atualmente, o ateliê envolve 18 famílias, mas a intenção é expandir gradualmente. Para isso, será fundamental mais investimento em formação, gestão e manutenção de relações justas com o mercado. Esses são os próximos passos”, afirma Adeilson Lopes, coordenador técnico da SOS Amazônia.

Movelaria Comunitária Sustentável

Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Igapó-Açú, um novo capítulo de esperança e inovação começou com a inauguração da Movelaria Comunitária Sustentável em maio de 2024. Coordenada pela Cooperativa de Manejadores do Igapó-Açú (Coopmaia), a movelaria transforma madeira manejada de forma sustentável em móveis e outros produtos de alto valor, desempenhando um papel crucial no desenvolvimento sustentável da região.

“A movelaria na RDS Igapó-Açú não só melhora a economia local, mas também valoriza a educação e o envolvimento dos jovens, transformando o antigo sentimento de vergonha de ser do interior em orgulho. Agora, os moradores podem comprar janelas e móveis localmente, algo antes inacessível. A criação da movelaria foi difícil e exigiu muito esforço da comunidade, mas com determinação, as coisas começaram a mudar. Situada na BR-319, é a única movelaria da região que utiliza madeira de manejo florestal beneficiada. A equipe continua a se organizar, e a comunidade está confiante de que esse é apenas o início de um futuro próspero, trazendo mais desenvolvimento e orgulho para todos”, diz Doracy Dias, presidente da COOPMAIA.

Parte do projeto Cidades Florestais Madeira-Purus, a criação da movelaria só foi possível graças à colaboração entre IDESAM (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia), ONG Casa do Rio e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMA), com apoio financeiro do LIRA/IPÊ. Profissionais do design, como Frederico Felipe e Rodrigo Silveira, deixaram ideias e protótipos para a comunidade produzir de forma autônoma.

“A movelaria é uma importante conquista para as comunidades, possibilitando a agregação de renda por meio da fabricação de pequenos objetos de madeira manejada, com maior valor agregado e facilidade de transporte. Junto com a comunidade, optamos por um produto escalável, fácil de fabricar e que utilize pouca matéria-prima, sem depender de fatores externos. Construída pelos próprios moradores, essa movelaria representa a garra e o protagonismo da comunidade, prometendo bons frutos para todos”, diz Marcus Biazzatti, coordenador técnico do IDESAM.

Como o LIRA Apoia o Desenvolvimento Sustentável na Amazônia

Fundado pela bióloga Fabiana Prado, o LIRA/IPÊ visa aprimorar os esforços de conservação no bioma amazônico, financiando projetos de impacto socioambiental, promovendo a geração e disseminação de conhecimento e apoiando políticas públicas voltadas para a conservação da Amazônia e resiliência climática.

Desde sua fundação, o LIRA/IPÊ colaborou com mais de 125 organizações em cinco estados, gerenciando 50 projetos em 59 áreas protegidas. A iniciativa busca não apenas conservar a floresta, mas também integrar e gerar conhecimento, além de engajar mulheres para maior protagonismo, pois elas desempenham um papel fundamental no tecido socioeconômico da região. Foram mais de 58 milhões de hectares de floresta conservados, beneficiando diretamente 52 mil pessoas em 62 municípios, com um investimento de R$ 46 milhões aplicado em projetos de impacto que promovem práticas socioambientais. O LIRA/IPÊ é o maior projeto de OSC (Organização da Sociedade Civil) do Fundo Amazônia e o segundo maior projeto de conservação da Amazônia.

Sobre o LIRA

O LIRA – Legado Integrado da Região Amazônica é uma iniciativa integrativa que potencializa ações de conservação da Amazônia através de três componentes: 1) Fundo LIRA, que financia projetos socioambientais com povos e comunidades tradicionais; 2) Gestão do Conhecimento e Inovação; e 3) Políticas Públicas socioambientais. Articula uma rede de 125 organizações atuando em cinco estados com bioma amazônico, executando 50 projetos em 59 áreas protegidas, promovendo a conservação da biodiversidade, o bem viver de povos e comunidades tradicionais e a resiliência climática.


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