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Ilhas brasileiras revelam biodiversidade única e ampliam debate sobre conservação

Durante muito tempo, quando se falava em ilhas com fauna e flora exclusivas, as Ilhas Galápagos, no Pacífico, surgiam como referência imediata. Porém, novas descobertas científicas estão mudando essa percepção. Pesquisas recentes revelam que as ilhas oceânicas brasileiras como Fernando de Noronha, São Pedro e São Paulo, Trindade e outras podem ser igualmente consideradas santuários de biodiversidade.

O estudo Escalas de Endemismo Marinho em Ilhas Oceânicas e o Endemismo Provincial-Insular, publicado pela Peer Community Journal, aponta que esses territórios brasileiros concentram espécies que não existem em nenhum outro lugar do planeta. A pesquisa é liderada por Hudson Pinheiro, da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), em parceria com cientistas de diferentes países.

Espécies únicas em um cenário pouco explorado

Segundo Pinheiro, expedições científicas vêm permitindo um mapeamento mais detalhado da biodiversidade marinha nacional. Muitas novas espécies já foram descritas e identificadas como endêmicas, ou seja, restritas a uma área específica. Isso coloca as ilhas brasileiras em posição de destaque global, devido à alta proporção de organismos exclusivos encontrados.

O levantamento analisou mais de 7 mil espécies de peixes recifais em 87 ilhas ao redor do mundo. Os resultados revelam que cerca de 40% delas só ocorrem em grupos de ilhas de uma mesma região, sem colonizar áreas continentais próximas. Esse padrão levou os pesquisadores a propor um novo conceito científico: o Endemismo Provincial-Insular, que reconhece como endêmicas espécies distribuídas em duas ou mais ilhas da mesma província, mesmo que não estejam restritas a apenas um território.

Na prática, isso significa que espécies presentes, por exemplo, tanto em Fernando de Noronha quanto no Atol das Rocas, devem ser vistas como igualmente singulares e frágeis, mesmo não sendo exclusivas de apenas uma ilha.

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Arquivo/Agência Brasil

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Riscos invisíveis

Apesar da importância, essas ilhas ainda são pouco estudadas devido à dificuldade de acesso. Diferente da costa continental, onde a pesquisa pode ser feita com maior frequência, expedições oceânicas dependem de alto investimento, logística complexa e apoio institucional. Isso faz com que muitas espécies só sejam descobertas tardiamente quando não já em risco de extinção.

Pinheiro alerta que o impacto das mudanças climáticas amplia essa vulnerabilidade. Em regiões continentais, algumas espécies conseguem se deslocar para áreas mais frias à medida que a temperatura sobe. No entanto, em ilhas isoladas, esse movimento é praticamente impossível. A limitação geográfica torna os organismos insulares muito mais suscetíveis a desaparecer diante de alterações ambientais bruscas.

Ciência, cooperação e futuro

O avanço desse conhecimento só foi possível graças à união de esforços. A Marinha do Brasil, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e diferentes organizações da sociedade civil ofereceram suporte logístico e financeiro para que as expedições fossem realizadas.

Para Marion Silva, gerente de Conservação da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário, os resultados reforçam a urgência da proteção dessas áreas. “Não se trata apenas de evitar a perda da biodiversidade, mas de garantir que os oceanos continuem regulando o clima, fornecendo recursos e inspirando soluções para os desafios do futuro”, afirma.

Outro marco importante foi a criação da primeira estação de mergulho científico mesofótico da América Latina, desenvolvida pelo Centro de Biologia Marinha da Universidade de São Paulo (Cebimar USP). A estrutura permite que pesquisadores explorem ambientes de até 150 metros de profundidade, ampliando a capacidade de observar ecossistemas pouco conhecidos.

Segundo Marion Silva, esse tipo de investimento transforma ciência em benefícios práticos: as expedições apoiadas já atualizaram listas de espécies e trouxeram novos registros para a comunidade científica.

Um novo olhar sobre as ilhas brasileiras

Ao propor um conceito inovador de endemismo e revelar a riqueza biológica das ilhas oceânicas do Brasil, os cientistas ampliam a forma como entendemos esses ecossistemas. Eles não são apenas paisagens paradisíacas, mas peças-chave para compreender processos evolutivos, enfrentar os impactos climáticos e repensar estratégias de conservação em escala global.

Se Galápagos se tornou símbolo da biodiversidade, as ilhas brasileiras mostram que há muitos outros capítulos dessa história ainda a serem escritos e protegidos.

Quilombolas do Pará exigem energia elétrica digna e renovável

Quilombolas do Pará deram um passo decisivo na luta pelo acesso digno à energia elétrica ao lançar, em parceria com especialistas da Rede Energia e Comunidades, dois documentos fundamentais: a “Carta-Manifesto das Comunidades Quilombolas de Abaetetuba (PA) pelo acesso digno à energia” e a nota técnica “Contribuição da Rede Energia e Comunidades ao encontro de monitoramento do Programa Luz para Todos em comunidades quilombolas de Abaetetuba (PA)”. Ambos destacam a exclusão energética que ainda afeta muitas comunidades tradicionais e apresentam propostas concretas para garantir energia elétrica renovável, acessível e de qualidade.

A carta-manifesto, redigida pelos próprios moradores, detalha os impactos da ausência de energia sobre direitos básicos como saúde, educação e assistência social. Já a nota técnica reforça a necessidade de incluir imediatamente as famílias quilombolas no Programa Luz para Todos, priorizando escolas, postos de saúde e centros comunitários, além de assegurar justiça tarifária, com isenção e compensações para comunidades afetadas por linhas de transmissão.

O lançamento ocorre em um contexto emblemático: o Brasil se prepara para sediar a COP 30 em Belém, em novembro, um evento global sobre mudanças climáticas, enquanto diversas comunidades ainda vivem sem acesso confiável à energia pública.

Os documentos foram produzidos durante o Encontro de Monitoramento e Avaliação do Programa Luz para Todos em Quilombos do Pará, realizado em agosto nos territórios Bom Remédio e Ramal do Piratuba, em Abaetetuba. A mobilização surgiu dos próprios moradores, que denunciam o fornecimento precário, dificuldades para pagar contas altas e falta de orientações sobre o uso eficiente da energia e canais de denúncia. O combate ao racismo energético e a garantia de energia digna, segura e participativa estiveram no centro dos debates.

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Reprodução

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O encontro contou com representantes do IBAMA, Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do Ministério de Minas e Energia (MME), do Ministério da Igualdade Racial (MIR) e do Ministério de Desenvolvimento Social, Família e Combate à Fome (MDS), além de autoridades locais e representantes de secretarias municipais. A presença das comunidades garantiu que suas vozes fossem centrais na formulação das demandas.

A carta finaliza exigindo que todas as decisões sobre empreendimentos energéticos respeitem a Convenção 169 da OIT, assegurando consultas livres, prévias e informadas desde a fase de planejamento. A máxima “Nada sobre nós, sem nós” resume o clamor por inclusão imediata no sistema público. Entre as reivindicações estão: universalização do Luz para Todos com participação comunitária, revisão e isenção da taxa de iluminação pública, renegociação de dívidas com concessionárias, atualização do CadÚnico para inclusão na Tarifa Social de Energia (TSEE), e investimento em sistemas de energia seguros em escolas, postos de saúde e espaços comunitários.

A nota técnica da Rede Energia e Comunidades enfatiza a criação de comitês interinstitucionais, adoção de tecnologias adequadas à Amazônia, agentes comunitários de energia e integração com serviços essenciais, como água potável e postos de saúde. O documento também alerta que a precariedade energética leva famílias a recorrer a ligações clandestinas, aumentando riscos de acidentes e danos ambientais.

O encontro foi organizado pelas associações Arquia, Arquituba e Malungu, ligadas à Conaq, com participação de representantes quilombolas de Amapá, Amazonas e Rondônia, que relataram realidades similares. A Equatorial Energia Pará, convidada, não compareceu, evidenciando a negligência histórica frente às demandas quilombolas.

Apesar disso, o encontro demonstrou a força da mobilização coletiva e reafirmou a centralidade da luta quilombola na defesa de direitos fundamentais. A vigilância e cobrança das comunidades será permanente, garantindo que seus direitos à energia digna sejam respeitados.

A Rede Energia e Comunidades reúne organizações como 350.org, CNS, COAIB, Idec, iCS, IEMA, ISA, Litro de Luz, PSA e WWF-Brasil, atuando para assegurar o direito à energia limpa, segura e sustentável em comunidades tradicionais da Amazônia.

Monitoramento de cetáceos cobre mais de 10 mil km de litoral

Do Amapá ao Ceará, passando pelo Pará, o Projeto de Caracterização e Monitoramento de Cetáceos (PCMC), realizado pelo Instituto Bicho D’água e pelo Instituto BioMA, com apoio da TGS, percorreu mais de 10 mil quilômetros em praias, rios e reentrâncias da Margem Equatorial brasileira em apenas um ano. O alcance do monitoramento supera a distância de ida e volta do Oiapoque (AP) ao Chuí (RS), demonstrando a escala e complexidade do trabalho realizado para proteger a fauna marinha da região Norte e Nordeste do Brasil.

Durante esse período, mais de 600 animais aquáticos foram atendidos, incluindo tartarugas, peixes-boi, aves, baleias e golfinhos, com uma média de dois atendimentos por dia. No Pará, especificamente, o projeto fortaleceu a proteção da fauna marinha por meio de monitoramentos contínuos, permitindo registrar ocorrências, identificar padrões de encalhes e responder rapidamente a animais debilitados, garantindo seu encaminhamento para reabilitação e posterior soltura.

Segundo Renata Emin, bióloga e presidente do Instituto Bicho D’água, o monitoramento constante das praias, do leste da Ilha do Marajó até Salinópolis, possibilita não apenas resgatar animais de forma mais eficiente, mas também gerar dados importantes sobre a biodiversidade local. Cada encalhe, mesmo que de um animal já morto, contribui para compreender melhor a fauna e aprimorar futuras estratégias de conservação.

O monitoramento embarcado, conduzido pelo Instituto BioMA, abrangeu 1.911,99 km de rios, igarapés e áreas de difícil acesso terrestre. A bióloga Angélica Rodrigues, pesquisadora do BioMA, ressalta que esta modalidade é essencial para alcançar regiões remotas da costa Norte, fortalecendo a vigilância ambiental e permitindo a inclusão de monitores locais na proteção das espécies.

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Divulgação

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O projeto é resultado de uma exigência do IBAMA dentro do processo de licenciamento ambiental para atividades de pesquisa sísmica marítima realizadas pela TGS nas Bacias Sedimentares Marítimas da Foz do Amazonas e Pará-Maranhão. Para André Favaretto Barbosa, analista ambiental do IBAMA, a iniciativa viabilizou recursos estratégicos para as instituições locais, como a construção de um centro de reabilitação de animais marinhos no Pará e um semi-cativeiro de aclimatação pré-soltura de peixes-boi em Soure, na Ilha do Marajó. Essas estruturas aceleram o retorno seguro dos animais à natureza e reduzem a superlotação de instalações temporárias.

Além da proteção direta da fauna, o PCMC promove geração de conhecimento técnico-científico, capacitação de profissionais, educação ambiental e sensibilização das comunidades locais. João Correa, country manager da TGS no Brasil, enfatiza que a iniciativa deixa um legado duradouro para a preservação e conscientização ambiental, beneficiando não apenas os parceiros ambientais, mas também as populações que vivem ao longo das mais de 3 mil milhas percorridas.

Instituto-Bicho-Dagua-tenta-resgatar-peixe-boi-no-rio-Arari-2048x1536-1-9-400x300 Monitoramento de cetáceos cobre mais de 10 mil km de litoral
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O impacto do projeto vai além do monitoramento. Ele cria uma rede de vigilância contínua, promove a formação de equipes capacitadas, apoia políticas de conservação e estabelece protocolos que podem ser replicados em outras regiões costeiras do país. A combinação de monitoramento de praia, embarcado, resgate, reabilitação e educação ambiental constitui uma estratégia integrada que fortalece a proteção da biodiversidade marinha e garante maior resiliência dos ecossistemas locais.

O PCMC/PAMA-FZA é um exemplo de como parcerias entre empresas, órgãos ambientais e institutos de pesquisa podem produzir resultados concretos e mensuráveis, promovendo não apenas a proteção das espécies ameaçadas, mas também o desenvolvimento do conhecimento científico e da conscientização socioambiental.

Livro clássico sobre povos indígenas renasce na COP30

Publicado pela primeira vez na década de 1970 pela editora Codecri, responsável também pelos títulos do jornal O Pasquim, o livro Nossos índios, nossos mortos retorna às livrarias em nova edição pela Letra Capital Editora. Escrita pelo jornalista, escritor e documentarista Edilson Martins, a obra se tornou um marco do jornalismo de denúncia no Brasil ao expor a violência contra os povos indígenas e a devastação da Amazônia em plena ditadura militar.

Cinco décadas depois, o livro reaparece não como relíquia, mas como documento vivo. Ao longo dos anos, nunca desapareceu totalmente: permaneceu em sebos, bibliotecas, estantes virtuais e, sobretudo, nas mãos de leitores que o repassavam entre amigos. Agora, atualizado e ampliado, volta ao público em um momento simbólico, às vésperas da COP30, que será realizada em novembro, em Belém do Pará.

Entre os entusiastas da primeira edição estavam figuras como o antropólogo Darcy Ribeiro e os irmãos sertanistas Cláudio e Orlando Villas-Bôas, pioneiros na defesa dos povos indígenas. O impacto inicial foi imediato: mais de 350 mil exemplares vendidos, algo incomum para uma obra que tratava de massacres, epidemias, remoções forçadas e a expansão predatória sobre territórios originários. O livro deslocou a questão indígena do círculo restrito de antropólogos e sertanistas para o debate público, transformando-se em referência obrigatória.

A nova edição preserva a linguagem direta de Edilson Martins, mas acrescenta novidades: um prefácio inédito, textos de apresentação do escritor Antônio Callado e do sertanista Apoena Meirelles, além de uma crônica sobre Marina Silva quando foi convidada por Lula, em 2002, para assumir o Ministério do Meio Ambiente.

O lançamento será em 17 de setembro, na Livraria da Travessa de Botafogo, no Rio de Janeiro, com entrevista ao vivo do autor para o jornalista Ricardo Lessa e exibição de vídeos produzidos pelo próprio Edilson.

Ao longo de 286 páginas e 44 fotografias, o livro reúne nove capítulos em que o autor documenta não apenas as atrocidades cometidas contra povos indígenas, mas também a riqueza de suas culturas, organizações sociais, cerimônias religiosas e modos de vida. São relatos de campo de mais de 50 anos de viagens, atravessando reservas, aldeias e regiões isoladas, onde registrou tradições, crenças, relações de gênero e até curiosos matriarcados em processo de desaparecimento.

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Guilherme Gnipper/Hutukara/Divulgação

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Personagens históricos dão corpo à narrativa. O Cacique Mário Juruna, dos Xavante, surge em uma entrevista de 1977 publicada originalmente em O Pasquim. Umeru, cacique Bororo, relata o massacre da aldeia de Meruri pouco antes de morrer. Outros líderes também têm voz: Raoni, Turumin (pataxó), Prepori (Caiabi) e, em entrevista exclusiva, Orlando Villas-Bôas, indicado duas vezes ao Prêmio Nobel da Paz.

A força do livro está não apenas na denúncia, mas também na afirmação da vitalidade indígena. Martins descreve mais de 20 troncos e 150 famílias linguísticas, revelando como cada povo construiu formas singulares de lidar com ciúme, casamento, erotismo, poligamia e a vida em comunidade. Esse mosaico cultural contrasta com as pressões externas de missões religiosas, mineração, frentes de expansão e projetos de “pacificação”.

O retorno de Nossos índios, nossos mortos acontece em um Brasil que ainda convive com a mesma lógica de destruição denunciada há meio século. Hoje, as ameaças não se limitam a massacres e epidemias: o avanço do desmatamento, da mineração ilegal e das mudanças climáticas agrava a vulnerabilidade dos povos originários. Para Edilson Martins, a coincidência com a COP30 é emblemática: “Este livro volta como leitura obrigatória. Não se pode pensar o Brasil sem os povos indígenas. Eles são a raiz de nossa formação étnica e cultural”.

A trajetória do autor explica a força da obra. Nascido no Seringal Esperança, na divisa entre Amazonas e Acre, cresceu ouvindo relatos das “correrias” — expedições de seringalistas para exterminar aldeias. Convertendo testemunho em jornalismo, colaborou para veículos como o Jornal do Brasil, IstoÉ, Opinião e O Pasquim. Mais tarde, recebeu o Prêmio Vladimir Herzog pelo documentário Chico Mendes – Um povo da floresta, exibido em TVs de todo o mundo.

Autor de nove livros, todos esgotados, Edilson Martins insiste em uma advertência: governos passam, regimes caem, mas o desaparecimento das florestas e de seus povos não tem volta. É o alerta que atravessa décadas e que faz de Nossos índios, nossos mortos não apenas um livro, mas um testemunho essencial para pensar o Brasil no presente.

Talanoa lança proposta para reinventar a governança climática

São Paulo, 09 de setembro de 2025 – A discussão sobre como o Brasil pode enfrentar a crise climática ganha um novo capítulo nesta semana. O Instituto Talanoa lança, em Brasília, uma coletânea inédita de quatro volumes dedicada a repensar a governança climática no país. O material reúne análises, diagnósticos e propostas que buscam articular políticas públicas de maneira transversal e colaborativa, oferecendo caminhos para que o Brasil avance de forma estruturada no cumprimento de suas metas climáticas.

O lançamento acontece em paralelo ao Seminário de Governança e à instalação das câmaras temáticas do Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM), hoje reconhecido como a instância máxima de coordenação da agenda climática no âmbito federal. O momento é considerado estratégico para provocar um debate mais amplo sobre os arranjos institucionais capazes de dar conta da complexidade do desafio climático.

Segundo Marta Salomon, analista sênior da Talanoa e recém-nomeada para a Câmara de Participação Social do CIM, a oportunidade é de criar um espaço em que ministérios, especialistas, cientistas, sociedade civil e autoridades subnacionais possam dialogar em pé de igualdade. “A crise climática exige articulação e governança robusta. O CIM, ao reunir diferentes atores, pode ser um catalisador para essa transformação”, afirma.

A proposta da Talanoa não surgiu do zero. Em abril, a organização já havia promovido um debate em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV), em São Paulo, onde apresentou a ideia de estruturar um Sistema Nacional do Clima. O cerne da proposta é a criação de uma Agência Nacional do Clima, responsável por articular ações em diferentes níveis da federação, conectar setores econômicos e integrar políticas públicas que vão muito além da área ambiental. A agenda climática, argumenta o think tank, é transversal por natureza: envolve desde a agricultura até o transporte, da energia à saúde pública.

Na apresentação desta quarta-feira, Salomon deve detalhar como essa agência poderia aumentar a transparência, integrar políticas setoriais e abrir novos canais de participação social. A ideia é que a sociedade não seja apenas espectadora, mas parte ativa das decisões que moldarão a transição climática brasileira. O Plano Clima, já em construção, serviria como horizonte comum para guiar esse processo.

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Reprodução – ONU

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Para Natalie Unterstell, presidente da Talanoa, o país atravessa uma rara janela de oportunidade. De um lado, cresce a pressão internacional para que o Brasil assuma papel de liderança nas soluções climáticas globais. De outro, há um movimento interno de reorganização institucional, simbolizado pelo fortalecimento do CIM. “Se quisermos cumprir nossas metas e consolidar a posição do Brasil como líder internacional, precisamos de uma governança sólida, transparente e eficaz”, afirma.

A coletânea lançada agora materializa esse esforço. Distribuída em quatro volumes, ela combina diagnósticos sobre a atual estrutura de governança, análises de experiências internacionais e propostas concretas de arranjos institucionais. Mais que um compêndio técnico, o material é um convite à reflexão coletiva: como transformar a governança climática em um motor de coordenação, em vez de um emaranhado burocrático que trava avanços?

O pano de fundo é claro. O Brasil tem compromissos climáticos ambiciosos assumidos no Acordo de Paris e reforçados em conferências recentes, mas ainda enfrenta lacunas na implementação. A desarticulação entre ministérios, a sobreposição de responsabilidades e a fragilidade na integração entre União, estados e municípios tornam a execução fragmentada e pouco eficaz.

Ao propor novas formas de coordenação, a Talanoa toca num ponto sensível: a governança climática não pode ser responsabilidade de um único ministério, mas sim de toda a máquina pública, em articulação com a sociedade. E, para isso, são necessárias instituições que inspirem confiança, criem transparência e assegurem que as vozes de diferentes setores sejam ouvidas.

A mensagem do lançamento é inequívoca: o Brasil tem condições de se tornar referência global em transição climática, mas precisa alinhar discurso e prática. Governança não é um detalhe burocrático — é a engrenagem central que pode transformar compromissos em resultados concretos.

7 dicas de segurança para observar corujas de perto sem correr nenhum risco

Quem já teve a oportunidade de ver uma coruja de perto sabe o quanto essa experiência é marcante. Os olhos penetrantes, o voo silencioso e o mistério que envolve essas aves noturnas despertam fascínio em qualquer amante da natureza. Mas a verdade é que se aproximar delas exige cuidado e respeito. Corujas não são animais de estimação, nem estão acostumadas com interações frequentes com humanos. Por isso, observar sem conhecimento pode trazer riscos tanto para quem se aproxima quanto para as próprias aves.

Com pequenas mudanças de comportamento e algumas técnicas simples, é possível vivenciar essa experiência única sem colocar ninguém em perigo. A seguir, você confere dicas práticas compartilhadas por observadores experientes e biólogos especializados.

Corujas: o encanto e a necessidade de respeito

As corujas são aves de rapina noturnas, presentes em diferentes regiões do Brasil e do mundo. Elas possuem hábitos silenciosos e territorialistas, o que significa que podem reagir se sentirem ameaçadas. Observar de perto é possível, mas o segredo está em respeitar seus limites. Quando seguimos as regras de segurança, não apenas preservamos a própria experiência, como também garantimos a proteção da espécie.

Evite aproximar-se do ninho

O primeiro ponto é nunca se aproximar de ninhos. Corujas protegem suas crias de forma agressiva e podem atacar se perceberem invasão. O ideal é manter distância mínima de 20 metros de locais suspeitos de abrigar filhotes. Caso perceba sinais de defesa, como gritos repetidos ou movimentos de voo em círculos, recue imediatamente. Essa é uma das formas mais eficazes de evitar riscos.

Use binóculos em vez de chegar muito perto

Muitos iniciantes pensam que para observar bem é necessário chegar a poucos metros da coruja. Na prática, binóculos de boa qualidade permitem ver todos os detalhes sem incomodar a ave. Esse equipamento amplia a experiência e ainda oferece segurança. Além disso, usar câmeras com lentes de zoom garante registros incríveis sem precisar avançar no território da coruja.

Escolha o horário correto

Corujas são mais ativas ao entardecer e durante a noite. Isso significa que observar durante o dia pode gerar estresse, já que é o período em que elas descansam. Ao escolher o momento certo, você encontra a ave em seu estado natural de atividade e diminui a chance de atrapalhar. Mas lembre-se: sempre mantenha silêncio e evite lanternas fortes, que podem desorientar o animal.

Evite movimentos bruscos e barulhos

Outro detalhe importante é a postura durante a observação. Falar alto, usar lanternas diretamente sobre a coruja ou se mover de forma brusca pode assustar a ave e até provocar ataques de defesa. O ideal é se deslocar devagar, em silêncio, usando roupas discretas que não chamem atenção. Quem já viveu essa experiência garante que o segredo é se comportar como parte do ambiente.

Não tente alimentar a coruja

Uma das maiores falhas cometidas por curiosos é oferecer comida. Além de ser prejudicial para a saúde da ave, isso pode alterar seus hábitos naturais de caça e até atrair a coruja de forma perigosa. Lembre-se: corujas são predadoras eficientes e não precisam de interferência humana. O mais responsável é apenas observar sem interagir.

Escolha locais seguros para observar

Muitos parques, reservas naturais e até áreas urbanas possuem corujas adaptadas ao ambiente humano. Buscar locais conhecidos por observadores aumenta a segurança, já que você terá mais informações sobre o comportamento da espécie naquela região. Além disso, nesses lugares é comum encontrar grupos guiados por especialistas, o que torna a experiência ainda mais rica.

Conheça os sinais de alerta da ave

Assim como cães e gatos demonstram quando estão incomodados, corujas também têm sinais de defesa. Estufar o corpo, bater asas de forma repetitiva ou vocalizar alto são indícios de que não estão à vontade. Ao notar esse comportamento, o recomendado é recuar calmamente. Respeitar os sinais significa não transformar a experiência em um risco desnecessário.

Equipamentos de proteção podem ajudar

Em alguns casos, observadores mais experientes recomendam o uso de chapéus, bonés ou até óculos de proteção, principalmente em áreas onde as corujas são conhecidas por proteger ninhos em zonas abertas. Embora raros, ataques podem ocorrer, e estar protegido é uma forma simples de garantir segurança.

A importância de não manipular corujas

Jamais tente segurar, acariciar ou capturar uma coruja. Além de perigoso, é crime ambiental no Brasil, já que elas fazem parte da fauna silvestre protegida por lei. Caso encontre uma ave machucada, o correto é acionar órgãos ambientais ou centros de reabilitação. Manipular sem conhecimento pode agravar ferimentos e colocar sua própria segurança em risco.

Histórias de observação responsável

Muitos grupos de observadores relatam que, ao adotar essas práticas, conseguem experiências incríveis. Uma estudante em Brasília contou que conseguiu acompanhar o voo de uma coruja-buraqueira em campo aberto por mais de uma hora apenas mantendo distância e usando binóculos. Já um grupo no interior de Minas Gerais observou um casal alimentar filhotes sem que houvesse qualquer sinal de estresse. Esses relatos confirmam que é possível unir segurança, respeito e encantamento.

Observar corujas de perto pode ser uma das experiências mais ricas para quem gosta de vida selvagem. Mas para que seja positiva, é essencial seguir as regras de segurança. Cada passo consciente garante não apenas sua integridade, mas também a preservação dessas aves fascinantes. Ao adotar essas práticas, você se aproxima do mundo das corujas com respeito e sai com memórias inesquecíveis.

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O motor oceânico que está parando, como o enfraquecimento da circulação do atlântico pode mudar o clima da Amazônia

Um dos mais discretos, mas poderosos, motores do clima planetário está ameaçado de colapso. A Circulação Meridional do Atlântico, conhecida pela sigla Amoc (Atlantic Meridional Overturning Circulation), funciona como uma esteira oceânica que transporta calor do sul para o norte, regulando o clima em todo o hemisfério norte e influenciando a dinâmica de chuvas em regiões tropicais, como a Amazônia. Agora, um estudo internacional publicado na Nature Communications indica que esse sistema vital pode se enfraquecer de forma inédita até o final do século.

A pesquisa, que reuniu cientistas da Alemanha, Suíça e Brasil, reconstruiu o comportamento da Amoc ao longo dos últimos 12 mil anos, através da análise de sedimentos marinhos coletados em pontos estratégicos do Atlântico Norte. Eles usaram elementos radioativos como o tório-230 e o protactínio-231 para estimar a intensidade da circulação oceânica durante o Holoceno.

Segundo Cristiano Mazur Chiessi, professor da USP e um dos autores do artigo, a Amoc manteve uma estabilidade notável nos últimos 6.500 anos. Essa relativa calma, no entanto, contrasta com os cenários projetados para as próximas décadas, que indicam uma perda de intensidade sem precedentes nesse intervalo de tempo. A razão está no aquecimento global induzido por atividades humanas.

“Não há registro de uma instabilidade comparável com o que os modelos climáticos projetam para o futuro próximo. E isso deve ser levado a sério por governos, sociedade e a própria comunidade científica”, afirma Chiessi.

O que está em jogo: a chuva na Amazônia

Um dos impactos mais sensíveis desse colapso pode atingir justamente a região mais preservada da floresta amazônica: o norte da Amazônia, que inclui partes do Brasil, da Colômbia, Venezuela e Guianas. Com o enfraquecimento da Amoc, as chuvas equatoriais tendem a se deslocar para o sul, reduzindo drasticamente a pluviosidade nessa região.

“A mudança climática pode impor vulnerabilidade às áreas que, até agora, funcionaram como um porto seguro da biodiversidade”, alerta o pesquisador.

A redução de chuvas, somada à pressão do desmatamento, pode desencadear um ciclo de retroalimentação negativa, agravando ainda mais o risco de colapso ecológico da floresta. Estudos anteriores, como o publicado em 2024 por Thomas Kenji Akabane e colegas, já haviam apontado essa tendência: enfraquecimentos anteriores da Amoc coincidiram com a substituição de florestas úmidas por vegetações mais secas e sazonais no norte amazônico.

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Representação esquemática da Célula de Revolvimento Meridional do Atlântico (seta em azul claro e vermelho), que transporta, perto da superfície, águas quentes do sul para o norte; e, em profundidades intermediárias, águas frias do norte para o sul. O desenho também mostra uma outra célula (seta em azul escuro), que transporta águas em grande profundidade (imagem: croqui de Cristiano Mazur Chiessi a partir de informações de Voigt et al., 2017)

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O funcionamento da Amoc

Para entender a gravidade da mudança, é preciso saber como funciona esse sistema. A Amoc transporta, na superfície, águas quentes dos trópicos para o Atlântico Norte. Ali, essas águas esfriam e afundam, retornando em profundidade para o sul. É esse fluxo que distribui calor entre os hemisférios e estabiliza o clima de regiões como a Europa e a bacia amazônica.

Esse processo, porém, depende de um delicado balanço entre salinidade e temperatura. Com o derretimento acelerado das calotas polares, especialmente na Groenlândia, grandes volumes de água doce estão sendo despejados no Atlântico Norte, reduzindo a salinidade e dificultando o afundamento das águas frias. O resultado é o enfraquecimento progressivo da Amoc.

Ponto de não retorno?

A possibilidade de colapso total da Amoc é tratada com extrema cautela pelos cientistas. Mas os sinais de alerta estão se acumulando. Monitoramentos iniciados em 2004 indicam tendência de queda na intensidade da circulação. Embora ainda não haja consenso sobre se essa desaceleração já passou do ponto de não retorno, o risco de uma mudança abrupta não pode mais ser ignorado.

Segundo Chiessi, “ainda temos tempo para agir, mas as medidas precisam ser urgentes, ambiciosas e coordenadas internacionalmente”. Isso inclui desde a redução drástica das emissões de gases de efeito estufa até a proteção efetiva das áreas mais vulneráveis do planeta, como a Amazônia.

Quando a ciência fala, é hora de ouvir

O estudo traz um aviso claro: pela primeira vez em mais de seis mil anos, o sistema que equilibra a distribuição de calor nos oceanos pode estar prestes a entrar em colapso. E o Brasil, guardião da maior floresta tropical do mundo, está entre os países mais expostos a esse risco.

A Amazônia não está isolada. Sua chuva depende do oceano. E o oceano, por sua vez, está respondendo às escolhas que fazemos todos os dias. Ouvir o que os cientistas têm a dizer é o primeiro passo para reequilibrar essa relação.

4 passos simples para salvar pássaros feridos sem precisar ser especialista

Você já encontrou pássaros caídos no quintal ou na rua e ficou sem saber o que fazer? Essa é uma situação mais comum do que parece e, muitas vezes, a primeira reação é de compaixão misturada com insegurança. A ideia de ajudar é imediata, mas o medo de machucar ainda mais ou de “não saber como lidar” faz com que muitas pessoas desistam. A boa notícia é que qualquer pessoa, mesmo sem ser veterinário, pode dar os primeiros cuidados e aumentar as chances de sobrevivência de um pássaro ferido. Basta seguir quatro passos simples que salvam vidas.

Como salvar pássaros feridos com cuidado e responsabilidade

Antes de tudo, é importante lembrar: pássaros são frágeis. Seus ossos são finos e sua respiração é acelerada. Isso significa que cada movimento deve ser feito com delicadeza e atenção. Mas ao contrário do que muita gente pensa, não é necessário conhecimento técnico profundo para prestar socorro inicial. O que conta é agir com calma e seguir uma sequência lógica de cuidados básicos.

1. Avalie a situação sem pressa

O primeiro passo é observar. Muitas vezes, os pássaros que parecem feridos está apenas atordoado por bater em um vidro ou ser surpreendido por algum predador. Nesses casos, ele pode se recuperar sozinho em poucos minutos. Portanto, observe se ele respira normalmente, se consegue se movimentar ou se apresenta sinais evidentes de fratura, como asas caídas ou sangramento. Se o pássaro apenas estiver atordoado, afaste pessoas e animais e dê a ele alguns minutos em silêncio para se recuperar.

2. Proteja o pássaro e reduza o estresse

Caso o animal esteja realmente ferido, é fundamental recolhê-lo com cuidado. O ideal é usar uma toalha ou pano leve para envolvê-lo e evitar movimentos bruscos. Coloque-o em uma caixa de papelão perfurada, com um pano macio no fundo, longe de barulho e luz intensa. Isso ajuda a reduzir o estresse, que é uma das principais causas de morte em situações de resgate. Nunca tente segurá-lo diretamente com força, pois isso pode causar mais ferimentos ou até sufocamento.

3. Ofereça segurança imediata, não comida

Muitas pessoas pensam que dar comida ou água é a primeira medida, mas isso pode ser perigoso. Pássaros feridos podem aspirar líquidos e se engasgar. O foco inicial deve ser apenas oferecer segurança e descanso. O ambiente calmo e protegido já é o suficiente até que ele possa receber cuidados adequados. Só após orientação de um veterinário é que se deve oferecer alimentação, de acordo com a espécie.

4. Procure ajuda especializada o quanto antes

O último passo é essencial: encaminhar o pássaro a profissionais. Centros de triagem de animais silvestres, ONGs ambientais ou veterinários especializados em aves estão preparados para oferecer tratamento adequado. Enquanto isso, mantenha o animal protegido e sem manipulação excessiva. A sua ação rápida de resgate faz toda a diferença até que ele chegue às mãos certas.

O impacto humano no cuidado com pássaros

Pássaros sofrem acidentes principalmente por causa de interações com o ambiente urbano: vidraças, fios elétricos, gatos domésticos e até poluição. Quando alguém decide agir, mesmo com gestos simples, contribui diretamente para a preservação da biodiversidade. Esse tipo de cuidado também é uma oportunidade de reflexão: se a presença humana gera riscos, pode ser também a solução para salvar vidas.

O que não fazer em hipótese alguma

  • Não tente alimentar o pássaro à força.

  • Não ofereça leite ou pão, pois isso pode intoxicar.

  • Não mantenha o animal exposto ao sol ou correntes de ar.

  • Não tente consertar fraturas ou cortar penas.

O poder do gesto simples

Resgatar um pássaro ferido é mais do que um ato de bondade: é um símbolo de responsabilidade com a vida ao redor. Pequenos gestos como pegar uma caixa, oferecer silêncio e procurar ajuda podem representar a diferença entre vida e morte para um animal tão vulnerável.

Cozinheiros, donas de casa, trabalhadores urbanos ou qualquer pessoa comum pode se tornar herói de pássaros com atitudes básicas. O importante não é ser especialista, mas estar disposto a agir com empatia e cuidado.

Ao seguir esses quatro passos simples, você não só salva uma vida, como também cria uma conexão única com a natureza, lembrando que cada ser tem seu espaço e valor. Na próxima vez que encontrar um pássaro em apuros, respire fundo e lembre-se: a diferença começa no seu gesto.

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Inovação no Pantanal revoluciona estudo da onça-pintada

No Pantanal Norte, entre áreas alagadas, matas ciliares e a poeira da Transpantaneira, um experimento científico vem mudando a forma como conhecemos a onça-pintada (Panthera onca). Pesquisadores do Instituto Impacto e da Universidade Estadual Paulista (UNESP) desenvolveram uma técnica inédita: coletar pelos de onças sem qualquer contato direto com os animais, sem captura, sedação ou manipulação. O método, testado na Pousada Piuval, em Mato Grosso, pode redefinir o estudo de grandes felinos em vida livre, unindo ciência de ponta, ética e conservação.

Desde 2022, os cientistas já coletavam amostras fecais para investigar dieta, parasitas e presença das onças na região. Mas as fezes, embora úteis, limitam análises mais profundas. Foi então que os pesquisadores exploraram um comportamento típico desses felinos: esfregar o corpo em troncos, marcas no solo ou objetos do ambiente. Ao instalar discretos tapetes de fibra sintética em trilhas naturais e monitorá-los com armadilhas fotográficas, conseguiram capturar fios de pelo deixados pelas próprias onças em seus movimentos cotidianos — sem uso de iscas ou atrativos.

Esse gesto aparentemente banal transformou-se numa fonte riquíssima de dados. O material coletado mostrou qualidade suficiente para análises genéticas, químicas e isotópicas. A microscopia revelou pelos intactos, adequados para estudos moleculares e toxicológicos. O gene AML, que identifica o sexo do animal, foi amplificado com sucesso, e a eletroforese confirmou a integridade genética do material.

Os benefícios vão além do conhecimento acadêmico. Os dados genéticos permitem identificar indivíduos, mapear a diversidade populacional e até investigar parentescos. Já os testes toxicológicos trouxeram um alerta: foram detectados níveis elevados de cádmio e manganês nos pelos, em quantidades consideradas tóxicas. Esses elementos, possivelmente relacionados ao garimpo de ouro, sugerem contaminação ambiental que afeta não apenas os grandes predadores, mas também comunidades humanas que dividem o mesmo ecossistema.

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ICMBIO/divulgação

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Outro ponto promissor vem da análise de isótopos estáveis, capaz de revelar padrões de dieta e uso de território. Ainda com um conjunto limitado de dados, o estudo já mostra potencial para explicar como alterações no habitat, pressões humanas e degradação ambiental impactam diretamente as onças.

O artigo científico com esses resultados foi publicado na revista Animals. Ele reforça que a técnica inaugura um caminho mais ético, econômico e replicável para estudar felinos em vida livre. Ao eliminar a necessidade de captura, reduz custos, riscos e estresse para os animais — fatores que frequentemente limitam pesquisas de campo.

A inovação é também democrática. Com recursos relativamente acessíveis, pode ser adotada por grupos menores de pesquisa, expandindo o monitoramento em áreas onde antes seria inviável. Além disso, abre possibilidade de aplicação em outros grandes carnívoros, de tigres na Ásia a pumas nos Andes, sempre com a mesma premissa: aprender a partir dos rastros, sem interferir na vida selvagem.

No contexto atual, em que a conservação da biodiversidade exige equilíbrio entre rigor científico e ética, esse avanço brasileiro se coloca como um novo paradigma. Ele amplia o alcance da ciência e fortalece a proteção da onça-pintada, espécie vulnerável que desempenha papel vital no equilíbrio dos ecossistemas.

O recado é direto e poderoso: não é preciso capturar uma onça para conhecê-la. Basta acompanhar seus caminhos e interpretar os sinais que ela deixa. Cada pelo encontrado carrega um mundo de informações, aproximando a ciência da natureza de forma respeitosa e transformadora.

Créditos de Carbono na Amazônia, saiba como medir a eficácia real dos Projetos REDD

Com o agravamento da crise climática, os créditos de carbono voltam a ocupar um lugar de destaque nas estratégias globais de descarbonização. Nesse contexto, a Amazônia brasileira desponta como protagonista incontornável. Com seu imenso estoque de carbono natural e pressão crescente por desmatamento, a região é hoje campo de disputa entre o potencial econômico da conservação e as dinâmicas predatórias do uso da terra. Mas entre o entusiasmo e a realidade, surge uma pergunta-chave: os projetos REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação) estão mesmo evitando emissões que aconteceriam sem eles?
Esse é o cerne da chamada “adicionalidade”, um critério que determina se um crédito de carbono é válido. Em outras palavras: uma floresta não desmatada não vale crédito algum se ela não estivesse sob risco real. Avaliar esse risco é o desafio técnico e político que define o futuro dos mercados de carbono.
Um novo estudo do Climate Policy Initiative (CPI), em parceria com a PUC-Rio, propõe uma abordagem inovadora para medir a adicionalidade de projetos REDD na Amazônia. Em vez de se basear apenas em tendências históricas de desmatamento, como fazem as metodologias tradicionais, o modelo econômico criado pelos pesquisadores simula as decisões reais dos produtores rurais. A pergunta é simples: qual é o uso mais lucrativo para cada propriedade? A resposta leva em conta fatores como preços de commodities, produtividade, custos logísticos e estoque de carbono.
Os resultados revelam que 77% do carbono protegido pelos projetos REDD na Amazônia brasileira é adicional,  ou seja, teria sido emitido na ausência desses projetos. É uma taxa significativa, que reforça o valor desses mecanismos de mercado para a conservação. Mas também indica que cerca de um quarto dos créditos gerados está associado a áreas que provavelmente permaneceriam florestadas de qualquer forma.
Essa média, no entanto, esconde disparidades regionais. A adicionalidade é altíssima em regiões desmatadas ou consolidadas pelo agronegócio, onde a pressão sobre a floresta é maior. Em municípios como Portel, no Pará, considerados sob pressão, mas com baixa viabilidade econômica para a agropecuária, os projetos apresentam baixos índices de adicionalidade. As propriedades ali têm altos estoques de carbono, mas também alto custo logístico e baixa produtividade. Isso significa que as florestas, mesmo sem créditos de carbono, provavelmente não seriam desmatadas.

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Reprodução

 

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Casos como o de Portel expõem não apenas a necessidade de metodologias mais refinadas, mas também de maior rigor na seleção de projetos. Ao excluir as propriedades desse município da análise, a adicionalidade média dos projetos REDD sobe de 77% para 89%. O dado é eloquente: a eficácia climática dos créditos de carbono está diretamente relacionada ao contexto econômico das áreas onde os projetos são implementados.
A análise também revela um padrão interessante: propriedades com maior produtividade agropecuária, menores estoques de carbono e melhor infraestrutura tendem a ter maior adicionalidade. Isso porque o risco de desmatamento é real e iminente. Projetos localizados em áreas com essas características geram créditos mais robustos e defensáveis.
A nova metodologia não apenas aprimora os critérios técnicos, mas também responde a críticas crescentes ao mercado voluntário de carbono. Várias investigações recentes questionaram a validade de créditos emitidos com base em modelos flexíveis demais, que permitiam escolhas estratégicas de janelas temporais e regiões de referência favoráveis à geração de créditos. A abordagem do CPI/PUC-Rio, por seu caráter dinâmico e centrado em fundamentos econômicos, oferece uma alternativa mais consistente.
Nesse cenário, a credibilidade dos mercados de carbono depende de três pilares: boas métricas, transparência e governança. A Verra, principal certificadora mundial, já começou a revisar suas metodologias, incluindo uso de dados oficiais e sensoriamento remoto. Essas mudanças, embora positivas, precisam ser acompanhadas de ferramentas que permitam identificar projetos com maior risco de não adicionalidade.
Outro ponto relevante: o preço. Hoje, os créditos REDD são negociados entre US$ 5 e US$ 15 por tonelada de CO2e, valor muito abaixo da média global de US$ 35 para instrumentos de precificação de carbono. Segundo o modelo proposto, se os preços pagos aumentassem para esse patamar, a adicionalidade poderia ultrapassar 86%. Ou seja, remunerar melhor quem conserva pode ser também uma forma de garantir maior impacto ambiental.
A nova metodologia representa um passo importante para qualificar o debate sobre créditos de carbono na Amazônia. Mais do que um ajuste técnico, ela propõe uma mudança de paradigma: olhar para o uso da terra com as lentes da economia real, e não apenas com modelos estatísticos. Isso torna a análise mais realista, mais transparente e mais eficaz.
Em tempos de urgência climática, iniciativas que aliam conservação florestal a instrumentos de mercado são essenciais. Mas sua efetividade está condicionada à capacidade de provar que fazem diferença. Com mais dados, melhores modelos e preços mais justos, os créditos de carbono na Amazônia podem deixar de ser promessa para se tornarem pilar da ação climática.

Vontade política é chave contra desmatamento, revela estudo

A capacidade de manter de pé as maiores florestas tropicais do planeta não depende apenas de planos técnicos ou estatísticas. O que realmente move esse processo é a determinação política, sustentada por uma engrenagem social mais ampla, onde atuam a pressão da sociedade civil, a diplomacia internacional e o engajamento de comunidades locais. Essa é a principal mensagem de um estudo publicado na revista Conservation Letters, que comparou os caminhos trilhados pelo Brasil e pela Indonésia, países que guardam alguns dos maiores blocos remanescentes de floresta tropical no mundo.

A pesquisa reuniu 36 especialistas, entre pesquisadores, gestores públicos e profissionais ligados à conservação, para compreender quais fatores foram decisivos nas reduções históricas do desmatamento nesses dois países. O Brasil reduziu a devastação em 84% entre 2004 e 2012. Já a Indonésia alcançou queda de 78% no período de 2016 a 2021. Para chegar a esse diagnóstico, foi utilizada a metodologia Delphi, que valoriza consultas sucessivas e anônimas, permitindo aos participantes chegar a consensos sem a influência de vozes dominantes.

O motor da vontade política

Segundo os autores, a vontade política para fazer valer as leis foi unanimemente considerada o fator mais importante para proteger as florestas. Mas ela não nasce sozinha. É fruto da persistência da sociedade civil, do olhar vigilante da opinião pública e das pressões internacionais. Como destacou Matthew Spencer, do The Sustainable Trade Initiative (IDH), “o segredo não está em seguir a tendência da vez, mas em esforços contínuos que, ao longo do tempo, criam a base da mudança real”.

No caso brasileiro, essa engrenagem se expressou em políticas como o Código Florestal e o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm). Ambos mostraram que é possível conciliar a expansão agrícola com a proteção ambiental, desde que haja fiscalização efetiva e decisão governamental. Júlio César dos Reis, pesquisador da Embrapa Cerrados, lembra que a agricultura sempre foi motor da destruição florestal no Brasil, especialmente nas décadas de 1950 a 1980, quando o lema “integrar para não entregar” justificou a ocupação da Amazônia. Ainda assim, a experiência provou que a política pública pode inverter essa lógica.

O mosaico indonésio

Na Indonésia, o caminho se revelou mais fragmentado e multifacetado. Além da ação governamental, o setor privado teve peso central com políticas de “desmatamento zero” em cadeias de commodities, como a do óleo de palma. O governo também implementou moratórias para novas licenças de cultivo. Essa combinação de forças reflete a alternância entre descentralização e recentralização da governança florestal no país.

O estudo mostra que, na década de 2010, quando o país atingiu as maiores reduções no desmatamento, a vontade política foi novamente apontada como elemento decisivo, ainda que alimentada por pressões externas e internas.

250909_ArtigoProtecaoFlorestas_Eufran_Amaral_queimadas-normalmente-precedem-o-desmatamento-ilegal-400x266 Vontade política é chave contra desmatamento, revela estudo
Eufran Amaral (queimadas normalmente antecedem o desmatamento ilegal)

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Povos da floresta: guardiões indispensáveis

Na Amazônia, a conservação ganhou força também a partir do reconhecimento dos direitos territoriais de povos indígenas e comunidades tradicionais. Desde a década de 1990, esse fator foi crescendo em relevância até se tornar peça-chave do êxito observado entre 2004 e 2012. Para Rachael Garrett, pesquisadora da Universidade de Cambridge, esse reconhecimento “foi crucial para consolidar as bases da conservação florestal no Brasil e será ainda mais vital no futuro”.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que 11,8 milhões de brasileiros vivem em Unidades de Conservação, incluindo 282 mil quilombolas e 133 mil indígenas. Mas 40% dos domicílios nessas áreas enfrentam precariedades como falta de saneamento. Para Judson Valentim, da Embrapa Acre, a conservação só será sustentável se a qualidade de vida dessas populações for garantida. Valorizar os produtos da sociobiodiversidade, gerando renda e dignidade, é parte inseparável da proteção da floresta.

Um recado para a COP30

Essas conclusões chegam em um momento estratégico. Em 2025, Belém sediará a COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas. O estudo funciona como um alerta: proteger florestas tropicais não é apenas viável, é uma escolha política. Mas essa decisão precisa ser alimentada por sociedades mobilizadas e por uma comunidade internacional disposta a cobrar compromissos.

Como resume Joss Lyons-White, da Universidade de Cambridge, o desafio é entender como diferentes fatores se combinam em contextos distintos. Se há uma lição clara de Brasil e Indonésia, é que não existe fórmula mágica, mas existe caminho: vontade política, somada a vigilância social e engajamento global, é a equação capaz de manter vivas as florestas que sustentam o equilíbrio climático da Terra.

Nova espécie de bagre descoberta no Xingu revela a força da biodiversidade amazônica

A bacia do rio Xingu, no coração da Amazônia, acaba de ganhar um novo protagonista em sua já vasta galeria de espécies aquáticas. Pesquisadores do Instituto de Biociências de Botucatu (IBB) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) descreveram oficialmente uma nova espécie de bagre: o Imparfinis arceae. O achado foi publicado na revista científica Ichthyology & Herpetology e representa mais um capítulo na longa história de descobertas da biodiversidade sul-americana.

A pesquisa contou com apoio da FAPESP, que financiou o trabalho e possibilitou a combinação de análises morfológicas e genéticas, recurso cada vez mais usado na chamada taxonomia integrativa.

A faixa que revelou o inédito

A primeira pista que levou os cientistas a suspeitar que estavam diante de uma espécie desconhecida foi uma faixa preta que percorre toda a lateral do peixe. Embora outras espécies do gênero Imparfinis apresentem um traço semelhante, nenhuma exibia a mesma largura e intensidade. Esse detalhe visual despertou a atenção do biólogo Gabriel de Souza da Costa e Silva, responsável pela investigação, hoje em estágio de pós-doutorado no IBB com bolsa da FAPESP.

Para Silva, o processo de identificar uma nova espécie nunca segue um roteiro previsível. Um padrão de cor incomum, uma leve variação no formato da cauda ou o tamanho dos olhos podem ser o ponto de partida para algo inédito. O olhar atento é a chave que conduz à investigação mais profunda.

Comparações minuciosas

A equipe analisou 20 exemplares coletados no Xingu. Foram medidos diâmetros dos olhos, comprimento da cabeça, número de vértebras, além de outros traços físicos. Esse levantamento revelou diferenças claras em relação ao Imparfinis hasemani, espécie que também apresenta uma faixa escura lateral.

No caso da recém-identificada I. arceae, os olhos são menores, a cabeça é proporcionalmente maior e o esqueleto conta com 39 vértebras, contra 40 da espécie semelhante. A soma desses elementos reforçou a hipótese de que os peixes pertenciam a uma nova linhagem.

Os pesquisadores decidiram então avançar para a etapa genética. Sequenciaram fragmentos de DNA de diferentes espécies do gênero Imparfinis e compararam entre si. O resultado foi revelador: os exemplares do Xingu apresentaram mais de 6% de divergência genética em relação às demais espécies conhecidas.

Essa distância é significativa em termos taxonômicos e confirmou, sem margem de dúvida, que se tratava de um organismo inédito para a ciência. O método, que alia genética e morfologia, está na vanguarda das pesquisas atuais e permite compreender melhor a história evolutiva dos peixes amazônicos.

01-nova-especie-bagre-400x216 Nova espécie de bagre descoberta no Xingu revela a força da biodiversidade amazônica
Imagem radiográfica de Imparfinis arceae (imagem: Silva et al.)

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Biodiversidade sob pressão

A descoberta de uma nova espécie em pleno século XXI reforça a noção de que a Amazônia ainda guarda segredos não revelados. Ao mesmo tempo, alerta para os riscos crescentes que ameaçam esses ecossistemas. O rio Xingu, palco da descoberta, é também uma região pressionada por hidrelétricas, mineração, garimpo ilegal e desmatamento acelerado.

Cada espécie catalogada é mais do que um dado científico: é uma peça-chave de um sistema complexo que regula ciclos de água, carbono e vida. O Imparfinis arceae não é apenas um peixe com uma faixa preta lateral; é uma parte essencial da engrenagem ecológica que mantém a floresta e seus rios em funcionamento.

O trabalho dos pesquisadores do IBB-Unesp ilustra o impacto das políticas de fomento à ciência no Brasil. Sem o financiamento da FAPESP e a estrutura acadêmica da Unesp, seria inviável conduzir análises tão detalhadas. É também um exemplo de como universidades públicas, em colaboração com agências de fomento, ampliam o conhecimento sobre a biodiversidade e fornecem dados para sua conservação.

Para Gabriel Silva, o estudo mostra que a ciência é um processo de atenção constante. “A natureza ainda tem muito a nos revelar. Cada detalhe pode abrir a porta para uma nova descoberta”, afirma.

O anúncio da Imparfinis arceae chega em um momento em que o mundo debate o futuro da Amazônia, especialmente com a aproximação da COP30, que será realizada em Belém. A revelação de novas espécies pode servir como lembrete de que o que está em jogo não são apenas árvores ou territórios, mas um patrimônio genético e ecológico único no planeta.

Ao unir ciência e conservação, a descoberta do pequeno bagre do Xingu não apenas amplia o catálogo da vida na Terra, mas também lança luz sobre a urgência de proteger os ecossistemas amazônicos antes que espécies desapareçam sem sequer serem conhecidas.

Inteligência artificial se torna aliada estratégica no combate ao desmatamento na Amazônia

O Brasil perdeu, nas últimas quatro décadas, 111,7 milhões de hectares de áreas naturais para o desmatamento. É como se todo o território da Bolívia tivesse desaparecido sob motosserras, tratores e queimadas. O bioma mais atingido, a Amazônia, responde sozinho por 52,1 milhões de hectares destruídos — um cenário que, por si só, evidencia a magnitude da crise ambiental em curso.
Nos últimos 12 meses, foram desmatados 4.495 km² na região, um aumento de 4% em relação ao período anterior. Apesar do esforço de monitoramento por satélite e das operações de fiscalização, os números mostram que a engrenagem da destruição segue ativa, impulsionada por interesses econômicos, pela grilagem e por uma sensação persistente de impunidade. Nesse contexto, a tecnologia emerge como ferramenta decisiva.
Um novo modelo de inteligência artificial (IA), desenvolvido por pesquisadores da PUC-Rio em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Ibama e o Ministério do Meio Ambiente, promete prever, com até 15 dias de antecedência, quais áreas da Amazônia correm maior risco de serem desmatadas. Batizado de Deforestation Prediction System, o sistema já está disponível na plataforma TerraBrasilis, mantida pelo INPE, e pode ser acessado por fiscais federais e por prefeituras da região.
Segundo Raul Queiroz Feitosa, professor da PUC-Rio e líder do projeto, a ideia é transformar uma montanha de dados históricos em informação prática, capaz de orientar ações de campo. “As equipes de fiscalização não podem estar em todos os lugares ao mesmo tempo. O território é imenso, os custos de deslocamento são altos e a logística é extremamente complexa. É preciso priorizar. A inteligência artificial ajuda a indicar onde agir primeiro, aumentando a eficiência e reduzindo desperdícios”, explica.

Da ciência à prática

O desenvolvimento do modelo começou em janeiro de 2024, com investimento de R$ 2,5 milhões da Climate and Land Use Alliance (CLUA), coalizão internacional de fundações voltadas para a proteção das florestas tropicais. O trabalho foi concluído em meados de 2025, já com a etapa de implementação em andamento.
O método analisa variáveis espaciais e ambientais, como proximidade de rodovias, rede hidrográfica, limites de áreas protegidas e terras indígenas, além de padrões climáticos e, sobretudo, registros históricos de desmatamento. “Os dados mostram que eventos de desmatamento tendem a se repetir próximos a áreas já afetadas. A IA consegue identificar essas recorrências e apontar quais regiões estão mais vulneráveis nos próximos dias”, afirma Feitosa.
Quatro abordagens diferentes foram testadas. A escolhida alcançou o melhor equilíbrio entre precisão e custo computacional, reduzindo os erros de previsão em até 80% em comparação com o modelo anterior usado pelo Ibama. O resultado é um mapa atualizado de risco, capaz de indicar, com alto grau de acerto, as áreas que podem ser alvo de motosserras ou correntões.
Ações mais rápidas e direcionadas
A etapa de operacionalização envolveu a integração do sistema à plataforma TerraBrasilis, que já hospeda dados de monitoramento como os do PRODES e do DETER. O Ibama participou desde o início, garantindo que a ferramenta atendesse às necessidades do dia a dia da fiscalização. Prefeituras também foram incorporadas, em uma tentativa de descentralizar e democratizar o acesso às informações.
Dois workshops marcaram a transição da teoria à prática. O primeiro, em Brasília, reuniu fiscais do Ibama; o segundo, em Manaus, foi voltado para representantes de 67 municípios amazônicos. “O objetivo é que a ferramenta não fique restrita ao governo federal, mas seja usada também por administrações locais, que muitas vezes têm papel decisivo na prevenção”, comenta Feitosa.
Essa integração é considerada estratégica. Municípios, quando munidos de dados precisos, podem agir antes mesmo que o desmatamento ocorra, fortalecendo ações de ordenamento territorial, fiscalização de uso do solo e aplicação de sanções administrativas.

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Ilha de Outeiro- Fotos: Flavio Contente

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Desafios e expectativas

Apesar do entusiasmo, os pesquisadores são cautelosos. Ainda é cedo para medir o impacto direto da ferramenta sobre os índices de desmatamento. Os próximos 12 meses serão decisivos para avaliar a eficácia em campo. O desmatamento, afinal, é um fenômeno complexo, influenciado por variáveis econômicas, políticas e sociais que vão muito além da fiscalização.
Mesmo assim, os resultados preliminares indicam ganhos relevantes. “Nossos experimentos mostraram que conseguimos reduzir erros de previsão em cerca de 75% a 80%. Isso significa que o Ibama e os municípios terão condições de agir com muito mais precisão”, destaca Feitosa.
O próximo passo é expandir o modelo para prever outros fenômenos críticos, como incêndios florestais e processos de degradação. Há também planos de adaptá-lo a outros biomas, como o Cerrado, igualmente pressionado pela expansão agropecuária.
Amazônia sob os holofotes da COP30
A inauguração do sistema acontece em um momento simbólico. Em novembro, Belém receberá a COP30, conferência do clima que reunirá líderes mundiais, cientistas e representantes da sociedade civil para discutir o futuro da Amazônia e do planeta. A expectativa é que o Brasil apresente resultados concretos no combate ao desmatamento, uma das principais cobranças internacionais ao país.
Nesse contexto, o uso de inteligência artificial como ferramenta de gestão ambiental tem peso político. Mostra que o país não depende apenas de discursos, mas investe em inovação tecnológica para enfrentar a destruição da floresta. A presença de uma plataforma como a TerraBrasilis, integrada a modelos preditivos avançados, pode reforçar a imagem do Brasil como protagonista na agenda climática.
“Há uma janela de oportunidade. A COP30 colocará a Amazônia no centro do debate global. Mostrar que temos capacidade de desenvolver tecnologia de ponta, a partir de nossas universidades e instituições, é estratégico para consolidar a liderança do Brasil”, avalia Feitosa.

Um futuro em disputa

A Amazônia continua sendo um campo de batalha entre dois projetos de país: um baseado na exploração predatória, outro na valorização da floresta em pé. A tecnologia por si só não resolverá o problema, mas pode ser a diferença entre ações ineficazes e operações bem-sucedidas.
Ao antecipar riscos e indicar alvos prioritários, o Deforestation Prediction System amplia as chances de impedir a derrubada antes que ela aconteça. É um salto qualitativo em relação ao modelo de fiscalização reativa, em que as autoridades chegam tarde demais.
No entanto, especialistas lembram que a eficácia da ferramenta depende da vontade política e da capacidade institucional de agir sobre as informações. Sem fiscais em campo, sem orçamento adequado e sem respaldo legal, a inteligência artificial pode se transformar apenas em mais um alerta ignorado.
O novo sistema de previsão de desmatamento é, ao mesmo tempo, um avanço tecnológico e um teste de governança. Representa a convergência entre ciência, inovação e política pública em um território onde cada hectare preservado faz diferença para o clima global.
Se conseguir se consolidar como ferramenta de uso contínuo, apoiando tanto o governo federal quanto os municípios, poderá se tornar um marco na história da proteção da Amazônia. Mais que números e algoritmos, trata-se de uma aposta em um futuro em que a informação é usada para salvar árvores, rios e vidas.
E, no horizonte próximo da COP30, a mensagem é clara: a Amazônia precisa de respostas rápidas, integradas e inovadoras. A inteligência artificial pode ser uma dessas respostas, mas só terá valor real se vier acompanhada de ação firme e comprometida.

Centro de cooperação internacional na Amazônia inaugura nova era no combate ao crime organizado

Manaus se tornou palco de um movimento histórico para a segurança pública na Amazônia. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugurou, nesta terça-feira (9), o Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia (CCPI-Amazônia), uma estrutura concebida para fortalecer a integração entre os nove estados da Amazônia Legal e nove países da América do Sul.

A iniciativa nasce com a missão de enfrentar crimes transnacionais que ameaçam tanto a floresta quanto a soberania nacional: tráfico de drogas, contrabando, garimpo ilegal, crimes ambientais e lavagem de dinheiro. A proposta é simples na forma, mas ambiciosa nos efeitos: permitir que forças de segurança troquem informações em tempo real, articulem investigações conjuntas e coordenem operações de alcance regional.

Segurança em rede na maior floresta do planeta

O CCPI não é apenas mais um prédio administrativo. É, antes de tudo, um símbolo de como os estados amazônicos e seus vizinhos sul-americanos podem agir em rede para enfrentar desafios comuns. A região abriga uma das fronteiras mais complexas do mundo, onde rios, florestas densas e comunidades isoladas se tornam rotas estratégicas para o crime organizado.

Ao reunir representantes de governos estaduais e delegações internacionais, o centro materializa um modelo de segurança pública baseado em cooperação e inteligência. É uma resposta prática à constatação de que nenhum país, por mais poderoso que seja, consegue enfrentar sozinho as dinâmicas ilícitas que atravessam fronteiras sem pedir permissão.

Durante a cerimônia, Lula destacou que o centro simboliza a capacidade do Brasil e de seus parceiros regionais de encontrar suas próprias soluções. O presidente foi direto ao criticar movimentações militares recentes dos Estados Unidos próximos à Venezuela, classificando-as como desnecessárias. “Não precisamos de intervenções estrangeiras, nem de ameaças à nossa soberania. Este centro é a materialização da ação integrada e da cooperação”, afirmou.

O discurso carrega um peso político. Ao mesmo tempo em que o Brasil reafirma seu compromisso com a preservação da Amazônia, também marca posição contra qualquer tentativa externa de tutelar o destino da floresta. A inauguração do CCPI reforça a mensagem de que a defesa da Amazônia passa pelo fortalecimento da presença do Estado brasileiro em seu território.

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Plano Amazônia: Segurança e Soberania

O novo centro integra o Plano Amazônia: Segurança e Soberania (AMAS), lançado em 2023 pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. O programa busca consolidar políticas de segurança para a região, equilibrando a proteção ambiental com a repressão ao crime.

A viabilização do projeto contou com recursos do Fundo Amazônia, operado pelo BNDES em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Essa articulação entre segurança, meio ambiente e desenvolvimento financeiro é um diferencial estratégico. Ao mesmo tempo em que combate ilícitos, o Brasil mostra ao mundo que sabe conciliar preservação e soberania com desenvolvimento sustentável.

Integração como política de Estado

Na cerimônia, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, classificou o CCPI como a consolidação de uma nova política de segurança pública, baseada em inteligência e cooperação. Para ele, o centro é um exemplo de como o país pode fortalecer sua soberania sem abrir mão da integração internacional.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, destacou a importância do espaço como instrumento de defesa ambiental. Segundo ela, crimes como o garimpo ilegal ou o desmatamento não podem mais ser tratados como problemas isolados, mas sim como parte de uma rede criminosa global que afeta a floresta e o clima do planeta.

A inauguração do CCPI em Manaus pode ser vista como um divisor de águas. Ao mesmo tempo em que fortalece a presença do Estado brasileiro na Amazônia, abre caminho para um novo padrão de cooperação internacional. É um gesto político, diplomático e estratégico que reconhece a complexidade da região: preservar a floresta, garantir o desenvolvimento das populações locais e enfrentar organizações criminosas que ameaçam a soberania de toda a América do Sul.

Em um cenário global de crescente pressão sobre a Amazônia, o centro representa um recado claro: o futuro da floresta será decidido por quem vive nela e a defende, não por interesses externos.

Você precisa experimentar esta receita fácil de pudim de tapioca gelado que não precisa ir de fogão

Quem diria que uma receita fácil de pudim de tapioca poderia virar sensação em tantas casas sem precisar sequer ligar o fogão? O que parecia impossível — uma sobremesa cremosa, refrescante e prática — conquistou donas de casa, estudantes e até chefs que buscavam uma alternativa rápida para surpreender convidados. É aquele tipo de doce que prova que simplicidade pode, sim, ser sinônimo de sabor marcante e memória afetiva.

Receita fácil de pudim de tapioca

O segredo desse pudim está na mistura certeira de ingredientes simples, mas que juntos criam textura macia e sabor inconfundível. Tapioca granulada, leite condensado, leite de coco e açúcar fazem a base perfeita, e a mágica acontece quando tudo descansa no frio, sem necessidade de forno ou banho-maria.

Ingredientes que fazem a diferença

Para preparar essa sobremesa, você vai precisar de:

  • 1 xícara (chá) de tapioca granulada;

  • 500 ml de leite integral bem quente;

  • 1 vidro (200 ml) de leite de coco;

  • 1 lata de leite condensado;

  • 1/2 xícara (chá) de açúcar;

  • 1 pitada de sal;

  • Coco ralado fresco ou seco a gosto (opcional);

  • Calda de caramelo ou frutas para servir (opcional).

São itens acessíveis, fáceis de encontrar em qualquer mercado, que juntos criam uma sobremesa com equilíbrio entre cremosidade e doçura.

Técnica de preparo detalhada

  1. Em uma tigela grande, coloque a tapioca granulada.

  2. Ferva o leite e despeje-o ainda quente sobre a tapioca, mexendo bem para hidratar os grãos. Deixe descansar por 15 minutos, mexendo de vez em quando para evitar que grude.

  3. Acrescente o leite condensado, o leite de coco, o açúcar e a pitada de sal. Misture até que todos os ingredientes estejam incorporados.

  4. Se desejar, adicione coco ralado para dar mais textura.

  5. Transfira a mistura para uma forma de pudim ou para potinhos individuais levemente untados com óleo neutro.

  6. Leve à geladeira por pelo menos 4 horas, ou até que esteja firme e gelado.

  7. Desenforme com cuidado e finalize com calda de caramelo ou frutas frescas.

Esse passo a passo garante que o pudim mantenha a consistência perfeita, sem falhas ou excesso de grumos.

Uma sobremesa prática para o dia a dia

Quantas vezes você já desistiu de preparar um pudim por causa da demora no forno? É justamente aí que esse pudim gelado conquista corações: em menos de 30 minutos você deixa tudo pronto, e o resto do trabalho fica por conta da geladeira. Isso significa que dá para fazer na correria do dia a dia ou até no improviso, quando bate aquela vontade de comer algo doce depois do almoço.

Toques criativos que elevam o sabor

Embora a receita fácil de pudim de tapioca já seja deliciosa por si só, ela também abre espaço para variações criativas. Dá para acrescentar raspas de limão para um frescor cítrico, chocolate meio amargo picado para os chocólatras ou até servir com uma camada de doce de leite. Em festas, a versão em copinhos individuais faz sucesso imediato, porque além do sabor, o visual encanta.

A memória afetiva no primeiro pedaço

Mais do que uma sobremesa, esse pudim evoca lembranças. O sabor do leite condensado misturado à cremosidade da tapioca nos leva a recordações de infância, encontros em família e tardes de verão. É aquele tipo de prato que une gerações: os mais velhos lembram da tapioca de antigamente, e os mais jovens descobrem nela um doce que parece sofisticado, mas na verdade é simples de preparar.

É por isso que tanta gente já incluiu essa receita fácil de pudim de tapioca no repertório de sobremesas preferidas. Não apenas pelo sabor, mas pela praticidade e pela possibilidade de criar momentos marcantes em torno de uma mesa.

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5 plantas aprovadas pela NASA que você precisa ter em casa para melhorar a qualidade do ar

Já pensou que a decoração da sua sala pode esconder um segredo de laboratório espacial? Melhorar a qualidade do ar deixou de ser apenas uma questão estética e virou ciência. Na década de 1980, a NASA lançou o famoso Clean Air Study, um programa criado para entender como astronautas poderiam viver em ambientes fechados, sem janelas e com circulação limitada. O resultado surpreendeu: algumas plantas comuns tinham a capacidade de eliminar poluentes perigosos e renovar o ar de forma natural. Desde então, elas passaram a ser vistas como aliadas não só no espaço, mas também em casas e escritórios na Terra.

Melhorar a qualidade do ar com plantas aprovadas pela NASA

Quando falamos em melhorar a qualidade do ar, é impossível não citar o estudo da NASA que revelou como certas espécies filtram substâncias tóxicas como formaldeído, benzeno, amônia e tricloroetileno. Essas partículas estão presentes em móveis, tintas, plásticos e até produtos de limpeza. O Clean Air Study mostrou que bastava uma planta em um espaço de 9 a 10 m² para começar a sentir diferença. Imagine o impacto de espalhar algumas dessas espécies pelos cômodos da sua casa.

Jiboia: a campeã de resistência e purificação

A jiboia se destacou no programa da NASA pela resistência e facilidade de adaptação. Mesmo em ambientes com pouca luz, ela continua absorvendo toxinas presentes no ar. É o tipo de planta que não exige muito cuidado, mas devolve muito em saúde e frescor.

Espada-de-são-jorge: a aliada noturna

O Clean Air Study também mostrou que a espada-de-são-jorge é eficiente na filtragem de benzeno e formaldeído. Mas o que mais impressiona é seu comportamento noturno: enquanto muitas plantas reduzem a produção de oxigênio, ela segue liberando, tornando-se uma ótima opção para o quarto.

Lírio-da-paz: delicadeza que limpa toxinas

Durante os testes da NASA, o lírio-da-paz demonstrou alta capacidade de remover compostos como acetona, usados em produtos domésticos. Além de ser uma planta ornamental de grande beleza, ele trabalha silenciosamente para deixar o ar mais limpo, transformando ambientes em refúgios mais leves.

Ficus: o filtro silencioso das salas amplas

No programa, o ficus figurou entre as espécies de maior porte que apresentam bom desempenho. Ele absorve poluentes e atua melhor em áreas amplas, como salas de estar e escritórios. Sua imponência na decoração é acompanhada de uma função prática que faz diferença no dia a dia.

Clorofito: pequeno, mas poderoso

O clorofito foi apontado pela NASA como um excelente absorvedor de monóxido de carbono, um gás silencioso e prejudicial à saúde. Fácil de cuidar, cresce rápido e pode ser colocado em cozinhas e áreas de serviço, locais onde esse tipo de poluente costuma aparecer.

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A ciência ao alcance da sua casa

O Clean Air Study não foi apenas um relatório técnico para uso em estações espaciais. Ele deixou um legado acessível para todos: a possibilidade de usar a natureza como aliada na busca por ambientes mais saudáveis. Ao incluir essas cinco plantas em sua rotina, você não só decora a casa, mas também aplica um conhecimento científico que já salvou astronautas em ambientes fechados.

Com elas, você dá um passo simples e eficaz para melhorar o ar que respira, sem depender apenas de tecnologia ou filtros artificiais. A resposta da NASA continua válida até hoje: às vezes, a melhor solução está em algo verde, vivo e ao alcance das mãos.

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COP30 coloca Amazônia e sustentabilidade no centro do debate global

Às vésperas da trigésima Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP30, que acontece em Belém em novembro, cresce a expectativa sobre o papel que a Amazônia terá como cenário e protagonista das negociações internacionais. Durante quase duas semanas, líderes mundiais, cientistas e representantes da sociedade civil se reunirão no coração da maior floresta tropical do planeta para discutir emissões, preservação, transição energética e justiça climática. O simbolismo é poderoso. Pela primeira vez, uma conferência do clima será realizada na Amazônia, território que concentra tanto a maior riqueza de biodiversidade quanto pressões crescentes de desmatamento, urbanização e exploração econômica. A mensagem que o Brasil pretende transmitir é clara: não há futuro climático possível sem a proteção da floresta. Essa trajetória, no entanto, tem raízes de longa data. Desde o Protocolo de Quioto, assinado em 1997 e colocado em vigor em 2005, o mundo passou a estabelecer compromissos mais rigorosos para conter o aquecimento global. Foi ali que nasceram mecanismos de monitoramento e o mercado de créditos de carbono, permitindo que países que reduziram emissões negociassem resultados com nações ainda altamente poluentes.

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Brasil e Pará se preparam para a cop30 – Reprodução

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Em 2015, o Acordo de Paris substituiu Quioto e ampliou o compromisso coletivo: manter o aumento da temperatura média mundial abaixo dos 2 graus em relação aos níveis pré-industriais, com esforços para limitar a 1,5 grau. Até hoje, 194 países aderiram ao pacto, que estabeleceu metas nacionais e abriu espaço para maior participação de países em desenvolvimento. Agora, na COP30, a expectativa é de revisão e fortalecimento dessas metas. Entre os temas centrais estão a descarbonização da economia, o financiamento climático para países do Sul Global, o incentivo a energias renováveis e a proteção efetiva de florestas. O desafio não é apenas reafirmar compromissos já assumidos, mas criar mecanismos que garantam cumprimento e transparência. Para o ambientalista Alexandre Prado, do WWF-Brasil, a escolha de Belém como sede é também um chamado à coerência. A região amazônica, ao mesmo tempo joia ambiental e território vulnerável, carrega contradições que ecoam em escala planetária. A conferência colocará em evidência tanto os avanços da legislação brasileira quanto as lacunas na fiscalização e na implementação de políticas públicas. De 10 a 21 de novembro, todos os olhos estarão voltados para o norte do Brasil. Belém, que já foi porta de entrada da borracha e do cacau, agora se prepara para ser vitrine de um debate ainda mais decisivo: como conciliar desenvolvimento, justiça social e preservação em um mundo que se aquece rápido demais.

Estados e DF terão que adotar padrão único para autorização de supressão de vegetação

O Brasil caminha para dar mais transparência e uniformidade a um dos processos mais sensíveis da política ambiental: a emissão da Autorização de Supressão de Vegetação (ASV). Conhecida também como autorização de uso alternativo do solo, a ASV é o documento exigido de produtores rurais e empresas que desejam realizar atividades que implicam na retirada de vegetação nativa em áreas privadas.

A mudança foi definida após a aprovação de uma resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), órgão que reúne representantes da sociedade civil, trabalhadores, empresários, organizações ambientais e governos das três esferas: federal, estadual e municipal. A decisão obriga todos os estados e o Distrito Federal a padronizarem as informações prestadas no serviço de emissão de ASVs, adequando-se ao modelo nacional administrado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

De acordo com Allan Valezi Jordani, coordenador-geral de Gestão e Monitoramento de Uso da Flora do Ibama, o objetivo central é estabelecer critérios mínimos que garantam maior clareza nos processos. Entre os novos requisitos está a obrigatoriedade da análise do Cadastro Ambiental Rural (CAR), que agora passa a ser uma etapa condicionante para a emissão da autorização.

Atualmente, cada estado é responsável por receber os pedidos, avaliar a regularidade dos projetos e alimentar os dados no Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais (Sinaflor), plataforma nacional que centraliza informações sobre a origem da madeira, carvão e outros produtos florestais. Porém, a integração ainda é falha. Alguns estados utilizam sistemas próprios e não se conectam plenamente ao Sinaflor, o que dificulta o rastreamento das informações.

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Estados adotarão padrão para supressão vegetal – Fernando Frazão/Agência Brasil

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Segundo Jordani, essa fragmentação prejudica o monitoramento. Sem dados unificados, fica impossível verificar se as propriedades cumprem exigências do Código Florestal, como a manutenção da reserva legal em cada bioma ou a proteção das Áreas de Preservação Permanente (APPs). O resultado é uma lacuna que favorece a insegurança jurídica e fragiliza a fiscalização ambiental.

A resolução aprovada pelo Conama busca justamente superar essa barreira. Os estados poderão continuar a operar com seus sistemas locais, mas terão que garantir compatibilidade e integração automática com o Sinaflor. Isso significa que os parâmetros, formatos de dados e etapas de avaliação deverão ser equivalentes em todo o país, assegurando comparabilidade e transparência.

O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, destacou durante a votação que o prazo de adaptação será de 180 dias, contados a partir da publicação da resolução no Diário Oficial da União. Ele reconheceu que cada estado tem sua própria regulamentação, mas lembrou que a construção de um padrão nacional é um passo fundamental para consolidar a federação em torno de parâmetros ambientais comuns.

A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, também celebrou a decisão. Em nota, ressaltou que a construção da resolução foi fruto de diálogo democrático. “Em um ambiente não democrático, perderíamos a capacidade de aportar tamanhas contribuições para a gestão pública e para o fortalecimento do Sistema Nacional de Meio Ambiente”, destacou.

Mais do que um ajuste técnico, a medida representa um avanço institucional. Um sistema padronizado permitirá que sociedade civil, pesquisadores e órgãos públicos tenham acesso a informações consistentes para subsidiar políticas de conservação e uso do solo. Isso pode ampliar a capacidade de planejamento do setor florestal, melhorar o combate a ilegalidades e dar mais previsibilidade a produtores e empresas que atuam dentro da lei.

A decisão também está em sintonia com compromissos internacionais assumidos pelo Brasil em fóruns ambientais, como a COP30, que será realizada em novembro em Belém. Em um contexto global de pressão por maior rastreabilidade e responsabilidade ambiental, oferecer dados transparentes sobre autorizações de supressão de vegetação é um passo importante para reforçar a credibilidade do país.

Ao alinhar tecnologia, legislação e governança, a nova resolução busca reduzir brechas que historicamente permitiram práticas irregulares, ao mesmo tempo em que oferece mais segurança para quem cumpre a lei. O desafio agora está na capacidade dos estados de ajustar seus sistemas e garantir a integração plena com a plataforma federal no prazo estipulado.

Se a implementação ocorrer de forma eficaz, o Brasil poderá contar com uma ferramenta mais robusta para equilibrar desenvolvimento econômico e conservação ambiental, um equilíbrio essencial em tempos de crise climática.

Fitoterápico nanotecnológico com DNA da Amazônia pode frear o avanço do Alzheimer

A cada três segundos, um novo caso de demência é diagnosticado no mundo. No Brasil, mais de um milhão de pessoas convivem com o Alzheimer, doença neurodegenerativa que compromete memórias, histórias e vínculos familiares. O custo econômico é igualmente devastador: segundo estimativas, o impacto anual ultrapassa 96 bilhões de reais em internações, medicamentos e cuidados indiretos. Em meio a esse cenário, um projeto desenvolvido no país, com base em insumos amazônicos e nanotecnologia de ponta, surge como promessa de inovação científica e de soberania nacional.

O trabalho é liderado por Eduardo Caritá, pesquisador e executivo à frente da empresa Funcional Mikron, e combina duas substâncias bioativas conhecidas, mas até hoje pouco exploradas de forma conjunta: a marapuama, árvore da floresta amazônica tradicionalmente usada como tônico cerebral, e a curcumina, polifenol extraído da cúrcuma e famoso por propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. O diferencial está na tecnologia empregada. Encapsulados em nanopartículas, os compostos conseguem atravessar a barreira hematoencefálica e atingir o parênquima cerebral, algo raro em soluções orais.

“É um projeto que une tradição e ciência de ponta. Conseguimos comprovar que os princípios ativos chegam ao hipocampo, área central para a memória e a primeira a ser atacada pelo Alzheimer”, explica Caritá. A inovação já passou por testes pré-clínicos in vitro e in vivo, todos validados pela FAPESP no âmbito do PIPE, programa de apoio à Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação.

O desafio do cérebro como fortaleza

A barreira hematoencefálica é uma espécie de filtro natural que protege o cérebro contra substâncias nocivas presentes no sangue. Para a medicina, essa muralha protetora é também um dos maiores obstáculos. Muitos fármacos simplesmente não conseguem atravessá-la, o que limita tratamentos para doenças neurológicas como Parkinson, epilepsia e Alzheimer.

Nesse contexto, a nanotecnologia aplicada ao projeto se destaca. Ao encapsular as moléculas de marapuama e curcumina em partículas com dimensões da ordem de nanômetros, os pesquisadores criaram um veículo capaz de transpor essa barreira com eficácia e segurança. Seis horas após a ingestão oral, testes laboratoriais confirmaram a presença dos compostos no hipocampo de animais, resultado que raramente se observa em formulações tradicionais.

“Poucos suplementos ou medicamentos atingem o cérebro por via oral com essa precisão. É um marco para a ciência brasileira”, afirma Caritá.

Do saber tradicional à inovação farmacêutica

A marapuama (Ptychopetalum olacoides) é usada há séculos por povos indígenas amazônicos para estimular a memória e combater a fadiga mental. Estudos recentes demonstram que seus diterpenos clerodanos estimulam a produção de fatores neurotróficos como BDNF, essenciais para a neurogênese e a plasticidade cerebral.

Já a curcumina, extraída da cúrcuma (Curcuma longa), tem sido objeto de centenas de pesquisas ao redor do mundo. Suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias a tornaram candidata natural para estudos em doenças neurodegenerativas. A substância inibe a formação de placas beta-amiloides, estruturas tóxicas ligadas ao Alzheimer.

O ineditismo do projeto está em unir esses dois compostos e potencializar seus efeitos por meio da nanotecnologia. “É a ciência traduzindo conhecimentos tradicionais em soluções modernas, sustentáveis e escaláveis”, resume Caritá.

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Fluorescência, pesquisa evidencia que o composto atingiu o cérebro de ratos 6 horas após ingestão por via ora

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Validação científica e próximos passos

O projeto contou com apoio técnico de universidades como USP, UNESP e UNIFESP. A integração entre empresa e academia foi destacada no relatório aprovado pela FAPESP, que reconheceu a inovação como viável para escalonamento industrial.

O próximo passo é a realização de ensaios clínicos em humanos, para os quais já foi submetido um pedido de apoio financeiro ao Ministério da Saúde, via Programa de Desenvolvimento e Inovação Local (PDIL). O cronograma prevê três fases de testes clínicos, modernização da fábrica para padrão farmacêutico, documentação regulatória e monitoramento contínuo por instituições parceiras.

Se aprovado, o suplemento poderá ser incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS), tornando-se acessível à população brasileira e reforçando a lógica de inovação inclusiva.

Impactos esperados

Os impactos vão muito além do campo médico. Cientificamente, a pesquisa pode resultar em patentes nacionais e consolidar o Brasil como referência em bioeconomia aplicada à saúde. Socialmente, a expectativa é de melhoria na qualidade de vida de milhões de pessoas e redução da dependência de medicamentos importados.

Do ponto de vista econômico, o potencial é enorme. O Alzheimer custa mais de 96 bilhões de reais ao país por ano. Uma solução preventiva ou de retardamento da progressão da doença poderia economizar bilhões em gastos hospitalares e aliviar o peso financeiro sobre famílias.

Há também o impacto ambiental e simbólico. A marapuama é proveniente de manejo sustentável na Amazônia, o que valoriza a floresta em pé e cria uma cadeia produtiva baseada na bioeconomia. “É a floresta oferecendo soluções para problemas globais sem precisar ser derrubada. É desenvolvimento com preservação”, enfatiza Caritá.

Entre ciência e política

O lançamento do projeto acontece em um momento emblemático. Belém se prepara para receber a COP30 em novembro, quando a Amazônia será vitrine mundial para discussões sobre clima, florestas e sustentabilidade. Inserir um produto de saúde baseado em insumo amazônico nesse contexto amplia seu alcance simbólico.

O suplemento não é apenas mais uma inovação farmacêutica. É a demonstração de que a biodiversidade amazônica pode gerar respostas de alto impacto para desafios universais, desde que associada a políticas de ciência e tecnologia consistentes.

“Em tempos de COP, mostrar que a floresta em pé tem valor econômico, social e científico é fundamental. Esse projeto é exemplo disso”, avalia Fabrízio Gammino, executivo que acompanha o desenvolvimento da pesquisa desde os primeiros passos.

O que está em jogo

O Alzheimer é uma doença sem cura conhecida. Tratamentos atuais atuam apenas em sintomas ou retardam parcialmente a progressão. A possibilidade de uma solução natural, acessível e sustentável gera expectativas elevadas, mas também exige cautela. Os ensaios clínicos serão decisivos para comprovar a eficácia e a segurança em humanos.

Mesmo assim, o caminho percorrido até aqui já coloca a pesquisa brasileira em posição de destaque. Poucos países do Sul Global conseguem transformar sua biodiversidade em inovação de fronteira, capaz de competir com gigantes da indústria farmacêutica internacional.

O fitoterápico nanotecnológico à base de marapuama e curcumina representa mais que uma aposta científica. É a tradução de um modelo de desenvolvimento que une conhecimento tradicional, biodiversidade e inovação tecnológica. É também uma resposta do Brasil à crise sanitária global provocada pelo Alzheimer, uma doença que ameaça não só a saúde individual, mas a estrutura econômica e emocional de milhões de famílias.

Às vésperas da COP30, a mensagem que emerge é clara. O Brasil pode liderar não apenas no discurso ambiental, mas também na prática, transformando recursos da floresta em soluções que impactam o mundo inteiro. Da Amazônia ao laboratório, da ciência à política pública, a fórmula contra o Alzheimer é também uma fórmula de futuro.

 

Resíduos de frutas viram energia limpa em projeto da Embrapa

Em Fortaleza, toneladas de frutas e hortaliças que antes eram apenas um custo elevado para o descarte agora estão no centro de uma inovação que pode redefinir o destino dos resíduos orgânicos no Brasil. Pesquisadores da Embrapa Agroindústria Tropical e da Universidade Federal do Ceará (UFC) desenvolveram o Sistema Integrado de Reatores Anaeróbios, uma tecnologia capaz de transformar perdas das centrais de abastecimento em energia renovável de alto rendimento.

Somente na Ceasa do Ceará, entre 17 e 25 toneladas de alimentos se tornam resíduos a cada mês, um passivo que custa cerca de R$ 230 mil para ser transportado ao aterro sanitário. O novo sistema propõe inverter essa lógica: em vez de peso econômico e ambiental, essas sobras podem se transformar em biogás com alto teor de metano, combustível capaz de abastecer a própria central e ainda gerar excedentes comercializáveis.

Como funciona a tecnologia

Tradicionalmente, a fermentação de resíduos vegetais acontece em reatores de mistura completa (CSTR), grandes estruturas com limitações operacionais. O modelo desenvolvido pela Embrapa e UFC adota uma estratégia diferente. Primeiro, os resíduos passam por um pré-tratamento que separa a biomassa em duas frações: líquida e sólida.

A fração líquida é direcionada a reatores de manta de lodo de fluxo ascendente (UASB), conhecidos pela eficiência em lidar com cargas orgânicas elevadas. Já a parte sólida pode seguir para compostagem — resultando em fertilizante de qualidade — ou para reatores de metanização seca, ainda em fase de estudos. Essa combinação de processos permite aproveitar integralmente a biomassa, com maior eficiência energética e menor demanda por espaço físico.

Segundo Renato Leitão, pesquisador da Embrapa, a inovação tem potencial de gerar energia suficiente para suprir até 100% da demanda elétrica da Ceasa-CE nos horários de pico e 20% no restante do tempo. Além de reduzir custos de descarte, o modelo contribui para mitigar emissões de gases de efeito estufa e abre espaço para a comercialização de biometano, caso a produção ultrapasse a demanda interna.

Do laboratório para a economia circular

A tecnologia ainda está em escala piloto, mas o impacto estimado é expressivo. O próximo passo será ampliar a capacidade por meio da construção de uma unidade-piloto maior, capaz de calibrar equipamentos e validar os resultados em escala próxima à real. Para o professor André dos Santos, do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da UFC, os benefícios vão além da geração de energia: trata-se de uma oportunidade para criar empregos, reduzir desperdícios e fortalecer a economia circular na prática.

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O novo sistema melhora o processo ao realizar um pré-tratamento que tritura e prensa os resíduos, dividindo-os em duas partes: líquida e sólida – Reprodução

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Biohidrogênio: outra fronteira em teste

Além do biogás, a pesquisa também explorou a produção de biohidrogênio. Embora os resultados ainda não sejam competitivos em escala comercial, os testes com fermentação escura — tecnologia emergente para geração de energia limpa — mostram caminhos futuros. O experimento utilizou reator anaeróbio de leito estruturado (AnStBR), alimentado pela fração líquida dos resíduos, apontando para uma diversificação promissora de rotas tecnológicas.

Um fórum para a América Latina

Essa inovação será apresentada como destaque no XV Workshop e Simpósio Latino-Americano de Digestão Anaeróbia (XV DAAL), que ocorrerá entre 14 e 17 de outubro de 2025, em Fortaleza. O evento, organizado pela UFC e pela Embrapa, é considerado o principal fórum científico da área na região.

O encontro reunirá especialistas de instituições nacionais e internacionais para debater aplicações da digestão anaeróbia no tratamento de resíduos, geração de energia renovável, recuperação de nutrientes e economia circular. A organização conta com o apoio da Fundação ASTEF, Essencial Eventos e International Water Association (IWA), além de instituições como o INCT ETEs Sustentáveis, ABES, FIEC, Sbera, Fórum Sul Brasileiro de Biogás e Biometano, Rede Verdes, CIBiogás e Rede Mulheres do Biogás.

O simpósio tem ainda patrocínio de empresas e órgãos como Capes, CNPq, Marquise Ambiental, Cagece, ACS Engenharia Ambiental, Sanepar, TPF Engenharia, Recovery Tecnologias Ambientais, Rotária do Brasil, Anaero Technologies, BPC Instruments, Grupo Ritter, MLima Biogás, PB Construções, Shimadzu, Fortescue e o Complexo Industrial e Portuário do Pecém.

Um desafio global, uma oportunidade local

O problema que essa tecnologia busca resolver é imenso. A FAO estima que 30% da produção mundial de frutas e verduras seja perdida ou desperdiçada. No Brasil, o índice chega a 42% dos alimentos produzidos, o que representa um custo social e ambiental altíssimo. Nas 57 Ceasas espalhadas pelo país, cerca de 10,9 milhões de toneladas de frutas e hortaliças são desperdiçadas a cada ano.

A Ceagesp, maior central da América Latina, gera diariamente entre 150 e 180 toneladas de resíduos. Transformar esse passivo em energia, fertilizante e novos produtos significa não apenas reduzir impactos, mas criar valor econômico em larga escala.

A experiência cearense mostra que, quando ciência e inovação caminham juntas, é possível reverter perdas em ganhos e transformar resíduos em soluções para a transição energética e para a sustentabilidade urbana e rural.