Petrobras e Shell financiam maior mapeamento de carbono do Brasil

Um retrato inédito do carbono nos biomas brasileiros

O Brasil deu um passo estratégico para compreender, com precisão científica, quanto carbono está armazenado em seus solos e ecossistemas. A Petrobras, a Shell Brasil e o Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical da Universidade de São Paulo – CCarbon/USP lançaram o projeto Carbon Countdown, uma iniciativa de grande escala que pretende mapear os estoques de carbono em todos os biomas brasileiros, abrangendo tanto áreas agrícolas quanto ecossistemas nativos.

Com investimento estimado em cerca de R$ 100 milhões, o projeto nasce com uma ambição clara: criar o primeiro banco de dados nacional, aberto e gratuito, sobre carbono no solo e na vegetação. Trata-se de uma lacuna histórica no país, que abriga alguns dos ecossistemas mais importantes do planeta, mas ainda carece de valores de referência consolidados sobre seus estoques naturais de carbono.

O levantamento será executado ao longo de cinco anos por pesquisadores da USP e de uma ampla rede de universidades e centros de pesquisa distribuídos pelas diferentes regiões do Brasil. Ao final, os dados estarão disponíveis para qualquer interessado, permitindo aplicações que vão da conservação ambiental à modelagem climática, passando pelo planejamento territorial e pela formulação de políticas públicas.

Ciência aberta para clima, território e restauração

Ao optar por um modelo de dados abertos, o Carbon Countdown se alinha às tendências internacionais de transparência científica e inovação colaborativa. Segundo Olivier Wambersie, diretor de Tecnologia da Shell Brasil, o projeto cria uma base robusta e confiável de informações sobre os estoques naturais de carbono, algo essencial para reduzir incertezas em iniciativas de restauração ecológica e em projetos de créditos de carbono.

Em um cenário global marcado pela urgência climática, a falta de dados consistentes é um dos principais entraves para a expansão de mercados ambientais e para a credibilidade de mecanismos de compensação de emissões. Ao oferecer informações padronizadas e de alta qualidade, o projeto pode contribuir para elevar o rigor técnico desses instrumentos e fortalecer a posição do Brasil em negociações internacionais relacionadas ao clima e à biodiversidade.

A iniciativa também dialoga com o avanço da bioeconomia, ao conectar ciência de ponta, uso sustentável do solo e valorização dos ecossistemas. Ao mapear o carbono armazenado em diferentes paisagens, o projeto ajuda a demonstrar, com números, o valor ambiental e econômico de manter florestas, savanas e áreas úmidas preservadas ou restauradas.

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(Foto: lefteye81/Pixabay

 

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Um inventário de escala continental

O Carbon Countdown se destaca não apenas pelo objetivo, mas também pela escala. O levantamento vai abranger cerca de 6,5 mil áreas demarcadas em todo o território nacional. Estão previstas mais de 250 mil amostras de solo, além de um volume ainda maior de amostras de vegetação e aproximadamente 400 mil coletas de atributos complementares.

Segundo o coordenador científico do projeto, Maurício Roberto Cherubin, esse esforço permitirá gerar, pela primeira vez, valores de referência nacionais para os estoques de carbono no solo e na biomassa vegetal. Esses parâmetros são fundamentais para aprimorar metodologias de quantificação, reduzir margens de erro e aumentar a competitividade de projetos de produção sustentável e restauração ambiental.

A estrutura do projeto prevê a criação de uma rede nacional organizada em polos regionais, distribuídos pelos seis biomas brasileiros: Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa. Cada polo contará com equipes locais de pesquisadores, profissionais de campo e infraestrutura laboratorial, garantindo capilaridade territorial e, ao mesmo tempo, a aplicação de metodologias unificadas.

PD&I, transição e protagonismo científico

O financiamento do Carbon Countdown vem da cláusula de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) prevista nos contratos de exploração e produção de óleo e gás. Esse mecanismo tem sido cada vez mais utilizado para direcionar recursos do setor fóssil para iniciativas alinhadas à transição energética e à agenda climática.

Nesse sentido, o projeto simboliza uma inflexão importante: recursos originados da exploração de petróleo e gás passam a financiar conhecimento científico essencial para enfrentar as mudanças climáticas. Para os pesquisadores envolvidos, o rigor técnico aplicado ao inventário, combinado à expertise das universidades brasileiras, cria uma base sólida para futuras inovações e posiciona o país na vanguarda do conhecimento sobre carbono e uso do solo.

Além de fortalecer a ciência nacional, o Carbon Countdown pode servir de referência para outros países tropicais, que enfrentam desafios semelhantes na mensuração de estoques de carbono e na implementação de políticas de mitigação e adaptação climática. Ao transformar dados em bem público, o projeto amplia o alcance social e ambiental do conhecimento científico e reforça o papel do Brasil como protagonista no debate global sobre clima, biodiversidade e desenvolvimento sustentável.

Ambientalistas alertam para riscos do fracking no país

Fracking no centro do debate ambiental e jurídico

A exploração de gás natural por meio do fraturamento hidráulico voltou ao centro do debate público no Brasil, reacendendo tensões entre interesses energéticos, compromissos climáticos e a proteção dos recursos naturais. Em audiência pública realizada no Superior Tribunal de Justiça – STJ, pesquisadores, ambientalistas e representantes da sociedade civil alertaram para os riscos ambientais, sanitários e climáticos associados ao fracking, técnica usada na extração de gás não convencional preso em rochas de baixa permeabilidade.

O método consiste na injeção, em altíssima pressão, de uma mistura de água, areia e produtos químicos no subsolo para provocar fissuras em rochas do tipo folhelho, também conhecidas como xisto. Essas fraturas permitem que o gás escape e seja captado na superfície. Embora amplamente difundida em países como os Estados Unidos, a técnica é considerada mais complexa e arriscada do que a exploração convencional de gás natural.

No Brasil, tentativas de introduzir o fracking remontam a 2013, quando a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis – ANP realizou uma licitação que concedeu blocos para pesquisa e exploração nos estados do Paraná e São Paulo. A iniciativa, no entanto, foi barrada por ações civis públicas movidas pelo Ministério Público Federal – MPF, o que, na prática, suspendeu seus efeitos. A audiência no STJ busca reunir subsídios técnicos e científicos para orientar o julgamento definitivo sobre o tema.

Água, química e riscos invisíveis no subsolo

Entre as críticas mais contundentes está o consumo hídrico extremo exigido pelo fracking. De acordo com o Instituto Arayara, cada poço pode demandar entre 5,7 milhões e 61 milhões de litros de água, volume que se torna impróprio para uso humano ou animal após a mistura com compostos químicos tóxicos e, em alguns casos, radioativos.

Essas substâncias representam risco direto de contaminação de aquíferos e mananciais, especialmente em regiões com escassez hídrica ou reservas estratégicas de água subterrânea. Além disso, o processo pode liberar metano e compostos orgânicos voláteis na atmosfera, agravando a poluição do ar e contribuindo para o aquecimento global.

Outro impacto associado é a ocorrência de tremores de terra provocados pela injeção de fluidos em grandes profundidades. Para Juliano Bueno de Araujo, diretor técnico do Instituto Arayara e da Coalização Não Fracking Brasil – Coesus, os riscos extrapolam a capacidade de fiscalização dos municípios. Segundo a entidade, mais de 524 cidades brasileiras, em 17 estados, já aprovaram leis que restringem o uso do fracking, sobretudo no que se refere ao uso da água e à concessão de alvarás.

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Marcello Casal Jr/Agência Brasil/Arquivo

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Clima, saúde e a ausência de salvaguardas ambientais

A fragilidade regulatória foi um dos pontos destacados pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima – MMA. Segundo a diretora do Departamento de Políticas de Avaliação de Impacto Ambiental, Moara Menta Giasson, o Brasil não dispõe de padrões consolidados de segurança ambiental para a aplicação do fracking. Uma Avaliação Ambiental de Área Sedimentar, considerada essencial para mapear riscos cumulativos, ainda não foi efetivamente implantada.

Do ponto de vista climático, a técnica é vista como incompatível com as metas brasileiras de redução de emissões. A literatura científica aponta elevados índices de emissões fugitivas de metano, um dos gases de efeito estufa mais potentes.

Os impactos à saúde humana também foram apresentados por estudos da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz, por meio da Escola Nacional de Saúde Pública. A pesquisadora Bianca Dieile da Silva relatou aumento de internações por asma infantil, maior incidência de câncer, distúrbios endócrinos e problemas graves em recém-nascidos em regiões onde o fracking foi adotado, especialmente nos Estados Unidos.

Energia, economia e o peso da experiência internacional

Representantes do setor de petróleo e gás, por sua vez, defendem que a técnica pode ser aplicada com segurança e contribuir para o desenvolvimento econômico. O diretor-geral da ANP, Artur Watt Neto, sustenta que as normas brasileiras estão entre as mais rigorosas do mundo e que a exploração segue exigências ambientais específicas.

Argumentos semelhantes foram apresentados por Adriano Pires Rodrigues, cofundador da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo e Gás – ABPIP, que vê o fracking como resposta às crescentes demandas energéticas associadas a data centers e à expansão da inteligência artificial.

Ambientalistas contestam essa narrativa. Dados apresentados pelo Instituto Arayara indicam que o gás natural representa menos de 10% da matriz energética brasileira e que mais da metade da produção nacional tem sido reinjetada por falta de demanda. Para eles, a ampliação da oferta não se justifica frente aos riscos.

O cenário internacional reforça as preocupações. A advogada Marcella Torres, da Associação Interamericana para a Defesa do Ambiente – AIDA, relatou a experiência da região de Vaca Muerta, na Argentina, onde o número de acidentes ambientais mais que dobrou em seis anos. Segundo dados oficiais argentinos, milhares de litros de resíduos contaminados são gerados diariamente, com danos ambientais considerados irreversíveis.

O debate no STJ evidencia que o fracking não é apenas uma questão técnica, mas uma escolha política e civilizatória. Trata-se de decidir se o Brasil seguirá investindo em fontes fósseis de alto risco ou se alinhará seu futuro energético à proteção da água, da saúde e do clima.

Fomento Rural eleva em 30% a renda de famílias do campo

Renda, produção e permanência no campo

Seis anos após sua implementação, o Programa de Fomento às Atividades Produtivas Rurais mostra resultados consistentes e duradouros no enfrentamento da pobreza no campo. Um estudo divulgado pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome – MDS revela que a iniciativa elevou em média 30% a renda total das famílias beneficiadas, com impacto ainda mais expressivo sobre a renda do trabalho, que cresceu 44%.

A pesquisa avaliou a execução do programa em três estados com realidades produtivas distintas — Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Pará — e acompanhou mil famílias elegíveis em cada território, identificadas com apoio das empresas públicas de assistência técnica e extensão rural (Emater). O recorte regional permitiu observar como uma mesma política pública pode gerar efeitos diferentes, mas igualmente estruturantes, quando aplicada em contextos diversos.

Mais do que um incremento pontual de renda, os dados indicam que o Fomento Rural promoveu uma mudança estrutural na forma como essas famílias produzem, consomem e se relacionam com os mercados locais.

Comercialização, crédito e organização produtiva

Um dos efeitos mais relevantes observados pelo estudo foi a ampliação da capacidade de comercialização agrícola. As famílias beneficiárias passaram a ter maior probabilidade de vender excedentes da produção, superando a lógica de subsistência e ingressando de forma mais ativa nos circuitos econômicos locais.

Esse avanço foi acompanhado por um fortalecimento da integração produtiva. As solicitações de crédito cresceram 18% entre os participantes do programa, especialmente em Minas Gerais e no Pará. Nessas regiões, também houve melhora significativa no acesso ao Garantia-Safra, instrumento fundamental para reduzir a vulnerabilidade de agricultores familiares diante de eventos climáticos extremos.

Os resultados estaduais revelam nuances importantes. No Rio Grande do Sul, os impactos sobre a renda foram os mais intensos. Em Minas Gerais, destacou-se a redução de 19,5% nos gastos com alimentação, associada ao aumento do autoconsumo da produção rural, além de um crescimento expressivo — 130% — na participação em associações de produtores. Já no Pará, o programa impulsionou a abertura de novas áreas produtivas e melhorias significativas na infraestrutura, ampliando a capacidade de produção e armazenamento.

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Créditos: Tamires Kopp/MDA

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Resiliência em meio à crise sanitária

A avaliação também chama atenção para a resiliência do Fomento Rural em um dos períodos mais críticos da história recente: a pandemia de Covid-19. O choque sanitário coincidiu justamente com o momento em que muitas famílias começavam a expandir seus projetos produtivos e a comercializar excedentes.

Mesmo nesse cenário adverso, os efeitos positivos do programa se mantiveram. Segundo os pesquisadores, na ausência da pandemia, os resultados provavelmente teriam sido ainda mais expressivos. Ainda assim, os dados demonstram ganhos duradouros tanto na renda quanto na segurança alimentar das famílias atendidas.

Para o MDS, essa capacidade de atravessar crises reforça o papel do Fomento Rural como política pública estratégica. A combinação entre transferência direta de recursos e acompanhamento técnico mostrou-se decisiva para garantir que os investimentos fossem convertidos em produção, autonomia e melhoria das condições de vida.

Investimento público e caminhos para o futuro

Somente em 2025, o MDS destinou R$ 144,4 milhões ao programa, com a inclusão de 32.139 novas famílias. A maior parte das adesões ocorreu por meio de parcerias com governos estaduais, em 23 unidades da federação. Outras frentes importantes envolveram a integração com o Programa Cisternas, especialmente no Semiárido e na Amazônia, e parcerias com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar – MDA, por meio de chamadas da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural – Anater.

O desenho do Fomento Rural prevê a transferência de R$ 4,6 mil por família, em duas parcelas, condicionadas à elaboração e execução de um projeto produtivo. Esse modelo, que articula apoio financeiro e técnico, permite estruturar ou ampliar atividades produtivas, diversificar a produção de alimentos e gerar renda de forma sustentável.

O estudo aponta, no entanto, caminhos para o aprimoramento do programa. Entre eles estão o fortalecimento do empoderamento feminino, a ampliação das ações de educação nutricional e uma integração mais intensa com políticas como o Pronaf, o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA e o Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE.

Ao fortalecer essas conexões, o Fomento Rural tende a consolidar-se não apenas como política de combate à pobreza, mas como eixo estruturante de desenvolvimento rural, segurança alimentar e permanência digna das famílias no campo.

Fundo Amazônia investe R$ 96,5 milhões para fortalecer alimentos da floresta

A floresta como base de uma nova economia alimentar

A Amazônia voltou ao centro da agenda de desenvolvimento do Estado brasileiro, desta vez não como fronteira de expansão predatória, mas como território estratégico para uma economia que alia floresta em pé, segurança alimentar e geração de renda. Com um aporte de R$ 96,5 milhões do Fundo Amazônia, o projeto Florestas e Comunidades: Amazônia Viva inaugura uma nova etapa de fortalecimento da produção sustentável de alimentos na região, conectando povos indígenas, comunidades tradicionais e agricultores familiares a políticas públicas e mercados formais.

A iniciativa nasce com um objetivo claro: transformar a diversidade sociobiodiversa da Amazônia em base econômica duradoura, capaz de assegurar renda, direitos e qualidade de vida a quem vive da floresta, ao mesmo tempo em que contribui para a redução do desmatamento. Produtos como açaí, castanha-do-Brasil, frutas regionais, farinha de mandioca e pescado artesanal deixam de ocupar um lugar marginal nas cadeias produtivas e passam a ser tratados como ativos estratégicos da economia nacional.

Políticas públicas como ponte entre território e mercado

O projeto é resultado de uma articulação interministerial que envolve o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome – MDS, por meio da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SESAN), o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima – MMA e o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar – MDA. A gestão financeira é feita pelo BNDES, responsável pelo Fundo Amazônia.

No centro dessa engrenagem estão programas públicos que já atuam como canais de escoamento da produção da agricultura familiar e das comunidades tradicionais, como o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA e o Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE. Ao fortalecer o acesso a essas políticas, o projeto cria estabilidade econômica e previsibilidade de renda, fatores essenciais para quem produz em territórios historicamente marcados pela exclusão.

Dos recursos totais, R$ 80 milhões são não reembolsáveis e destinados diretamente ao apoio de projetos apresentados por organizações de povos indígenas, comunidades tradicionais e agricultores familiares. Pelo menos 32 iniciativas serão selecionadas por chamada pública, com financiamento de até R$ 2,5 milhões cada, permitindo investimentos em logística, infraestrutura de armazenamento, beneficiamento da produção e acesso à energia renovável.

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Foto: Carlamoura.amb

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Estrutura, dados e o papel estratégico da Conab

Uma parte decisiva do projeto está voltada ao fortalecimento institucional da Companhia Nacional de Abastecimento – Conab na Amazônia Legal. As nove superintendências regionais da empresa receberão investimentos em tecnologia da informação e veículos, ampliando a capacidade operacional para executar políticas públicas em territórios extensos e de difícil acesso. A sede da Conab, em Brasília, também será modernizada para garantir a integração de sistemas e dados.

Esse esforço estrutural vai além da logística. O projeto prevê a criação de uma plataforma de dados dedicada à sociobiodiversidade amazônica, um passo fundamental para retirar esses produtos da invisibilidade estatística. Ao organizar informações sobre produção, volume, origem e circulação, a plataforma oferecerá base concreta para formulação, monitoramento e aprimoramento de políticas públicas, aproximando a realidade da floresta dos centros de decisão.

Para o BNDES, que gere o Fundo Amazônia, essa integração entre dados, inclusão produtiva e combate ao desmatamento consolida o fundo como instrumento de política pública transversal, capaz de alinhar agendas ambientais e sociais em uma mesma estratégia de desenvolvimento.

Floresta em pé, renda no território e redução do desmatamento

O projeto Florestas e Comunidades: Amazônia Viva parte de uma premissa simples e poderosa: não há enfrentamento efetivo ao desmatamento sem viabilizar a economia da floresta. Ao criar condições para que comunidades prosperem a partir do uso sustentável dos recursos naturais, o Estado desloca o eixo do desenvolvimento da destruição para a conservação produtiva.

Essa lógica redefine o papel da Amazônia no país. Em vez de território fornecedor de commodities primárias associadas à supressão florestal, a região passa a ser reconhecida como celeiro de alimentos, insumos e conhecimentos com alto valor econômico, ambiental e cultural. A sociobiodiversidade deixa de ser apenas patrimônio simbólico e se afirma como base concreta de um modelo de desenvolvimento inclusivo.

Ao ampliar o acesso ao mercado, melhorar a qualidade da produção e garantir políticas públicas estruturantes, o projeto fecha um ciclo virtuoso: comunidades fortalecidas mantêm a floresta em pé, reduzem o desmatamento, geram emprego e renda e ampliam a proteção da biodiversidade e da diversidade cultural. Trata-se de um passo decisivo para consolidar uma Amazônia viva, produtiva e integrada ao futuro sustentável do Brasil.

Pesquisa revela como o passado geológico da Amazônia influencia sua biodiversidade

Entendendo a Biodiversidade da Amazônia: Uma Perspectiva Geológica

A Amazônia é uma região notoriamente rica em biodiversidade, mas essa diversidade não é fruto do acaso. Segundo o geólogo André Oliveira Sawakuchi, professor do Instituto de Geociências – IGc-USP, a compreensão do ambiente amazônico exige um olhar atento à geologia. A Amazônia é uma região de grande heterogeneidade, com solos, rios e clima variados que, ao longo de milhões de anos, formaram um mosaico de ambientes que contribuem para a grande quantidade de espécies que lá habitam.

No entanto, entender a origem dessa diversidade não é simples. A pesquisa geológica tenta decifrar como esses diferentes ambientes se formaram, muitas vezes muito antes da presença humana, e como evoluíram ao longo do tempo. Para isso, as geociências oferecem ferramentas essenciais, como a paleoclimatologia, que permite reconstituir o clima e os ecossistemas do passado. Essa perspectiva histórica é fundamental para entender o impacto das atividades humanas atuais, como o desmatamento e as emissões de gases, sobre a Amazônia e sua biodiversidade.

O Projeto de Perfuração Transamazônica: Explorando o Passado da Amazônia

Um dos grandes projetos geológicos para estudar a Amazônia é o Projeto de Perfuração Transamazônica. Sua principal motivação é compreender a origem e a diversidade das espécies da região. O projeto propõe acessar o subsolo das bacias sedimentares da Amazônia, considerados verdadeiros “arquivos do passado”, para coletar amostras dos últimos 65 milhões de anos.

O plano original contemplava cinco perfurações continentais e uma oceânica, com o objetivo de extrair dados que pudessem esclarecer como o clima, os rios e a vegetação da Amazônia mudaram ao longo desse período. O financiamento do projeto foi viabilizado por meio de parcerias internacionais, incluindo o ICDP, NSF, Smithsonian e a FAPESP. No entanto, os desafios econômicos pós-pandemia e o aumento dos custos operacionais limitaram o projeto a duas perfurações continentais: uma no Acre, no oeste da Amazônia, e outra no Marajó, no leste.

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Andre Sawakuchi – Reprodução

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Desafios Técnicos e Logísticos: Superando Obstáculos na Perfuração

A perfuração no Acre enfrentou grandes dificuldades logísticas e técnicas. O material do subsolo da região é altamente friável, o que dificultou o avanço da operação. Isso resultou no aprisionamento da coluna de perfuração, um contratempo que prolongou a operação e reduziu a profundidade alcançada. O objetivo inicial era perfurar até 2000 metros, mas o trabalho foi encerrado aos 923 metros, ainda assim produzindo amostras valiosas.

Essas amostras, chamadas de testemunhos, são consideradas sem precedentes e oferecem dados suficientes para décadas de pesquisa sobre a história geológica e climática da Amazônia. Embora o projeto tenha sido impactado por dificuldades imprevistas, as amostras coletadas oferecem uma janela única para compreender o passado remoto da região. Esses dados serão transportados para o repositório da Universidade de Minnesota, uma das poucas instituições que conta com um repositório certificado para armazenar material científico desse tipo, já que o Brasil ainda não possui uma estrutura semelhante.

O Impacto das Atividades Humanas e o Futuro da Biodiversidade Amazônica

Além de estudar o passado, o projeto também examina as interações atuais entre a atividade humana e o meio ambiente. As mudanças climáticas, o desmatamento e as emissões de gases de efeito estufa têm um impacto profundo sobre a biodiversidade da Amazônia. A pesquisa geológica e paleoclimática ajuda a entender melhor como essas atividades estão alterando o equilíbrio da região e acelerando a perda de espécies.

A combinação de dados geológicos históricos com informações sobre o impacto atual das atividades humanas oferece uma perspectiva única sobre o futuro da Amazônia. A preservação de sua biodiversidade depende não apenas de medidas imediatas, como a redução do desmatamento, mas também de um entendimento profundo das mudanças climáticas e geológicas que moldaram essa região ao longo de milhões de anos.

Robôs submersíveis ampliam o monitoramento dos oceanos com precisão

Uma nova era para a observação dos oceanos

A exploração dos mares, há décadas dominada por instrumentos pesados e logísticas complexas, está sendo transformada pela robótica subaquática. Veículos não tripulados, que antes eram utilizados apenas em aplicações militares ou industriais, hoje ganham papel fundamental em pesquisas científicas, monitoramento ambiental e inspeção de infraestrutura submarina. Essa revolução tecnológica nasce da combinação entre avanços em sensores, inteligência artificial e engenharia de materiais, que permite operar em profundidades antes inacessíveis com custo e riscos reduzidos.

Um estudo publicado em maio de 2025 na revista Scientific Reports, do grupo Nature, mostrou que drones submersíveis conhecidos como gliders — ou planadores oceânicos — podem detectar sinais sísmicos no fundo do mar de maneira eficiente e econômica. Idealizados como parte do projeto de monitoramento acústico da Bacia de Santos, coordenado pela Petrobras, esses equipamentos equipados com hidrofones captaram sons que, ao serem comparados com catálogos de eventos sísmicos e analisados por algoritmos avançados, identificaram 12 tremores de magnitude superior a seis. Segundo os pesquisadores envolvidos, incluindo o geofísico Marcelo Belentani de Bianchi, do IAG-USP, e Diogo Luiz de Oliveira Coelho, do Observatório Nacional (ON), os gliders abrem uma perspectiva inédita para a sismologia marinha, tradicionalmente limitada por custos e logística.

Do fundo oceânico às fronteiras da ciência tecnológica

Historicamente, o monitoramento sísmico subaquático dependia de sismômetros de fundo oceânico (OBS), equipamentos pesados que exigem navios equipados com guindastes e equipes especializadas para imersão e retirada. Além do alto custo, esses instrumentos são pouco adequados para cobertura contínua e em larga escala. Os gliders, por sua vez, lembram planadores aéreos: sem motores propulsores tradicionais, alteram sua flutuabilidade por meio de bexigas internas que lhes permitem mergulhar e subir repetidamente, coletando dados em longos percursos e se comunicando por satélite ao emergirem. Essa autonomia, combinada ao baixo custo operacional, os torna candidatos ideais para monitoramento contínuo dos oceanos.

Outro tipo de drone submarino é o ROV — remotely operated vehicle ou veículo operado remotamente — que ainda depende de cabos conectados à embarcação controladora. Esses sistemas nasceram na década de 1950 para fins militares, como detecção de minas ou submarinos, mas nas últimas décadas tiveram sua aplicação ampliada para inspeções industriais e estudos ambientais. O crescimento dessa tecnologia foi particularmente impulsionado pela indústria de petróleo e gás offshore, e hoje os ROV são presença constante em operações de inspeção de dutos, plataformas e ecossistemas marinhos.

rpf-drones-robo-Luma-2025-12-1140-400x260 Robôs submersíveis ampliam o monitoramento dos oceanos com precisão
Marco Samuel Rios Morale

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Inovação brasileira em robótica submersa

No Brasil, a pesquisa em robótica oceânica também tem raízes profundas. O Instituto Alberto Luiz de Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ) trabalha com robôs subaquáticos desde os anos 1990, desenvolvendo protótipos que vão desde o Luma, concebido para inspeções em hidrelétricas e que chegou a operar a mil metros de profundidade na Antártida, até o robô Ariel, projetado para auxiliar na detecção de vazamentos em plataformas marítimas e coordenado com a embarcação Tupan.

Outro projeto emblemático é o FlatFish, um AUV (autonomous underwater vehicle) originalmente desenvolvido a partir de uma parceria entre a Shell Brasil, o Senai Cimatec, o Deutsches Forschungszentrum für Künstliche Intelligenz (DFKI) e apoiado por instituições brasileiras como a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e a Embrapii. O FlatFish foi um ponto de inflexão para a tecnologia nacional, reunindo engenheiros de diferentes áreas e consolidando bases para futuras inovações em inspeções subaquáticas com inteligência artificial.

O cenário acadêmico também é marcado por esforços pioneiros na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), onde o Laboratório de Veículos Não Tripulados (LVNT) desenvolve desde 2005 diversos robôs submarinos. Projetos como o AUV Pirajuba e a linha de ROVs Dourado e Mandi mostram que a robótica brasileira não apenas acompanha tendências globais, mas busca respostas específicas às demandas de monitoramento ambiental e industrial.

Aplicações que atravessam fronteiras

A utilização de robôs submarinos ultrapassa o âmbito da pesquisa pura e tem impactos diretos na conservação ambiental. Um exemplo é o Hindrax, um ROV criado a partir de pesquisas na Universidade Federal do ABC (UFABC), utilizado no Peru para monitorar populações de vieiras, moluscos de importância ecológica e econômica. Equipado com câmeras de alta definição e algoritmos de inteligência artificial, o equipamento auxilia pescadores a estimar números e tamanhos dessas espécies, contribuindo para práticas de pesca mais sustentáveis.

A colaboração internacional também tem papel fundamental na expansão dessas tecnologias. Projetos como o Parati — um veículo híbrido que combina funcionalidade autônoma e controle por cabo de fibra óptica — envolvem pesquisadores de diferentes universidades brasileiras e estrangeiras, como a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Universidad de La Serena, no Chile. Essas parcerias mostram que a robótica submarina é uma fronteira que convoca cooperação global para enfrentar desafios que vão da vigilância de ecossistemas à mitigação de impactos de atividades humanas.

A convergência de tecnologias, desde sensores acústicos a inteligência artificial, coloca os oceanos no centro de uma nova agenda científica e tecnológica. Se no passado os mares pareciam um território inatingível, hoje eles são alvo de investigação contínua que ilumina tanto sua dinâmica física quanto as complexas interações entre atividades humanas e ecossistemas marinhos. Os drones submersíveis, com suas capacidades únicas, transformam não apenas a forma de coletar dados, mas também de interpretar e proteger um dos ambientes mais vastos e essenciais do planeta.

Juma Xipaia e DiCaprio levam resistência indígena ao Oscar 2026

A trajetória de YANUNI, documentário produzido por Juma Xipaia em parceria com Leonardo DiCaprio, ganhou uma dimensão que ultrapassa o circuito audiovisual. A obra, dirigida pelo austríaco Richard Ladkani, despontou como uma das produções mais celebradas do cinema ambiental de 2025 e tornou-se um dos títulos mais comentados na campanha internacional rumo ao Oscar 2026. Com sua combinação de denúncia, intimidade e resistência, o filme não apenas expande o alcance da causa indígena na Amazônia, mas a inscreve no centro do debate global sobre justiça climática.

Diversos veículos internacionais, entre eles Deadline e Awards Watch, destacaram o documentário como um dos fortes candidatos ao prêmio de Melhor Documentário da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Essas publicações ressaltam a força da história conduzida por Juma, primeira cacica do povo Xipaya, e de seu companheiro, o agente ambiental Hugo Loss, ambos posicionados na linha de frente contra o garimpo ilegal e as ameaças que pairam sobre os territórios amazônicos.

YANUNI estreou como filme de encerramento no Tribeca Festival, em Nova York, uma das vitrines mais relevantes do cinema mundial. Na cerimônia, Leonardo DiCaprio e Juma dividiram o palco para enfatizar a urgência e a responsabilidade coletiva frente à crise ambiental que o filme retrata. Dali em diante, a obra seguiu uma trajetória de premiações que consolidou sua potência internacional.

Um percurso premiado no circuito global do cinema ambiental

A presença de YANUNI nos principais festivais dedicados ao cinema ambiental tem sido marcada por reconhecimentos sucessivos. O filme foi exibido no Montrose LandxSea Environmental Film Festival, na Escócia, onde conquistou o Prêmio do Público. Em seguida recebeu o Grand Teton e o prêmio de Melhor Longa-metragem no Jackson Wild Media Awards, instituição frequentemente chamada de o Oscar da natureza.

Nos Estados Unidos, a produção também foi agraciada pelo Red Nation International Film Festival, o mais importante evento dedicado ao cinema indígena no mundo. Ali, YANUNI venceu como Melhor Documentário, reforçando a relevância de uma obra conduzida pela própria liderança indígena que atravessa sua narrativa. O circuito de exibições seguiu com a escolha do filme como obra de abertura no Los Angeles Brazilian Film Festival, ampliando sua visibilidade entre a diáspora brasileira e no ambiente cinematográfico norte-americano.

No Brasil, a recepção também foi significativa: o filme recebeu o Prêmio do Público de Documentário Internacional na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, evento reconhecido como uma das mais importantes plataformas culturais da América Latina.

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Divulgação YANUNI

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Resistência, maternidade e a defesa dos territórios

No centro da narrativa está a vida de Juma Xipaia, cacica da aldeia Kaarimã, na Terra Indígena Xipaya, localizada em Altamira, região do Médio Xingu, no Pará. Desde 2016, quando se tornou a primeira mulher do povo a assumir a liderança política, Juma tem atuado na defesa dos direitos humanos, da autodeterminação e da proteção territorial diante de ameaças que vão desde grandes projetos de infraestrutura, como a hidrelétrica de Belo Monte, até a pressão da mineração industrial e do garimpo ilegal.

Juma enfrenta esse cenário enquanto vivencia a maternidade e sobrevive a sucessivas tentativas de assassinato. Sua história se estreita com a de seu marido, Hugo Loss, agente ambiental do Ibama, que liderou operações arriscadas de repressão ao garimpo. Graduado pela Universidade Federal do Paraná e mestre pela Universidade de Brasília, Loss tornou-se referência no combate às invasões e à grilagem em terras indígenas. Sua atuação levou-o a ser alvo de espionagem ilegal entre 2019 e 2020 e à exoneração durante o governo Bolsonaro. Ele retornou ao órgão em 2023.

YANUNI acompanha esse percurso de confrontos, escolhas pessoais difíceis e, sobretudo, da construção de uma liderança que emergiu de um território isolado para integrar o primeiro Ministério dos Povos Indígenas do Brasil. A paulatina entrada de Juma na política institucional — enquanto enfrenta ameaças crescentes e tenta equilibrar vida familiar e coletividade — dá ao documentário uma atmosfera que combina épico, vulnerabilidade e coragem.

O impacto cultural de YANUNI e a articulação internacional

O filme é uma produção da Malaika Pictures em associação com Appian Way, Nia Tero, Age of Union, Tellux Group e com apoio do Instituto Austríaco de Cinema. Além de DiCaprio, a produção executiva inclui nomes como Eric Terena, da Mídia Indígena, reforçando uma estrutura que alia protagonismo indígena a colaborações internacionais.

As participações musicais de Katu Mirim e Djuena Tikuna acrescentam ao documentário uma dimensão sensorial que conecta a força do território amazônico à estética da obra. A trilha sonora original, de H. Scott Salinas, se articula com essas vozes tradicionais para reforçar a espiritualidade e o enraizamento cultural que atravessam o filme.

YANUNI, ao se firmar como um fenômeno no cinema ambiental, também se torna ferramenta política. A produção não apenas valoriza a resistência dos povos da floresta, mas expõe tensões que moldam a disputa pelo futuro da Amazônia e, por extensão, pelo futuro climático do planeta. A obra mostra que a defesa dos territórios indígenas é inseparável da defesa da própria vida no planeta, e que essa luta depende do reconhecimento internacional e do fortalecimento das vozes indígenas em todos os espaços.

Governo do Amazonas reforça estrutura ambiental com reajuste salarial, concurso público e modernização do Ipaam

Valorização dos servidores e retomada histórica de contratações
Durante a programação que celebra os 30 anos do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), o governador Wilson Lima anunciou um conjunto de medidas que reposiciona o órgão em sua capacidade de atuação ambiental. Entre elas está a sanção da nova data-base dos servidores, que garante recomposição salarial de 5,53% a partir de janeiro de 2026, beneficiando 133 profissionais da ativa. A medida não apenas reconhece a importância das carreiras ambientais, mas reforça a necessidade de estabilidade técnica em um estado cujo desenvolvimento depende diretamente de decisões precisas sobre licenciamento, fiscalização e monitoramento.

O anúncio mais aguardado veio em seguida: após 18 anos sem concurso, o Governo do Amazonas publicará, até o fim de dezembro, o edital com 140 vagas para reforçar equipes estratégicas do Instituto. A seleção será organizada pelo Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe), conforme já definido no Diário Oficial. As oportunidades são direcionadas a áreas como licenciamento ambiental, geoprocessamento, fiscalização, tecnologia da informação e regularização fundiária, compondo um novo ciclo de profissionalização na política ambiental estadual.

A analista ambiental Thereza Melo, servidora do Ipaam há três décadas, ressaltou que a valorização salarial somada ao concurso representa um marco para as equipes, que vivem uma rotina intensa de demandas e pressões. Segundo ela, a chegada de novos profissionais permitirá maior agilidade nos processos e fortalecerá áreas essenciais como educação ambiental e monitoramento de impactos.

Ampliação de políticas ambientais e reconhecimento a produtores sustentáveis
A cerimônia também marcou a entrega simbólica dos Cheques Verdes destinados a produtores rurais contemplados pelo Projeto Floresta+ Amazônia. A iniciativa é financiada pelo Fundo Verde para o Clima (Green Climate Fund) e executada pelo Governo Federal, por meio do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Nesta etapa, 525 produtores do Amazonas receberão cerca de R$ 2,6 milhões no primeiro trimestre de 2026, como reconhecimento por práticas de conservação e regularização ambiental.

Entre os beneficiados está o produtor de frutas Jones Bentes, que mantém áreas preservadas em sua propriedade. Ele destacou que o apoio estadual foi decisivo para dar escala às ações de sustentabilidade. O depoimento evidencia como políticas ambientais funcionam quando articulam financiamento, capacitação e segurança jurídica, criando um ambiente favorável à produção sustentável no interior do estado.

WhatsApp-Image-2025-12-12-at-11.22.08-1024x682-1-400x266 Governo do Amazonas reforça estrutura ambiental com reajuste salarial, concurso público e modernização do Ipaam
FOTOS: Antonio Lima/Secom

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Digitalização dos serviços e melhorias no atendimento ao público
Outro eixo das entregas refere-se à modernização do atendimento do Ipaam. O governador inaugurou a nova recepção do Instituto e apresentou os primeiros totens de autoatendimento do Ipaam Digital, que ampliam o acesso a serviços ambientais em todo o estado. Os equipamentos permitem a emissão de documentos com validade jurídica por QR Code, integração com sistemas de fiscalização, operação em locais de baixa conectividade e redução de etapas manuais, além de gerar dados essenciais para a gestão.

A reestruturação da recepção, agora mais acessível, organizada e confortável, acompanha o processo de transformação digital em curso. O novo espaço busca criar uma experiência mais eficiente tanto para cidadãos quanto para empreendedores e produtores rurais que dependem de licenças, autorizações e informações técnicas do órgão. A reformulação também melhora as condições de trabalho internas, favorecendo fluxos mais funcionais para os servidores.

Atualização das regras de reposição florestal e fortalecimento institucional
Durante o evento, o Governo anunciou ainda a Portaria Ipaam nº 162/2025, que revisa e atualiza a política de reposição florestal no Amazonas. A norma corrige distorções históricas, reduz custos para atividades que atuam dentro da legalidade e redefine critérios de cálculo, alinhando o estado às práticas mais modernas do país. O objetivo é oferecer maior segurança jurídica ao setor produtivo e aprimorar o sistema de licenciamento ambiental.

Participaram da solenidade o diretor-presidente do Ipaam, Gustavo Picanço; o secretário de Estado do Meio Ambiente, Eduardo Taveira; o comandante-geral do Corpo de Bombeiros Militar do Amazonas, coronel Orleilso Muniz; e o deputado estadual Cabo Maciel, entre outras autoridades. As presenças reforçaram a compreensão de que fortalecer o Ipaam é essencial para a economia, para a proteção da maior floresta tropical do planeta e para a qualidade de vida da população.

Com as medidas anunciadas, o governo estrutura um novo momento para o órgão responsável por garantir equilíbrio entre desenvolvimento e proteção ambiental. Modernização, capacitação técnica, valorização profissional e políticas de incentivo à conservação formam um conjunto que reposiciona o Ipaam como protagonista na agenda socioambiental do Amazonas.

Conferência reúne jovens do Maranhão para debater clima e territórios

Um encontro para pensar o futuro a partir das escolas
A Conferência Climática dos Centros Educa Mais, realizada pela Secretaria de Estado da Educação do Maranhão (Seduc) no Parque Botânico da Vale, reuniu centenas de jovens de escolas de tempo integral para discutir o papel da educação diante das mudanças climáticas. O evento marcou a culminância do projeto Escolha Consciente: Juventude em Defesa dos Territórios, que promoveu ao longo do ano ações voltadas à sustentabilidade, à identidade territorial e ao enfrentamento das desigualdades socioambientais. No total, 630 estudantes, professores e gestores de todas as regiões do estado participaram das atividades, que transformaram o parque em um grande laboratório de ideias sobre futuro, pertencimento e responsabilidade coletiva.

A presença de autoridades reforçou a dimensão institucional da iniciativa. Estiveram no encontro o secretário de Estado da Educação, José Antônio Heluy; o secretário adjunto de Educação Profissional e Integral, Delmar Matias; o representante da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema), Pedro Pizziolo; o covereador do Coletivo Nós e educador social, Eni Ribeiro; e o supervisor de Projetos Educacionais Especiais da Seduc, Bruno Santos. O diálogo entre escola, poder público e sociedade civil ajudou a estruturar debates que conectam as vivências dos estudantes às urgências climáticas do presente.

Juventude que pensa território, identidade e clima
Representantes de 53 Centros Educa Mais participaram de palestras, rodas de conversa, grupos de trabalho e exposições de projetos. Os temas circularam entre questões ambientais e sociais que moldam o cotidiano das juventudes maranhenses: identidade, território, racismo ambiental, educação ambiental, políticas públicas e liderança climática. A conferência evidenciou que o debate climático ultrapassa métricas e gráficos; ele toca modos de vida, memórias familiares, perspectivas profissionais e a forma como cada comunidade se organiza diante das pressões econômicas e ambientais.

A troca de experiências entre estudantes de diferentes regiões – do litoral ao cerrado maranhense, dos grandes centros urbanos às comunidades rurais – criou um ambiente fértil para interpretações diversas sobre o que significa defender o território. Nos corredores, tenda após tenda, era possível conhecer iniciativas que vão da revitalização de nascentes à produção de podcasts sobre cidadania ambiental, passando por hortas comunitárias e campanhas estudantis de coleta seletiva.

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Foto: Fabricio Carrijo

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A Carta das Juventudes e o gesto de assumir compromissos coletivos
Como resultado central do encontro, os estudantes construíram de forma colaborativa a Carta das Juventudes Escolares pelo Futuro Sustentável, documento que reúne compromissos e propostas para fortalecer práticas de sustentabilidade nas comunidades onde vivem. A carta sintetiza o entendimento de que a pauta climática precisa ser conduzida com participação ativa das juventudes, que conhecem de perto as vulnerabilidades e potências dos territórios.

Para o secretário José Antônio Heluy, a conferência demonstrou a vocação da escola pública para formar cidadãos conscientes e socialmente atuantes. Em suas palavras, ao proporcionar espaços de debate sobre clima, território e sustentabilidade, a Seduc contribui para que os estudantes exerçam autonomia e intervenham de maneira qualificada nas decisões que moldam o futuro do Maranhão. A fala reforçou a ideia de que políticas educacionais têm papel fundamental na formação de lideranças capazes de interpretar, comunicar e agir diante dos desafios ambientais.

O encontro também foi marcado por relatos emocionados de estudantes. Letícia Cutrim, do Centro Educa Mais Estefânia Rosa, resumiu o sentimento compartilhado por muitos colegas: a percepção de que a mudança começa na escola, mas se expande para os bairros, povoados e cidades. Ao descobrir que sua voz tem força, disse ela, torna-se possível influenciar decisões e inspirar práticas mais responsáveis.

Educação integral como caminho de transformação socioambiental
A conferência integrou uma estratégia mais ampla da Seduc para fortalecer o protagonismo juvenil e promover consciência socioambiental em todo o estado. Os Centros Educa Mais, por funcionarem em tempo integral e investirem em metodologias participativas, oferecem terreno fértil para projetos que conectam conteúdo escolar e realidade territorial. Iniciativas como essa mostram como a educação pode ser ao mesmo tempo espaço de formação técnica, política e afetiva.

Ao final do evento, ficou evidente que a conferência não se encerrou ali. O que se construiu no Parque Botânico da Vale foi um compromisso permanente: transformar escolas em centros de multiplicação de práticas sustentáveis e fortalecer o papel das juventudes na defesa de seus territórios. Nesse movimento, o Maranhão reafirma que enfrentar a crise climática passa também pela escuta cuidadosa de quem, hoje, aprende e, amanhã, decidirá os rumos do estado.

Tempestades severas ameaçam MS, PR e SC com ventos de até 100 km/h

A combinação entre uma frente fria avançando pelo país e um corredor de umidade que persiste sobre várias regiões acendeu um sinal de alerta entre meteorologistas e autoridades brasileiras. Nesta sexta-feira, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um aviso vermelho para tempestades severas, rajadas de vento que podem alcançar 100 km/h e possibilidade de granizo em uma extensa faixa territorial que abrange o sudoeste do Mato Grosso do Sul, todo o oeste do Paraná e grande parte de Santa Catarina.

Embora o aviso se concentre sobretudo nesses três estados, a instabilidade atmosférica não é um fenômeno isolado. A frente fria e a elevada umidade também criam condições para episódios de chuva intensa e tempestades pontuais em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O efeito combinado coloca parte expressiva do país em estado de atenção, especialmente ao longo do fim de semana.

O alerta vermelho é o mais elevado da escala operacional do Inmet, reservado para situações com potencial de danos significativos e impacto direto na rotina das populações afetadas. A severidade do fenômeno reforça a necessidade de acompanhamento constante das atualizações meteorológicas e da adoção de medidas preventivas por parte do poder público e dos moradores das regiões sob risco.

A atuação coordenada entre órgãos federais e sistemas de defesa

Assim que o alerta foi emitido, o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) divulgou uma nota reforçando que o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad), órgão ligado à Defesa Civil Nacional, permanece em monitoramento contínuo da evolução climática. O Cenad acompanha imagens de satélite, dados de radar, projeções meteorológicas e informações vindas de defesas civis estaduais e municipais para mapear as áreas mais vulneráveis e orientar ações de mitigação.

De acordo com a pasta, o trabalho conjunto com governos locais inclui repasse de dados em tempo real, suporte técnico, orientação sobre protocolos de emergência e, quando necessário, mobilização de recursos federais para atendimento à população afetada.

A estratégia inclui, também, fortalecer o uso do sistema Defesa Civil Alerta, que envia mensagens gratuitas para celulares localizados em regiões com risco iminente. O serviço, que funciona sem necessidade de cadastro prévio, tornou-se um dos principais instrumentos de prevenção e comunicação rápida com a população. As mensagens podem informar sobre ventos fortes, possibilidade de granizo, risco de alagamentos, necessidade de buscar abrigo ou evitar determinadas áreas.

Tiago Molina Schnorr, coordenador-geral de Monitoramento e Alerta do Cenad, lembra que eventos como os previstos para este fim de semana tendem a ocorrer em períodos curtos, mas com força suficiente para causar danos significativos. Ele ressalta que rajadas de vento, descargas elétricas e chuva intensa podem resultar em queda de árvores, destelhamento de casas, enxurradas súbitas e interrupções no fornecimento de energia.

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Paulo Pinto/Agência Brasil

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Fim de semana sob instabilidade: o avanço da tempestade

A instabilidade não deve se dissipar rapidamente. Segundo o Inmet, o alerta permanece válido ao longo do sábado e do domingo, quando a chuva pode se intensificar em áreas específicas, especialmente na Região Serrana do Rio de Janeiro, no centro-sul de São Paulo e na zona da mata e sul de Minas Gerais. A influência do sistema também deve ser sentida no sudoeste de Mato Grosso do Sul, onde a combinação de calor acumulado e chegada de ar mais frio favorece tempestades rápidas e violentas.

Esse tipo de padrão meteorológico, comum durante a transição para o verão, é amplificado por condições atmosféricas que favorecem a formação de nuvens profundas, capazes de produzir granizo e ventos intensos. Em áreas urbanas, a preocupação aumenta devido à impermeabilização do solo, que potencializa alagamentos súbitos e episódios de enxurrada.

Prevenção, informação e cuidado coletivo

Diante de um cenário de risco elevado, a principal recomendação das autoridades é que a população mantenha atenção redobrada. Evitar áreas alagáveis, não transitar por ruas com enxurrada, manter distância de árvores, estruturas metálicas e redes de energia durante tempestades e buscar abrigos seguros são atitudes essenciais para reduzir a vulnerabilidade individual.

Também é fundamental seguir orientações divulgadas pelo Inmet, pela Defesa Civil local e pelo sistema de alertas enviado diretamente aos celulares. A rapidez com que as tempestades se formam exige que a população esteja informada e preparada para reagir de forma imediata.

Os próximos dias serão marcados por forte instabilidade, mas também pela mobilização de equipes técnicas que observam o comportamento do clima e trabalham para minimizar os impactos à população. A mensagem principal é clara: informação é a ferramenta mais valiosa diante de fenômenos extremos.

Belém amplia opções culturais com novos espaços no Parque da Cidade

Um parque que amplia sentidos e experiências

A reabertura do Parque da Cidade, em Belém, reacendeu o movimento de visitantes e trouxe consigo novas possibilidades de convivência, lazer e consumo. Agora, o espaço público incorporou dois equipamentos essenciais para quem busca experiências culturais e gastronômicas: o Centro Gastronômico e o prédio de Economia Criativa.

Ambos chegam para fortalecer a proposta do Parque como um lugar de múltiplas vivências, somando-se ao clima festivo do Natal Encantado 2025, que transforma a área em uma vila iluminada e repleta de atrações. Localizado no bairro do Souza, o Parque passa a oferecer uma combinação de sabores, artesanato e histórias que refletem a identidade paraense, tudo por meio do trabalho de dezenas de empreendedores regionais.

Com o apoio institucional da Secretaria de Estado de Cultura do Pará (Secult) e a curadoria do Sebrae Pará e da Coca-Cola, os novos espaços foram organizados para que o público encontre produtos locais, gastronomia acessível e áreas de convivência integradas ao ambiente natural do Parque. Assim, a visita deixa de ser apenas um passeio: torna-se uma imersão no universo criativo e culinário que marca a cultura da região.

Gastronomia e criatividade como portas de entrada para a cultura local

O prédio de Economia Criativa se tornou uma vitrine da produção artesanal paraense. São 36 expositores que exibem biojoias, cosméticos naturais, velas, cerâmicas e os tradicionais banhos de cheiro. Em cada estande, há uma narrativa ligada à floresta, às técnicas tradicionais e às memórias das comunidades que moldaram esses saberes.

Já o Centro Gastronômico dá forma a outro tipo de experiência: o sabor. Com 30 quiosques no térreo e cinco restaurantes no segundo pavimento, reúne opções de sobremesas, pratos regionais e culinária contemporânea. É um espaço pensado para circular, experimentar e descobrir a riqueza da cozinha paraense, que se reinventa sem perder raízes.

Além da diversidade, a localização dos centros facilita o fluxo de visitantes. Próximo aos portões P14 e P15, na Avenida Júlio César, o Centro Gastronômico funciona de terça a domingo a partir das 15h. Já o prédio de Economia Criativa, ao lado da Avenida Senador Lemos, abre suas portas a partir das 17h. A distribuição estratégica convida o público a percorrer o Parque, costurando gastronomia, cultura e lazer.

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Foto: Marcelo Lelis / Ag. Pará

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Histórias de quem vive da própria criação

Por trás dos quiosques e estandes, há histórias individuais que movem os novos espaços. Entre elas, a de Ana Maria, conhecida como Ana do Cheiro, que trabalha há mais de quarenta anos com essências amazônicas transformadas em perfumes, sabonetes e óleos aromáticos. Ela conta que a oportunidade de estar no Centro Gastronômico dá novo alcance ao seu trabalho e reforça o valor da matéria-prima local.

Tiago Costa compartilha sentimento semelhante. Seu empreendimento de biojoias utiliza sementes, fibras e materiais tradicionais da bioeconomia amazônica. Segundo ele, o mês de dezembro se tornou particularmente estratégico para as vendas, e a presença no Parque cria a chance de atrair novos públicos em busca de presentes e peças únicas.

O mesmo vale para Ana Cláudia, empreendedora que prepara crepes em um dos quiosques do Centro Gastronômico. Para ela, a experiência de estar ali funciona como vitrine para que negócios pequenos possam mostrar sua identidade e qualidade. Em comum, todos enxergam o novo Parque como uma arena de visibilidade, circulação e reconhecimento.

Quem visita também percebe essa transformação. A estudante de pedagogia Adrielle Corrêa, que passeava com os filhos, relatou surpresa com a variedade de produtos e com o caráter acolhedor dos expositores. Para ela, a experiência une lazer e aprendizado, já que muitos empreendedores se dedicam a explicar os processos artesanais e os significados culturais por trás de cada item.

Um parque que se reinventa como espaço de encontro

A reabertura do Parque da Cidade, somada às atrações do Natal Encantado, marca um momento de renovação do espaço público. Os novos equipamentos ampliam o que significa estar no Parque: não apenas caminhar ou aproveitar áreas verdes, mas também conhecer empreendedores, provar novos sabores, adquirir artesanato produzido com técnicas tradicionais e descobrir histórias que atravessam gerações.

O movimento que surge nesses primeiros dias demonstra que a combinação entre cultura, economia criativa e gastronomia gera valor simbólico e econômico. O Parque se reposiciona como um lugar de convivência social e de reconhecimento da criatividade paraense — e isso fortalece, ao mesmo tempo, a identidade cultural e os pequenos negócios da região.

Para quem busca visitar, o funcionamento segue: o Parque da Cidade abre de terça a domingo, das 8h às 22h, e às segundas das 18h às 22h. O Centro Gastronômico funciona de terça a domingo das 15h às 22h; Economia Criativa, a partir das 17h. Mais do que horários, são portas abertas para que moradores e turistas vivenciem Belém com todos os sentidos.

Tecnova III seleciona 23 projetos e injeta mais de R$ 12 milhões na inovação paraense

A divulgação do resultado do edital Tecnova III marca um novo capítulo na política de inovação do Pará. A iniciativa, conduzida pela Fapespa em parceria com a Finep, não apenas distribui recursos: ela busca reorganizar o ambiente de inovação do Estado, criando condições para que micro, pequenas e médias empresas avancem na criação de soluções tecnológicas capazes de fortalecer a economia regional.

Com mais de R$ 12,7 milhões destinados ao programa, o edital selecionou 23 propostas entre 54 submetidas. Todas passaram por etapas rigorosas de análise — desde requisitos formais até avaliação de mérito — para garantir que os investimentos se concentrem em projetos alinhados às estratégias paraenses de desenvolvimento científico, tecnológico e socioeconômico.

Ao estimular a criação de produtos, serviços e processos inovadores, o Tecnova III reforça uma diretriz que tem ganhado peso na política pública local: inovação não é acessório, é motor de competitividade e soberania econômica.

Fomento que alcança o chão das empresas

O desenho do programa parte de uma lógica concreta: inovação só avança quando há condições para que pequenas empresas assumam riscos tecnológicos. A subvenção econômica prevista pelo edital cobre tanto despesas de custeio quanto investimentos em capital necessárias ao desenvolvimento dos projetos. Cada proposta pode solicitar entre R$ 318 mil e R$ 489,2 mil — valores significativos para negócios que, muitas vezes, têm boas ideias mas pouca margem para financiar seus experimentos.

Segundo o diretor científico da Fapespa, Deyvison Medrado, a intenção é clara: apoiar o desenvolvimento de soluções inovadoras que não apenas dialoguem com o mercado nacional, mas que encontrem ressonância com os setores estratégicos definidos pelo governo estadual. Trata-se, portanto, de induzir um ecossistema de inovação que responda às necessidades e particularidades da economia paraense.

Os recursos utilizados vêm majoritariamente do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), complementados por investimentos próprios do Governo do Pará. Com isso, o Estado fortalece sua presença em uma política nacional que ocorre de forma descentralizada e mobiliza praticamente todas as unidades da federação.

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Foto: Divulgação – Ag. Pará

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Capacitação e internacionalização: inovação como trajetória, não apenas projeto

Um dos diferenciais da edição atual é o reforço no apoio à formação das equipes que executarão os projetos. Para além do repasse financeiro, o programa reserva recursos específicos para capacitações, trilhas de aceleração e ações de internacionalização. A lógica é simples, mas estratégica: inovação depende de conhecimento, e conhecimento depende de qualificação contínua.

Em 2023, a Fapespa credenciou aceleradoras e agências especializadas em negócios internacionais, criando uma rede de parceiros capaz de oferecer suporte técnico às empresas selecionadas. Agora, cada negócio aprovado poderá escolher a proposta que melhor se ajusta ao seu estágio de maturidade e ao tipo de inovação que pretende desenvolver.

Esse desenho amplia o impacto do edital. Ele não se limita ao financiamento pontual de protótipos, mas consolida uma trajetória de fortalecimento empresarial. A expectativa é que os projetos apoiados gerem negócios robustos, aptos a competir e a expandir sua atuação para além das fronteiras nacionais.

Uma agenda conjunta para um desenvolvimento mais sustentável

Para o presidente da Fapespa, Marcel Botelho, o programa expressa um movimento coletivo em direção a uma economia de base tecnológica, sustentável e ambientalmente responsável. A articulação entre o Governo do Estado, a Fapespa e entidades empresariais demonstra que inovação, responsabilidade socioambiental e competitividade não são agendas concorrentes — são, na verdade, peças complementares de um modelo de desenvolvimento que mira o futuro sem perder de vista as necessidades locais.

O Tecnova III, ao privilegiar setores estratégicos, busca criar empresas mais preparadas, competitivas e conectadas às demandas contemporâneas. De um lado, incentiva soluções economicamente viáveis; de outro, estimula a produção de tecnologias que respondam aos desafios ambientais e sociais do Pará. Assim, o programa se firma como um instrumento que não apenas financia projetos, mas redefine a vocação inovadora do Estado.

Novo relatório global estima impactos devastadores se o mundo não agir pelo clima

Um alerta global sobre custos humanos e econômicos da crise climática

A nova edição do Panorama Ambiental Global, o GEO7, divulgada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) , reforça um diagnóstico que há anos se repete, mas agora com números mais duros e projeções mais abrangentes. Apresentado em Nairóbi, o documento indica que a falta de ação diante da crise ambiental e climática não é apenas um risco abstrato: trata-se de uma ameaça concreta à vida humana, ao bem-estar social e à estabilidade econômica mundial. Os cientistas envolvidos demonstram que negligenciar o clima pode resultar em milhões de mortes prematuras, pressões adicionais sobre populações vulneráveis e um rombo bilionário para governos e sociedades.

O GEO7 sintetiza décadas de pesquisa e avaliação sobre os sistemas naturais e suas relações com a atividade humana. Ele também aponta caminhos possíveis, destacando que as escolhas feitas agora determinarão se o planeta atravessará as próximas décadas com mais segurança, menos desigualdade e maior resiliência — ou se enfrentará crises cada vez mais profundas e onerosas.

Transformar sistemas para salvar vidas e reduzir desigualdades

Robert Watson, copresidente da avaliação científica do GEO7, destaca que apenas transformações profundas serão capazes de reverter a trajetória atual. Para ele, não basta ajustar políticas ou aperfeiçoar modelos de gestão: é preciso repensar completamente a forma como transcorrem os sistemas que estruturam a vida contemporânea. Isso inclui finanças, energia, produção de materiais, agricultura e as próprias instituições públicas.

Essas mudanças, segundo Watson, não podem recair exclusivamente sobre ministros do meio ambiente. Governos inteiros, em todas as áreas, precisam assumir o desafio. Do contrário, as consequências poderão incluir 9 milhões de mortes anuais relacionadas à poluição, aumento da pobreza extrema e expansão da insegurança alimentar. O relatório aponta que até 200 milhões de pessoas podem deixar a subnutrição caso as recomendações sejam implementadas, e cerca de 150 milhões poderiam sair da pobreza extrema.

Os autores reforçam que as soluções propostas envolvem integração entre tecnologia, mudança cultural, inovação em políticas públicas e decisões coletivas. Para que isso aconteça, o relatório sugere uma combinação de investimentos robustos e ações de curto, médio e longo prazo, com foco em justiça social e diversificação econômica.

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Foto: Mídia Ninja.

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Custos da inação superam amplamente os investimentos necessários

Um dos pontos mais contundentes do GEO7 diz respeito ao custo de manter tudo como está. Segundo o Pnuma, seriam necessários aproximadamente US$ 8 trilhões por ano para cumprir as metas globais de neutralidade de carbono e de conservação da biodiversidade até 2050. No entanto, os prejuízos já registrados demonstram que não agir custa muito mais.

A diretora executiva do Pnuma, Inger Andersen, alerta que somente as mudanças climáticas reduzirão cerca de 4% do PIB global até meados do século, além de causar mortes e estimular migrações forçadas. A combinação de eventos extremos, secas prolongadas, enchentes e ondas de calor intensas já custa ao mundo cerca de US$ 143 bilhões por ano. E esse valor não inclui o impacto indireto sobre infraestrutura, produtividade e saúde pública.

Apenas a poluição do ar exigiu US$ 8,1 trilhões em gastos globais em 2019. A exposição contínua a substâncias tóxicas presentes nos plásticos representa outro prejuízo significativo: aproximadamente US$ 1,5 trilhão anuais. Os cientistas são categóricos: diante desse cenário, investir na transição ecológica não é uma alternativa — é a única escolha racional possível.

Um novo modelo de decisão para um planeta mais resiliente

O GEO7 também apresenta críticas ao modelo tradicional de tomada de decisões adotado por governos. Para os pesquisadores, focar exclusivamente no PIB como indicador de progresso obscurece perdas ambientais e sociais que afetam a qualidade de vida. O documento recomenda que países adotem métricas mais abrangentes, capazes de captar aspectos como saúde, bem-estar e capital natural.

O relatório é resultado do trabalho conjunto de 287 cientistas de 82 países, com contribuições de mais de 800 revisores. Para Inger Andersen, o GEO7 deve servir como impulso para que os avanços alcançados recentemente, especialmente nas negociações sobre clima, como a COP30, se convertam em ações concretas. Implementar as promessas já feitas e ampliá-las é, segundo ela, um passo essencial para que o planeta alcance resiliência diante de um futuro climático desafiador.

Maranhão lança DEFSHACK, desafio que une tecnologia e sustentabilidade

O DEFSHACK – Hackathon Educacional Sustentável, que abre nesta quinta-feira (11), chega como um movimento que combina educação, ciência e consciência ambiental em uma mesma trilha formativa. A iniciativa é promovida pelo Instituto Estadual de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (Iema), pela Defensoria Pública do Estado do Maranhão (DPE-MA) e pela Kadoo Academy, startup maranhense especializada em educação e empreendedorismo jovem.

A proposta envolve estudantes dos Iemas Plenos Bacelar Portela, Desembargador Sarney e Tamancão, que participarão de um percurso de criação coletiva orientado para o uso de resíduos eletroeletrônicos como matéria-prima para soluções tecnológicas. Num cenário em que o lixo eletrônico cresce em escala global, o projeto busca transformar o desafio ambiental em oportunidade educativa, mostrando que inovação também é a capacidade de reconstruir a relação com os materiais descartados.

O hackathon se baseia em um princípio simples: desenvolver tecnologia não é apenas projetar o novo, mas também regenerar o que a sociedade já perdeu de vista. Ao trabalhar diretamente com o que normalmente seria descartado, os estudantes entram em contato com a lógica da economia circular e com a responsabilidade socioambiental que acompanha a inovação contemporânea.

Economia circular como prática e experiência de aprendizagem

O DEFSHACK foi planejado para ser mais do que uma competição. Ele funciona como um laboratório vivo em que os alunos podem experimentar, errar, reaprender e reinventar. O cronograma inclui mentorias com especialistas, oficinas de prototipagem, atividades focadas em metodologias criativas e momentos de fortalecimento do pensamento crítico.

O design thinking, a cultura maker e a inovação aberta são incorporados como ferramentas que ajudam os estudantes a observar seus territórios, entender problemas concretos e criar soluções que dialogam com essas realidades. A manipulação de peças eletrônicas descartadas — placas, fios, carcaças, sensores — aproxima os jovens do funcionamento íntimo dos equipamentos que fazem parte do cotidiano, permitindo que compreendam o potencial oculto por trás do que se considera lixo.

Essa abordagem transforma o ato de aprender em descoberta. Os alunos deixam de ser apenas usuários de tecnologia e passam a ocupar o papel de produtores e analistas de sistemas. Mais do que absorver conteúdos, eles são provocados a construir caminhos, testar hipóteses e aprimorar suas criações com base em sua observação do mundo.

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Nadjelena

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Soluções que conectam impacto social, território e tradição

O caráter criativo do DEFSHACK pode ser visto na diversidade de propostas que surgem em cada edição. Neste ciclo, há desde sistemas hidropônicos feitos com peças reaproveitadas até robôs coletores de resíduos para atuar em praias e áreas costeiras. Jogos educativos sobre descarte correto, boias de monitoramento ambiental e dispositivos automatizados para abastecimento hídrico em comunidades vulneráveis são outras soluções que refletem a preocupação dos jovens com questões sociais urgentes.

Projetos como o Bumba Tech, que integra tecnologia e elementos da cultura maranhense, mostram como o território pode inspirar inovação. Ao reconhecer sua própria identidade como fonte criativa, os estudantes ampliam o significado do que constroem e atribuem às suas propostas valor simbólico e pertencimento.

O Demo Day, também marcado para quinta-feira, será o momento em que essas ideias ganham palco. As equipes apresentam protótipos a uma banca avaliadora, concorrendo em categorias que valorizam práticas de consumo consciente e impacto comunitário. O formato reforça o objetivo principal: transformar conhecimento em ação.

Educação como vetor de transformação ambiental e social

Ao unir o Iema, a DPE-MA e a Kadoo Academy, o DEFSHACK demonstra que iniciativas educacionais podem ganhar escala quando conectam escola, instituições públicas e ecossistema de inovação. A proposta estimula uma geração de estudantes a compreender que sustentabilidade e tecnologia não são temas distantes, mas dimensões interligadas de um futuro comum.

A intenção dos organizadores é consolidar o hackathon como referência em práticas de inovação sustentável no Maranhão, criando um ambiente que estimule continuidade, colaboração e formação de jovens protagonistas. O início das atividades nesta quinta-feira marca o ponto de partida de uma jornada que coloca os estudantes como agentes da mudança — capazes de transformar resíduos em soluções, ideias em projetos e consciência ambiental em impacto real.

Adaf reforça ações de vigilância após confirmar foco de raiva em Presidente Figueiredo

A confirmação de um novo foco de raiva em animais de produção no município de Presidente Figueiredo mobilizou imediatamente a Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Amazonas (Adaf). O caso foi identificado após a morte de dois bezerros com sinais compatíveis com a doença, notificados à autarquia no fim de novembro. As amostras foram encaminhadas ao Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen/FVS-RCP), que confirmou o diagnóstico, acionando o protocolo emergencial de contenção.

A raiva, conhecida por sua alta letalidade e rápida evolução, coloca em risco tanto a produção pecuária quanto a saúde humana. Por isso, assim que os resultados foram validados, equipes técnicas da Adaf passaram a atuar diretamente na propriedade afetada e no entorno. Essa pronta resposta revela a centralidade da vigilância sanitária na prevenção de surtos capazes de comprometer rebanhos inteiros e comunidades rurais.

O proprietário dos animais foi oficialmente comunicado e recebeu orientações detalhadas sobre as medidas obrigatórias a partir da detecção do foco. O esforço de contenção, porém, não se limita à área diretamente afetada: ele se estende a propriedades que compõem um amplo raio de risco, entre três e doze quilômetros do ponto onde a doença foi identificada.

Vacinação obrigatória e monitoramento de morcegos

Uma das primeiras frentes de ação envolve a imunização emergencial de todos os animais susceptíveis à raiva — bovinos, equídeos, caprinos e ovinos. A vacinação é obrigatória, e os produtores devem comprovar a imunização e informar à Adaf, dentro de 30 dias, sobre a situação dos animais que receberam a primeira dose.

Segundo Larissa Carvalho, médica veterinária da Adaf e coordenadora do Programa Nacional de Controle da Raiva dos Herbívoros (PNCRH), as equipes seguem um protocolo que combina imunização, investigação e vigilância ambiental. Enquanto produtores são orientados sobre a urgência da vacinação, técnicos percorrem a região para identificar sinais de mordedura de morcegos hematófagos — transmissores frequentes do vírus no ciclo rural.

Além disso, potenciais abrigos desses morcegos são mapeados estrategicamente para permitir ações de captura controlada. Trata-se de uma etapa crucial: localizar e monitorar colônias ajuda a interromper cadeias de transmissão que poderiam se ampliar rapidamente, especialmente em áreas com grande densidade animal.

Essa combinação de medidas — imunização, investigação de campo e manejo ambiental — constitui a espinha dorsal das estratégias de contenção da raiva em áreas rurais, onde a interação entre animais domésticos e fauna silvestre é constante.

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FOTO: Divulgação/Adaf

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Informação como ferramenta de prevenção sanitária

Embora o foco da operação esteja nas medidas de campo, a Adaf também reforça outra frente fundamental: a educação sanitária. A instituição intensifica ações de orientação técnica, especialmente em regiões onde a circulação viral pode ser maior. Produtores recebem informações claras sobre sinais clínicos, formas de transmissão, reconhecimento de mordeduras e procedimentos imediatos diante de suspeitas.

A veterinária Larissa Carvalho destaca que as equipes estão capacitadas para apoiar os criadores e esclarecer dúvidas, reduzindo a desinformação que muitas vezes atrasa notificações. E, nesse tipo de doença, o tempo é um fator decisivo: quanto mais rápida a comunicação, mais eficiente é o bloqueio sanitário.

Para a população geral, a orientação também é direta. A Adaf informa que qualquer pessoa que tenha tido contato próximo com animais doentes ou suspeitos deve procurar atendimento médico imediatamente — já que a raiva, uma zoonose de impacto global, permanece quase sempre fatal após o aparecimento dos sintomas.

Além do atendimento presencial nos escritórios da autarquia, as notificações podem ser feitas via AdafOuv, pelo telefone (92) 99380-9174, ou pelo e-mail [email protected]. A multiplicidade de canais busca facilitar a comunicação, especialmente para produtores de áreas mais isoladas.

A raiva e seus sinais: a importância do reconhecimento rápido

A raiva é causada por um vírus que afeta o sistema nervoso central, evoluindo de forma acelerada e fatal na maioria dos casos. No campo, as manifestações nos animais são visíveis e características: andar cambaleante, isolamento do rebanho, dificuldade para engolir, salivação intensa, deitar-se lateralmente e movimentos de pedalagem são alguns dos sinais que devem acender um alerta imediato.

Todos os mamíferos podem se infectar, incluindo espécies domésticas, de produção e silvestres. No ciclo rural, entretanto, os morcegos hematófagos exercem papel central como transmissores. Por isso, investigar mordeduras, monitorar abrigos e educar produtores sobre a identificação desses morcegos são ações constantes no trabalho de defesa agropecuária.

O foco confirmado em Presidente Figueiredo reforça a importância da vigilância sanitária contínua. As equipes da Adaf atuam para quebrar rapidamente a rota de transmissão e garantir segurança aos rebanhos, aos produtores e à população. Essa resposta articulada, que une ciência, ação territorial e mobilização comunitária, revela a complexidade e a urgência do controle de uma doença que, apesar de conhecida há séculos, ainda exige atenção permanente.

Ipaam celebra 30 anos com Expofeira e debate sobre licenciamento ambiental

Ao completar três décadas de atuação, o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) transformou seu campus em Manaus em um espaço de trocas, exposições e debates que revelam tanto a diversidade produtiva quanto os desafios socioambientais do estado. Na quarta-feira, 10 de dezembro, a Expofeira do Ipaam abriu oficialmente uma programação comemorativa extensa, marcada por uma mesa-redonda sobre o licenciamento ambiental da mineração e práticas de mitigação de impactos na exploração mineral no Amazonas. O evento reuniu representantes do poder público, da academia e do setor produtivo para refletir sobre um dos temas mais sensíveis na gestão territorial das áreas rurais e de floresta.

O clima no Auditório do Centro de Monitoramento Ambiental de Áreas Preservadas (Cmaap) foi de diálogo aberto e tensão produtiva: enquanto se celebram 30 anos de defesa ambiental, especialistas lembraram que a expansão das demandas econômicas, como a mineração, impõe à legislação e às instituições de fiscalização desafios contínuos de atualização, integração e aplicação prática. A programação comemorativa, que segue até dia 17 de dezembro, inclui painéis, oficinas e capacitações técnicas voltadas a aprofundar essa interface entre proteção ambiental, desenvolvimento econômico e participação social.

Feira como vitrine de empreendedorismo sustentável

A Expofeira, instalada no estacionamento do Ipaam, é uma expressão concreta de como a proteção ambiental pode se conectar à vida cotidiana das pessoas. Com 35 expositores de variadas origens, o público encontrou uma representação plural da produção local: artesanatos que reaproveitam materiais, produtos cosméticos artesanais, quitutes como pães e biscoitos, temperos, almoço regional, roupas, calçados, brinquedos infantis, semijoias, guaraná em pó, tacacá, queijos e iogurtes. A feira, além de espaço de circulação econômica, funcionou como um ponto de encontro entre servidores do próprio instituto, microempreendedores e visitantes.

Para o diretor-presidente do Ipaam, Gustavo Picanço, a Expofeira vai além de uma simples vitrine de produtos: ela estimula o empreendedorismo sustentável e valoriza a produção local em um período de maior circulação de público. Segundo ele, iniciativas como essa reforçam a missão do instituto de proteger o ambiente, mas também de incentivar práticas econômicas que respeitem o meio ambiente e fortaleçam a autonomia econômica das famílias envolvidas.

A analista ambiental da Gerência de Educação Ambiental do Ipaam, Fátima Melo, explicou que essa feira acontece duas vezes ao ano — em junho, durante a chamada “semana do junho ambiental”, e em dezembro. A proposta é oferecer igualdade de participação a todos os empreendedores, sejam eles servidores ou membros da comunidade externa. A feira tem sido uma oportunidade real de incrementar renda, estreitar relações comunitárias e fortalecer laços entre o meio ambiental e as atividades econômicas locais.

Nesse cenário, histórias de empreendedores como a da engenheira civil Edelene Portela ganham destaque. Há cerca de três anos, ela participa da Expofeira com sua produção de geleias artesanais, condimentos e conservas de pimenta. A motivação para começar veio em meio à pandemia da Covid-19 e, desde então, o vínculo com a feira tem crescido. Para Edelene, a importância da Expofeira não está apenas nas vendas, mas na conexão humana que proporciona: “apresentar meus produtos para pessoas diferentes, ver a reação de quem prova, sentir o prazer que isso traz a quem consome, não tem coisa melhor”, afirma ela.

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Fotos: Henrique Almeida/Ipaam

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Licenciamento ambiental da mineração no foco do debate

O eixo central do encontro técnico foi a mesa-redonda intitulada “O licenciamento ambiental das atividades de exploração mineral: a aplicação da legislação ambiental mitigando os impactos ambientais”. O debate trouxe vozes diversas para refletir sobre o papel das instituições, do parlamento e da sociedade civil no aprimoramento das práticas de licenciamento — um tema que retorna com força diante de projetos de infraestrutura e mineração em áreas sensíveis do interior do estado.

Estiveram presentes o deputado estadual Sinésio Campos, presidente da Comissão de Geodiversidade, Recursos Hídricos, Minas, Gás, Energia e Saneamento da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam); o analista ambiental do Ipaam José Raimundo Rabelo; o professor titular do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Tiago Felipe Arruda Maia; representantes da Secretaria de Estado de Energia, Mineração e Gás (Semig); e a secretária municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Manicoré, Marta Regina Silva Pereira. A mediação foi conduzida pela analista ambiental do Instituto, Maria do Carmo Neves dos Santos.

Durante sua fala, o deputado Sinésio Campos destacou que o Poder Legislativo tem papel fundamental na formulação e na fiscalização de políticas ambientais no Amazonas, buscando segurança jurídica e equilíbrio entre atração de investimentos e desenvolvimento sustentável. Ele citou exemplos de projetos estratégicos acompanhados pela Aleam, como o campo de gás de Silves, desenvolvido pela Eneva, e o projeto de potássio em Autazes, ressaltando a necessidade de mecanismos claros de avaliação e mitigação de impactos.

O secretário de Estado de Energia, Mineração e Gás, Ronney Peixoto, também participou do debate, enfatizando a importância da mineração e da energia como vetores de desenvolvimento econômico. Ao mesmo tempo, destacou que todas as operações devem respeitar os critérios legais e ambientais mais rigorosos, com o Ipaam atuando como corpo técnico essencial para orientar, licenciar e monitorar tais empreendimentos.

Outro convidado, o engenheiro agrônomo do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas (Idam), Adalberto Gomes, afirmou que a integração entre órgãos estaduais facilita a compreensão das exigências ambientais e fortalece a atuação produtiva no interior. Para ele, participar de debates como esse ajuda a superar lacunas de comunicação e tornar o licenciamento ambiental uma etapa compreendida por todos os atores envolvidos.

Três décadas de proteção ambiental e novos rumos

Os 30 anos do Ipaam são também uma oportunidade para olhar para frente. A programação comemorativa, que vai até 17 de dezembro, aposta em capacitações técnicas e diálogos que ampliam a compreensão sobre a complexidade do desenvolvimento sustentável no Amazonas. Ao oferecer oficinas presenciais e online, painéis e encontros intersetoriais, o instituto busca qualificar tanto servidores quanto cidadãos sobre temas que vão desde educação ambiental até a aplicação da legislação.

Esse conjunto de ações mostra que a proteção ambiental não é um esforço isolado de fiscalização, mas envolve construção de conhecimento, diálogo com a sociedade e incentivo a práticas econômicas que convivam harmoniosamente com o ambiente. Ao reunir produtores, empreendedores, técnicos, gestores públicos e representantes da academia, o Ipaam demonstra que questões como o licenciamento ambiental, a mitigação de impactos e a geração de renda são desafios comuns que exigem respostas integradas.

O debate instalado na Expofeira e na mesa-redonda sobre mineração ressoa em um momento em que o Amazonas vive pressões crescentes sobre seus recursos naturais. A experiência acumulada ao longo de 30 anos coloca o Ipaam em posição estratégica para mediar interesses, qualificar políticas públicas e fortalecer uma visão de desenvolvimento que seja, simultaneamente, sustentável, inclusiva e respeitosa com a biodiversidade e os modos de vida das populações locais.

Turismo de Base Comunitária ganha força em Caxiuanã e redesenha caminhos de desenvolvimento

Um território de floresta, cultura e movimento comunitário

Entre rios de águas claras, trilhas sob copa fechada e comunidades ribeirinhas que conservam modos de vida tradicionais, a Floresta Nacional de Caxiuanã viveu, na primeira semana de dezembro, um momento decisivo para seu futuro. Moradores de Caxiuanã, Laranjal, São Tomé e Glória participaram de uma oficina de Turismo de Base Comunitária organizada pela Secretaria de Turismo do Pará (Setur). O encontro abriu espaço para debates que ultrapassaram técnicas de atendimento ou organização de roteiros: trouxe à mesa a compreensão de que o turismo pode se tornar uma ferramenta de gestão territorial feita pelas próprias comunidades.

Durante seis dias, os participantes revisitaram conceitos fundamentais do TBC, mapearam desafios da região e identificaram atrativos capazes de sustentar experiências responsáveis e conectadas à realidade local. Trilhas, igarapés, áreas de observação de aves, cenários privilegiados para vivências científicas e expressões da cultura ribeirinha emergiram como potenciais âncoras de novos itinerários. O diálogo também avançou sobre temas essenciais para o cotidiano da região: logística, acesso, bioeconomia, conservação da biodiversidade e as primeiras diretrizes para um plano comunitário de ação.

Onde a ciência se encontra com as tradições

Caxiuanã é um dos territórios amazônicos que melhor combinam floresta preservada e presença humana ativa. Ali, práticas como pesca, extrativismo, manejo tradicional e circulação entre rios fazem parte da dinâmica diária. Ao mesmo tempo, a proximidade com a Estação Científica Ferreira Penna, mantida pelo Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), amplia um potencial singular: o de integrar turismo científico, educação ambiental e convivência com a vida na floresta.

Esse cruzamento entre ciência e tradição reforça um traço essencial do Turismo de Base Comunitária. Ele não transforma o território para adaptá-lo ao visitante, mas permite que o visitante se adapte ao território, aprendendo com quem vive ali e participando de experiências que respeitam ciclos naturais, relações sociais e saberes ancestrais. Em Caxiuanã, esse encontro favorece também a permanência dos jovens nas comunidades, a transmissão de conhecimentos entre gerações e a manutenção de práticas sustentáveis que garantem a reprodução cultural e econômica local.

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Foto: Divulgação – Ag. Pará

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Uma política pública que nasce do território

O fortalecimento do TBC em Caxiuanã se insere em um movimento mais amplo de institucionalização dessa abordagem no Pará. A Política Estadual de Turismo de Base Comunitária (Lei nº 9.773/22), coordenada pela Setur, busca integrar bioeconomia, inclusão social, conservação ambiental e valorização das cadeias produtivas locais. Essa integração dialoga diretamente com diretrizes nacionais e com a Política Nacional de Turismo de Base Comunitária, que defende o protagonismo dos moradores como condição para que a atividade gere benefícios duradouros.

Para o secretário de Turismo do Pará, Eduardo Costa, essa mudança de perspectiva é estratégica: quando a comunidade conduz o processo, o turismo se converte em uma ferramenta de fortalecimento territorial. Em Caxiuanã, essa visão se materializa na organização de grupos locais, na construção coletiva de planos de ação e no reconhecimento de que cada trilha, cada igarapé e cada gesto cotidiano são parte de um patrimônio vivo que só faz sentido se permanecer nas mãos de quem o guarda.

Ação conjunta e futuro compartilhado

A oficina realizada em Caxiuanã foi resultado de um esforço interinstitucional envolvendo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela gestão da Floresta Nacional de Caxiuanã, o Museu Paraense Emílio Goeldi e a Setur. As instituições trabalharam de maneira coordenada desde o planejamento logístico até a execução das atividades, garantindo condições adequadas para que o encontro se tornasse um marco para as comunidades envolvidas.

Essa articulação revela um caminho possível e crescente: o do desenvolvimento sustentado por políticas públicas, conhecimento científico e participação social ampla. Segundo o técnico em TBC da Setur, Caio Vasconcellos, a iniciativa consolida práticas que promovem conservação ambiental, geração de renda, justiça social e valorização cultural. Em outras palavras, o turismo que nasce de Caxiuanã aponta para um modelo capaz de fortalecer vínculos, proteger a floresta e criar oportunidades reais para quem vive e cuida desse território.

Produtores de Itupiranga acessam crédito para fortalecer pecuária

Crédito rural reacende dinamismo produtivo em Itupiranga

O ano de 2025 termina com um impulso econômico significativo para pequenos produtores de Itupiranga, no sudeste do Pará. Treze famílias do município foram contempladas com mais de R$ 800 mil em crédito rural, valor articulado por projetos elaborados pelo escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Pará (Emater). Os financiamentos foram formalizados junto ao Banco da Amazônia (Basa) e ao Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi), destinado a impulsionar atividades de pecuária de leite e de corte.

A operação marca um momento de retomada da política de crédito rural em Itupiranga, aliando assistência técnica contínua, articulação institucional e políticas públicas para fortalecer a agricultura familiar. A maior parte dos beneficiários vive em assentamentos da reforma agrária, locais onde o acesso a financiamentos muitas vezes esbarra em burocracias, carência de projetos técnicos ou dificuldades logísticas.

O novo cenário, no entanto, demonstra que quando o apoio técnico chega de forma estruturada, o crédito deixa de ser uma abstração e se transforma em oportunidade concreta de incremento de renda e de modernização da produção.

Assentamentos retomam investimentos após anos de retração

Entre as onze áreas contempladas, sete são assentamentos federais: Berrante de Ouro, Mamuí, Jurunas, Palmeira 5, Palmeira 6, Palmeira 7 e Rainha I. Eles se somam às comunidades Cinturão Verde I, Cinturão Verde II, Vila Mariquinha e Tauiri, formando um mosaico social que reúne agricultores familiares com trajetórias e desafios diversos, mas que compartilham a mesma expectativa de ampliar a escala produtiva.

Os financiamentos foram concedidos pelas linhas A e Mais Alimentos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), mecanismo que tem papel essencial na estruturação de atividades rurais de pequeno porte no Brasil. Os recursos devem ser investidos em ações que impactem diretamente a produtividade e a qualidade do rebanho, como a compra de matrizes e reprodutores da raça girolando — conhecida pela rusticidade, pelo desempenho superior em leite e pela adaptabilidade às condições amazônicas.

Esse conjunto de investimentos representa mais que a modernização de rebanhos: é parte de um movimento de reconstrução da capacidade produtiva em áreas rurais que, por muito tempo, enfrentaram limitações severas para acessar crédito, assistência técnica e serviços financeiros. A presença ativa da Emater nos territórios, em parceria com a prefeitura local, ajuda a destravar processos, orientar agricultores e transformar projetos em contratos efetivos.

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Foto: Divulgação – Ag. Pará

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Assistência técnica como engrenagem do desenvolvimento

O chefe do escritório da Emater em Itupiranga, o técnico em agropecuária Wilter Miranda, explica que este é um ano de retomada da atuação intensiva da instituição na viabilização de crédito rural. Para ele, a reaproximação da assistência técnica com as comunidades rurais promove mais que acesso a recursos financeiros: cria uma rede de suporte que fortalece a pecuária local.

A parceria firmada entre a Emater e a prefeitura municipal, via termo de cooperação técnica, atua justamente nesse ponto: dar continuidade ao acompanhamento das famílias antes, durante e depois da contratação do crédito. Esse trabalho inclui desde diagnósticos de produção até apoio na execução dos projetos financiados, garantindo que os investimentos resultem em ganhos reais para os beneficiários.

Miranda ressalta que a injeção de recursos movimenta toda a cadeia produtiva da pecuária no município. Ela gera demanda por insumos, estimula melhorias na gestão das propriedades e amplia a circulação de renda, criando um ambiente mais favorável para o fortalecimento de mercados locais. Em outras palavras, crédito rural não é apenas dinheiro: é ferramenta de reorganização produtiva e social.

O impacto regional de uma política pública bem implementada

A experiência de Itupiranga é uma ilustração concreta do papel estruturante que o crédito rural exerce quando associado à assistência técnica qualificada. Em municípios de economia predominantemente agrícola, o acesso a financiamentos pode determinar o ritmo de desenvolvimento por anos. Da compra de animais à melhoria de pastagens, passando por infraestrutura básica de manejo, cada investimento abre espaço para transformar propriedades familiares em empreendimentos mais organizados, produtivos e rentáveis.

Os mais de R$ 800 mil contratados em 2025 revelam tanto uma demanda reprimida quanto o potencial de crescimento da região. Os assentamentos federais beneficiados representam exatamente o público que mais necessita de políticas públicas permanentes: agricultores que produzem, mas que dependem de orientação técnica e suporte financeiro para romper ciclos de baixa produtividade.

A retomada do crédito, portanto, não responde apenas aos desafios econômicos atuais; ela projeta expectativas de futuro. À medida que mais famílias conseguem acessar financiamentos, o município cria condições para dinamizar sua pecuária, ampliar mercados e consolidar práticas produtivas sustentáveis. A combinação entre Emater, Pronaf, Basa e Sicredi mostra que, quando instituições públicas e cooperativas financeiras trabalham de forma integrada, os efeitos sociais e econômicos alcançam toda a comunidade rural.

Itupiranga encerra o ano com mais que um número robusto em contratações: encerra com evidências de que políticas públicas continuadas e executadas com proximidade territorial podem redesenhar realidades produtivas, fortalecer economias locais e gerar novas perspectivas para famílias da agricultura familiar.

Amazônia Viva destina R$ 96,6 milhões às cadeias da sociobiodiversidade

Com o anúncio de R$ 96,6 milhões destinados às cadeias produtivas amazônicas, o Programa Florestas e Comunidades: Amazônia Viva inaugura uma fase de investimentos que busca fortalecer economias tradicionais e ampliar a presença de produtos da sociobiodiversidade nos mercados brasileiros. A iniciativa, apresentada em Brasília pela Companhia Nacional de Abastecimento, nasce de uma articulação entre os recursos do Fundo Amazônia e ações conjuntas do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar.

Seus alvos principais são cadeias já conhecidas por sua relevância — como o cupuaçu, o açaí e o pirarucu —, mas também um conjunto de iniciativas comunitárias que sustentam a vida na Amazônia por meio do extrativismo, da pesca artesanal, da agricultura familiar e do manejo florestal. Trata-se de um esforço que tenta, simultaneamente, fortalecer modos de vida tradicionais e ampliar a escala econômica desses produtos, para que eles deixem de ocupar apenas nichos e conquistem mercados mais amplos e rentáveis.

Segundo João Edegar Pretto, presidente da Conab, dar visibilidade aos produtos da sociobiodiversidade é um compromisso que transcende o ciclo atual de governo: é uma chance de consolidar uma economia florestal sustentável capaz de competir com outras cadeias produtivas nacionais.

Da floresta ao mercado: recursos para transformar a escala

Os recursos do programa serão distribuídos ao longo de dois anos e chegarão a 32 projetos selecionados em toda a Amazônia Legal. As iniciativas contempladas precisam representar redes comunitárias diversas: silvicultores, aquicultores, extrativistas, pescadores artesanais, povos indígenas, comunidades ribeirinhas, quilombolas e outras formas de organização coletiva que compõem a paisagem social da região.

Cada projeto poderá receber até R$ 2,5 milhões para investimentos em infraestrutura, aquisição de equipamentos e mecanismos de escoamento da produção. Na prática, isso significa apoiar desde casas de processamento de frutos até estruturas que melhorem a logística de transporte — gargalo histórico para quem produz na floresta, mas precisa atender mercados urbanos muitas vezes distantes.

A iniciativa também dialoga com políticas já consolidadas, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar e o Programa de Aquisição de Alimentos, abrindo espaço para ampliar a presença de produtos da sociobiodiversidade na merenda escolar e nas compras públicas de alimentos.

Ao diversificar o acesso a mercados, o Amazônia Viva aposta em um modelo que não apenas gera renda, mas fortalece cadeias produtivas que conservam a floresta em pé. É uma resposta prática a um debate que há anos procura formas de equilibrar proteção ambiental, dignidade econômica e desenvolvimento regional.

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Conab

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O papel estratégico do Fundo Amazônia

A engrenagem financeira que viabiliza esse novo conjunto de investimentos tem seu centro no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, responsável pela gestão do Fundo Amazônia. Criado para financiar projetos de combate ao desmatamento e estímulo a atividades sustentáveis, o fundo foi reestruturado nos últimos anos e volta agora a operar com força renovada.

A diretora socioambiental do BNDES, Tereza Campello, destaca que o avanço recente da fiscalização e a redução do desmatamento abriram espaço para recuperar e expandir os recursos disponíveis. Somados, os investimentos do fundo devem alcançar R$ 2,2 bilhões em 2025, distribuídos entre projetos de proteção ambiental, desenvolvimento socioeconômico e governança amazônica.

Segundo Campello, a alocação de quase R$ 100 milhões exclusivamente para o Amazônia Viva mostra que o foco do fundo está cada vez mais próximo das comunidades que vivem da floresta. Um dos objetivos do programa é criar uma plataforma capaz de organizar, de maneira profissional e acessível, os dados da sociobiodiversidade — uma base estratégica para orientar políticas públicas e atrair investimentos futuros.

Da economia invisível ao protagonismo da sociobiodiversidade

A floresta amazônica movimenta uma economia que, apesar de robusta, costuma permanecer à margem dos grandes indicadores nacionais. Açaí, óleos vegetais, castanhas, pescados, fibras naturais, borracha — todos são produtos que sustentam milhares de famílias, mas que enfrentam obstáculos logísticos, baixa industrialização e dificuldade de competir com cadeias industriais consolidadas.

O Amazônia Viva tenta reverter essa lógica. Ao combinar recursos financeiros, infraestrutura, logística e articulação institucional, o programa aposta em transformar cadeias dispersas em sistemas produtivos mais fortes e competitivos. E, ao contrário das iniciativas que promovem agressões à floresta, essas cadeias dependem diretamente da manutenção de ecossistemas saudáveis.

Com isso, o programa não se limita a financiar equipamentos: ele busca fortalecer um modelo de desenvolvimento que parte da floresta em pé, passa pela valorização do conhecimento tradicional e culmina na oferta de produtos de alta qualidade nos mercados brasileiros e internacionais.

Se a iniciativa for bem-sucedida, pode marcar uma inflexão histórica: a sociobiodiversidade deixaria de ocupar o rodapé da economia amazônica e ganharia o protagonismo que muitos pesquisadores e comunidades defendem há décadas.

Governo lança painel que mapeia quase R$ 800 bilhões em gastos ambientais

Uma janela inédita sobre os gastos ambientais do Brasil

Em um movimento que pode ser considerado um divisor de águas na transparência das finanças ambientais do país, o governo federal lançou nesta terça-feira, 9 de dezembro, um painel interativo que permite ao público acompanhar como o dinheiro público foi gasto nas agendas de clima, biodiversidade e gestão de riscos e desastres entre 2010 e 2023. Essa ferramenta inédita nasce de uma parceria entre o Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e o Ministério da Fazenda — e representa o primeiro esforço consolidado para mapear e classificar de forma padronizada os gastos climáticos feitos pela União ao longo de 14 anos.

A nova plataforma, que engloba um painel de visualização dinâmica e um relatório analítico completo, cria um documento público que não existia até então: uma série histórica que revela não apenas quanto foi gasto, mas também onde e como esse dinheiro foi aplicado. A ideia por trás da iniciativa é simples e poderosa: sem dados sistematizados, criticavam gestores públicos, pesquisadores e sociedade civil, o Brasil caminhava “às cegas” ao tentar avaliar e aperfeiçoar suas políticas ambientais.

Quase R$ 800 bilhões entre clima, biodiversidade e riscos

O levantamento que sustenta o painel mostra que, de 2010 a 2023, o Governo Central aplicou R$ 782 bilhões em ações relacionadas às três grandes áreas monitoradas. Deste total, R$ 421 bilhões foram canalizados para agenda climática, R$ 250 bilhões para a proteção e conservação da biodiversidade e R$ 111 bilhões para a gestão de riscos e desastres climáticos.

Esse número bilionário — equivalente a quase R$ 56 bilhões por ano em média — é maior do que boa parte das estimativas anteriores disponíveis sobre despesas federais ligadas ao clima e à natureza. O painel deixa claro que a magnitude dos gastos só pode ser compreendida quando as diversas pastas federais passam a falar uma mesma linguagem e a classificar suas despesas por critérios comuns.

Mas os números também revelam algo mais curioso: os valores não cresceram de forma contínua ao longo dos anos. Pelo contrário, a análise mostra dois períodos distintos na evolução dos investimentos: até 2015, o gasto foi relativamente elevado e constante; a partir daquele ano, apresentou uma tendência de queda. Entre os fatores que explicam esse movimento, Brasília aponta a combinação de aperto fiscal, a adoção do teto federal de gastos, e a interrupção de programas decisivos — como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) — entre 2020 e 2022.

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Foto: Carlamoura.amb

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Mudança de foco: da mitigação ao enfrentamento de riscos

Mais do que os números absolutos, o painel mostra uma transformação no tipo de gasto ao longo dos anos. Em 2010, despesas com adaptação ao clima e gerenciamento de riscos climáticos representavam cerca de 24% do total da agenda climática. Em 2023, esse percentual saltou para quase 70%, indicando que a maior parte dos recursos federais agora está voltada para responder a eventos climáticos extremos que já estão acontecendo — como secas, enchentes e tempestades — em vez de focar em medidas de mitigação das causas das mudanças climáticas.

Essa mudança de perfil revela um Brasil cada vez mais confrontado com os impactos visíveis da crise climática. A ferramenta identifica gastos com infraestrutura de adaptação, programas de seguro rural, como o Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), e iniciativas de redução de riscos naturais. Mas ela também chama atenção para a baixa destinação de recursos para governança e análise antecipada de riscos — aspectos considerados fundamentais para a prevenção eficaz.

No eixo da biodiversidade, o relatório expõe um paradoxo que muitos especialistas apontam há anos: os gastos com impacto negativo superam os positivos. A construção de grandes hidrelétricas, por exemplo, pode reduzir emissões de carbono ao deslocar fontes fósseis, mas tem efeitos irreversíveis sobre ecossistemas e modos de vida tradicionais. O painel, portanto, não apenas agrega dados, mas também convida a sociedade a debater o que e como os recursos públicos estão sendo empregados.

Uma ferramenta para o futuro

O desenvolvimento da nova metodologia que alimenta o painel envolveu quase dois anos de cooperação técnica entre diferentes órgãos federais, como o Ministério da Agricultura e Pecuária e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, além de organizações da sociedade civil como o Observatório do Clima e o WRI Brasil.

Esse processo colaborativo resultou em um modelo que não se limita à esfera federal: estados, municípios e até outros países podem adaptá-lo para seus próprios contextos. Ao colocar à disposição da sociedade um mapa detalhado dos gastos ambientais federais, o Brasil dá um passo importante rumo a uma gestão mais responsável, democrática e alinhada com os objetivos climáticos globais e nacionais, como os definidos no Plano Clima e no Plano de Transformação Ecológica.

O painel e o relatório completo podem ser acessados diretamente no site do MPO, e um vídeo tutorial orienta qualquer cidadão a navegar pelas informações de forma intuitiva.