COP30 impulsiona economia paraense e injeta R$ 4,4 bilhões em novembro, aponta Sefa

O mês de novembro trouxe ao Pará um movimento econômico incomum, marcado por lojas cheias, hotéis lotados, fluxo aéreo intenso e uma cidade operando em ritmo ampliado. O balanço preliminar da Secretaria de Estado da Fazenda (Sefa) revela que a realização da COP30, em Belém, não apenas consolidou o estado como protagonista das discussões climáticas internacionais, mas também gerou impactos econômicos imediatos — e expressivos.

Entre 1º e 24 de novembro, foram registradas 42 milhões de Notas Fiscais de Consumidor Eletrônicas (NFC-e), somando R$ 4,4 bilhões em operações comerciais. O número supera em 7 por cento o desempenho do mesmo período de 2024. A análise, elaborada pela Diretoria de Arrecadação e Informações Fazendárias (Daif), aponta que a conferência global funcionou como um catalisador do consumo, ativando setores que vão muito além do turismo tradicional.

A hotelaria foi um desses setores. Enquanto Belém recebia delegações internacionais, especialistas, representantes governamentais e povos originários, o segmento de alojamento registrou um salto de 58,5 por cento em relação ao ano anterior. Hotéis e motéis emitiram R$ 4,5 milhões em NFC-e — um crescimento que traduz a pressão inédita sobre a infraestrutura de hospedagem da capital.

Para o secretário da Fazenda, René Sousa Júnior, a força econômica da COP30 se refletiu não apenas no faturamento, mas também na reorganização urbana e logística da cidade. Ele destaca que o governo estadual, em parceria com o Governo Federal, precisou ampliar leitos, qualificar serviços e reforçar equipamentos urbanos — incluindo a expansão do aeroporto, reorganização do transporte público e melhorias viárias. Segundo ele, esse esforço estrutural “deixou um legado que agora está incorporado ao cotidiano da população”.

O fluxo aéreo registrado pela administração do Aeroporto Internacional de Belém reforça a dimensão desse movimento. Entre 1º e 23 de novembro, foram realizados 3.122 voos comerciais, transportando aproximadamente 508 mil passageiros — 52 por cento a mais que em 2024. Trata-se de um indicador direto da internacionalização momentânea da cidade durante o evento.

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Foto: Bruno Cruz / Ag. Pará

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O governo também recorreu a ferramentas de big data para acompanhar, em tempo real, o efeito econômico da conferência. A análise cruzou as NFC-e com os Bilhetes de Passagem Eletrônicos (BP-e), permitindo mensurar com maior precisão como os visitantes circularam e consumiram no estado. Essa metodologia, segundo a Sefa, oferece um retrato mais fiel do comportamento econômico do período.

No total, 66 mil pessoas foram credenciadas somente na Zona Azul, área destinada às negociações oficiais da COP30 — número que não contabiliza o grande público da Green Zone, espaço aberto e de convivência.

Os impactos também se distribuíram com força pelos diferentes setores produtivos. O comércio varejista, por exemplo, alcançou R$ 3,9 bilhões em vendas no período analisado. O comércio atacadista, desconsiderando veículos e motocicletas, cresceu 9,1 por cento, enquanto bares, restaurantes e estabelecimentos de alimentação registraram expansão de 29,3 por cento — um reflexo direto da intensa circulação de visitantes e do prolongamento das atividades pela cidade.

Dois setores chamaram especial atenção pela magnitude do salto:

• Alojamento: de R$ 2,8 milhões para R$ 4,5 milhões.
• Fabricação de produtos de metal: de R$ 891 mil para R$ 4,1 milhões.

Este último setor teve papel crucial na montagem de estruturas temporárias, palcos, estandes e peças metálicas utilizadas em diferentes áreas da conferência — um exemplo de como eventos desse porte ativam cadeias produtivas que, em cenários tradicionais, passam despercebidas no debate público.

Para o governo estadual, a COP30 não apenas acelerou a economia local, mas demonstrou a capacidade do Pará de sediar e entregar grandes eventos internacionais. Obras como o Porto Futuro II e o Parque da Cidade, inauguradas para receber a conferência, já se incorporam à paisagem de Belém e ampliam os espaços de convivência, cultura e circulação turística.

A conferência terminou, mas seus efeitos continuam. E os números preliminares da Sefa indicam que novembro de 2025 ficará marcado como o mês em que a economia paraense respirou em um ritmo raro — e que mostrou, para o Brasil e para o mundo, o potencial econômico que emerge quando a agenda climática se encontra com uma gestão pública estruturada.

Pesquisadores alertam: Brasil precisa acelerar descarbonização pós-COP30

No Brasil a transição energética, tema central da COP30, deixou claro que substituir combustíveis fósseis por fontes renováveis é um desafio que vai muito além de metas climáticas. Em um mundo onde ainda prevalece a dependência econômica do petróleo, a mudança exige acordos multilaterais robustos, capacidade de financiamento, estabilidade técnica e coragem política para enfrentar seus custos sociais e econômicos. Foi esse o tom da conferência promovida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), que reuniu especialistas para traçar caminhos possíveis para o Brasil após o encontro global do clima.

Thelma Krug, presidente do Conselho Científico da COP30, lembrou que muitos países petroleiros reivindicaram sua inclusão no mecanismo internacional de perdas e danos, temendo rupturas econômicas profundas se forem obrigados a acelerar a descarbonização sem apoio financeiro. Seu argumento ecoa uma tensão histórica: quem paga a conta da transição? Segundo ela, o mérito do encontro realizado no Pará foi reafirmar a importância do multilateralismo em um cenário internacional fragmentado. Para Krug, a retomada da confiança no sistema da ONU sinaliza que ainda existe disposição coletiva para enfrentar a crise climática.

Outros especialistas reforçaram o ponto. Luiz Aragão, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), destacou que, apesar da ausência de consenso para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis, a COP30 trouxe avanços relevantes, como o lançamento do Balanço Global de Carbono 2025. O documento mostra que as emissões provenientes da queima de combustíveis fósseis seguem em trajetória ascendente, mesmo após décadas de alertas científicos. Há, segundo o balanço, um limite de apenas 170 bilhões de toneladas de CO₂ para evitar que o aquecimento global ultrapasse 1,5 °C — um patamar que o planeta pode alcançar em apenas quatro anos, caso as emissões permaneçam no ritmo atual.

Marcio Astrini, diretor do Observatório do Clima, sintetizou o sentimento de frustração que marcou o lado científico da COP30. Para ele, nunca houve tanto esforço coordenado entre pesquisadores para oferecer diagnósticos claros aos governos. Relatórios, dados e análises foram colocados sobre a mesa durante semanas. Ainda assim, o ritmo de ação política segue muito atrás da velocidade que a crise climática exige.

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foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP

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A assessora técnica do Instituto de Pesquisas Ambientais, ligado à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de São Paulo (Semil), reforçou que as negociações internacionais sequer existiriam sem a base científica acumulada. A Convenção do Clima, lembrou ela, nasce justamente de décadas de pesquisa que demonstraram o aquecimento global e suas causas.

Mas se o debate global avança lentamente, algumas soluções precisam começar em casa. E, na avaliação do professor Gilberto Jannuzzi, da Faculdade de Engenharia Mecânica da Unicamp, o Estado de São Paulo deve liderar a transição energética brasileira. Mesmo abrigando a matriz energética mais limpa do país, com 60% de fontes renováveis, São Paulo também concentra as maiores emissões nacionais nos setores de energia, transporte e resíduos.

Para Jannuzzi, o Plano de Ação Climática do Estado, o PAC 2050, oferece uma base sólida ao estabelecer a meta de neutralidade climática até 2050, além de diretrizes para adaptação e resiliência. Mas o pesquisador aponta que esses diferentes planos ainda funcionam de forma isolada. A integração entre logística, transporte, energia e uso do solo é essencial para criar coerência entre metas, prazos e investimentos.

Segundo o PAC 2050, o setor de transportes é hoje o principal emissor paulista, responsável por quase um terço do total. Já as atividades rurais, que representam a maior parcela das emissões no Brasil, têm participação significativamente menor em São Paulo. Isso, para Jannuzzi, abre uma possibilidade estratégica: com fontes de emissão mais concentradas, é possível desenhar ações homogêneas e de impacto rápido, tanto na eletricidade quanto na adoção de combustíveis avançados e hidrogênio verde.

O grande obstáculo, porém, é o financiamento. As estimativas do PAC indicam que o Estado consegue cobrir menos de 30% dos recursos necessários para atingir a neutralidade. O restante dependerá de mecanismos privados e de articulações internacionais. Entre as alternativas mencionadas estão o uso de royalties do petróleo e gás e dos recursos da cláusula de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I), que obriga petrolíferas a reinvestirem parte de sua receita em tecnologias estratégicas. Para Jannuzzi, o ecossistema de inovação paulista, apoiado pela FAPESP, já oferece terreno fértil para transformar pesquisas em soluções práticas — desde que haja estímulos econômicos e regulatórios.

A transição energética é complexa, multidimensional e politicamente sensível. Mas, como concluíram os participantes, ela não é opcional. É a única alternativa para evitar que a janela de oportunidade climática se feche definitivamente.

STF marca sessão presencial decisiva sobre marco temporal das terras indígenas

Em um dos momentos mais tensos da história recente da demarcação de terras indígenas no Brasil, o Supremo Tribunal Federal(STF) confirmou que vai retomar presencialmente o julgamento das ações que contestam a Lei 14.701/2023 — conhecida como “Lei do Marco Temporal” — para decidir se mantém ou derruba a norma que condiciona a demarcação ao critério da ocupação indígena em 5 de outubro de 1988. A sessão, marcada para a próxima quarta-feira (10), será limitada às sustentações orais; a votação, por sua vez, ficará para data posterior, o que prolonga a incerteza sobre os destinos de inúmeras comunidades.

A volta à pauta presencial representa uma vitória simbólica e estratégica — fruto da pressão de lideranças indígenas e organizações de direitos territoriais que exigiam visibilidade pública e mediação justa. A expectativa é grande, pois o julgamento pode definir o futuro de demarcações em todo o país, afetando a posse de terras por dezenas de povos originários.

A polêmica da Lei 14.701/2023 não é nova. A regra institui a tese do marco temporal — juridicamente, a noção de que povos indígenas somente têm direito à demarcação de seus territórios se os ocupavam ou já disputavam legalmente em 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal. Pela lógica da lei, qualquer terra tradicionalmente ocupada antes, depois ou com reocupação posterior teria sua demarcação invalidada, independentemente da ancestralidade e da continuidade cultural da comunidade. Críticos afirmam que isso desconsidera o histórico de remoções forçadas, expulsões e violações territoriais sofridas por muitos povos.

Em 2023, o STF já havia declarado, por 9 a 2 votos, que a tese do marco temporal era inconstitucional — um entendimento que reconheceu a lógica histórica e os direitos originários dos povos indígenas às suas terras, independentemente de ocupações estáveis em 1988. No entanto, com a aprovação da Lei 14.701 no Congresso — após derrubada de veto presidencial — essa jurisprudência voltou a ser contestada. Com isso, o debate retornou à Corte, em um embate cheio de simbolismos e consequências concretas.

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Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

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Para muitos analistas e representantes dos povos indígenas, o que está em jogo não é apenas um aspecto técnico ou jurídico, mas a própria sobrevivência cultural, social e física de comunidades que, há gerações, mantêm relação com territórios tradicionalmente ocupados, mesmo diante de expulsões, deslocamentos e pressão de interesses econômicos. A insistência do marco temporal impõe um recorte temporal que ignora esse passado de violência, e ameaça reduzir drasticamente os territórios reconhecidos legalmente.

A expectativa pela sessão presencial reverbera no meio jurídico e político. A opção por ouvir as partes diretamente, com a presença de advogados, lideranças indígenas e entidades de apoio, aumenta a pressão para que o julgamento considere não só os aspectos formais da lei, mas também os impactos sociais e humanos. Para entidades indígenas, a data representará um momento decisivo para redefinir a demarcação no Brasil — e, potencialmente, reverter retrocessos recentes.

Mas há também alertas quanto aos riscos: caso o STF confirme a validade da lei, será praticamente inviabilizada a abertura — ou regularização — de novos territórios indígenas, e várias terras atualmente reivindicadas poderão permanecer na disputa por décadas. A insegurança jurídica voltará a alimentar conflitos fundiários, invasões e tensões com proprietários rurais. Além disso, comunidades com longa tradição de ocupação e vínculo cultural com suas terras podem ser penalizadas pela rigidez da norma.

Para além dos tribunais, o julgamento reacende um debate mais amplo sobre memória, direitos originários e justiça histórica. Demarcações não são meros atos burocráticos: representam a reparação de injustiças, a garantia de territórios de subsistência, modos de vida sustentáveis e o respeito à diversidade cultural do Brasil. Na próxima quarta-feira, o STF terá a oportunidade de confirmar esse compromisso — ou, ao contrário, reforçar um marco jurídico que clubes de interesse agropecuário e imobiliário vêm defendendo há décadas.

Contaminações por agrotóxicos batem recorde no Brasil em 2024

No Brasil, o agronegócio ganhou merecida atenção no Dia Mundial de Luta Contra os Agrotóxicos — não para celebrar sua produção, mas para denunciar os danos silenciosos que marcam a outra face desse modelo. Diversos movimentos sociais, organizações de saúde e direitos humanos aproveitaram a data para lançar um alerta grave: o uso intensivo de agrotóxicos no campo brasileiro vem deixando um rastro direto de contaminação, intoxicações e impactos ambientais irreversíveis.

Os números reforçam a gravidade da situação. Conforme os dados reunidos pela Comissão Pastoral da Terra, entre 2013 e 2022 o Sistema Único de Saúde contabilizou mais de 124 mil casos de intoxicação relacionados a agrotóxicos — muitas vezes associadas à exposição de trabalhadores rurais, comunidades próximas às lavouras e habitantes de áreas de pulverização. Em 2024, o problema atingiu níveis alarmantes: foram registradas 276 contaminações, o maior montante da última década e um salto de 762% em relação ao ano anterior.

Para quem convive com a terra, os dados não são apenas estatísticas. Eles traduzem sofrimento — casos de doenças crônicas, deficiências, intoxicações agudas, perda de colheitas, contaminação de águas, solos e ecossistemas inteiros. A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida argumenta que essas contaminações não são acidentais, mas consequência direta do avanço do agronegócio no país: “é aumento de câncer, mortalidade de abelhas, contaminação de diversos ecossistemas. O agrotóxico é a principal contradição do agronegócio.”

O uso indiscriminado e crescente de pesticidas no Brasil tem outra face preocupante: muitos dos produtos utilizados hoje são proibidos em outras partes do mundo por seus efeitos tóxicos sobre a saúde humana e o meio ambiente. Esse cenário é resultado também da flexibilização normativa nas regras de registro e uso dessas substâncias. Nos últimos anos, com alterações regulatórias e isenções fiscais para o setor, o país viu um aumento expressivo na aprovação de novos agrotóxicos, ampliando o rol de substâncias potencialmente perigosas à população e ao ambiente.

Outro agravante é a forma de aplicação: a pulverização aérea, por exemplo, favorece a chamada “deriva” — quando os venenos se dispersam pelo vento — e pode levar os agrotóxicos a até 32 quilômetros de distância da área tratada. Isso significa que comunidades inteiras, inclusive aquelas que não têm nada a ver com a lavoura, podem ser expostas aos produtos tóxicos.

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Reprodução

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As consequências, para além dos danos à saúde imediatos, se estendem ao meio ambiente. Ecossistemas inteiros sofrem: insetos polinizadores morrem, peixes e espécies aquáticas desaparecem, solos e águas ficam contaminados — comprometendo a biodiversidade e os serviços ambientais dos quais dependem populações tradicionais, indígenas, quilombolas e comunidades rurais.

Diante desse quadro, organizações como a Ministério Público do Trabalho (MPT) apontam o Brasil como o maior mercado consumidor mundial de agrotóxicos. E alertam que muitos produtos utilizados no país hoje são proibidos em outros países justamente por causarem câncer, alterações hormonais e danos ao sistema reprodutivo. A exposição descontrolada é vista como uma violação de direitos básicos — à saúde, ao trabalho digno e à vida.

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) também denunciou as barreiras para transformar esse cenário: a pressão política pelo agronegócio, as normas afrouxadas e o ambiente regulatório permissivo dificultam qualquer avanço real. Entre os instrumentos apontados com potencial de mudança está o Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pronara) — fruto de mobilização social de mais de uma década — mas, segundo a CUT, o programa avança muito lentamente, sofrendo com falta de orçamento e governança eficaz.

Ao mesmo tempo, cresce a mobilização de comunidades, organizações da agroecologia e ativistas pelos direitos humanos. Há quem busque indenizações às famílias afetadas, suporte às populações vulneráveis, proteção de defensores ambientais e iniciativas legislativas para restringir o uso de substâncias químicas. A ideia é tornar visíveis os custos humanos, sociais e ambientais desse modelo — e pressionar por um novo padrão de produção agrícola, baseado em agroecologia, soberania alimentar e respeito à vida.

O Dia Mundial de Luta Contra os Agrotóxicos, assim, foi menos uma data simbólica e mais um grito de alerta: o Brasil precisa refletir urgentemente sobre o preço real do agronegócio. A contaminação não é um acidente — é consequência de escolhas políticas, econômicas e regulatórias. E, se a sociedade não reagir, continuará a pagar caro: com doenças, degradação ambiental e injustiças para quem vive da terra.

Ascensão científica da China redefine o mapa global da inovação

Da atividade frenética dos laboratórios de pesquisa em Beijing aos satélites que vasculham a superfície terrestre a partir da órbita, a presença científica da China vem adquirindo um alcance verdadeiramente global. Nos últimos meses, uma sucessão de relatórios e rankings publicados por editoras acadêmicas e instituições de referência internacional apontou o que muitos já percebiam em silêncio: a China passou de potência emergente a protagonista madura no cenário mundial da inovação. Esse avanço não se resume ao volume de pesquisas, mas à capacidade de produzir conhecimento que redefine agendas, direciona investimentos e influencia políticas públicas, especialmente nas áreas ligadas ao desenvolvimento sustentável.

O suplemento Science Cities 2025 do Nature Index é um dos retratos mais claros dessa escalada. Pela primeira vez, a China concentra a maioria das cidades entre as dez líderes do ranking. Beijing, que há nove anos ocupa o topo, registrou um crescimento superior a 9% em sua produção científica entre 2023 e 2024. Shanghai, por sua vez, apresentou um salto ainda maior, aproximando-se de 20%. Esses números não refletem apenas expansão institucional, mas consolidam uma lógica de investimento que privilegia pesquisa de alta densidade e infraestrutura científica de última geração.

O desempenho das cidades chinesas também revela especializações consistentes. Em química, ciências físicas e ciências da terra e do ambiente, a China domina as primeiras posições, chegando a ocupar o topo absoluto em todas as dez melhores colocações na química — um feito inédito. Beijing lidera globalmente nessas três áreas, indicando que a capital se tornou um centro de convergência para pesquisas de impacto direto nas tecnologias energéticas, nos materiais avançados e na compreensão das dinâmicas ambientais do planeta.

Outras métricas reforçam o mesmo panorama. O Índice Global de Inovação, produzido pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI/WIPO), posicionou o cluster Shenzhen–Hong Kong–Guangzhou como o maior polo de ciência e tecnologia do mundo. O dado, por si só impressionante, acompanha outra marca histórica: pela primeira vez, a China figura entre as dez economias mais inovadoras do planeta. A inclusão representa o reconhecimento de que universidades, empresas e centros de pesquisa locais não operam mais apenas como reprodutores de conhecimento, mas como criadores de tecnologias originais e competitivas internacionalmente.

Impress_o_art_stica_de_um_sat_lite_Sentinel-1_sobre_a_Terra-1-400x225 Ascensão científica da China redefine o mapa global da inovação

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Essa influência crescente também se manifesta no campo das colaborações científicas internacionais. Um estudo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) mostra que pesquisadores chineses lideram mais da metade dos projetos conjuntos com cientistas do Reino Unido — tendência que também se repete nas interações com equipes dos Estados Unidos e da Europa. A STINT – Fundação Sueca para Cooperação Internacional em Pesquisa confirma esse movimento: ao avaliar não apenas volume, mas impacto, a instituição conclui que a China superou os EUA em áreas como matemática, computação e engenharia.

O autor do relatório da STINT, Erik Forsberg, afirma ter testemunhado uma transformação que muitos considerariam surpreendente. Em duas décadas, a China consolidou um ecossistema científico que combina planejamento estatal, financiamento robusto e uma comunidade acadêmica cada vez mais integrada às redes globais de pesquisa. Essa combinação ajuda a explicar outra estatística expressiva: um estudo da Universidade de Nova York aponta que, em 2023, a China respondeu por 47% de todos os artigos científicos publicados no mundo sobre sensoriamento remoto — área estratégica para monitoramento climático, vigilância ambiental e gestão territorial.

A influência chinesa também vem impactando de forma direta políticas públicas em escala mundial. Um relatório da Springer Nature revelou que a China é hoje a maior contribuinte para pesquisas alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Esses estudos são amplamente utilizados em documentos de orientação de organizações internacionais, incluindo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre 2022 e 2025, artigos chineses relacionados à saúde, ao meio ambiente e à gestão de riscos climáticos tiveram expressivo aumento nas citações em relatórios globais — um indicador de que o país deixou de ser apenas um polo de conhecimento para se tornar influenciador direto na formulação de políticas internacionais.

A diretora do Programa ODS da Springer Nature, Nicola Jones, sintetiza esse fenômeno afirmando que as pesquisas chinesas têm aplicabilidade ampla e crescente. Já para a editora-chefe da revista Nature, Magdalena Skipper, a China fortalece ano após ano sua posição como peça-chave do ecossistema científico internacional. O avanço do país, segundo ela, não desloca outras nações, mas expande o horizonte de colaboração possível — um sinal de que a ciência contemporânea precisa de múltiplos centros de excelência para responder aos desafios de uma era marcada por mudanças climáticas, transição energética e pressões demográficas.

Sema Amazonas integra Comitê do Programa Arapaima e reforça manejo sustentável do pirarucu

A integração da Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amazonas (Sema) ao Comitê Técnico Permanente do Programa Arapaima marca um novo capítulo para a política nacional de manejo sustentável do pirarucu na Amazônia. Coordenada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a iniciativa busca harmonizar décadas de experiências locais com uma estratégia de alcance federal. A primeira reunião oficial do colegiado ocorreu em Manaus, na Inspetoria Laura Vicuña, reunindo instituições públicas, organizações da sociedade civil e pesquisadores dedicados à conservação dos ecossistemas de várzea.

O Programa Arapaima, criado pela Portaria nº 22 de fevereiro de 2025, nasce com uma missão ampla: garantir que o pirarucu, espécie emblemática da Amazônia, continue a ser fonte de alimento, renda e identidade cultural sem que suas populações naturais sejam colocadas em risco. Trata-se de um desafio que exige coordenação constante, já que o manejo do pirarucu depende tanto da ciência quanto do envolvimento comunitário – e, sobretudo, da capacidade de conciliar pressões econômicas com os limites ecológicos das áreas de várzea.

A presença da Sema no Comitê Técnico representa um reforço estruturante para essa agenda. O Amazonas concentra algumas das experiências mais consolidadas de manejo do pirarucu no país, conduzidas ao longo de décadas por comunidades ribeirinhas, associações locais e instituições de pesquisa. Segundo destacou Rafael Cerquinho, assessor técnico do Núcleo de Pesca da Sema, essa trajetória permite que o estado contribua não apenas com dados e metodologias, mas também com modelos sociais que demonstram que o manejo participativo transforma realidades quando bem apoiado.

O encontro inaugural foi dedicado à organização do próprio Comitê. Entre os pontos abordados estiveram a formalização dos integrantes para publicação complementar da Portaria, a definição da periodicidade das reuniões e a construção de procedimentos de relatoria. Esses ajustes, muitas vezes invisíveis ao público, são fundamentais para que decisões técnicas avancem com segurança jurídica e com a previsibilidade que as comunidades manejadoras demandam.

Outro eixo central da reunião foi a elaboração da agenda temática anual. O colegiado estabeleceu prioridades que refletem alguns dos grandes debates contemporâneos da conservação na Amazônia: monitoramento de populações, integração da pesquisa científica aos protocolos de manejo, rastreabilidade da cadeia produtiva, fortalecimento da bioeconomia regional, educação ambiental e a incorporação explícita da equidade de gênero nas políticas voltadas à pesca. Cada um desses temas dialoga com desafios concretos enfrentados tanto por órgãos governamentais quanto pelos pescadores que, ano após ano, realizam a contagem, proteção e captura sustentável do pirarucu.

Sema-Amazonas-integra-Comite-Tecnico-do-Programa-Arapaima-e-participa-de-reuniao-inaugural-em-Manaus-1024x768-1-400x300 Sema Amazonas integra Comitê do Programa Arapaima e reforça manejo sustentável do pirarucu
FOTO: Divulgação/Sema

SAIBA MAIS: Pirarucu inspira novo Mercado de São Brás, que renasce com a cara da Amazônia para a COP30

As discussões também avançaram sobre mecanismos de financiamento, parcerias institucionais e a apresentação do orçamento do Ibama para 2026 destinado ao Programa Arapaima. A busca por estabilidade financeira é reconhecida pelos especialistas como um componente essencial. Sem recursos continuados, projetos de monitoramento tornam-se descontínuos, ações de fiscalização ficam vulneráveis e comunidades manejadoras, muitas vezes localizadas em regiões remotas, perdem apoio técnico decisivo.

O Comitê ainda analisou como alinhar o Programa Arapaima a políticas complementares, incluindo acordos internacionais, programas estaduais de pesca e iniciativas de manejo comunitário já consolidadas em diversas regiões da Amazônia. A intenção é evitar duplicidade de esforços, fortalecer sinergias e permitir que o Sistema Arapaima – a base de dados que reúne informações sobre o manejo – se torne cada vez mais robusto e capaz de orientar decisões estratégicas.

O encontro, portanto, não apenas inaugurou formalmente os trabalhos do Comitê, mas também sinalizou uma virada metodológica: o manejo do pirarucu passa a ser tratado como um tema articulado nacionalmente, com fluxos permanentes de participação social, intercâmbio técnico e avaliação contínua. A entrada da Sema reforça essa perspectiva ao trazer para o centro da discussão a experiência amazônica, onde o pirarucu, mais do que um recurso pesqueiro, é um símbolo da relação entre comunidades e natureza.

Sema Amazonas integra Comitê do Programa Arapaima e reforça manejo sustentável do pirarucu

A integração da Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Amazonas (Sema) ao Comitê Técnico Permanente do Programa Arapaima marca um novo capítulo para a política nacional de manejo sustentável do pirarucu na Amazônia. Coordenada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a iniciativa busca harmonizar décadas de experiências locais com uma estratégia de alcance federal. A primeira reunião oficial do colegiado ocorreu em Manaus, na Inspetoria Laura Vicuña, reunindo instituições públicas, organizações da sociedade civil e pesquisadores dedicados à conservação dos ecossistemas de várzea.

O Programa Arapaima, criado pela Portaria nº 22 de fevereiro de 2025, nasce com uma missão ampla: garantir que o pirarucu, espécie emblemática da Amazônia, continue a ser fonte de alimento, renda e identidade cultural sem que suas populações naturais sejam colocadas em risco. Trata-se de um desafio que exige coordenação constante, já que o manejo do pirarucu depende tanto da ciência quanto do envolvimento comunitário – e, sobretudo, da capacidade de conciliar pressões econômicas com os limites ecológicos das áreas de várzea.

A presença da Sema no Comitê Técnico representa um reforço estruturante para essa agenda. O Amazonas concentra algumas das experiências mais consolidadas de manejo do pirarucu no país, conduzidas ao longo de décadas por comunidades ribeirinhas, associações locais e instituições de pesquisa. Segundo destacou Rafael Cerquinho, assessor técnico do Núcleo de Pesca da Sema, essa trajetória permite que o estado contribua não apenas com dados e metodologias, mas também com modelos sociais que demonstram que o manejo participativo transforma realidades quando bem apoiado.

O encontro inaugural foi dedicado à organização do próprio Comitê. Entre os pontos abordados estiveram a formalização dos integrantes para publicação complementar da Portaria, a definição da periodicidade das reuniões e a construção de procedimentos de relatoria. Esses ajustes, muitas vezes invisíveis ao público, são fundamentais para que decisões técnicas avancem com segurança jurídica e com a previsibilidade que as comunidades manejadoras demandam.

Sema-Amazonas-integra-Comite-Tecnico-do-Programa-Arapaima-e-participa-de-reuniao-inaugural-em-Manaus-1024x768-1-400x300 Sema Amazonas integra Comitê do Programa Arapaima e reforça manejo sustentável do pirarucu
FOTO: Divulgação/Sema

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Outro eixo central da reunião foi a elaboração da agenda temática anual. O colegiado estabeleceu prioridades que refletem alguns dos grandes debates contemporâneos da conservação na Amazônia: monitoramento de populações, integração da pesquisa científica aos protocolos de manejo, rastreabilidade da cadeia produtiva, fortalecimento da bioeconomia regional, educação ambiental e a incorporação explícita da equidade de gênero nas políticas voltadas à pesca. Cada um desses temas dialoga com desafios concretos enfrentados tanto por órgãos governamentais quanto pelos pescadores que, ano após ano, realizam a contagem, proteção e captura sustentável do pirarucu.

As discussões também avançaram sobre mecanismos de financiamento, parcerias institucionais e a apresentação do orçamento do Ibama para 2026 destinado ao Programa Arapaima. A busca por estabilidade financeira é reconhecida pelos especialistas como um componente essencial. Sem recursos continuados, projetos de monitoramento tornam-se descontínuos, ações de fiscalização ficam vulneráveis e comunidades manejadoras, muitas vezes localizadas em regiões remotas, perdem apoio técnico decisivo.

O Comitê ainda analisou como alinhar o Programa Arapaima a políticas complementares, incluindo acordos internacionais, programas estaduais de pesca e iniciativas de manejo comunitário já consolidadas em diversas regiões da Amazônia. A intenção é evitar duplicidade de esforços, fortalecer sinergias e permitir que o Sistema Arapaima – a base de dados que reúne informações sobre o manejo – se torne cada vez mais robusto e capaz de orientar decisões estratégicas.

O encontro, portanto, não apenas inaugurou formalmente os trabalhos do Comitê, mas também sinalizou uma virada metodológica: o manejo do pirarucu passa a ser tratado como um tema articulado nacionalmente, com fluxos permanentes de participação social, intercâmbio técnico e avaliação contínua. A entrada da Sema reforça essa perspectiva ao trazer para o centro da discussão a experiência amazônica, onde o pirarucu, mais do que um recurso pesqueiro, é um símbolo da relação entre comunidades e natureza.

Ibama articula força-tarefa para conter avanço do peixe-leão em Sergipe

A confirmação da presença do peixe-leão no litoral sergipano acendeu um alerta que rapidamente mobilizou instituições ambientais, pesquisadores e gestores públicos. No fim de novembro, a Superintendência do Ibama em Sergipe, por meio da Divisão Técnico-Ambiental, reuniu representantes de órgãos federais, estaduais e da academia para construir uma resposta coordenada ao avanço da espécie invasora Pterois volitans. O encontro ocorreu na Universidade Federal de Sergipe, reunindo especialistas do Laboratório de Ictiologia da instituição, além de representantes do Centro Tamar/ICMBio, da Fundação Pró-Tamar, e da Secretaria de Estado do Meio Ambiente, Sustentabilidade e Ações Climáticas.

A convocação emergencial tem razão de ser. O peixe-leão, originário do Indo-Pacífico, é reconhecido mundialmente como uma das espécies exóticas invasoras mais problemáticas do oceano Atlântico. Sua expansão começou nos anos 1990, no Caribe, e avançou em direção ao litoral brasileiro, atingindo todos os estados do Norte e Nordeste. O registro em Sergipe representa mais um passo nesse avanço silencioso, mas devastador, que ameaça ecossistemas frágeis e populações pesqueiras artesanais.

Os participantes da reunião destacaram que a chegada da espécie exige reação rápida, ancorada no Protocolo Geral de Alerta, Detecção Precoce e Resposta Rápida previsto na Estratégia Nacional para Espécies Exóticas Invasoras. O objetivo é impedir que a espécie se estabeleça de forma duradoura no estado, reduzindo os impactos ecológicos e socioeconômicos já registrados em outros países.

O peixe-leão se alimenta de crustáceos e peixes, muitas vezes predando organismos quase do seu próprio tamanho. Sua voracidade, aliada à alta capacidade reprodutiva e ao veneno presente em seus espinhos, forma um conjunto de características que tornam seu controle extremamente complexo. Para Adolfo Hubner, analista ambiental da equipe de Biodiversidade e Florestas do Ibama em Sergipe, os riscos vão além dos recifes. Embora a espécie prefira ambientes recifais, há sinais de que já se adapta também a áreas estuarinas — ecossistemas essenciais para o desenvolvimento das espécies marinhas, conhecidos como verdadeiros berçários de biodiversidade. Caso avance nesses ambientes, os impactos podem ser profundos e comprometer estoques pesqueiros, cadeias ecológicas e meios de vida tradicionais.

Para evitar esse cenário, a chefe da Divisão Técnico-Ambiental do Ibama, Iris Alves, defendeu que a construção coletiva de soluções é indispensável. Ela explica que somente a articulação entre órgãos ambientais, cientistas, gestores locais e comunidades permitirá dar velocidade e efetividade às ações de controle. A presença de diferentes instituições no encontro reforça essa compreensão: nenhuma entidade, sozinha, conseguirá enfrentar a presença de uma espécie tão resiliente e invasiva.

0fe97c06-c98b-4055-914a-e085d92890f3-400x225 Ibama articula força-tarefa para conter avanço do peixe-leão em Sergipe
Foto: Ibama/SE

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A primeira etapa do trabalho, já em andamento, concentra esforços no apoio ao projeto de extensão e pesquisa do Laboratório de Ictiologia da Universidade Federal de Sergipe. A iniciativa tem como foco a conscientização e a educação ambiental, especialmente junto a pescadores profissionais, pescadores amadores e grupos de mergulho. São eles os primeiros a encontrar a espécie no ambiente marinho e, portanto, essenciais para alimentar sistemas de alerta, monitoramento e coleta de dados.

A ação envolve palestras, visitas técnicas, produção de materiais educativos e campanhas que buscam sensibilizar as comunidades ribeirinhas sobre o risco que o peixe-leão representa — tanto para a biodiversidade quanto para a saúde humana, dada a possibilidade de acidentes com seus espinhos venenosos.

Cássio Murilo dos Santos, superintendente do Ibama em Sergipe, reforça que iniciativas como essa reafirmam o papel articulador do órgão no território. Para ele, integrar pesquisa científica, políticas ambientais e participação social é o caminho para implementar medidas que tenham efeito real no ambiente. O enfrentamento ao peixe-leão, portanto, torna-se também um exercício de governança, conhecimento compartilhado e defesa dos modos de vida costeiros.

A chegada da espécie a Sergipe impõe desafios urgentes, mas também abre espaço para fortalecer redes de cooperação científica e institucional. À medida que ações integradas avançam, o estado pode se tornar referência nacional na resposta rápida a espécies invasoras — uma tarefa que exige vigilância constante, ciência aplicada e mobilização social.

Ibama Maranhão ganha destaque internacional por impacto social

Em um momento simbólico para as políticas socioambientais do Maranhão, a superintendência regional do Ibama no estado recebeu, no fim de novembro de 2025, um diploma de reconhecimento durante o IV International Conference on Social Impact Assessment. O evento, sediado pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), transformou-se numa vitrine de ideias, práticas e compromissos pelo futuro socioambiental do país — e projetou o Maranhão para além de seus limites regionais.

A homenagem veio pelas mãos da Rede Internacional de Estudios Socioambientales (RIDES) e da rede PROLITORAL, redes de prestígio que acompanham, há décadas, discussões em torno da avaliação de impactos sociais e proteção ambiental. A distinção se deu como reconhecimento pela “relevante atuação” do Ibama/MA na mitigação de impactos sociais nas áreas em que atua — um esforço que, no entendimento do comitê científico do congresso, serve de referência nacional.

Para entender a dimensão desse gesto, é importante considerar o contexto do evento. A conferência reuniu nas instalações da UFMA pesquisadores do Brasil e do exterior, gestores públicos, movimentos sociais e representantes de comunidades vulneráveis. Durante três dias, mesas-redondas, oficinas e conferências abordaram desafios cruciais: da governança socioambiental à justiça ambiental; das ameaças às zonas costeiras e amazônicas às estratégias de adaptação social e direitos territoriais. A ideia central era construir — literalmente — redes de diálogo para a sustentabilidade e a justiça socioambiental, alinhando academia, Estado e sociedade civil.

No dia 28 de novembro, durante a cerimônia de encerramento, o Ibama/MA foi um dos 45 homenageados. Para o comitê avaliador, premiar órgãos públicos que combinam fiscalização ambiental com sensibilidade social e territorial é um passo essencial para fortalecer práticas que envolvem justiça, equidade e preservação ambiental. Esse reconhecimento não representa apenas um troféu institucional — é uma mensagem clara sobre a importância da integração entre meio ambiente, sociedade e governança.

Há várias camadas de significado nessa homenagem. Primeiramente, reafirma que o trabalho de monitoramento, licenciamento e fiscalização ambiental pode — e deve — estar pautado pelo olhar humano: os impactos causados por empreendimentos, atividades econômicas ou degradação não atingem apenas o território, mas comunidades, modos de vida e tecidos sociais. Ao premiar o Ibama/MA, a conferência reconhece que a mitigação de danos socioambientais passa por zelo institucional, transparência e compromisso com o bem-estar coletivo.

2025-12-03-ibama-maranhao-e-reconhecida-pela-rede-rides-e-rede-prolitoral-pelo-trabalho-na-mitigacao-de-impactos-sociais-338x600 Ibama Maranhão ganha destaque internacional por impacto social
Fotos: Ibama/MA

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Também abre espaço para reflexões sobre como instituições públicas, quando assumem papel ativo de interlocutoras — entre Estado, academia e sociedade — podem se tornar agentes de transformação. No Maranhão, terra de rios, floresta, litoral e comunidades tradicionais, fortalecer essa ponte torna-se vital. A homenagem evidencia que boas práticas de fiscalização e mitigação não são apenas técnico-administrativas, mas políticas de respeito a territórios e vidas.

Por fim, o reconhecimento pode inspirar novas parcerias. A visibilidade conquistada em um evento internacional abre caminhos para cooperação científica, apoio técnico, fortalecimento institucional e políticas de longo prazo que integrem proteção ambiental e justiça social. Se a conferência serviu para mapear problemas e propor caminhos, premiar o Ibama/MA sinaliza compromisso — com seriedade e esperança — com os territórios e as pessoas.

No Brasil contemporâneo, em que decisões sobre meio ambiente muitas vezes se chocam com interesses econômicos, o gesto de celebrar instituições públicas que atuam de modo comprometido tem um peso simbólico e político. A homenagem ao Ibama/MA envia uma mensagem clara: a salvaguarda de ecossistemas e a proteção dos direitos sociais não são agendas antagônicas — são partes da mesma luta. E, se for bem conduzida, essa co-responsabilidade pode se transformar em legado.

Mapbiomas tira do ar monitor de mineração após identificar dados inflados

Na manhã de terça-feira, a rede Mapbiomas lançou com alarde sua nova ferramenta digital de monitoramento da mineração – o “Monitor da Mineração”. Mas poucas horas depois, a plataforma sofreu uma queda inesperada. O motivo: números sobre processos minerários irregulares estavam drasticamente inflados. Quando os dados foram corrigidos, o volume real de inconsistências caiu de 95.740 para 22.668 casos — ou seja, de 37% para 8,8% dos 257.591 procedimentos registrados pela Agência Nacional de Mineração (ANM).

O erro resultou de uma falha lógica na programação da ferramenta. De acordo com o coordenador da equipe de Mineração do Mapbiomas, César Diniz, a plataforma havia interpretado equivocadamente o recorte de “Autorização de Pesquisa” como se fosse sinônimo de “Inconsistência Processual”. Esse engano levou a exibir dados distorcidos e alarmar indevidamente sobre o tamanho dos problemas no setor mineral.

Assim que perceberam a incoerência, os desenvolvedores retiraram o monitor do ar e iniciaram correção imediata. A expectativa, segundo o anúncio oficial, é de que a versão revisada — batizada de “beta 1.1” — seja reativada ainda hoje, acompanhada de uma nota informativa explicando o ocorrido.

Esse episódio expõe os desafios de transformar um grande volume de dados públicos em informação confiável. Embora a intenção do Mapbiomas, rede consolidada de mapeamento ambiental, fosse transparente: usar dados da ANM para mostrar irregularidades no licenciamento minerário e alertar sobre potenciais riscos ambientais, a falha técnica revelou-se um obstáculo grave à credibilidade do monitor.

Erros de “contagem” e “interpretação de recortes” num sistema automatizado podem gerar consequências simbólicas importantes. O impacto principal recai sobre a confiança do público — ambientalistas, pesquisadores, jornalistas e gestores públicos — que passam a questionar com cautela os relatórios gerados. Mais do que corrigir a planilha, será preciso recuperar a fidedignidade da ferramenta.

Screenshot-2025-05-26-153701-400x263 Mapbiomas tira do ar monitor de mineração após identificar dados inflados
Fonte: Revista Mineração Ltda

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O Mapbiomas não é estranho a essa missão. Sua reputação foi construída sobre a reinterpretação visual de dados de desmatamento, mudanças no uso do solo e mapas de cobertura vegetal. A inciativa de monitorar a mineração era vista como um passo importante para ampliar esse escopo e iluminar uma atividade quase sempre envolta em sigilo. A falha recente, no entanto, demonstra que os desafios técnicos e de rigor analítico acompanham de perto qualquer tentativa de transparência.

A rapidez com que o erro foi identificado e a plataforma retirada do ar também diz algo sobre a cultura de autocrítica da equipe. Em vez de empurrar o problema com justificativas, o Mapbiomas optou por admitir o erro e agir — o que, paradoxalmente, fortalece sua responsabilidade institucional. Mas resta calibrar expectativas: a versão beta original era, afinal, um protótipo. O salto para a 1.1, se bem sucedido, pode devolver o Monitor da Mineração como uma ferramenta robusta — mas exigirá vigilância e testes mais exaustivos.

Para a sociedade, o alerta continua. A mineração, sobretudo em regiões sensíveis de biomas brasileiros, segue sendo uma potencial fonte de degradação ambiental, conflitos sociais e uso irregular da terra. Em um país onde informação e transparência são armas essenciais na luta por meio ambiente equilibrado, é vital que plataformas como essa funcionem com precisão. O erro atual representa um tropeço; mas a correção, se bem feita, pode reforçar o valor de investir em dados públicos para monitorar atividades de alto impacto.

A lição é clara: nem mesmo intenções nobres e bons dados garantem transparência se a lógica de interpretação falhar. E no ciclo de produção de informação, a responsabilidade técnica é tão importante quanto o ideal ético.

Converta Depoimentos em Provas Visuais com um Gerador de Vídeo com IA

A eficácia dos depoimentos em formato estatístico para atrair a atenção do público diminuiu. As pessoas vão rolando a tela e, em muitos casos, acabam nem lendo avaliações escritas. Os depoimentos em vídeo, por outro lado, não se limitam ao texto: a combinação de imagem, som e emoção torna tudo mais interessante. A narrativa visual transmite credibilidade e faz com que um produto ou serviço pareça mais familiar e confiável. Provas em vídeo oferecem às marcas uma vantagem competitiva no marketing digital. Esse processo é simplificado pelo Pippit, uma plataforma criativa completa baseada em IA. Usando um gerador de video IA, você transforma depoimentos escritos em conteúdo de vídeo profissional com facilidade. Essa mudança torna os depoimentos informativos e, ao mesmo tempo, mais atraentes emocionalmente para quem assiste.

Por que os Depoimentos em Vídeo são tão poderosos

Depoimentos em vídeo geram apelo emocional porque utilizam elementos audiovisuais. Ouvir uma voz que soa real e ver expressões genuínas cria uma conexão mais forte do que apenas ler um texto. Quando o público consegue se identificar com a experiência de quem fala, a confiança aumenta. A prova em vídeo é mais convincente porque transmite autenticidade e transparência. Cliques curtos de depoimentos favorecem marcas e criadores, pois se encaixam bem nos formatos das redes sociais, sendo fáceis de compartilhar e mais propensos a serem vistos até o fim. Vídeos virais geram comentários, compartilhamentos e conversões – um sinal claro de que evidências visuais superam depoimentos apenas textuais.

Os diferentes tipos de Prova em Vídeo que você pode criar com o Pippit

O Pippit permite gerar vários tipos de demonstrações em vídeo. Depoimentos em texto acompanhados por voz dão um toque humano e natural ao feedback escrito. Um depoimento apresentado por um ator por meio de um avatar transforma roteiros em cenas reais, sendo ideal para contextos profissionais ou internacionais. Sobreposições em demonstrações de produto incorporam comentários de usuários diretamente aos recursos exibidos, facilitando a compreensão. Reels de depoimentos no estilo compilação reúnem várias experiências de clientes em uma narrativa curta e impactante. Já os resumos de depoimentos que convertem fotos em vídeo transformam imagens estáticas em relatos animados. Com um editor de video IA, todos esses formatos podem ser personalizados rapidamente, economizando tempo sem perder qualidade de produção.

Preparando seus Depoimentos para Aprimoramento com IA

Os vídeos precisam ser preparados de forma que sejam úteis e consistentes. É importante escolher bem as frases do depoimento para destacar experiências reais. Avaliações escritas podem ser transformadas em um roteiro com leitura fluida e natural. Incluir fotos de referência ou capturas de tela ajuda a contextualizar o produto em uso. Elementos visuais – como logotipos, embalagens e fotos de clientes – reforçam a autenticidade e tornam o vídeo mais envolvente. Depoimentos bem estruturados permitem que a IA produza vídeos coerentes, convincentes e atrativos.

Aprimorando os Vídeos de Depoimento ao Máximo

A carga emocional aumenta o engajamento. Músicas de fundo ajudam a definir o tom e enriquecer a narrativa. O Pippit consegue dramatizar ou narrar depoimentos por meio de seus avatares, adicionando um toque pessoal. A inclusão de cenas do produto, elementos de branding ou motion graphics realça a mensagem principal. Os vídeos devem ser curtos e diretos, para manter a atenção de quem assiste. Usar ferramentas para melhorar qualidade de video garante nitidez, equilíbrio de cores e áudio claro, resultando em um conteúdo refinado que transmite confiança.

Apresentação Eficiente e Ética de Depoimentos

A precisão é essencial. Os vídeos de depoimento devem refletir experiências reais, sem exageros. A autenticidade gera confiança e credibilidade. Legendas aumentam a acessibilidade e deixam o conteúdo mais transparente, permitindo que até quem não ativa o áudio compreenda a mensagem. Uma apresentação ética fortalece a confiança na marca e faz com que o público reaja de forma mais positiva.

Como Converter Depoimentos em Prova em Vídeo com um Gerador de Vídeo por IA

Passo 1: Comece a Conversão do Depoimento

Acesse a ferramenta e faça login. Depois, abra a aba “Gerador de vídeos”. Insira um prompt detalhado descrevendo o tom que você deseja para o depoimento. Inclua clipes de referência ou capturas de tela usando a aba “Mídia”. Faça upload de qualquer dispositivo – celular, Dropbox ou link. Se você não tiver imagens, escolha entre os arquivos disponíveis. Quando estiver pronto, clique em “Gerar” para continuar.

Passo 2: Deixe a IA Construir sua Prova em Vídeo

O gerador de vídeo com IA edita e organiza automaticamente o depoimento com base no prompt e no material enviado. Ele cuida das transições, do ritmo e das melhorias visuais. Também adiciona avatares, voz, texto, legendas e fotos/vídeos.

Ele aprimora o fluxo do depoimento e gera de 4 a 5 versões. Escolha a melhor delas e clique em “Editar mais” para ajustar dentro da interface de edição.

Passo 3: Ajuste, Exporte e Publique

Personalize o depoimento em vídeo com total liberdade criativa. Ajuste manualmente as legendas, insira novos textos e modifique elementos de estilo, como tamanho, cor e alinhamento. Você pode incluir efeitos, filtros, música de fundo ou remover o fundo.

Quando o vídeo estiver concluído, selecione a aba “Exportar”. Publique direto pela opção “Publicar” ou salve no seu dispositivo em “Baixar”, escolhendo resolução, taxa de quadros, formato e qualidade.

Conclusão

O vídeo de depoimento produzido pelo Pippit transforma provas sociais tradicionais em narrativas visuais poderosas. Marcas e criadores se tornam mais envolventes, confiáveis e memoráveis. A produção de vídeos baseada em IA permite escalar conteúdo sem perder qualidade. Com a mudança do foco do público para experiências imersivas, adotar provas sociais em vídeo se tornou essencial. O futuro dos depoimentos está na união entre vídeos dinâmicos e autênticos, capazes de despertar emoção, incentivar ação e fortalecer o reconhecimento da marca.

Acre participa de reunião nacional da Abema para debater licenciamento e CAR

No começo de dezembro de 2025, gestores ambientais de quase todos os estados brasileiros se reuniram em Brasília para discutir os rumos da proteção ambiental no país. Entre os participantes, estava o estado do Acre, representado pela secretária-adjunta de Meio Ambiente, Renata Sousa. A pauta da 122ª reunião ordinária da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente (Abema) foi ampla: licenciamento ambiental, recursos para biomas diversos, regularização fundiária via Cadastro Ambiental Rural (CAR), linhas de crédito e seguros rurais, além das normas que deverão ser enviadas ao Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

A Abema — associação que reúne os órgãos estaduais de meio ambiente dos 26 estados e do Distrito Federal — desempenha papel-chave na articulação de políticas nacionais com foco na descentralização ambiental. Em 2025, sob a presidência de Eduardo Taveira, secretário de Meio Ambiente do estado de Amazonas, a entidade reforça seu papel de representar os estados nas decisões que moldam o futuro ambiental do Brasil.

Para o Acre, a participação da secretária Renata Sousa foi mais do que simbólica. O estado, que enfrenta desafios típicos da Amazônia — pressões sobre florestas, regularização de terras, mudanças climáticas — busca nas discussões da Abema fortalecer sua voz no debate nacional. A presença no encontro sublinha o compromisso com uma governança colaborativa, na qual decisões nacionais consideram as realidades regionais e os interesses dos estados.

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Foto: Wesley Moraes/Repac

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Entre os temas mais sensíveis discutidos na reunião está a nova Lei Geral do Licenciamento Ambiental. A legislação, em vigor desde 2025, já começou a gerar controvérsias: estados defendem que qualquer norma nacional respeite a autonomia dos órgãos estaduais para licenciar e fiscalizar — tarefa que historicamente recai sobre eles. A Abema, segundo seus estatutos, historicamente atuou como ponte entre os estados na consolidação de normas, defendendo que a política ambiental nacional seja construída com participação e respeito à descentralização.

Não menos relevantes, os debates sobre o CAR, linhas de crédito agrícola, seguros rurais e financiamento via fundos como o Fundo Amazônia também estiveram na pauta. Para estados amazônicos como o Acre, essas questões significam alternativa concreta para equilibrar desenvolvimento, uso da terra e preservação ambiental — especialmente em áreas onde a pressão pela conversão de terras e atividades econômicas é maior.

A reunião da Abema acontece em um contexto delicado: o país atravessa forte debate sobre desmatamento, mudanças climáticas, segurança jurídica para empreendimentos, regularização fundiária e licenciamento. A presença dos estados, reunidos em torno de uma associação que representa e unifica suas vozes, é vista por muitos como essencial para garantir que políticas nacionais não ignorem a diversidade regional.

Para Renata Sousa e sua equipe, o encontro é oportunidade de trocar experiências, alinhar estratégias e influenciar decisões que repercutem diretamente no Acre — seja na gestão territorial, no combate a crimes ambientais, no licenciamento de empreendimentos ou no acesso a crédito e políticas de incentivo. Mais do que representar um estado, a participação simboliza a crença de que a governança ambiental precisa ser construída com colaboração, técnica e respeito às particularidades dos biomas brasileiros.

Ao final da 122ª reunião, a mensagem que ecoa no conjunto dos estados é clara: a proteção ambiental no Brasil depende de um pacto federativo forte, no qual estados, municípios e União dialoguem com seriedade. A Abema reafirma seu papel de guardiã desse pacto, reunindo saber técnico, pluralidade regional e compromisso com o desenvolvimento sustentável. Para o Acre e para todo o país, a agenda permanece desafiadora — mas coletivamente possível.

A corrida científica para descobrir espécies antes que a Amazônia desapareça

A Amazônia vive hoje uma corrida silenciosa, marcada não por marcos esportivos, mas pela urgência científica. Pesquisadores tentam identificar espécies antes que desapareçam, pressionados pelo avanço do desmatamento, pelo aquecimento global e pela expansão econômica que alcança até as áreas mais remotas da floresta.

A trajetória do primatologista Rodrigo Costa Araújo ilustra essa disputa desigual contra o tempo. Durante seu doutorado, ele decidiu explorar o Arco do Desmatamento, uma imensa faixa de 500 mil quilômetros quadrados que se estende do Maranhão ao Acre, atravessando também partes do Pará, Mato Grosso e Rondônia. É uma das regiões mais frágeis e aceleradas em degradação dentro da Amazônia. Ali, em meio à perda acelerada de floresta, Araújo buscava preencher lacunas fundamentais sobre os saguis — pequenas espécies de primatas pouco estudadas e altamente vulneráveis.

A urgência é evidente: conforme destaca Rodrigo, saber quantas espécies existem, onde vivem e quais são suas características básicas é o primeiro passo para qualquer estratégia de conservação. Seu trabalho resultou na descrição de duas novas espécies de sagui, incluídas imediatamente na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) como ameaçadas de extinção. Ele também estruturou um banco de dados genético cobrindo 99% das espécies conhecidas.

Mas a descoberta científica avança lentamente. Enquanto isso, a floresta já perdeu 17% de sua vegetação original segundo o MapBiomas, e há sinais de que sua resiliência ao fogo está diminuindo. Para alguns pesquisadores, a Amazônia se aproxima perigosamente de um ponto de não retorno — um limiar em que a floresta perderia a capacidade de se regenerar.

A situação não se limita aos primatas. Estudos recentes mostram que o Brasil concentra o maior potencial mundial de descobertas de novas espécies de vertebrados terrestres. Segundo pesquisa coordenada por Mario Moura, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), 10,4% das descobertas potenciais estão no país, e mais da metade nas florestas tropicais úmidas, como Amazônia e Mata Atlântica. Moura analisou quase 33 mil espécies e modelou a probabilidade de novos registros, revelando que a maior parte das espécies ainda desconhecidas deve estar entre répteis e anfíbios — grupos menos estudados e historicamente menos favorecidos em financiamento e interesse popular.

A dificuldade de acesso às áreas mais isoladas, a falta de taxonomistas e a ausência de políticas continuadas de incentivo científico formam uma combinação que favorece o desconhecido, não o conhecimento. Isso afeta diretamente o ritmo de descobertas. Um estudo de 2014 publicado na revista Conservation Biology estimou que entre 15% e 59% das espécies de vertebrados podem ter desaparecido antes mesmo de serem descritas.

Esse cenário é familiar para pesquisadores como Ana Prudente, do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). Especialista em taxonomia de répteis, ela já descreveu 31 espécies ao longo da carreira, mas vive sob a pressão de um ritmo de extinção que avança mais rápido do que o avanço da ciência. A Amazônia, lembra Prudente, possui ambientes únicos e isolados — alguns inexistem fora da região — o que explica o alto nível de endemismo. Mas também há poucos pesquisadores dedicados a taxonomia, e os desafios logísticos são imensos.

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Primeira espécie descoberta por Rodrigo Costa Araújo – Acervo de Rodrigo Costa

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O problema não é apenas técnico. Também é estrutural. O Brasil forma novos mestres e doutores na área biológica, mas as instituições de pesquisa não têm vagas suficientes para absorvê-los. O próprio Araújo relata que deixou o país durante o governo Bolsonaro por falta de oportunidades de trabalho e só retornou recentemente, com a retomada de investimentos da ciência.

A carência histórica de financiamento público para taxonomia persiste. Um dos poucos editais dedicados ao tema é o Protax, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), lançado periodicamente desde 2005. A edição de 2024 investiu R$ 14 milhões — valor expressivo, mas insuficiente frente à dimensão da Amazônia. A Iniciativa Amazônia +10 somou esforços ao financiar 20 expedições científicas, com orçamento total de R$ 78,2 milhões.

Entre os contemplados está o botânico Charles Zartman, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que lidera um estudo na isolada região da Cabeça do Cachorro, no Alto Rio Negro. O projeto usa métodos inovadores, realizados em parceria com a Universidade de Brasília (UnB), para acelerar a identificação de espécies por meio do sequenciamento de DNA coletado diretamente no campo. A técnica permite mapear a diversidade mesmo antes de encontrar fisicamente o organismo correspondente — uma forma de ganhar tempo diante da velocidade da destruição.

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Acervo de Rodrigo Costa

A ameaça, porém, não vem apenas da falta de conhecimento. Vem da economia. Para Araújo, a ciência avança devagar demais em comparação com atividades como mineração, extração de madeira e expansão de áreas agrícolas. Muitas vezes, quando uma equipe científica se prepara para chegar a um território inexplorado, empreendimentos já se instalaram ali, alterando habitats antes mesmo que fossem estudados.

A Amazônia perdeu 52 milhões de hectares nos últimos 40 anos, segundo o MapBiomas — área equivalente a 13% de toda sua extensão. A maior parte das transformações humanas ocorreu de 1985 a 2024, numa velocidade que deixa claro o desequilíbrio desse jogo.

Ainda assim, pesquisadores insistem em avançar. A ciência é movida não só por necessidade, mas por fascínio. A curiosidade, lembra Araújo, é também motor dessa corrida. Descobrir algo novo, compreender o que compõe o planeta, compartilhar esse conhecimento — isso mantém viva a resistência científica diante das incertezas.

A corrida contra o tempo continua. Mas a cada nova expedição, banco de dados ou técnica de sequenciamento, cresce também a chance de conhecer a Amazônia antes que ela se perca — e de proteger o que ainda não sabemos que existe.

Maranhão inicia mobilização para fortalecer gestão de resíduos nos municípios

O Maranhão iniciou uma nova frente de trabalho para transformar a forma como seus municípios lidam com os resíduos sólidos. A Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Naturais do estado, a Sema, deu partida à etapa presencial do projeto Conexão Resíduos, um esforço articulado com o Governo do Estado do Maranhão para apoiar prefeituras na elaboração dos Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, os PMGIRS. A iniciativa reflete a diretriz municipalista da atual gestão estadual e aposta em participação social, planejamento técnico e formação continuada para desenvolver soluções ancoradas na realidade de cada território.

Os primeiros seminários deste ciclo ocorrem em Santa Luzia do Tide e Porto Franco, cidades que abrem o calendário de encontros regionais. Esses eventos fazem parte de uma engrenagem iniciada meses antes, em setembro, quando equipes técnicas da Sema passaram a visitar municípios, dialogar com gestores e ajudar na elaboração dos Diagnósticos Situacionais. Esse mapeamento preliminar permite recuperar informações estruturantes sobre a realidade ambiental local, identificando pontos críticos e áreas de atenção — lixões, unidades básicas de saúde, espaços de triagem e demais áreas associadas à gestão de resíduos.

Esses diagnósticos são a base para um passo seguinte, crucial: a construção participativa dos planos municipais. É nessa etapa que o Conexão Resíduos ganha sua vocação pedagógica e colaborativa, reunindo sociedade civil, empresas, associações, cooperativas e órgãos públicos para discutir metas e estratégias de acordo com a capacidade e as necessidades de cada cidade. Nos seminários, os participantes analisam o panorama dos resíduos, avaliam desafios estruturais, selecionam prioridades e definem caminhos para alcançar melhorias efetivas.

A Sema também entrega aos municípios um modelo orientador para a estruturação dos PMGIRS, ferramenta que funciona como guia para que os documentos atendam aos critérios exigidos pela legislação ambiental e sejam compatíveis com políticas estaduais e federais. O objetivo é fortalecer a autonomia das gestões locais, sem deixá-las sozinhas diante de exigências técnicas complexas ou da burocracia que normalmente acompanha processos de planejamento ambiental.

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Reprodução

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Segundo a superintendente de Gestão de Resíduos da Sema, Laiana Linhares, o projeto está alinhado ao Plano de Governo Maranhense 2023–2026, especialmente ao Eixo 3 – Maranhão Sustentável. Esse compromisso envolve ampliar o licenciamento ambiental, acelerar o encerramento humanizado de lixões e consolidar soluções sustentáveis para a gestão de resíduos. Na prática, trata-se de promover uma transição que considere as dimensões sociais, econômicas e ambientais desse setor, onde o descaso histórico com o lixo ainda impõe riscos à saúde, degrada ecossistemas e compromete o desenvolvimento local.

Além do trabalho de planejamento e construção dos planos, os encontros oferecem uma capacitação específica sobre licenciamento ambiental. O tema abrange atualização legislativa, rotinas processuais, análise de impactos e modelos de gestão aplicáveis a empreendimentos que lidam direta ou indiretamente com resíduos. A ideia é preparar técnicos municipais para conduzir processos com mais segurança jurídica e mais eficiência, reduzindo gargalos e fortalecendo a atuação institucional.

O Conexão Resíduos também se destaca por abrir espaço para um diálogo mais amplo sobre corresponsabilidade. Ao envolver empresas, cooperativas e associações, reforça-se a percepção de que a gestão de resíduos não é apenas uma atribuição do poder público, mas um desafio coletivo que exige engajamento de todos os setores. Essa abordagem estimula que soluções nasçam do território, valorizando práticas locais e reconhecendo experiências que muitas vezes já acontecem, mas que carecem de apoio institucional para ganhar escala.

Os municípios maranhenses vivem realidades muito distintas, e justamente por isso o planejamento conjunto se torna tão estratégico. Em cidades menores, o desafio pode estar na ausência de estruturas básicas de coleta ou no funcionamento limitado de pequenos aterros. Em centros urbanos maiores, a preocupação inclui o volume elevado de resíduos, a pressão sobre a logística de coleta e a necessidade de ampliar sistemas de reciclagem. Em ambos os cenários, a construção dos PMGIRS é uma oportunidade de reorganizar processos, qualificar equipamentos públicos, reorganizar fluxos de resíduos e fortalecer a participação comunitária.

O avanço dessa agenda demonstra a intenção do estado de consolidar um sistema de gestão mais moderno, inclusivo e ambientalmente responsável. Ao promover capacitação, participação social e planejamento integrado, o Maranhão busca não apenas cumprir normativos ambientais, mas também transformar seus municípios a partir de políticas públicas contínuas, duradouras e conectadas com as mudanças necessárias para um futuro sustentável.

Fundo LIRA investe R$ 6,8 milhões em projetos que movem a sociobiodiversidade da Amazônia

O novo ciclo do Fundo LIRA – Legado Integrado da Região Amazônica — marca um momento decisivo para iniciativas comunitárias que moldam o futuro da floresta com base na sociobiodiversidade. De 2025 a 2026, o fundo, coordenado pelo IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, direciona R$ 6,8 milhões para 53 projetos conduzidos por povos indígenas, comunidades tradicionais, cooperativas e organizações locais em sete estados da Amazônia Legal. Mais do que repassar recursos, a iniciativa alimenta um movimento que defende um princípio simples e profundo: a floresta permanece em pé quando aqueles que a habitam têm condições de prosperar.

Esse investimento alcança 26 Terras Indígenas, 30 Unidades de Conservação e um território quilombola, irradiando impactos diretos sobre modos de vida que combinam conhecimento ancestral, autonomia comunitária e soluções produtivas inovadoras. A gerente do LIRA/IPÊ, Fabiana Prado, resume o espírito do programa ao lembrar que cada produto da sociobiodiversidade — de um óleo vegetal a uma peça de artesanato — é uma história de cuidado e resistência que dá sustento à própria Amazônia.

Nos territórios apoiados, essa perspectiva ganha contornos concretos. As 20 organizações indígenas beneficiadas, assim como as quatro quilombolas, as 25 comunitárias e as quatro cooperativas, atuam em cadeias de valor variadas, que vão da castanha-do-brasil aos óleos vegetais, do mel ao turismo comunitário, passando pela pesca artesanal, pelo artesanato e pela vigilância territorial. O resultado é um mosaico de economias locais que movem renda, fortalecem governança e ampliam o protagonismo de mulheres e jovens — pilares de uma bioeconomia guiada pelos próprios territórios.

Nas narrativas de quem vive a Amazônia no cotidiano, o impacto do Fundo LIRA aparece de forma ainda mais vívida. No Amapá, a Associação de Mulheres Mãe Venina, do Quilombo do Curiaú, finalmente concretiza um sonho nutrido há quase três décadas: a construção de sua sede própria. A presidente Keila Paixão descreve a conquista como uma virada histórica para o coletivo de mulheres que, há anos, articula produção artesanal e fortalecimento comunitário.

No Maranhão, o apoio do LIRA está dinamizando a economia de comunidades quilombolas que trabalham com suinocultura ecológica e pesca artesanal. Para Dheyiglison, do Quilombo Rumo, o fomento chega como o impulso necessário para ampliar atividades tradicionais e consolidar autonomia econômica.

Na Floresta Nacional do Tapajós, no Pará, a força feminina transforma sementes em independência financeira. As Amélias da Amazônia, representadas por Maria Nelson, apontam que o aumento da produção de óleo de andiroba e o fortalecimento de toda a cadeia socioprodutiva são passos estratégicos para garantir renda e liderança local feminina.

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Divulgação -LIRA Ciclo

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Já no Amazonas, a Cooperativa Coopem celebra a reforma de casas de farinha — estruturas essenciais para a produção de alimentos. Segundo Lucínio, representante da cooperativa, a adequação às normas sanitárias abre portas para novos mercados e políticas públicas, ampliando a estabilidade econômica das famílias produtoras.

No Acre, lideranças indígenas como Maria Valdenice, do povo Nukini, sintetizam o sentimento coletivo ao descrever o LIRA como sinônimo de liberdade — uma forma de autonomia que conecta tradição, território e futuro. Em Rondônia, Adriano Karipuna reforça que o aporte é o que permite manter ações permanentes de monitoramento e oficinas de fortalecimento territorial na Terra Indígena Karipuna.

Essas diversas vozes expressam a essência do Fundo LIRA: um mecanismo de financiamento direto que chega na base, onde a conservação acontece diariamente. Seus recursos impulsionam iniciativas que combinam saber local com inovação, tornando tangíveis avanços em gestão territorial, fortalecimento institucional, geração de renda e valorização cultural. Assim, o fundo se consolida como um modelo de investimento socioambiental que prioriza quem vive na Amazônia — e que compreende que a conservação não pode ser dissociada das pessoas.

O LIRA reúne uma rede de 125 organizações com atuação em cinco estados amazônicos, articulando conhecimento, inovação e políticas públicas para ampliar a conservação da biodiversidade e a resiliência climática. Sua estrutura é viabilizada com apoio do Fundo Amazônia, da Gordon and Betty Moore Foundation, além de parcerias institucionais com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas – Funai, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, a Secretaria do Meio Ambiente do Amazonas – SEMA-AM e o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará – Ideflor-Bio.

Ao abrir este novo ciclo, o Fundo LIRA reafirma um horizonte no qual desenvolvimento e conservação caminham juntos — e onde a Amazônia é vista não apenas como floresta, mas como território vivo, em movimento contínuo, conduzido por quem o conhece em profundidade.

Emater leva agricultores de Ananindeua para conhecer modelo de cooperativa em Benevides

A rotina de organização social em comunidades rurais costuma avançar em passos curtos, mas firmes. Em Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém, esse movimento ganhou novo impulso com a iniciativa da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater), que decidiu aproximar agricultores locais de uma experiência bem-sucedida de cooperativismo. No próximo dia 10, vinte produtores da comunidade Bom Jesus, no bairro do Aurá, farão uma imersão na estrutura e no funcionamento da Cooperativa Agropecuária de Benevides (Coopaben), instalada no distrito de Benfica, no município vizinho.

A visita integra a programação da Semana Paraense da Extensão Rural, realizada pela Emater em diferentes regiões do Estado desde o início de dezembro. A agenda especial marca os 60 anos da instituição e também celebra o Dia Nacional do Extensionista Rural, comemorado em 6 de dezembro. Trata-se de um encontro simbólico: enquanto a Emater revisita sua história, aposta em novas articulações para fortalecer a agricultura familiar e ampliar o alcance das políticas públicas no Pará.

No caso da comunidade Bom Jesus, o intercâmbio tem um propósito muito claro: oferecer aos agricultores uma referência concreta sobre como uma cooperativa nasce, amadurece e se sustenta ao longo do tempo. O grupo já atua de forma associativa, mas deseja dar um passo adicional e transformar a articulação informal em uma estrutura cooperativa consolidada — projeto que, por enquanto, atende pelo nome provisório de Cooperativa de Produtores Familiares da Comunidade Bom Jesus (Coopaf-BJ). A Emater acompanha de perto esse processo, orientando desde os trâmites legais até os aspectos organizativos e formativos que moldam um empreendimento coletivo.

Segundo a perspectiva dos extensionistas que atuam em Ananindeua, o prazo estimado para que a cooperativa esteja formalmente constituída é de até dois anos. Não se trata apenas de registrar um novo Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica; é um movimento de preparação interna, aprendizado sobre governança e alinhamento de expectativas entre famílias que compartilham desafios, mas também ambições distintas. Para muitas comunidades rurais, essa etapa é decisiva: marca o momento em que deixam de depender de negociações fragmentadas e passam a acessar políticas públicas com mais força e previsibilidade.

Um exemplo disso são os mercados institucionais, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Esses programas privilegiam a compra direta da agricultura familiar, e a participação coletiva via cooperativas amplia a capacidade de fornecimento, a segurança jurídica dos contratos e o alcance dos produtos no mercado institucional. Para os agricultores de Bom Jesus, que trabalham principalmente com o extrativismo de açaí, o plantio de mandioca e seus derivados, a cooperativa pode significar a entrada em um circuito comercial mais estável e menos dependente da informalidade.

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Divulgação – Coopaben

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A visita técnica à Coopaben funciona como um mergulho na prática. A cooperativa de Benevides, atendida há anos pela Emater, já percorreu justamente o caminho que Bom Jesus deseja trilhar. Ver de perto galpões, processos de beneficiamento, formas de gestão e estratégias de comercialização permite entender tanto os acertos quanto as tensões inevitáveis de qualquer organização coletiva. Não é apenas uma demonstração institucional; é um exercício de inspiração.

Para Tangrienne Nemer, engenheira florestal e chefe do escritório local da Emater em Ananindeua, a constituição de uma cooperativa representa um salto qualitativo para qualquer comunidade rural. Ela destaca que a mudança organizativa abre portas, impulsiona oportunidades e amplia a visibilidade das famílias produtoras. O acompanhamento da Emater não se limita ao aspecto técnico; envolve mediação, escuta e apoio contínuo, elementos que geralmente determinam o sucesso ou o fracasso de uma nova cooperativa.

No pano de fundo, essa iniciativa revela algo maior: a busca de agricultores pela autonomia econômica e pela construção de espaços coletivos capazes de negociar em condições mais equilibradas. Em um cenário marcado por oscilações de mercado e desafios logísticos, cooperar é uma forma de resistência, estratégia e esperança. A Semana Paraense da Extensão Rural, ao estimular encontros como esse, reforça a vocação da Emater como articuladora de conexões que transformam realidades.

Tailândia avança em lei climática com imposto de carbono e mercado de emissões

A Tailândia decidiu imprimir um novo ritmo à sua política climática. O governo apresentou um conjunto de medidas que, pela primeira vez, ganha forma dentro de uma lei nacional dedicada às mudanças climáticas. No centro dessa iniciativa está a criação de dois instrumentos que vêm se tornando padrão em países que buscam conciliar competitividade econômica e responsabilidade ambiental: um imposto doméstico sobre carbono e um sistema nacional de comércio de emissões.

Segundo a agência de notícias Bloomberg, que divulgou os primeiros detalhes do plano, a proposta ainda precisa superar etapas legislativas antes de se tornar plenamente efetiva. Mas, mesmo como esboço, já indica uma mudança profunda na forma como o país pretende enfrentar suas emissões de gases de efeito estufa.

As diretrizes foram aprovadas pelo gabinete do primeiro-ministro Anutin Charnvirakul, figura central do governo tailandês e agora responsável por colocar o país em um caminho mais firme rumo à descarbonização. O texto que avança no Parlamento prevê que o novo sistema de cap-and-trade funcionará sob um princípio simples e rigoroso: estabelecer um teto nacional para emissões e permitir que empresas negociem permissões dentro desse limite. Quem emitir menos poderá vender créditos; quem ultrapassar o total permitido terá de comprar permissões adicionais, arcando com o custo da poluição.

Embora esse mecanismo ainda não tenha data para entrar em vigor, trata-se da política climática mais ambiciosa já discutida na Tailândia. Ele se somará ao imposto de carbono, que incidirá sobre mais de 30 produtos e combustíveis — entre eles gasolina, diesel e gás natural liquefeito (GNL). A combinação desses instrumentos deve pressionar setores tradicionalmente dependentes de combustíveis fósseis e incentivar alternativas mais limpas.

Um rascunho anterior da proposta, publicado pelo Departamento de Mudanças Climáticas e Meio Ambiente da Tailândia, indicava que o sistema abrangerá setores como produção de combustíveis fósseis, geração de energia, agricultura, indústria e o segmento de alimentos e bebidas. A gama de setores revela o propósito do governo: atacar as emissões de forma transversal e criar um ambiente de transição energética que afete toda a cadeia produtiva.

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Fábriga em Mueang Yala, Tailândia – Reprodução

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Mas a ambição climática da Tailândia vai além da regulamentação. O país se comprometeu, formalmente, a reduzir suas emissões em 47% até 2035, tomando como base os níveis de 2019. Trata-se de uma meta ousada, ainda mais para um país cuja economia depende, em parte, de atividades industriais e energéticas intensivas em carbono. Segundo projeções divulgadas recentemente, serão necessários mais de 7 bilhões de dólares em investimentos na próxima década para viabilizar a trajetória de descarbonização.

Caso o objetivo seja cumprido, a Tailândia se colocará em rota para atingir a neutralidade de carbono até 2050 — compromisso já registrado junto à Organização das Nações Unidas (ONU). Essa programação alinha o país com as estratégias globais para limitar o aquecimento do planeta e reforça sua posição nas negociações internacionais. O tema, inclusive, dominou discussões recentes na COP30, realizada em Belém, onde países asiáticos enfrentam simultaneamente desafios ambientais e crises humanitárias provocadas por enchentes e eventos extremos.

Há, porém, obstáculos no caminho. O Parlamento ainda precisa validar a lei climática e definir os contornos finais do sistema de comércio de emissões. Governos e empresas também discutem ajustes no modelo, especialmente em relação ao uso de tecnologias consideradas obsoletas, ao desenho do imposto e ao impacto econômico sobre setores que têm menos capacidade de adaptação.

A transição energética, para a Tailândia, não é apenas uma questão ambiental. É, sobretudo, uma disputa sobre como modernizar a economia e reduzir vulnerabilidades estruturais. Ao propor mecanismos que atribuem preço ao carbono, o governo cria incentivos para inovação, eficiência e novas cadeias produtivas. Mas também aciona um efeito cascata de disputas internas, interesses políticos e resistências de setores intensivos em emissões.

A estratégia tailandesa, ainda em construção, coloca o país diante de uma encruzilhada: seguir uma rota mais limpa, ancorada por instrumentos de mercado e tributação ambiental, ou ceder às pressões que historicamente atrasam políticas climáticas ambiciosas no Sudeste Asiático. As próximas votações no Parlamento dirão se esse é, de fato, um ponto de virada ou apenas mais um capítulo de promessas adiadas em um cenário de emergência global.

Câmara avança para derrubar sistema nacional de rastreabilidade de agrotóxicos

A tentativa de criar um sistema nacional para acompanhar, em detalhes, o caminho dos agrotóxicos no Brasil enfrenta um novo revés político em Brasília. A Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Decreto Legislativo 312/2025, que pretende anular a Portaria nº 805/2025 do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). A medida, se confirmada, desmonta uma das principais iniciativas recentes para dar transparência ao mercado de pesticidas, reforçar a fiscalização e permitir que o país conheça, com precisão, onde, quanto e como essas substâncias são utilizadas.

O texto é de autoria do deputado Pedro Lupion, do partido Republicanos-PR, liderança influente da bancada ruralista e presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária. A proposta foi acolhida pelo relator, Rodolfo Nogueira (PL-MS), que defendeu a suspensão da norma por considerar que o MAPA teria ultrapassado os limites legais ao impor exigências de rastreamento consideradas, pelo colegiado, excessivas e inviáveis.

A Portaria nº 805/2025 criaria uma estrutura nacional integrada para monitorar todo o percurso dos defensivos agrícolas: da importação ou fabricação à distribuição, transporte, venda e uso final. O objetivo era semelhante ao de sistemas implementados por países com forte produção agropecuária: rastrear substâncias perigosas, reduzir desvios de finalidade, combater o contrabando e ampliar a capacidade de investigar surtos de intoxicação e contaminação ambiental.

O parecer aprovado na Comissão rejeita essa visão. Nogueira argumentou que a portaria impunha obrigações desproporcionais, como o rastreamento em tempo real de caminhões e a identificação individual de cada embalagem. Para o parlamentar, isso faria com que a norma fosse “manifestamente arbitrária”, impondo custos operacionais que ele considera incompatíveis com a realidade do agronegócio brasileiro. O relator criticou também a adoção compulsória do Sistema Brasil-ID, tecnologia baseada em radiofrequência (RFID) que, segundo ele, estaria defasada desde 2018.

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Autor do PDL que pretende barrar a rastreabilidade dos agrotóxicos: Pedro Lupion. Foto: Renato Araújo / Câmara dos Deputados

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Esse embate revela muito mais do que uma disputa sobre ferramentas tecnológicas. Ele escancara uma divergência histórica entre projetos de fiscalização ambiental e sanitária e os interesses da bancada ruralista, frequentemente contrária ao que chama de “burocratização” da agricultura. Para os defensores do PDL, a portaria criaria um ecossistema de vigilância impraticável e caro. Para ambientalistas e especialistas em saúde pública, ela oferecia uma oportunidade inédita de compreender o ciclo dos pesticidas e enfrentar danos há décadas conhecidos, mas pouco investigados.

O Brasil hoje lidera, com folga, o ranking mundial de consumo de agrotóxicos. Ao mesmo tempo, boa parte dos casos de intoxicação aguda, contaminação de água, deriva aérea e exposição crônica permanece invisível. Sem rastreabilidade, identificar a origem de um surto de intoxicação em trabalhadores rurais, ou o responsável por um lote de alimentos contaminado, torna-se um labirinto burocrático. O mesmo ocorre nas fronteiras agrícolas, onde pesticidas ilegais entram no país com facilidade, abastecendo mercados clandestinos e alimentando o mercado paralelo que há anos preocupa o Ibama e órgãos estaduais de fiscalização.

Pesquisadores de saúde ambiental também alertam para as dificuldades de rastrear a rota dos produtos que chegam a comunidades vulneráveis, terras indígenas e pequenos municípios, onde a vigilância sanitária raramente dispõe de estrutura adequada. Para eles, a rastreabilidade é uma ferramenta de proteção coletiva, não um instrumento de punição ao produtor.

A decisão da Comissão de Agricultura, no entanto, empurra o debate para outro terreno: o da constitucionalidade. O PDL agora segue para análise da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que avaliará se a portaria efetivamente extrapolou o poder regulamentar do Executivo. Caso seja aprovado, o projeto será encaminhado ao plenário da Câmara, onde a correlação de forças entre governo, oposição e bancada ruralista decidirá seu destino.

A disputa sobre a rastreabilidade se tornou, assim, um símbolo de um dilema maior. De um lado, o avanço de políticas que buscam mais controle, transparência e segurança sanitária. De outro, a resistência de setores que enxergam nessas mesmas políticas um risco de aumento de custos e de intervenção estatal no modelo de produção agrícola.

O embate segue aberto. E o resultado terá impacto direto sobre a capacidade do país de lutar contra agrotóxicos ilegais, investigar casos de contaminação e garantir que a produção de alimentos conviva com padrões mínimos de segurança para trabalhadores, consumidores e ecossistemas.

Nova resolução pode reinserir 2 mil áreas protegidas no mapa oficial do Brasil

O Brasil convive, há décadas, com um paradoxo silencioso no coração de sua política ambiental: centenas de áreas destinadas à conservação da natureza simplesmente não “existem” para o sistema oficial que deveria reconhecê-las. Essas unidades estão no território, cumprem funções ambientais relevantes, têm regras de proteção e, muitas vezes, gestão estabelecida, mas permanecem fora do Cadastro Nacional de Unidades de Conservação (CNUC). O problema, acumulado ao longo dos anos, atinge mais de 2.150 áreas protegidas, número que representa quase 40% do que o país efetivamente protege.

A lacuna ocorre por motivos variados: ausência de dados completos sobre a gestão, falhas históricas de registro, divergências entre nomenclaturas locais e categorias previstas na lei federal e, em certos casos, indefinição jurídica sobre o enquadramento dessas áreas. O efeito, entretanto, é concreto e profundo. Ao ficarem de fora do CNUC, essas unidades não entram no mapa oficial da conservação, não aparecem nas estatísticas apresentadas pelo Brasil em acordos internacionais e, sobretudo, não acessam recursos fundamentais, como compensações ambientais ou repasses vinculados ao ICMS Ecológico.

Esse cenário pode mudar nos próximos meses com a tramitação, no Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), de uma resolução elaborada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). A proposta permite que órgãos ambientais federais, estaduais e municipais reconheçam a equivalência entre essas áreas subnotificadas e as categorias oficiais previstas no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Em outras palavras, cria um caminho para que unidades hoje invisíveis sejam formalmente enquadradas e passem a contar no conjunto da proteção ambiental brasileira.

A mudança é vista como estratégica por técnicos e gestores porque atualiza a infraestrutura institucional da conservação. Hoje, o CNUC reúne cerca de 3,3 mil registros, cobrindo áreas como o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, em Minas Gerais, administrado pelo ICMBio e referência em conservação de cavernas. Mas esse número é artificialmente reduzido. Ao excluir milhares de áreas, o cadastro não reflete a extensão real do esforço nacional, subestima a rede de proteção e compromete diagnósticos que orientam fiscalização, investimentos e políticas públicas.

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Foto: Mari Franca / Creative Commons

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A proposta do MMA ganhou apoio técnico de órgãos centrais do Estado. O Ibama avalia que a resolução corrige distorções acumuladas e amplia a segurança jurídica para ações de monitoramento e licenciamento. O ICMBio vê na medida um avanço para integrar dados, padronizar informações e fortalecer a governança entre esferas federativas. A Advocacia-Geral da União também se manifestou favoravelmente, reconhecendo que a equivalência facilita o alinhamento entre legislações estaduais e a lei federal.

Mas os efeitos da proposta não se limitam à técnica normativa. O reconhecimento dessas áreas poderá destravar repasses financeiros essenciais para sua manutenção. Muitas unidades dependem de compensações ambientais — valores pagos por empreendimentos como forma de reparar impactos inevitáveis —, mas só podem receber recursos se estiverem formalmente inscritas no CNUC. Em diversos estados, o enquadramento no cadastro também determina o acesso ao ICMS Ecológico, mecanismo que redistribui parte do imposto estadual para municípios que protegem seus territórios.

Assim, a resolução pode tirar centenas de áreas do que especialistas chamam de “apagão administrativo”: territórios protegidos que existem no papel, mas não no sistema que deveria garantir sua viabilidade. Sem recursos, fiscalização regular e instrumentos de gestão, essas áreas permanecem vulneráveis, mesmo que sua criação tenha sido motivada por ameaças concretas, como desmatamento, caça ou pressão fundiária.

Ao reconhecer oficialmente essas unidades, o país também melhora sua posição em compromissos internacionais, como a Convenção sobre Diversidade Biológica. A subnotificação afeta dados divulgados globalmente e reduz a credibilidade da política ambiental brasileira. A regularização, portanto, também é um ato de diplomacia ambiental.

Mais do que corrigir um banco de dados, a resolução é uma oportunidade de atualizar a leitura que o Brasil faz de si mesmo. A proteção ambiental só funciona plenamente quando o Estado reconhece, integra e fortalece sua rede de unidades de conservação. Ao recompor o mapa real da conservação brasileira, o país se aproxima de uma administração mais transparente, eficaz e alinhada com os desafios contemporâneos de clima e biodiversidade.

Se aprovada, a medida poderá marcar um ponto de inflexão: transformar áreas “fora do mapa” em peças formais do sistema, garantir acesso a recursos e permitir que mais de duas mil unidades deixem o limbo administrativo e passem a contar, de fato, para a proteção da natureza — e para o futuro do país.

Pará adota Cotas de Proteção Ambiental e une agronegócio à conservação

O Estado do Pará vive, em 2025, um momento de virada em sua política ambiental. Com a regulamentação da Cota de Proteção Ambiental (CPA), prevista no Código Florestal Brasileiro e formalizada no Estado por meio do Decreto Estadual nº 4.613/2025, o que era visto como obstáculo para muitos produtores rurais — a regularização ambiental de reservas legais — agora passa a oferecer uma ponte concreta entre produção e preservação.

A CPA transforma florestas sob proteção integral em algo com valor direto: cada cota corresponde a um hectare de unidades de conservação que compõem o Sistema Estadual de Unidades de Conservação da Natureza (SEUC). Quem adquire essas cotas — seja para compensar passivos ambientais ou por opção voluntária — contribui com a proteção da floresta e, ao mesmo tempo, regulariza sua propriedade rural.

O Estado já disponibiliza 5,9 milhões de cotas, e, desde a abertura do sistema, cerca de 22 mil unidades foram vendidas. Isso beneficiou mais de 5 mil propriedades rurais, especialmente em municípios com forte presença agrícola, como Redenção, Pará e Dom Eliseu, Pará. O impacto é duplo: proprietários regularizam suas áreas sem a necessidade de reflorestamento imediato, e as unidades de conservação passam a receber recursos permanentes para sua conservação.

Os pagamentos podem ser feitos de duas formas: anual, a R$ 100 por hectare, ou à vista, por R$ 900 com desconto de 40%. Há ainda a modalidade voluntária — não compensatória — a R$ 60 por hectare para quem quer apoiar a preservação sem necessidade de adequação fundiária.

Para o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-Bio), gestor do SEUC, a CPA representa mais do que uma ferramenta técnica: é um elo entre a economia do campo e a conservação da floresta. Segundo o presidente do instituto, a medida consolida um novo modelo de financiamento, que “torna a produção econômica aliada direta da proteção ambiental”.

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Foto: Ascom Ideflor-Bio

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Na prática, a CPA já permitiu a conclusão de processos de regularização ambiental, antes travados por barreiras logísticas e econômicas. As primeiras propriedades a serem regularizadas foram a Fazenda Goiabeiras (em Pau D’Arco, Pará) e a Fazenda Recanto (em Novo Progresso, Pará), com a emissão oficial dos certificados — marco simbólico que sinaliza o início real da implementação da política.

Para muitos agricultores, a novidade trouxe alívio e a possibilidade de manter a produção sem descumprir a lei ambiental. Como relatou um dos beneficiários, regularizar a reserva legal sozinho era inviável — com a cota, ele conseguiu ajustar sua propriedade e, ainda, contribuir para a floresta.

Mais do que cumprir exigências legais, a CPA inaugura uma lógica renovada: incentiva que quem produz reconheça a floresta como parte da economia. A floresta deixa de ser obstáculo e passa a ser integrada como valor ambiental e social. Essa inversão de lógica — transformar passivo ambiental em ativo de conservação — tem potencial para redefinir a relação entre campo e floresta no Pará.

Para o Estado, o ganho também é institucional. Com a arrecadação das cotas, o SEUC passa a contar com financiamento estável para custear a gestão das unidades protegidas, elaborar planos de manejo, fiscalização e manutenção da biodiversidade.

Em um momento em que o desenvolvimento rural e a preservação ambiental são, por muitos, vistos como polos opostos, a CPA oferece uma ponte concreta: regularização fundiária com responsabilidade socioambiental, rentabilidade para produtores e recursos para proteger a maior floresta tropical do mundo.

Com 5,9 milhões de hectares disponíveis para cotas e milhares de propriedades aderindo, o Pará dá um passo importante — e prático — rumo a um modelo de produção alinhado à conservação. O futuro da floresta e do agronegócio paraense talvez esteja menos em desalinhamento e mais em convergência.