A corrida científica para descobrir espécies antes que a Amazônia desapareça

A Amazônia vive hoje uma corrida silenciosa, marcada não por marcos esportivos, mas pela urgência científica. Pesquisadores tentam identificar espécies antes que desapareçam, pressionados pelo avanço do desmatamento, pelo aquecimento global e pela expansão econômica que alcança até as áreas mais remotas da floresta.

A trajetória do primatologista Rodrigo Costa Araújo ilustra essa disputa desigual contra o tempo. Durante seu doutorado, ele decidiu explorar o Arco do Desmatamento, uma imensa faixa de 500 mil quilômetros quadrados que se estende do Maranhão ao Acre, atravessando também partes do Pará, Mato Grosso e Rondônia. É uma das regiões mais frágeis e aceleradas em degradação dentro da Amazônia. Ali, em meio à perda acelerada de floresta, Araújo buscava preencher lacunas fundamentais sobre os saguis — pequenas espécies de primatas pouco estudadas e altamente vulneráveis.

A urgência é evidente: conforme destaca Rodrigo, saber quantas espécies existem, onde vivem e quais são suas características básicas é o primeiro passo para qualquer estratégia de conservação. Seu trabalho resultou na descrição de duas novas espécies de sagui, incluídas imediatamente na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) como ameaçadas de extinção. Ele também estruturou um banco de dados genético cobrindo 99% das espécies conhecidas.

Mas a descoberta científica avança lentamente. Enquanto isso, a floresta já perdeu 17% de sua vegetação original segundo o MapBiomas, e há sinais de que sua resiliência ao fogo está diminuindo. Para alguns pesquisadores, a Amazônia se aproxima perigosamente de um ponto de não retorno — um limiar em que a floresta perderia a capacidade de se regenerar.

A situação não se limita aos primatas. Estudos recentes mostram que o Brasil concentra o maior potencial mundial de descobertas de novas espécies de vertebrados terrestres. Segundo pesquisa coordenada por Mario Moura, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), 10,4% das descobertas potenciais estão no país, e mais da metade nas florestas tropicais úmidas, como Amazônia e Mata Atlântica. Moura analisou quase 33 mil espécies e modelou a probabilidade de novos registros, revelando que a maior parte das espécies ainda desconhecidas deve estar entre répteis e anfíbios — grupos menos estudados e historicamente menos favorecidos em financiamento e interesse popular.

A dificuldade de acesso às áreas mais isoladas, a falta de taxonomistas e a ausência de políticas continuadas de incentivo científico formam uma combinação que favorece o desconhecido, não o conhecimento. Isso afeta diretamente o ritmo de descobertas. Um estudo de 2014 publicado na revista Conservation Biology estimou que entre 15% e 59% das espécies de vertebrados podem ter desaparecido antes mesmo de serem descritas.

Esse cenário é familiar para pesquisadores como Ana Prudente, do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). Especialista em taxonomia de répteis, ela já descreveu 31 espécies ao longo da carreira, mas vive sob a pressão de um ritmo de extinção que avança mais rápido do que o avanço da ciência. A Amazônia, lembra Prudente, possui ambientes únicos e isolados — alguns inexistem fora da região — o que explica o alto nível de endemismo. Mas também há poucos pesquisadores dedicados a taxonomia, e os desafios logísticos são imensos.

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Primeira espécie descoberta por Rodrigo Costa Araújo – Acervo de Rodrigo Costa

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O problema não é apenas técnico. Também é estrutural. O Brasil forma novos mestres e doutores na área biológica, mas as instituições de pesquisa não têm vagas suficientes para absorvê-los. O próprio Araújo relata que deixou o país durante o governo Bolsonaro por falta de oportunidades de trabalho e só retornou recentemente, com a retomada de investimentos da ciência.

A carência histórica de financiamento público para taxonomia persiste. Um dos poucos editais dedicados ao tema é o Protax, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), lançado periodicamente desde 2005. A edição de 2024 investiu R$ 14 milhões — valor expressivo, mas insuficiente frente à dimensão da Amazônia. A Iniciativa Amazônia +10 somou esforços ao financiar 20 expedições científicas, com orçamento total de R$ 78,2 milhões.

Entre os contemplados está o botânico Charles Zartman, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que lidera um estudo na isolada região da Cabeça do Cachorro, no Alto Rio Negro. O projeto usa métodos inovadores, realizados em parceria com a Universidade de Brasília (UnB), para acelerar a identificação de espécies por meio do sequenciamento de DNA coletado diretamente no campo. A técnica permite mapear a diversidade mesmo antes de encontrar fisicamente o organismo correspondente — uma forma de ganhar tempo diante da velocidade da destruição.

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Acervo de Rodrigo Costa

A ameaça, porém, não vem apenas da falta de conhecimento. Vem da economia. Para Araújo, a ciência avança devagar demais em comparação com atividades como mineração, extração de madeira e expansão de áreas agrícolas. Muitas vezes, quando uma equipe científica se prepara para chegar a um território inexplorado, empreendimentos já se instalaram ali, alterando habitats antes mesmo que fossem estudados.

A Amazônia perdeu 52 milhões de hectares nos últimos 40 anos, segundo o MapBiomas — área equivalente a 13% de toda sua extensão. A maior parte das transformações humanas ocorreu de 1985 a 2024, numa velocidade que deixa claro o desequilíbrio desse jogo.

Ainda assim, pesquisadores insistem em avançar. A ciência é movida não só por necessidade, mas por fascínio. A curiosidade, lembra Araújo, é também motor dessa corrida. Descobrir algo novo, compreender o que compõe o planeta, compartilhar esse conhecimento — isso mantém viva a resistência científica diante das incertezas.

A corrida contra o tempo continua. Mas a cada nova expedição, banco de dados ou técnica de sequenciamento, cresce também a chance de conhecer a Amazônia antes que ela se perca — e de proteger o que ainda não sabemos que existe.

Maranhão inicia mobilização para fortalecer gestão de resíduos nos municípios

O Maranhão iniciou uma nova frente de trabalho para transformar a forma como seus municípios lidam com os resíduos sólidos. A Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Naturais do estado, a Sema, deu partida à etapa presencial do projeto Conexão Resíduos, um esforço articulado com o Governo do Estado do Maranhão para apoiar prefeituras na elaboração dos Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, os PMGIRS. A iniciativa reflete a diretriz municipalista da atual gestão estadual e aposta em participação social, planejamento técnico e formação continuada para desenvolver soluções ancoradas na realidade de cada território.

Os primeiros seminários deste ciclo ocorrem em Santa Luzia do Tide e Porto Franco, cidades que abrem o calendário de encontros regionais. Esses eventos fazem parte de uma engrenagem iniciada meses antes, em setembro, quando equipes técnicas da Sema passaram a visitar municípios, dialogar com gestores e ajudar na elaboração dos Diagnósticos Situacionais. Esse mapeamento preliminar permite recuperar informações estruturantes sobre a realidade ambiental local, identificando pontos críticos e áreas de atenção — lixões, unidades básicas de saúde, espaços de triagem e demais áreas associadas à gestão de resíduos.

Esses diagnósticos são a base para um passo seguinte, crucial: a construção participativa dos planos municipais. É nessa etapa que o Conexão Resíduos ganha sua vocação pedagógica e colaborativa, reunindo sociedade civil, empresas, associações, cooperativas e órgãos públicos para discutir metas e estratégias de acordo com a capacidade e as necessidades de cada cidade. Nos seminários, os participantes analisam o panorama dos resíduos, avaliam desafios estruturais, selecionam prioridades e definem caminhos para alcançar melhorias efetivas.

A Sema também entrega aos municípios um modelo orientador para a estruturação dos PMGIRS, ferramenta que funciona como guia para que os documentos atendam aos critérios exigidos pela legislação ambiental e sejam compatíveis com políticas estaduais e federais. O objetivo é fortalecer a autonomia das gestões locais, sem deixá-las sozinhas diante de exigências técnicas complexas ou da burocracia que normalmente acompanha processos de planejamento ambiental.

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Reprodução

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Segundo a superintendente de Gestão de Resíduos da Sema, Laiana Linhares, o projeto está alinhado ao Plano de Governo Maranhense 2023–2026, especialmente ao Eixo 3 – Maranhão Sustentável. Esse compromisso envolve ampliar o licenciamento ambiental, acelerar o encerramento humanizado de lixões e consolidar soluções sustentáveis para a gestão de resíduos. Na prática, trata-se de promover uma transição que considere as dimensões sociais, econômicas e ambientais desse setor, onde o descaso histórico com o lixo ainda impõe riscos à saúde, degrada ecossistemas e compromete o desenvolvimento local.

Além do trabalho de planejamento e construção dos planos, os encontros oferecem uma capacitação específica sobre licenciamento ambiental. O tema abrange atualização legislativa, rotinas processuais, análise de impactos e modelos de gestão aplicáveis a empreendimentos que lidam direta ou indiretamente com resíduos. A ideia é preparar técnicos municipais para conduzir processos com mais segurança jurídica e mais eficiência, reduzindo gargalos e fortalecendo a atuação institucional.

O Conexão Resíduos também se destaca por abrir espaço para um diálogo mais amplo sobre corresponsabilidade. Ao envolver empresas, cooperativas e associações, reforça-se a percepção de que a gestão de resíduos não é apenas uma atribuição do poder público, mas um desafio coletivo que exige engajamento de todos os setores. Essa abordagem estimula que soluções nasçam do território, valorizando práticas locais e reconhecendo experiências que muitas vezes já acontecem, mas que carecem de apoio institucional para ganhar escala.

Os municípios maranhenses vivem realidades muito distintas, e justamente por isso o planejamento conjunto se torna tão estratégico. Em cidades menores, o desafio pode estar na ausência de estruturas básicas de coleta ou no funcionamento limitado de pequenos aterros. Em centros urbanos maiores, a preocupação inclui o volume elevado de resíduos, a pressão sobre a logística de coleta e a necessidade de ampliar sistemas de reciclagem. Em ambos os cenários, a construção dos PMGIRS é uma oportunidade de reorganizar processos, qualificar equipamentos públicos, reorganizar fluxos de resíduos e fortalecer a participação comunitária.

O avanço dessa agenda demonstra a intenção do estado de consolidar um sistema de gestão mais moderno, inclusivo e ambientalmente responsável. Ao promover capacitação, participação social e planejamento integrado, o Maranhão busca não apenas cumprir normativos ambientais, mas também transformar seus municípios a partir de políticas públicas contínuas, duradouras e conectadas com as mudanças necessárias para um futuro sustentável.

Fundo LIRA investe R$ 6,8 milhões em projetos que movem a sociobiodiversidade da Amazônia

O novo ciclo do Fundo LIRA – Legado Integrado da Região Amazônica — marca um momento decisivo para iniciativas comunitárias que moldam o futuro da floresta com base na sociobiodiversidade. De 2025 a 2026, o fundo, coordenado pelo IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas, direciona R$ 6,8 milhões para 53 projetos conduzidos por povos indígenas, comunidades tradicionais, cooperativas e organizações locais em sete estados da Amazônia Legal. Mais do que repassar recursos, a iniciativa alimenta um movimento que defende um princípio simples e profundo: a floresta permanece em pé quando aqueles que a habitam têm condições de prosperar.

Esse investimento alcança 26 Terras Indígenas, 30 Unidades de Conservação e um território quilombola, irradiando impactos diretos sobre modos de vida que combinam conhecimento ancestral, autonomia comunitária e soluções produtivas inovadoras. A gerente do LIRA/IPÊ, Fabiana Prado, resume o espírito do programa ao lembrar que cada produto da sociobiodiversidade — de um óleo vegetal a uma peça de artesanato — é uma história de cuidado e resistência que dá sustento à própria Amazônia.

Nos territórios apoiados, essa perspectiva ganha contornos concretos. As 20 organizações indígenas beneficiadas, assim como as quatro quilombolas, as 25 comunitárias e as quatro cooperativas, atuam em cadeias de valor variadas, que vão da castanha-do-brasil aos óleos vegetais, do mel ao turismo comunitário, passando pela pesca artesanal, pelo artesanato e pela vigilância territorial. O resultado é um mosaico de economias locais que movem renda, fortalecem governança e ampliam o protagonismo de mulheres e jovens — pilares de uma bioeconomia guiada pelos próprios territórios.

Nas narrativas de quem vive a Amazônia no cotidiano, o impacto do Fundo LIRA aparece de forma ainda mais vívida. No Amapá, a Associação de Mulheres Mãe Venina, do Quilombo do Curiaú, finalmente concretiza um sonho nutrido há quase três décadas: a construção de sua sede própria. A presidente Keila Paixão descreve a conquista como uma virada histórica para o coletivo de mulheres que, há anos, articula produção artesanal e fortalecimento comunitário.

No Maranhão, o apoio do LIRA está dinamizando a economia de comunidades quilombolas que trabalham com suinocultura ecológica e pesca artesanal. Para Dheyiglison, do Quilombo Rumo, o fomento chega como o impulso necessário para ampliar atividades tradicionais e consolidar autonomia econômica.

Na Floresta Nacional do Tapajós, no Pará, a força feminina transforma sementes em independência financeira. As Amélias da Amazônia, representadas por Maria Nelson, apontam que o aumento da produção de óleo de andiroba e o fortalecimento de toda a cadeia socioprodutiva são passos estratégicos para garantir renda e liderança local feminina.

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Divulgação -LIRA Ciclo

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Já no Amazonas, a Cooperativa Coopem celebra a reforma de casas de farinha — estruturas essenciais para a produção de alimentos. Segundo Lucínio, representante da cooperativa, a adequação às normas sanitárias abre portas para novos mercados e políticas públicas, ampliando a estabilidade econômica das famílias produtoras.

No Acre, lideranças indígenas como Maria Valdenice, do povo Nukini, sintetizam o sentimento coletivo ao descrever o LIRA como sinônimo de liberdade — uma forma de autonomia que conecta tradição, território e futuro. Em Rondônia, Adriano Karipuna reforça que o aporte é o que permite manter ações permanentes de monitoramento e oficinas de fortalecimento territorial na Terra Indígena Karipuna.

Essas diversas vozes expressam a essência do Fundo LIRA: um mecanismo de financiamento direto que chega na base, onde a conservação acontece diariamente. Seus recursos impulsionam iniciativas que combinam saber local com inovação, tornando tangíveis avanços em gestão territorial, fortalecimento institucional, geração de renda e valorização cultural. Assim, o fundo se consolida como um modelo de investimento socioambiental que prioriza quem vive na Amazônia — e que compreende que a conservação não pode ser dissociada das pessoas.

O LIRA reúne uma rede de 125 organizações com atuação em cinco estados amazônicos, articulando conhecimento, inovação e políticas públicas para ampliar a conservação da biodiversidade e a resiliência climática. Sua estrutura é viabilizada com apoio do Fundo Amazônia, da Gordon and Betty Moore Foundation, além de parcerias institucionais com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas – Funai, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, a Secretaria do Meio Ambiente do Amazonas – SEMA-AM e o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará – Ideflor-Bio.

Ao abrir este novo ciclo, o Fundo LIRA reafirma um horizonte no qual desenvolvimento e conservação caminham juntos — e onde a Amazônia é vista não apenas como floresta, mas como território vivo, em movimento contínuo, conduzido por quem o conhece em profundidade.

Emater leva agricultores de Ananindeua para conhecer modelo de cooperativa em Benevides

A rotina de organização social em comunidades rurais costuma avançar em passos curtos, mas firmes. Em Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém, esse movimento ganhou novo impulso com a iniciativa da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater), que decidiu aproximar agricultores locais de uma experiência bem-sucedida de cooperativismo. No próximo dia 10, vinte produtores da comunidade Bom Jesus, no bairro do Aurá, farão uma imersão na estrutura e no funcionamento da Cooperativa Agropecuária de Benevides (Coopaben), instalada no distrito de Benfica, no município vizinho.

A visita integra a programação da Semana Paraense da Extensão Rural, realizada pela Emater em diferentes regiões do Estado desde o início de dezembro. A agenda especial marca os 60 anos da instituição e também celebra o Dia Nacional do Extensionista Rural, comemorado em 6 de dezembro. Trata-se de um encontro simbólico: enquanto a Emater revisita sua história, aposta em novas articulações para fortalecer a agricultura familiar e ampliar o alcance das políticas públicas no Pará.

No caso da comunidade Bom Jesus, o intercâmbio tem um propósito muito claro: oferecer aos agricultores uma referência concreta sobre como uma cooperativa nasce, amadurece e se sustenta ao longo do tempo. O grupo já atua de forma associativa, mas deseja dar um passo adicional e transformar a articulação informal em uma estrutura cooperativa consolidada — projeto que, por enquanto, atende pelo nome provisório de Cooperativa de Produtores Familiares da Comunidade Bom Jesus (Coopaf-BJ). A Emater acompanha de perto esse processo, orientando desde os trâmites legais até os aspectos organizativos e formativos que moldam um empreendimento coletivo.

Segundo a perspectiva dos extensionistas que atuam em Ananindeua, o prazo estimado para que a cooperativa esteja formalmente constituída é de até dois anos. Não se trata apenas de registrar um novo Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica; é um movimento de preparação interna, aprendizado sobre governança e alinhamento de expectativas entre famílias que compartilham desafios, mas também ambições distintas. Para muitas comunidades rurais, essa etapa é decisiva: marca o momento em que deixam de depender de negociações fragmentadas e passam a acessar políticas públicas com mais força e previsibilidade.

Um exemplo disso são os mercados institucionais, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Esses programas privilegiam a compra direta da agricultura familiar, e a participação coletiva via cooperativas amplia a capacidade de fornecimento, a segurança jurídica dos contratos e o alcance dos produtos no mercado institucional. Para os agricultores de Bom Jesus, que trabalham principalmente com o extrativismo de açaí, o plantio de mandioca e seus derivados, a cooperativa pode significar a entrada em um circuito comercial mais estável e menos dependente da informalidade.

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Divulgação – Coopaben

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A visita técnica à Coopaben funciona como um mergulho na prática. A cooperativa de Benevides, atendida há anos pela Emater, já percorreu justamente o caminho que Bom Jesus deseja trilhar. Ver de perto galpões, processos de beneficiamento, formas de gestão e estratégias de comercialização permite entender tanto os acertos quanto as tensões inevitáveis de qualquer organização coletiva. Não é apenas uma demonstração institucional; é um exercício de inspiração.

Para Tangrienne Nemer, engenheira florestal e chefe do escritório local da Emater em Ananindeua, a constituição de uma cooperativa representa um salto qualitativo para qualquer comunidade rural. Ela destaca que a mudança organizativa abre portas, impulsiona oportunidades e amplia a visibilidade das famílias produtoras. O acompanhamento da Emater não se limita ao aspecto técnico; envolve mediação, escuta e apoio contínuo, elementos que geralmente determinam o sucesso ou o fracasso de uma nova cooperativa.

No pano de fundo, essa iniciativa revela algo maior: a busca de agricultores pela autonomia econômica e pela construção de espaços coletivos capazes de negociar em condições mais equilibradas. Em um cenário marcado por oscilações de mercado e desafios logísticos, cooperar é uma forma de resistência, estratégia e esperança. A Semana Paraense da Extensão Rural, ao estimular encontros como esse, reforça a vocação da Emater como articuladora de conexões que transformam realidades.

Tailândia avança em lei climática com imposto de carbono e mercado de emissões

A Tailândia decidiu imprimir um novo ritmo à sua política climática. O governo apresentou um conjunto de medidas que, pela primeira vez, ganha forma dentro de uma lei nacional dedicada às mudanças climáticas. No centro dessa iniciativa está a criação de dois instrumentos que vêm se tornando padrão em países que buscam conciliar competitividade econômica e responsabilidade ambiental: um imposto doméstico sobre carbono e um sistema nacional de comércio de emissões.

Segundo a agência de notícias Bloomberg, que divulgou os primeiros detalhes do plano, a proposta ainda precisa superar etapas legislativas antes de se tornar plenamente efetiva. Mas, mesmo como esboço, já indica uma mudança profunda na forma como o país pretende enfrentar suas emissões de gases de efeito estufa.

As diretrizes foram aprovadas pelo gabinete do primeiro-ministro Anutin Charnvirakul, figura central do governo tailandês e agora responsável por colocar o país em um caminho mais firme rumo à descarbonização. O texto que avança no Parlamento prevê que o novo sistema de cap-and-trade funcionará sob um princípio simples e rigoroso: estabelecer um teto nacional para emissões e permitir que empresas negociem permissões dentro desse limite. Quem emitir menos poderá vender créditos; quem ultrapassar o total permitido terá de comprar permissões adicionais, arcando com o custo da poluição.

Embora esse mecanismo ainda não tenha data para entrar em vigor, trata-se da política climática mais ambiciosa já discutida na Tailândia. Ele se somará ao imposto de carbono, que incidirá sobre mais de 30 produtos e combustíveis — entre eles gasolina, diesel e gás natural liquefeito (GNL). A combinação desses instrumentos deve pressionar setores tradicionalmente dependentes de combustíveis fósseis e incentivar alternativas mais limpas.

Um rascunho anterior da proposta, publicado pelo Departamento de Mudanças Climáticas e Meio Ambiente da Tailândia, indicava que o sistema abrangerá setores como produção de combustíveis fósseis, geração de energia, agricultura, indústria e o segmento de alimentos e bebidas. A gama de setores revela o propósito do governo: atacar as emissões de forma transversal e criar um ambiente de transição energética que afete toda a cadeia produtiva.

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Fábriga em Mueang Yala, Tailândia – Reprodução

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Mas a ambição climática da Tailândia vai além da regulamentação. O país se comprometeu, formalmente, a reduzir suas emissões em 47% até 2035, tomando como base os níveis de 2019. Trata-se de uma meta ousada, ainda mais para um país cuja economia depende, em parte, de atividades industriais e energéticas intensivas em carbono. Segundo projeções divulgadas recentemente, serão necessários mais de 7 bilhões de dólares em investimentos na próxima década para viabilizar a trajetória de descarbonização.

Caso o objetivo seja cumprido, a Tailândia se colocará em rota para atingir a neutralidade de carbono até 2050 — compromisso já registrado junto à Organização das Nações Unidas (ONU). Essa programação alinha o país com as estratégias globais para limitar o aquecimento do planeta e reforça sua posição nas negociações internacionais. O tema, inclusive, dominou discussões recentes na COP30, realizada em Belém, onde países asiáticos enfrentam simultaneamente desafios ambientais e crises humanitárias provocadas por enchentes e eventos extremos.

Há, porém, obstáculos no caminho. O Parlamento ainda precisa validar a lei climática e definir os contornos finais do sistema de comércio de emissões. Governos e empresas também discutem ajustes no modelo, especialmente em relação ao uso de tecnologias consideradas obsoletas, ao desenho do imposto e ao impacto econômico sobre setores que têm menos capacidade de adaptação.

A transição energética, para a Tailândia, não é apenas uma questão ambiental. É, sobretudo, uma disputa sobre como modernizar a economia e reduzir vulnerabilidades estruturais. Ao propor mecanismos que atribuem preço ao carbono, o governo cria incentivos para inovação, eficiência e novas cadeias produtivas. Mas também aciona um efeito cascata de disputas internas, interesses políticos e resistências de setores intensivos em emissões.

A estratégia tailandesa, ainda em construção, coloca o país diante de uma encruzilhada: seguir uma rota mais limpa, ancorada por instrumentos de mercado e tributação ambiental, ou ceder às pressões que historicamente atrasam políticas climáticas ambiciosas no Sudeste Asiático. As próximas votações no Parlamento dirão se esse é, de fato, um ponto de virada ou apenas mais um capítulo de promessas adiadas em um cenário de emergência global.

Câmara avança para derrubar sistema nacional de rastreabilidade de agrotóxicos

A tentativa de criar um sistema nacional para acompanhar, em detalhes, o caminho dos agrotóxicos no Brasil enfrenta um novo revés político em Brasília. A Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Decreto Legislativo 312/2025, que pretende anular a Portaria nº 805/2025 do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). A medida, se confirmada, desmonta uma das principais iniciativas recentes para dar transparência ao mercado de pesticidas, reforçar a fiscalização e permitir que o país conheça, com precisão, onde, quanto e como essas substâncias são utilizadas.

O texto é de autoria do deputado Pedro Lupion, do partido Republicanos-PR, liderança influente da bancada ruralista e presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária. A proposta foi acolhida pelo relator, Rodolfo Nogueira (PL-MS), que defendeu a suspensão da norma por considerar que o MAPA teria ultrapassado os limites legais ao impor exigências de rastreamento consideradas, pelo colegiado, excessivas e inviáveis.

A Portaria nº 805/2025 criaria uma estrutura nacional integrada para monitorar todo o percurso dos defensivos agrícolas: da importação ou fabricação à distribuição, transporte, venda e uso final. O objetivo era semelhante ao de sistemas implementados por países com forte produção agropecuária: rastrear substâncias perigosas, reduzir desvios de finalidade, combater o contrabando e ampliar a capacidade de investigar surtos de intoxicação e contaminação ambiental.

O parecer aprovado na Comissão rejeita essa visão. Nogueira argumentou que a portaria impunha obrigações desproporcionais, como o rastreamento em tempo real de caminhões e a identificação individual de cada embalagem. Para o parlamentar, isso faria com que a norma fosse “manifestamente arbitrária”, impondo custos operacionais que ele considera incompatíveis com a realidade do agronegócio brasileiro. O relator criticou também a adoção compulsória do Sistema Brasil-ID, tecnologia baseada em radiofrequência (RFID) que, segundo ele, estaria defasada desde 2018.

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Autor do PDL que pretende barrar a rastreabilidade dos agrotóxicos: Pedro Lupion. Foto: Renato Araújo / Câmara dos Deputados

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Esse embate revela muito mais do que uma disputa sobre ferramentas tecnológicas. Ele escancara uma divergência histórica entre projetos de fiscalização ambiental e sanitária e os interesses da bancada ruralista, frequentemente contrária ao que chama de “burocratização” da agricultura. Para os defensores do PDL, a portaria criaria um ecossistema de vigilância impraticável e caro. Para ambientalistas e especialistas em saúde pública, ela oferecia uma oportunidade inédita de compreender o ciclo dos pesticidas e enfrentar danos há décadas conhecidos, mas pouco investigados.

O Brasil hoje lidera, com folga, o ranking mundial de consumo de agrotóxicos. Ao mesmo tempo, boa parte dos casos de intoxicação aguda, contaminação de água, deriva aérea e exposição crônica permanece invisível. Sem rastreabilidade, identificar a origem de um surto de intoxicação em trabalhadores rurais, ou o responsável por um lote de alimentos contaminado, torna-se um labirinto burocrático. O mesmo ocorre nas fronteiras agrícolas, onde pesticidas ilegais entram no país com facilidade, abastecendo mercados clandestinos e alimentando o mercado paralelo que há anos preocupa o Ibama e órgãos estaduais de fiscalização.

Pesquisadores de saúde ambiental também alertam para as dificuldades de rastrear a rota dos produtos que chegam a comunidades vulneráveis, terras indígenas e pequenos municípios, onde a vigilância sanitária raramente dispõe de estrutura adequada. Para eles, a rastreabilidade é uma ferramenta de proteção coletiva, não um instrumento de punição ao produtor.

A decisão da Comissão de Agricultura, no entanto, empurra o debate para outro terreno: o da constitucionalidade. O PDL agora segue para análise da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que avaliará se a portaria efetivamente extrapolou o poder regulamentar do Executivo. Caso seja aprovado, o projeto será encaminhado ao plenário da Câmara, onde a correlação de forças entre governo, oposição e bancada ruralista decidirá seu destino.

A disputa sobre a rastreabilidade se tornou, assim, um símbolo de um dilema maior. De um lado, o avanço de políticas que buscam mais controle, transparência e segurança sanitária. De outro, a resistência de setores que enxergam nessas mesmas políticas um risco de aumento de custos e de intervenção estatal no modelo de produção agrícola.

O embate segue aberto. E o resultado terá impacto direto sobre a capacidade do país de lutar contra agrotóxicos ilegais, investigar casos de contaminação e garantir que a produção de alimentos conviva com padrões mínimos de segurança para trabalhadores, consumidores e ecossistemas.

Nova resolução pode reinserir 2 mil áreas protegidas no mapa oficial do Brasil

O Brasil convive, há décadas, com um paradoxo silencioso no coração de sua política ambiental: centenas de áreas destinadas à conservação da natureza simplesmente não “existem” para o sistema oficial que deveria reconhecê-las. Essas unidades estão no território, cumprem funções ambientais relevantes, têm regras de proteção e, muitas vezes, gestão estabelecida, mas permanecem fora do Cadastro Nacional de Unidades de Conservação (CNUC). O problema, acumulado ao longo dos anos, atinge mais de 2.150 áreas protegidas, número que representa quase 40% do que o país efetivamente protege.

A lacuna ocorre por motivos variados: ausência de dados completos sobre a gestão, falhas históricas de registro, divergências entre nomenclaturas locais e categorias previstas na lei federal e, em certos casos, indefinição jurídica sobre o enquadramento dessas áreas. O efeito, entretanto, é concreto e profundo. Ao ficarem de fora do CNUC, essas unidades não entram no mapa oficial da conservação, não aparecem nas estatísticas apresentadas pelo Brasil em acordos internacionais e, sobretudo, não acessam recursos fundamentais, como compensações ambientais ou repasses vinculados ao ICMS Ecológico.

Esse cenário pode mudar nos próximos meses com a tramitação, no Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), de uma resolução elaborada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). A proposta permite que órgãos ambientais federais, estaduais e municipais reconheçam a equivalência entre essas áreas subnotificadas e as categorias oficiais previstas no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). Em outras palavras, cria um caminho para que unidades hoje invisíveis sejam formalmente enquadradas e passem a contar no conjunto da proteção ambiental brasileira.

A mudança é vista como estratégica por técnicos e gestores porque atualiza a infraestrutura institucional da conservação. Hoje, o CNUC reúne cerca de 3,3 mil registros, cobrindo áreas como o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, em Minas Gerais, administrado pelo ICMBio e referência em conservação de cavernas. Mas esse número é artificialmente reduzido. Ao excluir milhares de áreas, o cadastro não reflete a extensão real do esforço nacional, subestima a rede de proteção e compromete diagnósticos que orientam fiscalização, investimentos e políticas públicas.

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Foto: Mari Franca / Creative Commons

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A proposta do MMA ganhou apoio técnico de órgãos centrais do Estado. O Ibama avalia que a resolução corrige distorções acumuladas e amplia a segurança jurídica para ações de monitoramento e licenciamento. O ICMBio vê na medida um avanço para integrar dados, padronizar informações e fortalecer a governança entre esferas federativas. A Advocacia-Geral da União também se manifestou favoravelmente, reconhecendo que a equivalência facilita o alinhamento entre legislações estaduais e a lei federal.

Mas os efeitos da proposta não se limitam à técnica normativa. O reconhecimento dessas áreas poderá destravar repasses financeiros essenciais para sua manutenção. Muitas unidades dependem de compensações ambientais — valores pagos por empreendimentos como forma de reparar impactos inevitáveis —, mas só podem receber recursos se estiverem formalmente inscritas no CNUC. Em diversos estados, o enquadramento no cadastro também determina o acesso ao ICMS Ecológico, mecanismo que redistribui parte do imposto estadual para municípios que protegem seus territórios.

Assim, a resolução pode tirar centenas de áreas do que especialistas chamam de “apagão administrativo”: territórios protegidos que existem no papel, mas não no sistema que deveria garantir sua viabilidade. Sem recursos, fiscalização regular e instrumentos de gestão, essas áreas permanecem vulneráveis, mesmo que sua criação tenha sido motivada por ameaças concretas, como desmatamento, caça ou pressão fundiária.

Ao reconhecer oficialmente essas unidades, o país também melhora sua posição em compromissos internacionais, como a Convenção sobre Diversidade Biológica. A subnotificação afeta dados divulgados globalmente e reduz a credibilidade da política ambiental brasileira. A regularização, portanto, também é um ato de diplomacia ambiental.

Mais do que corrigir um banco de dados, a resolução é uma oportunidade de atualizar a leitura que o Brasil faz de si mesmo. A proteção ambiental só funciona plenamente quando o Estado reconhece, integra e fortalece sua rede de unidades de conservação. Ao recompor o mapa real da conservação brasileira, o país se aproxima de uma administração mais transparente, eficaz e alinhada com os desafios contemporâneos de clima e biodiversidade.

Se aprovada, a medida poderá marcar um ponto de inflexão: transformar áreas “fora do mapa” em peças formais do sistema, garantir acesso a recursos e permitir que mais de duas mil unidades deixem o limbo administrativo e passem a contar, de fato, para a proteção da natureza — e para o futuro do país.

Pará adota Cotas de Proteção Ambiental e une agronegócio à conservação

O Estado do Pará vive, em 2025, um momento de virada em sua política ambiental. Com a regulamentação da Cota de Proteção Ambiental (CPA), prevista no Código Florestal Brasileiro e formalizada no Estado por meio do Decreto Estadual nº 4.613/2025, o que era visto como obstáculo para muitos produtores rurais — a regularização ambiental de reservas legais — agora passa a oferecer uma ponte concreta entre produção e preservação.

A CPA transforma florestas sob proteção integral em algo com valor direto: cada cota corresponde a um hectare de unidades de conservação que compõem o Sistema Estadual de Unidades de Conservação da Natureza (SEUC). Quem adquire essas cotas — seja para compensar passivos ambientais ou por opção voluntária — contribui com a proteção da floresta e, ao mesmo tempo, regulariza sua propriedade rural.

O Estado já disponibiliza 5,9 milhões de cotas, e, desde a abertura do sistema, cerca de 22 mil unidades foram vendidas. Isso beneficiou mais de 5 mil propriedades rurais, especialmente em municípios com forte presença agrícola, como Redenção, Pará e Dom Eliseu, Pará. O impacto é duplo: proprietários regularizam suas áreas sem a necessidade de reflorestamento imediato, e as unidades de conservação passam a receber recursos permanentes para sua conservação.

Os pagamentos podem ser feitos de duas formas: anual, a R$ 100 por hectare, ou à vista, por R$ 900 com desconto de 40%. Há ainda a modalidade voluntária — não compensatória — a R$ 60 por hectare para quem quer apoiar a preservação sem necessidade de adequação fundiária.

Para o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-Bio), gestor do SEUC, a CPA representa mais do que uma ferramenta técnica: é um elo entre a economia do campo e a conservação da floresta. Segundo o presidente do instituto, a medida consolida um novo modelo de financiamento, que “torna a produção econômica aliada direta da proteção ambiental”.

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Foto: Ascom Ideflor-Bio

SAIBA MAIS: Maranhão lança Conexão Resíduos para combater lixões e fortalecer municípios

Na prática, a CPA já permitiu a conclusão de processos de regularização ambiental, antes travados por barreiras logísticas e econômicas. As primeiras propriedades a serem regularizadas foram a Fazenda Goiabeiras (em Pau D’Arco, Pará) e a Fazenda Recanto (em Novo Progresso, Pará), com a emissão oficial dos certificados — marco simbólico que sinaliza o início real da implementação da política.

Para muitos agricultores, a novidade trouxe alívio e a possibilidade de manter a produção sem descumprir a lei ambiental. Como relatou um dos beneficiários, regularizar a reserva legal sozinho era inviável — com a cota, ele conseguiu ajustar sua propriedade e, ainda, contribuir para a floresta.

Mais do que cumprir exigências legais, a CPA inaugura uma lógica renovada: incentiva que quem produz reconheça a floresta como parte da economia. A floresta deixa de ser obstáculo e passa a ser integrada como valor ambiental e social. Essa inversão de lógica — transformar passivo ambiental em ativo de conservação — tem potencial para redefinir a relação entre campo e floresta no Pará.

Para o Estado, o ganho também é institucional. Com a arrecadação das cotas, o SEUC passa a contar com financiamento estável para custear a gestão das unidades protegidas, elaborar planos de manejo, fiscalização e manutenção da biodiversidade.

Em um momento em que o desenvolvimento rural e a preservação ambiental são, por muitos, vistos como polos opostos, a CPA oferece uma ponte concreta: regularização fundiária com responsabilidade socioambiental, rentabilidade para produtores e recursos para proteger a maior floresta tropical do mundo.

Com 5,9 milhões de hectares disponíveis para cotas e milhares de propriedades aderindo, o Pará dá um passo importante — e prático — rumo a um modelo de produção alinhado à conservação. O futuro da floresta e do agronegócio paraense talvez esteja menos em desalinhamento e mais em convergência.

Maranhão lança Conexão Resíduos para combater lixões e fortalecer municípios

O desafio de tratar o lixo no interior do Maranhão começa a ganhar contornos mais organizados e participativos. A Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Naturais do Maranhão (Sema) iniciou recentemente a mobilização presencial do programa Conexão Resíduos, com o objetivo de apoiar os municípios na criação e implantação dos seus próprios planos de gestão integrada de resíduos sólidos — os chamados PMGIRS. A ação representa uma virada no compromisso com o saneamento, a saúde pública e a sustentabilidade em diferentes regiões do estado, com o envolvimento de governos locais, sociedade civil, setor privado e comunidades.

Os primeiros seminários que marcam essa fase de construção participativa ocorrem nos municípios de Santa Luzia do Tide e Porto Franco, nos dias 2 e 4 de dezembro, respectivamente. Nessas ocasiões, será apresentado o diagnóstico situacional de cada localidade — um mapeamento detalhado da infraestrutura existente, dos pontos críticos como lixões ou áreas de descarte irregular, e das demandas urgentes ligadas ao manejo de resíduos. A partir daí, os participantes coletivamente definirão metas, diretrizes e estratégias para a gestão sustentável dos resíduos sólidos, com base em modelos prontos desenvolvidos pela Sema.

Desde setembro, equipes técnicas da Sema têm percorrido municípios maranhenses, orientando prefeituras sobre a metodologia de diagnóstico, visitando locais sensíveis e reunindo dados sobre a realidade institucional e ambiental de cada território. Esse levantamento preliminar é a base para que os futuros PMGIRS não sejam documentos de intentos, mas planos operacionais, adaptados à realidade local, com metas claras e participação comunitária. A ideia é encerrar o ciclo dos lixões a céu aberto por meio de soluções ambientalmente adequadas e inclusivas.

A construção dos planos será coletiva: moradores locais, associações comunitárias, cooperativas de catadores, empresas privadas, lideranças municipais e órgãos públicos deverão colaborar, desenhando um sistema que respeite as particularidades de cada cidade. A inclusão da sociedade civil e do setor privado como parte do processo aumenta a legitimidade das ações e facilita o comprometimento com a implementação. O momento também servirá para sensibilizar e mobilizar a população sobre boas práticas de separação, coleta e destinação do lixo, algo que historicamente tem ficado fora do alcance de muitas comunidades rurais e semiurbanas.

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Além do diagnóstico e da definição de metas, os seminários contarão com uma capacitação técnica sobre licenciamento ambiental. A proposta é atualizar gestores, técnicos municipais e lideranças locais sobre normas e exigências legais, gestão de projetos e os impactos ambientais associados ao manejo inadequado de resíduos. Essa formação visa garantir que os futuros planos municipais estejam em conformidade com a legislação, evitando falhas que possam comprometer a eficácia do sistema e os direitos ambientais da população.

Para a superintendente de Gestão de Resíduos da Sema, Laiana Linhares, a iniciativa está alinhada às diretrizes do Plano de Governo Maranhense 2023–2026, especialmente no eixo denominado “Maranhão Sustentável”. Segundo ela, o projeto de resíduos sólidos é peça-chave para garantir o encerramento humanizado dos lixões e promover alternativas viáveis de destinação, reciclagem e reaproveitamento. “Não basta apenas fechar os lixões; é necessário construir, de forma coletiva, soluções permanentes que integrem gestão ambiental, saúde pública, economia local e participação social”, afirma.

A importância da ação vai além do descarte correto do lixo. A gestão integrada traz benefícios amplos: evita contaminação do solo e da água, reduz riscos à saúde da população, valoriza o material reciclável, gera trabalho e renda para cooperativas de catadores, e fortalece a governança local. Em longo prazo, um sistema de resíduos bem estruturado contribui para a qualidade de vida, para o meio ambiente e para o desenvolvimento sustentável dos municípios.

O formato do programa — com diagnóstico local, participação comunitária, capacitação técnica e planejamento estruturado — evidencia uma mudança de paradigma: o lixo deixa de ser visto como problema isolado e passa a ser tratado como um desafio coletivo e sistêmico, que exige articulação entre diferentes atores. O “Conexão Resíduos” pode se tornar um modelo de referência para estados brasileiros que ainda lutam com o descarte irregular e a ausência de políticas efetivas de saneamento.

Ao priorizar o diálogo, a inclusão de atores diversos e a formação técnica, o governo do Maranhão demonstra que a gestão de resíduos sólidos não é só uma questão ambiental — é também uma questão de justiça social, saúde pública e dignidade humana. O sucesso dessa iniciativa dependerá da participação ativa de prefeitos, gestores, da sociedade civil e da própria população; mas os primeiros passos já indicam uma rota promissora para o futuro dos municípios envolvidos.

Estudo global revela homogeneidade assustadora do lixo em rios e mares

Quase metade dos ambientes aquáticos do planeta convive hoje com um nível de sujeira que compromete ecossistemas inteiros e desafia a capacidade de resposta dos governos. Essa é a principal conclusão de uma ampla síntese científica conduzida por pesquisadores do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (IMar), da Unifesp, que analisaram 6.049 registros de contaminação por lixo distribuídos em todos os continentes entre 2013 e 2023. A escala usada para medir o problema foi o Clean-Coast Index (CCI), referência internacional para avaliar a densidade de resíduos sólidos em praias, estuários, manguezais e margens de rios.

O levantamento, publicado no periódico Journal of Hazardous Materials, revela que 46% dos ambientes monitorados se enquadram nas categorias sujo ou extremamente sujo. Esses números, embora alarmantes, oferecem uma visão global inédita sobre a extensão do problema. Coordenado pelo pesquisador Ítalo Braga de Castro e liderado pelo doutorando Victor Vasques Ribeiro, o estudo reuniu dados dispersos na literatura científica e os sistematizou para construir o retrato mais abrangente disponível até hoje da contaminação aquática por lixo.

O Brasil aparece como um dos países que mais produziram registros ao longo da última década. Porém, essa grande quantidade de dados não significa que a situação seja melhor que em outras regiões. Cerca de 30% dos ambientes costeiros brasileiros são classificados como sujos ou extremamente sujos. E casos emblemáticos de contaminação, como os manguezais de Santos, situados a poucos quilômetros da maior metrópole do país, figuram entre os mais críticos do mundo.

Ao examinar milhares de pontos de coleta, os pesquisadores identificaram algo surpreendente: a composição do lixo é praticamente a mesma, independentemente do país, do clima, do nível de renda ou de hábitos culturais locais. Plásticos e bitucas de cigarro dominam a paisagem. Somados, chegam a quase 80% dos resíduos encontrados. Os plásticos lideram com folga, representando 68% dos itens observados, impulsionados por sua durabilidade e pela capacidade de se fragmentar em micro e nanoplásticos que viajam por longas distâncias. Já as bitucas, responsáveis por 11%, carregam mais de 150 substâncias tóxicas, suficientes para comprometer organismos aquáticos mesmo em pequenas concentrações.

O trabalho também reforça o papel estratégico das áreas protegidas. Foram analisadas 445 unidades de conservação de 52 países, e a conclusão é clara: ambientes protegidos podem registrar até sete vezes menos lixo. Cerca de metade delas foi considerada limpa ou muito limpa. No entanto, essa proteção não é uma blindagem absoluta. Pelos dados, aproximadamente 31% das áreas protegidas avaliadas são sujas ou extremamente sujas, revelando que barreiras legais não conseguem conter, sozinhas, a pressão exercida por atividades humanas no entorno.

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Uma das contribuições mais inovadoras da pesquisa foi demonstrar o “efeito de borda” nas unidades de conservação. O acúmulo de lixo tende a se concentrar nas franjas desses territórios, áreas onde os impactos das cidades, do turismo e das atividades econômicas vizinhas transbordam com maior intensidade. Para o pesquisador Danilo Freitas Rangel, esse padrão indica a urgência de políticas de amortecimento territorial que protejam não apenas o interior das áreas preservadas, mas também suas zonas de transição.

Outro destaque é a incorporação de indicadores socioeconômicos globais, por meio do Global Gridded Relative Deprivation Index (GRDI), que permitiu avaliar o vínculo entre desenvolvimento econômico e níveis de contaminação. Nas áreas não protegidas, a relação é não linear: a sujeira aumenta nos estágios iniciais de desenvolvimento, mas tende a recuar quando a infraestrutura e a governança ambiental alcançam um patamar mais robusto. Dentro das áreas protegidas, no entanto, ocorre o inverso: o desenvolvimento tende a elevar a contaminação, sinalizando que investimentos em gestão não acompanham o avanço econômico.

O estudo, apoiado pela FAPESP, reforça que enfrentar a crise do lixo depende de ações coordenadas em escala global. Isso inclui reduzir a produção de plásticos descartáveis, aprimorar sistemas de coleta e reciclagem e avançar em acordos multilaterais. Nesse sentido, os dados reunidos pela equipe da Unifesp chegam em momento estratégico para negociações internacionais, como o Tratado Global do Plástico e o Marco Global da Biodiversidade de Kunming-Montreal. Pela primeira vez, negociadores contam com uma base científica consolidada para orientar decisões urgentes em defesa dos ecossistemas aquáticos do planeta.

Como a ciência dá novo valor ao farelo de soja e às cascas de cacau

A busca por métodos mais limpos e eficientes para aproveitar o potencial nutricional e econômico de resíduos agroindustriais, como do cacau e soja, tem avançado de maneira consistente no Brasil. Um desses avanços nasce na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde pesquisadores desenvolveram um processo capaz de extrair isoflavonas do farelo de soja usando apenas solventes ambientalmente seguros e tecnologia de ondas ultrassônicas. O resultado combina economia de tempo, redução do impacto ambiental e aumento da biodisponibilidade das moléculas, o que abre novas frentes para sua aplicação em alimentos, cosméticos e suplementos.

As isoflavonas já são amplamente conhecidas pela comunidade científica devido à sua ação antioxidante, antimicrobiana, anticancerígena e por seu papel na modulação hormonal, sobretudo na saúde da mulher. Seus derivados genisteína e daidzeína, que se ligam a receptores de estrogênio, ajudam no equilíbrio metabólico e podem amenizar sintomas da menopausa. No entanto, a extração tradicional dessas substâncias ainda depende de métodos demorados e solventes tóxicos, o que limita seu uso em escala comercial sustentável.

No Laboratório Multidisciplinar de Alimentação e Saúde da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp, o pesquisador Pedro Henrique Santos e sua equipe decidiram enfrentar esse obstáculo. Utilizando uma combinação de solventes verdes submetidos a alta pressão e ondas ultrassônicas, o grupo conseguiu criar um sistema que rompe as estruturas do farelo de forma mais eficiente, liberando as isoflavonas com menor gasto energético e sem resíduos nocivos.

Após identificar a configuração ideal para extrair o maior volume de compostos, os cientistas aplicaram uma etapa adicional: a hidrólise enzimática. Essa fase final fragmenta as moléculas complexas e transforma as isoflavonas em suas formas mais ativas, genisteína e daidzeína, facilitando sua absorção pelo organismo. A integração dos processos reduziu pela metade o tempo necessário para a extração, gerou um extrato pronto para uso industrial e ainda preservou a fração proteica do farelo, que pode ser reaproveitada em rações ou suplementos proteicos à base de plantas.

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O avanço não se restringiu ao setor da soja. Parte dos mesmos pesquisadores decidiu explorar um subproduto abundante e frequentemente descartado: as cascas das amêndoas de cacau. Aromáticas como os tradicionais nibs, porém altamente fibrosas, elas têm sido ignoradas pela indústria apesar do conteúdo significativo de compostos bioativos. A equipe viu ali uma oportunidade de aumentar o valor econômico da cadeia do cacau e, ao mesmo tempo, desenvolver alternativas de ingredientes funcionais.

Com o apoio da pesquisadora María González-Miquel, da Universidad Politécnica de Madrid, e de Dario Arrua, do Future Industries Institute da University of South Australia, os estudos ganharam escala. Usando um sistema de extração sob pressão que opera com água e etanol, os pesquisadores conseguiram separar compostos como teobromina, cafeína e fenóis – todos com potencial para aplicações em alimentos, bebidas e produtos dermatológicos.

A solução obtida é posteriormente direcionada a um filtro inteligente, capaz de particionar as moléculas de acordo com sua afinidade química. Assim, frações ricas em teobromina podem ser isoladas para uso específico, enquanto outras contendo cafeína ou fenólicos são purificadas para aplicações distintas. Esse processo não só simplifica o controle de qualidade da matéria-prima vegetal como também permite que indústrias obtenham frações direcionadas com grau de pureza mais elevado.

Coordenadas pelo pesquisador Mauricio Ariel Rostagno e financiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), as duas frentes de investigação mostram como tecnologias sustentáveis podem redefinir o uso de resíduos agroindustriais. Mais do que ampliar a oferta de ingredientes funcionais, elas indicam modelos de produção que conciliam inovação, economia e responsabilidade ambiental. As descobertas já foram publicadas na revista Food Chemistry e apontam para um cenário em que materiais considerados descartáveis ganham novo valor e aplicabilidade.

Abastecimento de água avança e transforma comunidades rurais no Pará

O Governo do Pará abriu um novo processo seletivo simplificado que busca reforçar equipes técnicas e administrativas da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia, a Sedeme. O edital, publicado no Diário Oficial do Estado, marca mais uma etapa do esforço do governo para recompor forças de trabalho e garantir que áreas estratégicas continuem funcionando com apoio profissional qualificado.

O PSS prevê a contratação temporária de 17 servidores, distribuídos entre cargos de nível fundamental, médio e superior. O formato expressamente dinâmico do processo — com inscrições em curto prazo e fases objetivas — reflete a intenção de acelerar a entrada de profissionais em áreas consideradas essenciais para o planejamento econômico, a gestão mineral e o fortalecimento da política energética do Pará.

As inscrições são gratuitas e devem ser feitas exclusivamente pelo portal estadual de seleções, o Sipros, entre 3 e 4 de dezembro de 2025. O candidato tem apenas dois dias para garantir participação, o que reforça a urgência da seleção e exige atenção redobrada ao envio da documentação. No ato da inscrição, todo o material deve ser anexado em formato digital, dentro do limite de 1MB, aceitando arquivos JPEG, PNG, JPG ou PDF.

A lista de vagas confirma o caráter técnico e multidisciplinar da Sedeme. O edital contempla desde funções operacionais, como Motorista, até áreas altamente especializadas, como Geofísica, Geologia, Engenharia de Minas, Engenharia de Produção, Ciências Econômicas, Administração, Ciências Contábeis e Informática. A diversidade ressalta a amplitude de atribuições da secretaria, responsável por formular e executar políticas que impactam desde pequenas cadeias produtivas até grandes empreendimentos que moldam o desenvolvimento do estado.

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Foto: Divulgação – Ag. Pará

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O processo seletivo foi estruturado em três etapas. A primeira consiste apenas na inscrição, fase habilitatória que assegura a participação do candidato. A segunda é uma análise documental e curricular, decisiva tanto para eliminar inconsistências quanto para classificar os concorrentes segundo sua formação e experiência. A terceira etapa é uma entrevista pessoal, momento no qual se avalia a capacidade de atuação prática, perfil profissional e aderência às necessidades da secretaria.

O edital reforça garantias previstas na legislação estadual e federal para participação de pessoas com deficiência, como determina o Decreto Federal nº 3.298/1999 e suas alterações, além do Decreto Estadual nº 1.741/2017. Assim, 5% das vagas foram reservadas a esse público, reafirmando a diretriz de inclusão no serviço público do Pará. A medida evita que a contratação temporária reproduza desigualdades, assegurando que a seleção reflita diversidade e oportunidade.

O contrato dos aprovados será de 12 meses, com possibilidade de prorrogação por igual período caso a administração justifique a necessidade. A jornada semanal será de 30 horas, distribuídas em seis horas diárias — um modelo que costuma atrair profissionais que buscam estabilidade temporária, flexibilidade de rotina e a chance de atuar diretamente em projetos públicos estratégicos.

Ao final do processo, os candidatos convocados deverão apresentar a documentação exigida no Anexo XII do edital. A falta de qualquer item poderá impedir a contratação, o que torna indispensável uma leitura atenta antes mesmo da fase final. Há ainda orientações claras sobre o comparecimento obrigatório dentro dos prazos previstos, sob risco de exclusão do processo, exceto em casos de impedimento legal comprovado.

Mais do que um aviso de contratação, o novo PSS da Sedeme revela um movimento de reforço institucional em um momento em que o estado segue ampliando políticas voltadas ao desenvolvimento econômico e à gestão responsável dos recursos minerais e energéticos. A chegada de novos profissionais, mesmo temporários, tende a fortalecer setores técnicos que demandam apoio contínuo para garantir eficiência administrativa, inovação e respostas rápidas às exigências do setor produtivo e das demandas públicas.

As atribuições, requisitos, remuneração e demais detalhes encontram-se no edital completo, disponível no portal do Sipros, a principal fonte de referência para inscrição e acompanhamento de todas as fases.

Semas participa de encontro nacional que reforça articulação entre União e estados para a gestão das águas

A governança da água no Brasil voltou ao centro das discussões nacionais durante a Reunião com os Secretários de Recursos Hídricos, realizada em Brasília pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). O encontro reuniu dirigentes de todo o país com o propósito de fortalecer a cooperação federativa e orientar as próximas etapas de modernização da política hídrica nacional. O Governo do Pará, por meio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade (Semas), participou ativamente das discussões, reforçando a necessidade de integração entre segurança hídrica, clima e ordenamento territorial.

O encontro, realizado na capital federal, marcou um momento decisivo para alinhar expectativas entre União e estados sobre os caminhos futuros da Política Nacional de Recursos Hídricos e do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (Singreh). A ANA, responsável por coordenar o sistema nacional, buscou identificar onde pode atuar com mais assertividade, especialmente em apoio técnico, financiamento, desenvolvimento de sistemas e disponibilização de dados confiáveis.

Representando o Pará, a secretária adjunta de Gestão de Águas e Clima da Semas, Renata Nobre, destacou que o estado tem avançado na integração entre políticas ambientais, climáticas e territoriais, movimento essencial em uma região marcada pela complexidade amazônica. Segundo ela, o desafio não se restringe à apresentação de resultados, mas à construção conjunta de soluções que garantam eficiência, equidade e resiliência na gestão dos recursos hídricos.

Renata reforçou que o apoio da ANA é decisivo para consolidar uma gestão hídrica moderna no estado. Entre os instrumentos fundamentais está o Progestão, programa federal que incentiva a estruturação dos órgãos estaduais por meio de financiamento condicionado a metas. De acordo com a secretária, garantir previsibilidade e continuidade desses mecanismos é crucial para que estados como o Pará consolidem uma política hídrica alinhada às suas especificidades ambientais e sociais, sobretudo em territórios de difícil acesso ou sujeitos a fortes pressões climáticas.

Ao longo do evento, governanças estaduais de todas as regiões do país apresentaram um retrato comum de desafios. A necessidade de ampliar a rede de monitoramento hidrometeorológico, fortalecer equipes técnicas, padronizar dados, atualizar sistemas e aprofundar a integração entre clima e recursos hídricos surgiu como pauta central. Muitos estados relataram dificuldades estruturais que impedem respostas ágeis diante de eventos extremos, como secas prolongadas e enchentes repentinas — fenômenos que têm se tornado mais frequentes com a intensificação das mudanças climáticas.

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Foto: Divulgação – Ag. Pará

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Outro ponto de destaque foi a importância da cooperação regional. Várias bacias hidrográficas transpassam fronteiras estaduais, o que torna indispensável que governos trabalhem de maneira articulada. Para estados amazônicos, essa integração assume dimensão estratégica, uma vez que rios de grande porte sustentam abastecimento, transporte, energia, produção pesqueira e modos de vida tradicionais.

O encontro resultou também em contribuições para a Carta de Brasília 2025, documento que deve consolidar prioridades pactuadas entre União e estados. Entre elas estão o aprimoramento da governança hídrica, o fortalecimento dos órgãos estaduais, a ampliação da transparência e a integração entre políticas climáticas e de recursos hídricos. A carta deverá servir como referência para o planejamento federal e para programas de cooperação nos próximos anos.

A presença da Semas no evento reforça o posicionamento estratégico do Pará na agenda nacional da água. Em um estado onde grandes rios moldam a cultura, a economia e o território, aprimorar a gestão hídrica é condição para garantir desenvolvimento sustentável, segurança climática e qualidade de vida para milhões de pessoas. A participação ativa no debate federativo é, portanto, mais do que institucional: é uma escolha política alinhada ao futuro da Amazônia.

Situação crítica na mineração: irregularidades detectadas em 37% dos registros analisados

Um levantamento recente revela um dado alarmante: entre 257.591 processos minerários ativos no país, aproximadamente 95.740 — ou seja, 37% — apresentam algum tipo de inconsistência. O estudo é fruto da ferramenta Monitor da Mineração, criado pela rede de organizações MapBiomas para reunir, organizar e disponibilizar, gratuitamente, dados públicos da Agência Nacional de Mineração (ANM) relativos a licenças, lavras, autorizações e uso da terra ao longo de mais de 80 anos. A investigação expõe fragilidades graves no controle da mineração e levanta um alerta sobre os riscos socioambientais associados à atividade.

De acordo com o coordenador da equipe de mineração do Monitor da Mineração, César Diniz, o sistema consolida dados antes dispersos e os apresenta de forma transparente e acessível — não apenas para órgãos fiscalizadores, mas também para jornalistas, pesquisadores e a sociedade civil. A função da plataforma vai além do levantamento estatístico: ela fornece os meios para que irregularidades sejam identificadas com clareza e cobradas de forma eficaz.

Entre as inconsistências apontadas, a mais frequente — presente em cerca de 84.466 processos, ou 33% do total — refere-se à ausência de autorização regular. Isso significa que essas operações minerárias não possuem concessão de lavra, não têm registro de extração, não contam com licenciamento, permissão ou autorização de pesquisa atualizados. Para o Monitor, qualquer extração ocorrendo nessas condições deve ser considerada irregular — uma forma de caracterizar mineração ilegal ou, no mínimo, não autorizada formalmente.

Além disso, quase 7.738 processos (3% do total) operam em áreas em que a mineração é proibida por lei: terras indígenas, unidades de conservação integral, reservas extrativistas (Resex) ou reservas particulares de proteção ambiental (RPPN). Ainda mais grave: 3.536 registros somam irregularidade de processo e localização — ou seja, extraem de forma indevida em territórios onde a atividade não poderia ocorrer.

O problema não se limita à falta de títulos. A inadimplência também é uma lacuna importante. A cobrança da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) — tributo que deve ser pago a municípios, estados e à União para compensar os impactos socioambientais da mineração — mostra abandono generalizado: nos processos obrigados a pagar, 56,4% não cumpriram o compromisso nos últimos seis meses. Esse dado evidencia não apenas irregularidade formal, mas falta de responsabilidade socioambiental e econômica.

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Quando se analisa a distribuição geográfica, os estados que concentram os maiores volumes de processos minerários são Minas Gerais (20,4%), Bahia (11,5%) e Pará (9,2%). Entretanto, a Bahia é o estado com maior proporção de inconsistências: mais da metade de seus registros apresenta irregularidades processuais. Já no Pará, chama atenção a ocorrência de extração fora do prazo autorizado ou além dos limites territoriais permitidos — sinais de descontrole e possível devastação ambiental.

A existência de tantos processos irregulares funciona como um retrato distorcido da mineração brasileira. Em meio a essa mancha de irregularidades está o risco real de degradação ambiental, violação de direitos de povos tradicionais, sobrecarga sobre comunidades locais e perdas irreversíveis de biodiversidade. A mineração, quando legal e bem fiscalizada, pode gerar emprego e desenvolvimento. Mas o conflito surge quando a atividade opera à margem da lei, sem controles, sem concessões válidas e com impactos que recaem sobre a sociedade e a natureza.

A ferramenta Monitor da Mineração emerge, portanto, como instrumento indispensável para fortalecer a transparência no setor mineral. Ao oferecer laudos por processo, com indicadores como fase da extração, conformidade legal, imagem de satélite e sobreposições territoriais, a plataforma dá condições concretas para que o poder público, instituições de controle e a sociedade civil realizem o monitoramento. Esse tipo de vigilância é fundamental para coibir mineradoras irregulares, garantir que a CFEM seja paga, assegurar que áreas protegidas e terras indígenas não sejam invadidas, e evitar que a destruição ocorra sem rastros visíveis ou responsabilização.

Diante do cenário, é urgente que o Estado brasileiro fortaleça os mecanismos de fiscalização e regularização da mineração. Legislação mais clara e rigorosa, controle efetivo, transparência no acesso aos dados, e aplicação das penalidades previstas. A mineração não deve ser um jogo de pressões e brechas. Deve, antes, servir como instrumento de desenvolvimento sustentável e justo — e isso só será possível com clareza, controle e participação pública ativa.

O Monitor da Mineração representa uma luz importante contra o risco de um setor entregue à informalidade. Mas cabe aos órgãos públicos, ao sistema de justiça e à sociedade acompanhar, denunciar e exigir respeito à lei. Só assim será possível transformar a mineração em um vetor de progresso — e não de destruição.

Educação Yanomami ganha reforço com nova logística aérea entre Seed e Funai

O desafio de garantir educação de qualidade às comunidades indígenas mais isoladas do país ganhou um novo impulso em Roraima. O Governo do Estado, por meio da Secretaria de Educação e Desporto de Roraima (Seed), firmou uma parceria com a Força-Tarefa coordenada pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), com o objetivo de assegurar que estudantes da Terra Indígena Yanomami recebam, de forma contínua e estruturada, alimentação escolar, materiais pedagógicos e insumos básicos para o funcionamento das escolas estaduais em regiões de acesso exclusivamente aéreo.

A iniciativa, formalizada em encontro na manhã de sexta-feira, 28, simboliza mais que um acordo administrativo: é um movimento para superar um dos maiores gargalos da educação indígena no país — a logística extrema da maior terra indígena do Brasil, onde deslocamentos podem levar horas de voo, e a chegada de suprimentos depende exclusivamente de aeronaves autorizadas.

O coordenador da Força-Tarefa Yanomami, Ivo Macuxi, foi recebido pelo secretário adjunto de Gestão do Sistema Educacional, Edson Mendonça, para definir as ações conjuntas, que já começam a ser planejadas para o ano letivo de 2026. A operação, que envolve rotas aéreas regulares mantidas pela Funai, contará agora também com transporte de merenda escolar, kits de material didático e fardamento, além de equipamentos diversos destinados às unidades de ensino.

Segundo Mendonça, integrar a estrutura logística da Funai ao planejamento da Seed significa aproximar a política educacional do cotidiano das comunidades, reduzindo falhas no abastecimento e garantindo maior previsibilidade. “A parceria nos ajuda principalmente na região de área de voo, onde não há acesso por estrada. Aproveitar os voos já existentes da Fundação é fundamental para assegurar que a alimentação escolar chegue no tempo certo e que as escolas funcionem com dignidade”, explicou.

Ele lembrou que o compromisso do Governo de Roraima é atender todas as escolas estaduais, sem distinção, o que inclui as 22 unidades indígenas localizadas dentro da Terra Yanomami — um território cuja extensão, dispersão populacional e complexidade geográfica criam obstáculos logísticos que poucos estados brasileiros enfrentam. “Garantir merenda, material escolar, fardamento e infraestrutura adequada é garantir segurança alimentar e permanência do estudante em sala de aula”, completou.

Ivo Macuxi destacou que a Força-Tarefa Yanomami nasce de um Termo de Execução Descentralizada firmado entre a Funai e a Fiocruz, reunindo atualmente 78 profissionais. Seu objetivo principal é fortalecer ações de saúde, apoio comunitário e logística para as aldeias, mas a incorporação da agenda educacional amplia o alcance da iniciativa.
Ele explicou que os voos semanais já atendem regiões estratégicas como Auaris, Surucucu, Sauba, Alto e Baixo Mucajaí, Missão Catrimani e Ericó, e que o compartilhamento desse espaço logístico com a Seed permitirá otimizar recursos federais e estaduais. “Se conseguimos enviar medicamentos, suprimentos de saúde e insumos comunitários, também podemos fortalecer a educação enviando merenda, material didático e equipamentos. A parceria potencializa o serviço público”, avaliou.

Yanomami_Mom__Baby_16748243030-400x202 Educação Yanomami ganha reforço com nova logística aérea entre Seed e Funai
Foto: Sam valadi

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A previsão é que toda a rede indígena Yanomami esteja integrada à nova rotina operacional já no início do calendário escolar de 2026. De acordo com o Censo Escolar mais recente, as 22 escolas estaduais da região atendem 1.284 estudantes, que dependem integralmente das ações governamentais para ter acesso à merenda e aos materiais essenciais.

A cooperação entre Seed e Funai revela um entendimento crescente: nenhuma política pública é plenamente eficaz na Terra Yanomami se não estiver ancorada em logística especializada, regularidade de abastecimento e articulação entre diferentes órgãos. A educação, sobretudo em áreas remotas, não se sustenta apenas com professores e currículo; exige presença do Estado em seu sentido mais amplo — transporte, alimentação, material, infraestrutura e acompanhamento contínuo.

O acordo também aponta para uma mudança de postura institucional. Em vez de ações fragmentadas, cada qual em sua estrutura, governo estadual e órgãos federais reconhecem que compartilhar voos, equipes, rotas e planejamento é uma forma de garantir que as escolas indígenas funcionem dentro de padrões mínimos de dignidade, apesar da distância geográfica e das dificuldades de deslocamento.

A Terra Yanomami carrega emergências históricas em saúde, nutrição e segurança alimentar, que nas últimas décadas se tornaram mais visíveis ao país. A educação, muitas vezes vista em segundo plano diante de cenários críticos, passa agora a receber tratamento integrado — passo essencial para a autonomia das comunidades e para o futuro das crianças e jovens que dependem da escola para ampliar horizontes sem perder as raízes culturais.

Ao integrar logística, planejamento e responsabilidade compartilhada, a nova parceria posiciona o Estado e a Funai em uma rota mais eficiente, capaz de transformar a rotina escolar em um território onde nada é simples, mas tudo é urgente.

Em Rondônia, fiscalização rígida do Ibama é vital para conter avanço do desmatamento

A presença do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Rondônia, frequentemente marcada por tensões, voltou ao centro do debate após a divulgação das conclusões da Comissão Especial Temporária de Integração das Áreas Reduzidas, conhecida como Craterras, criada pelo Senado Federal. Embora o relatório da comissão questione a legalidade de embargos aplicados pelo órgão ambiental, as discussões revelam um ponto fundamental para o futuro da Amazônia: a necessidade de fortalecer, e não enfraquecer, a fiscalização ambiental numa das regiões mais pressionadas pelo avanço do desmatamento e por conflitos fundiários históricos.

A comissão, presidida pelo senador rondoniense Jaime Bagattoli, percorreu áreas rurais de Rondônia para ouvir produtores e identificar problemas em processos de embargo. Durante as diligências, muitas delas acompanhadas pelo relator, senador Hamilton Mourão, surgiram críticas às ações de fiscalização do Ibama, especialmente os chamados embargos coletivos, mecanismo utilizado quando há suspeita de irregularidades que atingem mais de uma área ou conjunto de propriedades.

Embora as queixas dos produtores rurais tenham sido registradas, o debate gerado pela Craterras ilumina uma realidade incontornável: Rondônia continua entre os estados que mais sofrem pressão de desmatamento na Amazônia Legal. Em regiões onde a expansão agrícola, a grilagem e a extração ilegal de madeira avançam rapidamente, a atuação firme do Ibama é peça essencial para conter crimes ambientais, proteger territórios públicos e garantir que a produção rural sustentável não seja engolida por atividades ilegais.

A crítica aos embargos coletivos, embora legítima sob a ótica do direito à ampla defesa, não pode obscurecer o contexto mais amplo em que o Ibama opera. Em diversas áreas do estado, a ausência histórica de regularização fundiária, somada à presença de cadeias criminosas organizadas, cria um ambiente onde a fiscalização se torna complexa e, muitas vezes, arriscada. Nesses cenários, ações que abrangem grandes extensões são frequentemente a única forma de impedir a continuidade do dano ambiental até que as investigações sejam concluídas.

A visita dos senadores buscou humanizar o impacto dessas medidas ao ouvir famílias afetadas, mas também deixou evidente que a fragilidade institucional do Estado brasileiro na Amazônia exige instrumentos rígidos de contenção. A proteção ambiental, especialmente em áreas sob intensa pressão econômica, não se sustenta apenas com diálogo: requer fiscalização contínua, presença estatal consistente e capacidade de enfrentar estruturas que historicamente se alimentaram da ausência de controle.

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Foto: Fernando Augusto/Ibama

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O debate sobre mudanças na legislação ganhou força quando Mourão, no relatório final, defendeu ajustes no processo de embargo. Entre as sugestões está a proibição de suspender o uso de uma propriedade inteira quando a irregularidade for localizada em apenas parte dela. Outra proposta é estabelecer a obrigatoriedade de uma advertência prévia antes de qualquer embargo. O Projeto de Lei apresentado por Bagattoli segue essa mesma linha, propondo maior previsibilidade jurídica aos produtores rurais.

Entretanto, especialistas ambientais apontam que flexibilizar instrumentos de fiscalização pode abrir brechas perigosas, sobretudo em estados que enfrentam taxas elevadas de desmatamento. Embargos amplos, ainda que imperfeitos, funcionam como barreira imediata à continuidade de danos ambientais que, uma vez consolidados, são praticamente irreversíveis. Em áreas sensíveis da Amazônia, o tempo é tão determinante quanto a legalidade: quando a devastação ocorre, o impacto ecológico é permanente.

Ao mesmo tempo, a própria atuação do Ibama depende de fortalecimento institucional. O órgão opera com equipes reduzidas, enfrenta riscos constantes em campo e precisa responder a pressões políticas que variam conforme o governo de turno. Em Rondônia, onde conflitos agrários e ocupações irregulares se misturam a reivindicações legítimas de pequenos produtores, a vigilância ambiental se torna ainda mais desafiadora.

A discussão criada pela Craterras não é apenas sobre embargos, mas sobre o equilíbrio entre desenvolvimento e proteção ambiental. Na prática, o caminho mais seguro para garantir justiça aos produtores e preservação à floresta passa por fortalecer a governança ambiental, aprimorar processos administrativos e ampliar a presença do Estado — e não por enfraquecer quem fiscaliza.

A Amazônia exige políticas ambientais firmes, capazes de enfrentar pressões econômicas sem perder de vista a necessidade de desenvolvimento sustentável. Em Rondônia, onde a fronteira agrícola convive com áreas de grande biodiversidade, a atuação rigorosa do Ibama é indispensável para garantir que o crescimento não se faça à custa da destruição irreversível.

Amapá se firma no debate sobre petróleo e turismo com voo direto ao Rio

A chegada do voo inaugural ligando diretamente Rio de Janeiro e Macapá marcou mais do que a abertura de uma nova rota aérea. O pouso da aeronave, lotada com 186 passageiros e cerca de 30 empresários fluminenses, tornou-se símbolo de um movimento mais amplo: o Amapá busca ocupar um espaço central nas discussões nacionais sobre economia, turismo e, sobretudo, sobre o futuro da exploração de petróleo na Margem Equatorial brasileira.

O governador Clécio Luís recebeu a delegação no Aeroporto Internacional de Macapá com a convicção de que o estado vive um momento raro de visibilidade estratégica. E não é exagero. Com a sede da Petrobras localizada no Rio de Janeiro e os avanços recentes nos estudos sobre a viabilidade petrolífera da costa amapaense, a nova ligação aérea reduz distâncias – físicas e simbólicas – entre dois polos que, a partir de agora, tendem a operar cada vez mais conectados.

Segundo Clécio, essa aproximação vem sendo construída desde a participação do governo amapaense na OTC, um dos principais eventos globais da indústria de petróleo e gás. Ele afirma que o voo é “resultado direto das conversas e articulações realizadas”, reforçando que o estado quer ser visto como um território preparado, confiável e aberto a investimentos.

A operação foi viabilizada graças à política estadual de incentivos fiscais, que reduziu a alíquota do querosene de aviação de 18% para 3%. A decisão tornou o Amapá um destino atrativo para companhias aéreas e abriu espaço para o acordo com a GOL Linhas Aéreas – responsável por operar o novo trecho – que complementa a já consolidada rota diária para São Paulo, operada pela Latam Airlines.

O voo G3 1158 decolou do RIOgaleão às 8h30, fez escala em Belém, e aterrissou em Macapá com ocupação máxima. A expectativa é de que o fluxo se mantenha intenso até o fim de 2025, já que todos os assentos estão vendidos até 31 de dezembro. Para além da demanda turística, o perfil dos passageiros revela um segundo movimento: empresários, investidores e representantes do setor de óleo e gás enxergam o Amapá como território emergente em um debate que vem ganhando escala global.

No aeroporto, representantes do governo e da iniciativa privada se reuniram para discutir oportunidades ligadas à Margem Equatorial – área vista por especialistas como uma das fronteiras mais promissoras do mercado energético. Entre os presentes estavam o vice-governador Teles Jr., parlamentares estaduais e municipais, além de lideranças do empreendedorismo, como Josiel Alcolumbre, do Sebrae Amapá, e representantes do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás.

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Foto: Max Renê/GEA

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Para Wandemberg Pitaluga, diretor-presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do Amapá, a nova rota representa mais do que mobilidade. Ele afirma que o estado está se colocando diante do país e do mundo como um território preparado, com governança capaz de receber novos negócios. Pitaluga destaca também o papel do Rio de Janeiro como epicentro tecnológico, corporativo e logístico da indústria petrolífera, o que torna a conexão natural e estratégica.

Enquanto o debate nacional sobre a Margem Equatorial ganha força, o Amapá tenta se posicionar de maneira singular: quer atrair investimentos, mas sem abrir mão do discurso de preservação ambiental que marca sua reputação. A mensagem é clara: o estado busca combinar desenvolvimento econômico, turismo fortalecido e participação ativa nas discussões sobre transição energética e novas fronteiras do petróleo.

Com o novo voo diário, o trajeto Rio–Macapá passa a ser feito com escala em Belém em ambas as direções. No sentido inverso, o G3 1159 decola da capital amapaense às 15h10, pousando no Rio às 20h45. É um movimento que, aos olhos do governo estadual, consolida o Amapá como parte integrante da agenda de investimentos do país – e não mais como território periférico às grandes decisões econômicas.

A rota aérea é apenas um dos sinais de que o estado começa a ocupar o centro das conversas nacionais. E, se depender do governo, empresários e instituições envolvidas, esse será apenas o início de uma transformação mais profunda na forma como o Brasil enxerga o extremo Norte do país.

Tecnologia da Nasa detecta tsunami em tempo real e revoluciona alertas globais

A ciência conseguiu, em 2025, algo que por décadas parecia impossível: detectar um tsunami ainda em alto-mar, praticamente no momento em que ele se formava. A conquista marcou um avanço decisivo em sistemas de alerta precoce e mostrou que a atmosfera pode funcionar como um imenso sensor natural para identificar perturbações provocadas por ondas gigantes antes que elas alcancem o litoral.

O episódio que colocou essa tecnologia à prova ocorreu no verão de 2025, quando um terremoto de magnitude 8,8 atingiu a costa leste da península de Kamchatka, na Rússia. Em segundos, a movimentação brusca do fundo do oceano desencadeou um tsunami que cruzava o Pacífico a mais de 600 quilômetros por hora. Alarmes foram acionados em diversos países, e milhões de pessoas receberam ordens de evacuação. No Japão, mais de dois milhões de habitantes deixaram suas casas.

Mas o fenômeno despertou mais do que preocupação. À medida que as ondas avançavam pelo oceano, elas deslocavam quantidades colossais de água, movimentação suficiente para gerar ondulações na atmosfera bem acima do mar. Essas perturbações atingiram a ionosfera, camada carregada eletricamente que envolve a Terra, modificando temporariamente sua densidade e interferindo nos sinais transmitidos por sistemas globais de navegação via satélite.

Foi nesse instante que uma tecnologia recém-implementada tornou-se protagonista. Na véspera do terremoto, a agência espacial dos Estados Unidos, a Nasa, havia integrado um módulo de inteligência artificial ao seu sistema de alerta de desastres, batizado de Guardian. O sistema cruzava dados de sinais de rádio de satélites e identificava, em tempo real, mudanças atmosféricas provocadas por eventos extremos.

Vinte minutos após o tremor em Kamchatka, o Guardian já havia alertado especialistas sobre a direção das ondas e a aproximação do tsunami ao Havaí, com até 40 minutos de antecedência — um intervalo precioso em casos de risco elevado. Felizmente, as ondas chegaram com força moderada, atingindo até 1,7 metro, sem causar danos significativos. Ainda assim, a experiência demonstrou que a tecnologia pode salvar vidas em cenários mais críticos.

fbc1f380-cbb0-11f0-9fb5-5f3a3703a365.jpg-400x400 Tecnologia da Nasa detecta tsunami em tempo real e revoluciona alertas globais

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A base dessa abordagem reside numa característica fundamental dos tsunamis: embora suas ondas possam ter apenas dezenas de centímetros de altura em mar aberto, elas deslocam volumes enormes de água. O movimento vertical do oceano, mesmo sutil, empurra a atmosfera para cima, criando “ondas” invisíveis que se propagam até centenas de quilômetros acima da superfície. Essas ondulações alteram a distribuição de elétrons na ionosfera, interferindo na velocidade dos sinais enviados por satélites de GPS às antenas terrestres.

Pesquisadores que estudam o comportamento da atmosfera superior, como especialistas da University of Michigan e da Embry-Riddle Aeronautical University, já sabiam que esses sinais sofriam perturbações naturais. Mas a percepção de que essa interferência poderia servir como um alerta ultrarrápido para tsunamis representou uma guinada. O Guardian consolidou anos de trabalhos experimentais conduzidos por equipes da Nasa e do Jet Propulsion Laboratory (JPL).

Até então, as principais ferramentas globais de detecção precoce eram as boias do sistema DART, operado pela NOAA. As boias são precisas, mas limitadas ao local onde estão instaladas. Já a ionosfera cobre todo o planeta e pode oferecer uma visão ampla, contínua e em tempo real.

Especialistas enfatizam que o maior potencial dessa tecnologia está no tempo adicional que pode oferecer às comunidades distantes do epicentro. No tsunami devastador de 2004, por exemplo, ondas levaram duas horas para atingir o Sri Lanka e sete horas até alcançar a Somália. Esse intervalo, se monitorado com sistemas como o Guardian, poderia permitir evacuações mais organizadas e reduzir tragédias.

A Europa também desenvolve seu próprio sistema de monitoramento atmosférico, coordenado por pesquisadores do Institut de Physique du Globe de Paris. A expectativa é que ele comece a ser testado em breve, com foco especial em regiões vulneráveis como o Oceano Índico.

Embora o Guardian ainda esteja em evolução, seus criadores vislumbram etapas mais ousadas: prever automaticamente o comportamento das ondas, estimar sua altura final e calcular o momento exato de impacto em diferentes trechos do litoral. A cada dez minutos, novos cálculos poderiam gerar simulações atualizadas, oferecendo uma capacidade inédita de antecipação.

O sistema, no entanto, não substitui completamente métodos tradicionais. Como a ionosfera pode levar alguns minutos para reagir ao deslocamento das ondas, comunidades muito próximas ao epicentro ainda dependem de sensores sísmicos clássicos. Mesmo assim, pesquisadores concordam que o monitoramento atmosférico representa um salto tecnológico — e que, diante de tsunamis capazes de atravessar oceanos inteiros, minutos extras podem significar milhares de vidas salvas.

Governo do Pará abre semana de conciliação ambiental com novas condições de pagamento

O Pará iniciou uma nova etapa de seu esforço para aproximar a gestão ambiental da população e acelerar a regularização de pendências administrativas. Começou nesta segunda-feira o Mutirão de Conciliação Ambiental, uma iniciativa do governo estadual conduzida pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade (Semas). Esta é a nona edição do mutirão apenas em 2025, sinal de que o estado tem investido numa política contínua de diálogo com os autuados e de desburocratização dos processos relacionados a infrações ambientais.

Até 5 de dezembro, equipes técnicas do Núcleo de Conciliação Ambiental (Nucam) estarão reunidas na sede da Semas, em Belém, para analisar individualmente cada processo. O objetivo é oferecer alternativas reais para que pessoas físicas e jurídicas possam quitar ou renegociar suas multas, com descontos que variam de 30% a 50%, dependendo da fase em que o processo se encontra. Em muitos casos, também é possível optar pelo parcelamento, o que se tornou uma forma de estimular a regularização sem comprometer a viabilidade financeira dos autuados.

Para a gestão estadual, o mutirão é mais do que uma ação administrativa. Funciona como um instrumento que reforça a função educativa da política ambiental e fortalece a relação do cidadão com as responsabilidades socioambientais no território paraense. Segundo Lília Márcia Ramos Reis, secretária-adjunta de Gestão Administrativa e Tecnologias da Semas, cada conciliação representa não só o encerramento de um processo, mas também um retorno direto ao meio ambiente. Isso porque os valores arrecadados são destinados ao Fundo Estadual de Meio Ambiente, mecanismo que financia ações essenciais de fiscalização, monitoramento e recuperação de áreas degradadas no estado. Assim, ao regularizar sua situação, o autuado contribui diretamente para iniciativas que protegem a Amazônia paraense.

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Divulgação

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A lógica do mutirão, portanto, se apoia na combinação entre responsabilização e oportunidade. O Estado mantém o rigor da fiscalização, mas oferece condições reais para que os infratores sanem suas pendências. Essa abordagem tem sido destacada pela Semas como um modelo de gestão ambiental em que o diálogo se torna parte da solução, reduzindo entraves burocráticos e incentivando o cumprimento da legislação. A cada edição, cresce também o número de pessoas que buscam não apenas o desconto, mas o esclarecimento sobre as regras ambientais e o entendimento sobre o impacto individual no território amazônico.

Os atendimentos ocorrem sempre das 8h30 às 15h, na sede da Semas, localizada na travessa Lomas Valentinas, no bairro do Marco. Para participar, os interessados devem apresentar documento de identificação e o número do processo administrativo relacionado à infração ambiental. Em casos de representação por terceiros, é necessária uma procuração específica para a conciliação, acompanhada dos documentos do procurador.

Ao estruturar mutirões ao longo do ano, a Semas reforça uma estratégia de ampliar o alcance dos mecanismos de conciliação e tornar mais ágil a tramitação das multas ambientais. Essa prática também reduz o acúmulo de processos, contribui para a eficiência administrativa e oferece ao cidadão uma resposta rápida sobre sua situação. Em um estado de dimensões continentais como o Pará, no qual os desafios ambientais envolvem desde o controle do desmatamento até a gestão de recursos naturais, ações como essa desempenham um papel fundamental para equilibrar desenvolvimento e conservação.

A aproximação com o público durante os mutirões também permite que a Semas identifique dúvidas recorrentes, perceba fragilidades no conhecimento sobre legislação ambiental e fortaleça ações educativas. Dessa forma, o mutirão deixa de ser apenas uma iniciativa técnica e passa a integrar a política de sensibilização ambiental promovida pelo governo estadual.

O evento, que marca a nona edição em 2025, reafirma o compromisso do Pará com a transparência, a governança e a efetividade das políticas ambientais. Além disso, reforça a mensagem de que regularizar infrações não é apenas cumprir uma obrigação legal, mas também participar ativamente da proteção dos ecossistemas do estado, contribuindo para preservar a Amazônia paraense e promover uma relação mais consciente entre sociedade e meio ambiente.

Jovens de 12 a 14 anos tornam-se guardiões de cavalos-marinhos no Rio

A Laguna de Araruama, um dos ecossistemas mais singulares da Região dos Lagos, tornou-se cenário de uma experiência educativa inédita que alia conhecimento científico, pertencimento e ação comunitária. Nesta segunda-feira, o Projeto Cavalos-Marinhos concluiu a formação da primeira turma de guardiões dos cavalos-marinhos: 31 jovens entre 12 e 14 anos que, ao longo de três meses, mergulharam – literalmente e metaforicamente – na dinâmica ambiental da lagoa mais salgada do mundo.

A iniciativa, realizada em parceria com a Prefeitura de Iguaba Grande, buscou muito mais do que transmitir informações ecológicas. A proposta era cultivar nos participantes uma relação afetiva com o território. Para isso, o grupo frequentou o Espaço Educativo Cavalos-Marinhos e, no final de novembro, realizou o primeiro mergulho de monitoramento na Praia dos Ubás. A coordenadora do projeto, Natalie Freret-Meurer, descreve o objetivo central como um processo de apropriação: compreender a laguna como espaço de vida, memória e responsabilidade compartilhada.

Segundo ela, o cavalo-marinho é um símbolo potente dessa conexão. Frágil, carismático e altamente sensível às mudanças ambientais, ele funciona como um espelho da saúde da laguna. Mostrar aos jovens que esse animal vive ali, ao alcance dos olhos, faz com que o cuidado ambiental deixe de ser abstrato. O que antes parecia distante transforma-se em urgência cotidiana.

Com o encerramento da formação, os adolescentes passam a atuar como guardiões oficiais da laguna. O papel que assumem vai além do monitoramento: trata-se de observar, refletir e orientar. Eles acompanharão práticas realizadas às margens da Araruama, identificando avanços e problemas, e reforçando entre moradores e visitantes a importância de proteger a qualidade da água e evitar o descarte de resíduos. Para Natalie, o aprendizado busca formar agentes que entendam que suas pequenas escolhas influenciam diretamente o futuro do ecossistema.

O projeto contou ainda com o apoio de iniciativas ambientais parceiras que ampliaram o repertório dos jovens. Educadores do Projeto Albatroz falaram sobre aves marinhas; o Projeto Mantas do Brasil tratou da conservação de raias; e o instituto BW abordou o resgate e a reabilitação de fauna debilitada. A formação multidisciplinar ajudou a contextualizar o cavalo-marinho dentro de uma teia mais ampla de relações ecológicas.

Uma das orientações centrais compartilhadas com os guardiões foi a proibição de capturar cavalos-marinhos, prevista na norma 455 do Ministério do Meio Ambiente. Apenas pesquisadores autorizados podem manipular o animal. A regra reforça o grau de vulnerabilidade da espécie e a necessidade de preservação. O Projeto Cavalos-Marinhos, que completa 23 anos de atuação e é apoiado pelo Programa Petrobras Socioambiental, desenvolve há décadas pesquisas, ações educativas e iniciativas sociais que dialogam com essa proteção.

Uma dessas frentes se realiza com mulheres caiçaras, que aprendem a produzir biojoias a partir de redes descartadas e escamas de peixe reaproveitadas. A ação demonstra como conservação ambiental e geração de renda podem caminhar juntas, especialmente quando associadas ao uso sustentável de recursos. O projeto também apoia a formação de professores, a capacitação de guardas-parque e atividades de educação ambiental que articulam ciência e comunidade.

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Projeto Cavalos-Marinhos/Divulgação

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A coordenadora destaca que todas as ações seguem o conceito de saúde única: a compreensão de que um ambiente saudável beneficia animais, humanos e todo o ecossistema. A ideia norteia decisões que colocam a vida como prioridade, reforçando a interdependência entre os diferentes seres e ambientes da laguna.

Para quem encontra um cavalo-marinho, as orientações são claras: observar, nunca tocar e registrar a localização no site do projeto. Caso o animal esteja morto, o grupo solicita o envio de mensagem pelo WhatsApp para recolhimento e uso em estudos científicos. Animais feridos também podem ser reportados para avaliação e possível reabilitação. Denúncias de crimes ambientais devem ser encaminhadas ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), pela linha gratuita 0800 61 8080 ou por e-mail.

A formação dos jovens guardiões mostra que a defesa da laguna não depende apenas de políticas públicas, mas também de uma nova geração capaz de compreender que cuidar do ambiente é, antes de tudo, cuidar de si. Na região dos Lagos, proteger cavalos-marinhos é também proteger histórias, paisagens e relações que se renovam diariamente à beira d’água.