Recorde de temperatura em várias partes do globo gera alertas sobre ameaças à saúde

A Organização Meteorológica Mundial, OMM, informou que a onda de calor, no Hemisfério Norte, pode elevar as temperaturas acima de 40º C em áreas como América do Norte, Ásia, Norte da África e Mediterrâneo.

O assessor sênior de calor extremo da OMM, John Nairn, alertou que a situação  durará vários dias nesta semana. Em certas áreas, as temperaturas à meia-noite podem rondar dos 30º C, o que é um grande motivo de preocupação.

Mais de 60 mil  mortes em 2022 devido a  ondas de calor 

Ele contou a jornalistas, em Genebra, que as altas temperaturas noturnas são particularmente perigosas para a saúde humana porque o corpo não é capaz de se recuperar do calor contínuo. Isso levaria a um possível aumento de casos de ataques cardíacos e até morte.

A agência da ONU lembra que a máxima europeia foi de 48,8º C, na Sicília, em agosto de 2021. Já o recorde global é de 56,7º C, no Vale da Morte, Califórnia, registrado em julho de 1913.

image770x420cropped Recorde de temperatura em várias partes do globo gera alertas sobre ameaças à saúde
© Unicef/Juan Haro

No ano passado, mais de 60 mil pessoas morreram na Europa por causa de ondas de calor.

As temperaturas estão disparando no sul dos Estados Unidos, no Mediterrâneo, no norte da África, no Oriente Médio e em alguns países da Ásia, incluindo a China.

Tendência de quebrar recordes nacionais 

Nessas áreas, os serviços meteorológicos e hidrológicos relatam uma série de registros diários e de temperatura que tende a quebrar recordes nacionais.  A confirmação será feita no relatório sobre o Estado do Clima Global da OMM.

Dados preliminares da agência apontam para a continuação da tendência observada em julho, com registros históricos da temperatura média global.

Entre os episódios extremos estão inundações arrasadoras e a perda de vidas em alguns países, incluindo Coreia do Sul, Japão e no nordeste dos Estados Unidos.

O secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, destaca que além da grande repercussão na saúde humana, o clima extremo, que está cada vez mais frequente,  impacta ecossistemas, economias, agricultura, energia e abastecimento de água.

Emissões de gases de efeito estufa 

O chefe da agência destaca que esse fato ressalta a crescente urgência de se reduzir as emissões de gases de efeito estufa “o mais rápido e profundamente possível”.

Taalas recomenda mais esforços para ajudar a sociedade a se adaptar à tendencia de aquecimento que se está normalizando.
Ele lembra que previsões e alertas para proteger vidas e meios de subsistência acompanham ações da OMM para que seja cumprida a meta de fazer chegar sistemas de alerta antecipado para todos.

Portugal prepara Relatório Nacional para o Desenvolvimento Sustentável

Portugal prepara para este segundo semestre do ano o lançamento de um plano de ação para acelerar o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

 

O país, conhecido por iniciativas em economia azul e energia limpa, apresenta nesta quarta-feira, nas Nações Unidas, a Revisão Nacional Voluntária, ao lado de outras 38 nações sobre o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODS.

 

Coerência de políticas

 

A lista de avanços e desafios no cumprimento das metas foi entregue aos participantes do Fórum Político de Alto Nível, que termina neste 19 de julho.

 

O secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros de Portugal, André Moz Caldas, disse à ONU News que Portugal vai lançar um Relatório Nacional para o Desenvolvimento Sustentável até o fim deste ano.

 

 

“Conseguindo definir metas nacionais que nos permitam aproximar das metas da Agenda 2030. Conseguir assegurar a coerência das políticas públicas para o desenvolvimento sustentável e os respectivos financiamentos. E melhorar a capacitação de todos os agentes privados e públicos para a necessidade de cumprir essa agenda.”

 

Já o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Francisco André, acredita que a parceria entre os setores público e privado é a única alternativa para se avançar com a Agenda 2030. Segundo o secretário de Estado, todos têm que estar envolvidos.

 

“Por um lado, nós estamos a trabalhar para que o país atinja nas suas políticas nacionais estes Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Portanto, maior compromisso com a preservação do meio ambiente, com criação de emprego, com a criação de ambições e expectativas para a juventude. Com a igualdade de gênero. Mas também traz esse mesmo compromisso e essas ambições, que temos a nível nacional, para o campo externo. Para as parcerias e a cooperação com outros países.”

 

O secretário Francisco André lembrou as palavras do secretário-geral da ONU sobre a importância do multilateralismo no alcance da Agenda 2030 e que nenhum país poderá cumprir os ODS sozinho.

 

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Ao serem perguntados sobre a importância da participação dos jovens, ambos os secretários ressaltaram o aspecto da inclusão que Portugal já promove em seu sistema educacional e de mobilização da juventude.

 

André Moz Caldas citou atividades com parlamentos de jovens e falou sobre a revolução na informação e comunicação que tem levado a juventude a atuar em várias plataformas digitais.

 

Para o secretário de Estado, Francisco André, que se interessou por política na vida acadêmica, Portugal tem investido também na chamada “lupa de gênero”, que o país exige para se envolver em projetos que tenham participação de homens e mulheres.

 

O Fórum Político de Alto Nível recebeu revisão nacionais de 39 nações incluindo duas de língua portuguesa: Portugal e Timor-Leste.

Agência da ONU diz que calor extremo “está só começando” e saúde pode ser afetada

Agências das Nações Unidas acompanham o impacto de temperaturas recordes em várias regiões do Hemisfério Norte e alertam que a situação está ainda no princípio.

Especialistas recomendam que as pessoas se mantenham hidratadas, tentem se refrescar o máximo possível e sigam os alertas lançados nos países com níveis de calor extremo perto de 40º C.

Piora do quadro atual

O climatologista Álvaro Silva, da Organização Meteorológica Mundial, OMM, contou à ONU News, de Lisboa, como a comunidade científica acompanha duas tendências que podem agravar a onda de calor.

image770x420cropped Agência da ONU diz que calor extremo “está só começando” e saúde pode ser afetada
Unsplash/Mi Pham

 

“Uma, que está relacionada com este evento específico, e que nos explica por que esta onda de calor está a acontecer. E a outra, mais de duração longa, que tem a ver com as causas potenciais que podem facilitar a frequência crescente e a maior intensidade de ondas de calor. Relativamente ao primeiro, temos várias regiões no mundo, onde atualmente temos ondas de calor: sudoeste dos Estados Unidos, no sul da Europa e norte da África e até na bacia do Mediterrâneo. E depois temos novamente na Ásia Central temperaturas muito acima do normal. Diria que são estas as três regiões onde temos assistido a temperaturas muito mais altas que o habitual.”

O cientista do clima ressaltou a urgência de ação regional e global para enfrentar de forma eficaz a ameaça da crise climática.

Na Europa, mais de 61 mil mortes foram registradas devido ao ondas de calor, no ano passado.

Alterações do clima

“Isso acontece porque temos sobre as três regiões altas pressões. Com fortes anomalias de pressão nos diferentes níveis da troposfera. O que significa que depois vai levar a subsidência do ar e várias regiões. Com essa subsidência, há um aquecimento desse ar que depois chega à superfície e depois faz com que este valor temperaturas muito elevadas. Um outro fator está relacionado com o transporte de ar quente de latitude subtropicais até latitudes mais altas, latitudes médias, como por exemplo do sul da Europa. E esses dois fatores constituem os que mais contribuem para essa onda de calor. Depois temos o que eu falava como a situação do contexto de longo termo que está relacionada com as alterações do clima provocadas pelo homem.”

Há registros de mortes e incêndios florestais em áreas europeias com as temperaturas extremas.

 

Temendo pela saúde pública, autoridades de vários países já acionaram alertas reforçando serviços especializados do setor e da polícia para melhorar o apoio a pessoas com dificuldades.

“Muitas vezes, as ondas de calor levam a que as pessoas que já têm algumas debilidades sofram ainda mais ainda do que a restante população: em termos de doenças cardiovasculares, doenças, respiratórias e outras. Mesmo a população mais saudável pode sofrer, talvez não tanto do ponto de vista de mortalidade, mas dos efeitos adversos. Mas sobretudo aos que estejam expostos ao calor nas horas de maior calor durante o dia isso pode se verificar. De maneira que há que evitar essa exposição prolongada durante o dia. E durante à noite também tentar, de alguma forma, limitar os efeitos da temperatura mais elevada, o que se possa verificar nas casas, bebendo muita água e tentando refrescar-se o mais possível.”

Adaptação à “nova realidade”

Além da OMM, a Organização Mundial da Saúde, OMS, na Europa falou de necessidade de adaptação à “nova realidade” de ondas de calor com mortes e que sejam considerados outros episódios de clima extremo.

Uma investigação sobre o calor intenso e o nível de circulação do ar na atmosfera está sendo levada a cabo pela OMM.

A agência espera concluir nos próximos dois meses um estudo revelando a possível associação das atuais ondas de calor e com efeitos das alterações do clima sobre o planeta.

Com incentivos, indústria do biometano salta 20% nos EUA em 2022

Em meio aos novos incentivos governamentais para o setor de transporte, a capacidade de produção de biometano cresceu cerca de 20% nos Estados Unidos em 2022 – e ultrapassou a marca dos 10 milhões de m3/dia (385 milhões de pés cúbicos por dia).

O mercado americano adicionou uma capacidade de produção do combustível renovável de 1,7 milhão de m3/dia (60 milhões de pés cúbicos por dia) no ano passado, de acordo com a Wood Mackenzie.

Ao todo, 66 novos projetos de biometano foram anunciados nos Estados Unidos em 2022. O número de projetos dobrou nos últimos cinco anos, destaca a consultoria.

Para efeitos de comparação, o Brasil conta, hoje, com seis plantas de biometano autorizadas a operar e que produzem 195 mil m3/dia, na média do ano.

O biometano ainda representa cerca de 0,5% do mercado de gás natural nos EUA, mas a Wood Mackenzie estima que, com apoio contínuo de políticas públicas e com o desenvolvimento tecnológico, essa participação crescerá para 3% até 2050, para um total de 113,28 milhões de m3/dia (4 bilhões de pés cúbicos por dia).

Os EUA fecharam 2022 com uma capacidade instalada de 10,9 milhões de m3/dia. O Texas (1,7 milhão de m3/dia) é o estado com o maior parque instalado de produção do biocombustível.

A Wood Mackenzie cita que o setor foi estimulado, nos EUA, principalmente, pelos créditos fiscais de investimento da Lei de Redução da Inflação e programas de inserção de combustíveis de baixo carbono do programa Padrão de Combustível Renovável, da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês).

A consultoria estima que mais da metade dessa produção é consumida por veículos movidos a gás natural.

A maior parte do biometano produzido nos EUA vem dos aterros sanitários, mas projetos que usam resíduos animais como matéria-prima estão em ascensão – bem como projetos de resíduos de alimentos e tratamento de águas residuais.

“Existem oportunidades para uma nova estrutura de políticas para impulsionar mais atividades no setor, mas também precisaremos ver esforços voluntários, principalmente do setor industrial, à medida que mais empresas se comprometem com iniciativas de baixo carbono”, escreveu a analista sênior da Wood Mackenzie, Natalia Patterson, relatório recente sobre o assunto.

“O crescimento no setor industrial teria o potencial de superar a demanda tradicional de RNG [renewable natural gas] no setor de transporte”, completou.

Fábrica de vidros da Cebrace substitui parte do gás por biometano da ZEG

Cebrace, uma joint-venture entre a francesa Saint-Gobain e a japonesa NSG/Pilkington para produção de vidros planos, vai substituir parte do consumo de gás natural dos fornos da fábrica de Jacareí (SP) por biometano.

O combustível renovável será fornecido pela ZEG Biogás, sociedade formada pela Vibra Energia (50%), o Grupo Capitale (25%) e a FSL (25%), empresa da Flavia Lessa.

A Cebrace é o primeiro cliente da planta de biometano construída pela ZEG no Aterro Sanitário de Jambeiro, da Engep.

A unidade tem autorização da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para produzir até 30 mil m3/dia de biometano.

As empresas não divulgaram o volume envolvido no contrato.

Após a implementação em Jacareí, a Cebrace tem planos de adotar o biometano também nas unidades da companhia em Caçapava (SP) e Barra Velha (SC).

A substituição do gás natural pelo biometano faz parte dos esforços da empresa em reduzir em até 33% suas emissões de CO2.

Saint-Gobain também usará biometano no Rio

O grupo francês, acionista da Cebrace, já havia anunciado, este mês, um contrato de quatro anos com a Gás Verde para fornecimento de 468 mil metros cúbicos de biometano por ano para o abastecimento integral da planta da Quartzolit em Queimados (RJ).

A unidade, que produz argamassas, rejuntes, e outros materiais de construção, se tornará a primeira fábrica do segmento no país a usar o combustível 100% renovável.

O biometano será fornecido pela Gás Verde e produzido a partir do tratamento de resíduos sólidos urbanos do Aterro de Seropédica (RJ), o maior da América Latina.


Marco para a ZEG

Em São Paulo, a planta do Aterro Jambeiro é um dos primeiros projetos de biometano em implementação pela ZEG, após a Vibra entrar no capital da empresa.

A líder no mercado de distribuição de combustíveis comprou, em 2022, 50% da ZEG Biogás e Energia.

Pelos termos do acordo, a Vibra e demais sócios, na proporção de suas participações, assumiram compromisso de investimento de até R$ 412 milhões no negócio de biogás nos próximos anos, para execução de novos projetos.

A Vibra vê potencial de atingir uma produção de mais de 2 milhões de m3/dia em até cinco anos, com o novo negócio.

Na Índia, Silveira divulga etanol brasileiro e mira exportação de carros flex para Ásia e África

O etanol brasileiro quer conquistar mercados na Ásia e na África e se posicionar como uma alternativa à eletrificação em economias emergentes com características semelhantes às do Brasil.

Esta semana, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), foi à Índia com uma comitiva que inclui empresários do setor em busca de novos negócios na área de biocombustíveis.

O foco é exportar as tecnologias de etanol e veículos híbridos flex.

Silveira participou na quarta (19/7) do seminário Sustainable Mobility: Ethanol Talks, encontro que é um desdobramento dos acordos de intercâmbio assinados entre Brasil e Índia em 2020.

O país asiático é um promissor aliado do setores sucroalcooleiro e de carros flex no embate com os veículos elétricos, xodó das maiores economias do mundo.

Nos últimos anos, a tendência da eletrificação acelerou a disputa pelas rotas de descarbonização do transporte, e o setor de bioenergia nacional vem se articulando desde a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para evitar o isolamento do Brasil das cadeias de produção globais.

A partir da cooperação bilateral firmada em 2020, a Índia passou a discutir a possibilidade de dobrar a mistura de etanol na gasolina para 20% (E20), também a fim de reduzir sua dependência externa de petróleo. Em fevereiro de 2023, 15 cidades começaram a usar o E20.

Grande polo mundial de refino, o país da Ásia Meridional é o terceiro maior importador de óleo, com compras da ordem de 4 milhões de barris por dia; e o segundo maior produtor de cana-de-açúcar, superado apenas pelo Brasil.

O aumento do percentual de mistura (E20) no combustível consumido pelos indianos dá ao governo Lula uma janela de oportunidade para preencher uma demanda latente do país: a frota insuficiente de veículos flex.

“A Índia se tornou um parceiro gigante e hoje caminha ao lado do Brasil na disseminação da produção e uso da bioenergia. Temos muito ainda a fazer rumo à descarbonização do setor de transportes”, comentou Silveira nesta quarta (19/7), durante o seminário.

O ministro comemorou a união dos setores produtivo e automotivo indianos para fazer avançar a agenda do etanol, que, em sua visão, proporcionam “uma mobilidade sustentável de baixo carbono a um custo acessível”.

A viagem internacional do ministro também marca a passagem de bastão do comando do G20 de energia. O mandato da Índia à frente do grupo se encerra em novembro, isto é, o Brasil assumirá a função a partir de 1º de dezembro deste ano.

Oportunidade para aproveitar o protagonismo brasileiro e, além da cooperação política internacional relacionada à descarbonização, impulsionar a venda de carros flex e de veículos do modelo híbrido flex em mercados com potencial de consumo.


Em busca de parcerias com os EUA

Nesta quinta (20/7), Silveira cumpriu agenda com a secretária americana Jennifer Granholm, que também está na Índia para participar do G20 de energia. O ministro fez uma apresentação das ações do MME na área de transição energética.

“O Brasil tem muita desigualdade, e esse processo da transição energética pode ajudar para além de resolver a questão da descarbonização do planeta, auxiliar nosso país a trazer justiça social. Os Estados Unidos são um parceiro muito importante em questões estratégicas, na preservação ambiental do planeta e essa contribuição pode trazer frutos para o povo brasileiro”, destacou ele.

Os esforços para descarbonização da Amazônia e o projeto de lei do Combustível do Futuro foram alguns dos temas tratados durante a reunião. Também houve menção ao mercado de hidrogênio, que carece de um marco regulatório no Brasil, além da cooperação na área de captura e estocagem de carbono.


Descarbonização da Amazônia

Durante evento na quarta (19/7), Silveira apresentou o programa de descarbonização da Amazônia, que tem previsão de lançamento para o dia 10 de agosto.

Essa nova política pública tem o objetivo de reduzir o uso de óleo diesel na produção de energia em localidades isoladas na Amazônia, que hoje dependem de térmicas. O consumo de combustível fóssil será substituído por energia solar e biodiesel, diminuindo a emissão de gases poluentes.

“Nós lançaremos, na Amazônia, um dos maiores programas de descarbonização do planeta. O Norte do Brasil consome R$ 12 bilhões por ano de óleo diesel para tocar sistemas isolados da Amazônia. Nós faremos uma transição desse sistema isolado para uma energia lima e renovável, dando ao planeta uma sinalização clara do nosso esforço nesse sentido. São programas que demonstram o nosso mais absoluto comprometimento com o mundo”, afirmou.

Hidrogênio verde na transição energética: desafios regulatórios

O hidrogênio verde (H2V) pode ser um importante precursor da transição energética, visto que é um energético extremamente versátil, oriundo de fonte de energia limpa e que não emite gases de efeito estufa (GEE).

O principal benefício da sua aplicação é a descarbonização de setores difíceis de serem eletrificados, como o transporte de cargas naval e rodoviário, a aviação e as indústrias de siderurgia, metalurgia, fertilizantes e mineração.

No entanto, existem desafios técnicos e econômicos que precisam ser vencidos para seu amplo uso industrial. A produção em escala do H2V ainda é muito cara e a infraestrutura necessária para seu armazenamento e transporte ainda está em desenvolvimento.

Além disso, a eficiência do processo de eletrólise da água – o meio mais comum da produção de H2V – necessita de aperfeiçoamentos para que se torne competitiva em comparação com o uso direto de outras fontes de energia.

Diante desses desafios, muitos países e empresas estão investindo em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias relacionadas ao energético. Afinal, embora o mercado ainda esteja em estágio inicial, há uma crescente demanda por esse energético em várias indústrias, com destaque para a de gases, fertilizantes e mineração.

Em 2017, apenas o Japão tinha uma estratégia nacional de hidrogênio, segundo dados da Agência Internacional para as Energias Renováveis (Irena, na sigla em inglês).

Hoje, mais de 30 países desenvolveram ou estão preparando estratégias para a produção e o consumo do H2V, indicando um interesse crescente no desenvolvimento de sua cadeia de valor. Dentre esses países, destacam-se Estados Unidos, China, Arábia Saudita, Austrália, Coreia do Sul e Canadá, além da União Europeia.

O bloco europeu, recentemente, aprovou duas leis que representam avanços relevantes para a consolidação do H2V no cenário energético mundial. A primeira define as condições para que o hidrogênio seja considerado um combustível renovável de origem não biológica (em inglês: renewable fuels of non-biological origin – RFNBOs) e a segunda estabelece uma metodologia de cálculo das emissões de GEEs do ciclo de vida para os RFNBOs.

Já no Brasil, a publicação de três resoluções do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) trouxe implicações positivas para o desenvolvimento do hidrogênio no país:

  • Resolução CNPE nº 2 de 2021: inclui o hidrogênio como um dos temas a ser priorizado na destinação de recursos de pesquisa, desenvolvimento e inovação regulados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP);
  • Resolução CNPE nº 6 de 2021: determina a proposição de diretrizes para o Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2); e
  • Resolução CNPE nº 6 de 2022institui o Programa Nacional do Hidrogênio e cria o Comitê Gestor do Programa Nacional do Hidrogênio.

Quem vai regular (e fiscalizar) o quê

No que se trata da regulação afeta ao H2V no Brasil, ainda não há uma clareza quanto ao papel e à competência dos diferentes órgãos, instituições e agências na sua regulamentação e fiscalização. A seguir são indicados possíveis papéis das principais agências reguladoras:

  • ANP – responsável pela fiscalização do setor de petróleo, gás natural e biocombustíveis no Brasil: em relação às novas tecnologias do hidrogênio, a ANP estaria apta a desenhar os requisitos técnicos (como qualidade e segurança) afetos à produção, transporte, armazenamento e distribuição do hidrogênio.
  • Aneel – responsável pela regulação e fiscalização da geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica: pode estabelecer as condições necessárias para que o hidrogênio seja considerado verde, em função da fonte de energia a partir da qual for produzido.
  • Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) – responsável pela regulação e fiscalização dos recursos hídricos no Brasil: na condição de regulador da água, a ANA obrigatoriamente precisa ser envolvida como agente regulador nas atividades relativas à captação do insumo.

Além das mencionadas agências, é válido citar que o Ministério de Minas e Energia (MME), como implementador de políticas públicas, e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), como desenvolvedor de estudos e pesquisas relacionadas ao planejamento energético no país, devem ter participação ativa nesse processo.

Já os aspectos ambientais devem ser liderados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Cabe ressaltar ainda as iniciativas da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), que recentemente lançou a primeira Certificação de Hidrogênio do Mercado Brasileiro, versão inicial de um documento que atestará a origem de produção do insumo a partir de fontes de baixa emissão de carbono, com o objetivo de atender a demanda de projetos-piloto na área no Brasil.

No Congresso

Pelo ângulo legislativo, já estão em discussão, no Congresso Nacional, projetos de lei que disciplinam o hidrogênio verde no país, tais como o PL nº 725/2022, o PL nº 1.878/2022, e o PL nº 2.308/2023. Apelidado de Lei do Hidrogênio, é importante destacar que o nº PL 725/2022 insere o hidrogênio na Lei nº 9.478/1997, a Lei do Petróleo – sendo assim o combustível passaria a ser regulado pela ANP.

Vale observar ainda que, também no contexto legislativo, a Comissão Especial para Debate de Políticas Públicas sobre Hidrogênio Verde (CEHV), criada no Senado em março de 2023, tem papel fundamental na harmonização desses projetos em tramitação no Congresso.

O expediente das resoluções conjuntas, modelo amparado pelo artigo 29 da Lei nº 13.848/19, permitiria que as diferentes agências reguladoras harmonizassem a regulamentação de temas multidisciplinares afetos ao hidrogênio. Esse formato traria maior segurança jurídica aos investidores e mais clareza quanto à competência das agências, além de mitigar a sobreposição de normas.

O fato é que é necessário um trabalho conjunto e multidisciplinar das agências reguladoras, associações, empresas do setor de energia e academia visando garantir maior assertividade na estruturação de diretrizes e no desenho da regulamentação voltada ao H2V.

Isso é fundamental para que o mercado continue a crescer nos próximos anos, impulsionado também por avanços tecnológicos, políticas públicas favoráveis e a necessidade de redução das emissões de GEE.

Nova enzima pode impulsionar a produção sustentável de combustível para aviação

Nas últimas décadas, cientistas têm se dedicado a procurar soluções para melhorar o processo de fabricação sustentável dos biocombustíveis a partir de fontes renováveis. O mais recente avanço nesse campo foi anunciado por pesquisadores brasileiros há cerca de dois meses e pode impulsionar a produção de biocombustível para transporte aéreo e marítimo.

“Após três anos e meio de pesquisa, identificamos uma enzima que pode substituir os catalisadores tradicionais utilizados em rotas termoquímicas para a produção de bioquerosene de aviação [Sustainable Aviation Fuel ou SAF]”, diz Letícia Zanphorlin, coordenadora do estudo e pesquisadora líder do Laboratório Nacional de Biorrenováveis do Brasil (LNBR) do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).

A enzima descoberta pelo grupo do CNPEM chama-se descarboxilase ou OleTPRN e pertence à classe das citocromo P450. Trata-se de uma metaloenzima proveniente da bactéria Rothia nasimurium e promete ser a chave para o desenvolvimento de novas rotas biotecnológicas para a produção de hidrocarbonetos renováveis para a aviação a partir de diferentes matérias-primas: biomassas oleaginosas (originárias da soja, macaúba ou milho, entre outros) ou lignocelulósicas (de fontes como o bagaço ou a palha da cana e da indústria do papel).

“Em comparação com os catalisadores convencionais ou químicos, a nova enzima faz a reação de descarboxilação de ácidos graxos (reação química que leva à cisão carbono-carbono e causa a remoção do grupo carboxila dos ácidos graxos) com alto rendimento e é seletiva para diferentes tamanhos e tipos de cadeia de carbono. Ela promove a desoxigenação, que é um dos grandes entraves para a produção de SAF”, explica Zanphorlin.

A pesquisadora explica que o oxigênio pode causar danos às peças e motores das aeronaves. Isso ajuda a entender por que os biocombustíveis já produzidos em larga escala pelo Brasil, como etanol e biodiesel, não são usados em aviões e explica a demanda por novos biocatalisadores. Em geral, os catalisadores convencionais utilizados em rotas para produção de combustível de aviação são produzidos à base de metais, como cobalto, platina, níquel e paládio. “Esses catalisadores metálicos, para efetuarem a reação de desoxigenação, são aplicados em condições severas, de altas temperatura e pressão, podendo causar danos ao ambiente, produzindo resíduos tecnológicos e levando a perdas de rendimentos”, diz a cientista.

O estudo, publicado em Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), foi apoiado pela FAPESP por meio de quatro projetos (18/04897-9, 19/08855-1, 19/12599-0 e 20/01967-6).

Os autores do artigo afirmam que as enzimas atuam como catalisadores biológicos, acelerando reações químicas nos diversos organismos vivos presentes na natureza. No estudo em questão, a enzima é capaz de converter, em um único passo, ácidos graxos em alcenos (olefinas), um tipo de hidrocarboneto e importante intermediário químico.

Ácidos graxos são componentes essenciais dos lipídios, classe de compostos orgânicos que abrange gorduras, óleos e que pode ter origem a partir de plantas, animais e microrganismos.

A descoberta e elucidação dos mecanismos moleculares da nova enzima são fruto de uma abordagem multidisciplinar. Os pesquisadores utilizaram bancos de dados públicos em busca de enzimas com propriedades e funções específicas. A busca foi guiada por ferramentas de bioinformática e dados genômicos de microrganismos. A enzima em potencial foi estudada em nível atômico com uso de luz síncrotron, um tipo de radiação eletromagnética extremamente brilhante que, ao incidir sobre cristais de proteína, causa a difração dos elétrons ali presentes, permitindo aos cientistas elucidar a sua estrutura tridimensional.

“Avaliamos a posição de cada aminoácido que compõe a estrutura atômica dessa enzima e mapeamos suas interações intermoleculares com o ácido graxo”, descreve Zanphorlin. Foi aí que os pesquisadores vislumbraram todas as possíveis aplicações da descoberta.

Paralelamente ao trabalho no laboratório, outras equipes de profissionais do CNPEM trabalharam no registro da patente e na produção de avaliações técnicas, econômicas e ambientais dessas rotas de base biológica, que devem ser publicadas em breve.

“A enzima estudada teve a patente depositada em 2021. Esse é um dos grandes diferenciais do CNPEM: temos a oportunidade de desenvolver a tecnologia, escalonar em planta-piloto e num ambiente industrialmente relevante e realizar avaliações técnicas, econômicas e ambientais que nos ajudam a identificar possíveis pontos de melhorias na inovação em desenvolvimento”, relata a cientista.

As possibilidades de produção de combustíveis adequados à aviação com a ajuda da nova enzima são animadoras, segundo os pesquisadores. “No que se refere a resíduo lignocelulósico proveniente da cana-de-açúcar, atualmente o Brasil gera cerca de 150 milhões de toneladas de massa seca e isso pode ser aumentado sem gerar impacto ao meio ambiente”, exemplifica a pesquisadora.

Para a implementação dessa tecnologia seria necessário fazer adaptações no parque industrial de produção do biocombustível, mas seu uso e distribuição poderiam compartilhar da infraestrutura já utilizada pelos combustíveis de origem fóssil, que tem potencial para providenciar um combustível drop-in, com função idêntica aqueles à base de petróleo.

A equipe de pesquisa também se mostra otimista quanto ao impacto futuro em diversos setores industriais. “A versatilidade dessa enzima permite que seja adaptada para uso em diferentes setores. As olefinas, que são produzidas pela reação enzimática, são a base de aproximadamente dois terços da indústria química nos dias atuais para a produção, principalmente, de polímeros e plásticos. Isso abrange diferentes áreas, como alimentícia, cosmética, farmacêutica, transporte”, avalia a pesquisadora.

O artigo Dimer-assisted mechanism of (un)saturated fatty acid decarboxylation for alkene production pode ser lido em: https://www.pnas.org/doi/10.1073/pnas.2221483120.

Nova ‘enciclopédia’ do comportamento sedentário reforça importância do movimento para a saúde

Prevalente na vida moderna e alvo recente da ciência, o comportamento sedentário tem agora uma “enciclopédia” onde estão reunidas desde informações sobre impactos no organismo e na saúde humana até conceitos e recomendações. Em mais de 100 páginas, resultantes de três anos de pesquisa, cientistas brasileiros e de instituições internacionais revisaram a literatura sobre o tema.

O trabalho reforça a mensagem “Sente-se menos, mova-se mais”. E aponta uma série de lacunas em estudos clínicos e experimentais a serem preenchidas para elucidar os efeitos fisiológicos da combinação de exercícios com interrupções do período sedentário. Atualmente não há pesquisas suficientes para recomendar o quanto é preciso diminuir o comportamento sedentário para que não exista risco à saúde. O estudo está publicado na revista científica Physiological Reviews.

Mesmo indivíduos que praticam exercício moderado em determinado período, mas têm comportamento sedentário no restante do dia – permanecendo muito tempo sentados ou deitados enquanto acordados –, correm maiores riscos de desenvolver doenças cardíacas e vasculares, por exemplo. Nestas condições, o gasto de energia é muito baixo.

O trabalho mostra que o excesso de comportamento sedentário leva, entre outros, à resistência à insulina, disfunção vascular, redução da aptidão cardiorrespiratória, perda de massa e força muscular, além de aumento da massa de gordura corporal e visceral.

Além disso, o tempo excessivo em que as pessoas ficam sentadas ou deitadas tem impactos nas respostas fisiológicas semelhantes aos relatados para a inatividade física, com pouco exercício.

Quando adotadas intervenções de longo prazo destinadas a substituir ou interromper o sedentarismo com atividade física leve a moderada, os benefícios incluem apenas pequenas melhorias no peso, na circunferência da cintura, no percentual de gordura corporal, na glicemia de jejum, nos níveis de insulina e na função vascular em adultos e idosos.

Essas práticas, no entanto, podem servir como trampolim para aumentar a atividade física de pessoas com dificuldades para atingir metas de exercícios, como indivíduos com obesidade.

“Um ponto importante do combate do comportamento sedentário com atividades muito leves, como ficar em pé ou caminhar por alguns minutos, é que esta pode ser uma ‘porta de entrada’ para o indivíduo se tornar, adiante, mais ativo. Essa ideia é muito atrativa do ponto de vista da saúde pública, mas precisa de subsídios científicos, de estudos que mostrem que isso realmente acontece”, diz Bruno Gualano, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) e autor do artigo juntamente com os pesquisadores Ana Jéssica Pinto, Audrey Bergouignan (Université de Strasbourg), Paddy Dempsey (University of Cambridge), Hamilton Roschel (USP), Neville Owen e David Dunstan, sendo os dois últimos do Baker Heart and Diabetes Institute.

Gualano completa: “Conseguimos sumarizar a fisiologia do comportamento sedentário. Na nossa área (ciência da atividade física) se estuda muito o exercício, o esporte, mas pouco o comportamento sedentário ou a ausência do movimento, que ocorre quando passamos muito tempo sentados”.

Movimento

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a prática de exercícios físicos moderados por 150 a 300 minutos semanais ou vigorosos por 75 minutos para a manutenção e melhoria da saúde mental e física.

Alguns estudos demonstram que o ideal seria pelo menos 8 mil passos diariamente para reduzir riscos de mortalidade precoce por doenças evitáveis, embora achados recentes indiquem que cerca de 7 mil passos ao dia já reduzem consideravelmente as chances de morte prematura. A intensidade da atividade física pode variar de leve (como caminhada durante as compras), moderada (as que deixam a pessoa com a respiração ofegante) a intensa (exercícios que levam à exaustão).

Estima-se que 1 bilhão de pessoas no mundo viverão com obesidade até 2030, de acordo com o Atlas Mundial da Obesidade, da organização internacional World Obesity Federation, voltada para redução, prevenção e tratamento da doença. Para o Brasil, a estimativa é que a obesidade atingirá cerca de 30% das pessoas adultas.

Pesquisa do Ministério da Saúde – a Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico) de 2021 – indica que atualmente 22% dos brasileiros adultos já apresentam obesidade, condição calculada por meio do Índice de Massa Corporal. Para calcular o IMC, é dividido o peso do indivíduo pela altura ao quadrado – resultado entre 25 e 30 é considerado sobrepeso (condição que atinge 57% dos brasileiros adultos) e maior do que 30, obesidade.

A obesidade está relacionada ao aumento do risco para outras doenças, como as do coração, diabetes, hipertensão arterial, doença do fígado e diversos tipos de câncer (cólon, reto e de mamas), problemas renais, asma e, mais recentemente, ao agravamento de casos de COVID-19.

Nos últimos anos, o comportamento sedentário também vem sendo associado à mortalidade por causas evitáveis. E mesmo quem faz algum tipo de exercício, mas tem um tempo elevado em comportamento sedentário, corre riscos de saúde.

“Essa é a revisão mais abrangente sobre o comportamento sedentário. Esperamos que o trabalho desperte o interesse de mais pesquisadores sobre o tema e direcione estudos futuros para melhorar a qualidade da evidência, preencher lacunas na literatura e evitar limitações atuais na área de comportamento sedentário e saúde”, diz a pesquisadora Ana Jéssica, primeira autora do artigo.

Quando doutoranda na USP, em 2020, Jéssica recebeu o prêmio da Sedentary Behaviour Research Network (SBRN, Canadá), na categoria Aluno/Trainee, em sua primeira edição. O reconhecimento foi pela dedicação, compromisso e contribuições para a área do comportamento sedentário (leia mais em https://agencia.fapesp.br/33948/).

A pesquisadora foi bolsista da FAPESP durante o doutorado – sob orientação de Gualano no Grupo de Pesquisa de Fisiologia Aplicada & Nutrição da FM-USP – e em estágio no exterior. Agora ela está na Universidade do Colorado (EUA).

Modelos limitados

Uma outra lacuna que, segundo os cientistas, ficou evidente com o trabalho foi a limitação dos atuais modelos experimentais usados para as pesquisas na área, que dificultam a compreensão da fisiologia do comportamento sedentário. Entre esses modelos estão repouso no leito, imobilização, redução da contagem de passos e redução ou interrupção do comportamento sedentário prolongado.

“Os modelos atuais têm muitas limitações. Quando você estuda a fisiologia de uma pessoa saudável que fica acamada ou engessada, por exemplo, por um período, digamos, de 30 dias, temos que ter em mente que isso não é o que ocorre no mundo real. Normalmente, as pessoas mesclam períodos sedentários com alguma quebra com atividade física, mesmo que muito leve”, explica Gualano.

Esse ponto é importante já que a maioria dos trabalhos incluídos na revisão foi realizada em grupos populacionais saudáveis, isto é, que não apresentavam fatores de risco alterados. Efeitos maiores de interrupção do comportamento sedentário poderiam ser observados em populações não saudáveis. Além disso, as evidências sobre os efeitos adversos do sedentarismo valem principalmente para adultos e idosos, já que para crianças e adolescentes há menos estudos disponíveis.

No artigo, foram examinadas as evidências fisiológicas relevantes relacionadas ao peso corporal e balanço energético, metabolismo intermediário, sistemas cardiovascular, respiratório, músculo esquelético e nervoso, além da imunidade e de respostas inflamatórias.

Pode-se concluir que o gasto energético, a frequência cardíaca, o fluxo sanguíneo do músculo esquelético e a atividade contrátil são maiores na posição sentada do que deitada, mas menores do que em pé e durante atividade física de qualquer intensidade.

Temático

A pesquisa também recebeu apoio da FAPESP por meio do Projeto Temático Reduzindo tempo sedentário em populações clínicas: o estudo take a stand for health, que tem Gualano como pesquisador responsável e o objetivo de testar intervenções para reduzir o comportamento sedentário.

A proposta é investigar os efeitos clínicos, fisiológicos, metabólicos e moleculares da redução do comportamento sedentário em populações específicas. Para isso, estão sendo realizados ensaios clínicos randomizados e estudos laboratoriais envolvendo pacientes com artrite reumatoide, pessoas com obesidade – submetidas à cirurgia bariátrica – e, mais recentemente, com COVID longa.

“Por mais que a gente tenha uma individualização da prescrição para reduzir comportamento sedentário, entendendo a rotina da pessoa para que a atividade física se encaixe em sua agenda, a aderência tem sido difícil. Fizemos isso com pacientes com obesidade, com doenças reumatológicas e o resultado, em termos de redução de comportamento sedentário, tem sido aquém do que imaginávamos. O que mostra o quão automático e enraizado é esse comportamento e, consequentemente, quão difícil é a aderência a programas desenvolvidos para combatê-lo”, avalia Gualano.

O artigo The Physiology of Sedentary Behavior pode ser lido em https://journals.physiology.org/doi/abs/10.1152/physrev.00022.2022.

FAPESP e Sebrae-SP anunciam duas chamadas para startups em busca de financiamento

Uma oportunidade de pós-doutorado em biotecnologia aplicada a biocombustíveis com bolsa da FAPESP foi aberta pelo Laboratório de biocombustíveis avançados de segunda geração (A2G Lab). O prazo de inscrição vai até segunda-feira (24/07).

O A2G Lab é sediado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e está vinculado ao Programa São Paulo Excellence Chair (SPEC) da FAPESP e ao Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN).

O projeto integra ciências da vida, engenharia e inovação envolvendo bactérias anaeróbias termofílicas fermentadoras de lignocelulose capazes de converter matérias-primas celulósicas em etanol sem adição de enzimas. O foco específico da pesquisa será utilizar uma combinação de ciência da fermentação e estratégias de engenharia genética para desenvolver culturas contínuas que sejam estáveis à contaminação.

Os candidatos devem ter demonstrada aptidão para o cultivo de microrganismos. Experiência com anaeróbios é obrigatória; conhecimento de cultura contínua e/ou biologia molecular é desejável, mas não é obrigatória.

As candidaturas devem ser submetidas em inglês. Os interessados devem enviar curriculum vitae, uma carta de apresentação descrevendo a experiência e motivação e informações de contato para três referências, para o coordenador do projeto, Lee Howard Lynd ([email protected]).

Mais informações sobre a vaga em: www.fapesp.br/oportunidades/6200/.

A oportunidade de pós-doutorado está aberta a brasileiros e estrangeiros. O selecionado receberá Bolsa de Pós-Doutorado da FAPESP no valor de R$ 9.047,40 mensais e Reserva Técnica equivalente a 10% do valor anual da bolsa para atender a despesas imprevistas e diretamente relacionadas à atividade de pesquisa.

Caso o bolsista de PD resida em domicílio fora da cidade na qual se localiza a instituição-sede da pesquisa e precise se mudar, poderá ter direito a um auxílio-instalação. Mais informações sobre a Bolsa de Pós-Doutorado da FAPESP estão disponíveis em www.fapesp.br/bolsas/pd.

Outras vagas de bolsas, em diversas áreas do conhecimento, estão no site FAPESP-Oportunidades, em www.fapesp.br/oportunidades.

Pós-doutorado em biotecnologia aplicada a biocombustíveis na Unicamp

41945 Pós-doutorado em biotecnologia aplicada a biocombustíveis na UnicampUma oportunidade de pós-doutorado em biotecnologia aplicada a biocombustíveis com bolsa da FAPESP foi aberta pelo Laboratório de biocombustíveis avançados de segunda geração (A2G Lab). O prazo de inscrição vai até segunda-feira (24/07).

O A2G Lab é sediado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e está vinculado ao Programa São Paulo Excellence Chair (SPEC) da FAPESP e ao Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN).

O projeto integra ciências da vida, engenharia e inovação envolvendo bactérias anaeróbias termofílicas fermentadoras de lignocelulose capazes de converter matérias-primas celulósicas em etanol sem adição de enzimas. O foco específico da pesquisa será utilizar uma combinação de ciência da fermentação e estratégias de engenharia genética para desenvolver culturas contínuas que sejam estáveis à contaminação.

Os candidatos devem ter demonstrada aptidão para o cultivo de microrganismos. Experiência com anaeróbios é obrigatória; conhecimento de cultura contínua e/ou biologia molecular é desejável, mas não é obrigatória.

As candidaturas devem ser submetidas em inglês. Os interessados devem enviar curriculum vitae, uma carta de apresentação descrevendo a experiência e motivação e informações de contato para três referências, para o coordenador do projeto, Lee Howard Lynd ([email protected]).

Mais informações sobre a vaga em: www.fapesp.br/oportunidades/6200/.

A oportunidade de pós-doutorado está aberta a brasileiros e estrangeiros. O selecionado receberá Bolsa de Pós-Doutorado da FAPESP no valor de R$ 9.047,40 mensais e Reserva Técnica equivalente a 10% do valor anual da bolsa para atender a despesas imprevistas e diretamente relacionadas à atividade de pesquisa.

Caso o bolsista de PD resida em domicílio fora da cidade na qual se localiza a instituição-sede da pesquisa e precise se mudar, poderá ter direito a um auxílio-instalação. Mais informações sobre a Bolsa de Pós-Doutorado da FAPESP estão disponíveis em www.fapesp.br/bolsas/pd.

Outras vagas de bolsas, em diversas áreas do conhecimento, estão no site FAPESP-Oportunidades, em www.fapesp.br/oportunidades.

Livro mostra relatos de experiência de professores em atuação na Educação Básica

Os resultados do estudo realizado no âmbito do Grupo de Pesquisas em Educação Física Escolar da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP) foram divulgados no livro Escrevivências da educação física cultural.

De autoria de Marcos Neira, professor da FE-USP, a obra é fruto de pesquisa financiada pela FAPESP. “A pesquisa objetivou compreender como os professores que atuam em redes de ensino que adotam como currículo oficial uma proposta contra-hegemônica de ensino da educação física – o chamado currículo cultural ou educação física cultural – traduzem-na para a prática”, afirmou Neira à Agência FAPESP.

O livro traz uma coletânea de relatos de experiência de professores e professoras que atuam na Educação Básica. “O(a)s professore(a)s que ousaram relatar e dar publicidade às suas experiências conseguiram estilhaçar o paradigma dominante que até então lhes impunha o silêncio. Há quem pense que apenas o(a)s intelectuais da universidade estão autorizado(a)s a falar sobre a prática educativa. Vez por outra, vão à escola, observam, anotam, filmam, fotografam e entrevistam para, em seguida, descrever o que viram e ouviram a partir do que pensavam antes mesmo de ultrapassar o portão. Os resultados de suas pesquisas são recheados de críticas e soluções mirabolantes dos problemas identificados, quando não romantizam, folclorizam e celebram o que somente ele(a)s chamam de boas práticas ou inovações pedagógicas”, destaca a apresentação da obra.

Os relatos da coletânea abordam experiências que os professores trouxeram à sala de aula, como a tematização de performances do TikTok, RPG no ensino remoto, brincadeiras indígenas, bate-papo sobre bicicleta, discussões sobre skate, competição de coleta de tampinhas, entre outros.

O livro está disponível para acesso gratuito em formato digital no Portal de Livros Abertos da USP.

Estudo revela lacunas de pesquisas ecológicas no território da Amazônia brasileira

Existem áreas pouco investigadas cientificamente na Amazônia brasileira, por diversos motivos. Um artigo publicado na revista Current Biology por cientistas do mundo todo reunidos no Consórcio Synergize revela não só as áreas, mas também os fatores que determinam esses gaps de investigação ecológica, abrindo possibilidades para orientar pontualmente o planejamento de novos investimentos em pesquisa na região.

O trabalho utilizou informações de 7.694 locais onde ocorreram investigações ecológicas para avaliar como a logística e a influência antrópica nas florestas explicaram a chance de diferentes regiões da Amazônia receberem pesquisas. O período analisado foi de 2010 a 2020, abrangendo estudos de nove grupos de organismos: invertebrados bentônicos (que habitam o fundo dos oceanos, estuários, rios e lagos ou vivem associados a substratos como sedimentos, rochas, troncos e plantas aquáticas), heterópteros, odonatas (grupo popularmente conhecido como “zigue-zague” ou “lavadeira” e que também inclui as libélulas), peixes, macrófitas, aves, vegetação lenhosa, formigas e besouros rola-bosta.

“O consórcio reuniu pessoas que contribuíram com bancos de dados sobre inventários padronizados e estudos que apresentassem esforços amostrais similares. Capturamos informação sobre três grandes grupos representativos da biodiversidade da Amazônia: animais vertebrados, invertebrados e a flora de florestas de terra firme, florestas alagáveis e de ambientes aquáticos (igarapés, rios e lagos). Este é o primeiro trabalho que o grupo publica”, explica o biólogo Mario Ribeiro de Moura, do Instituto de Biologia da Universidade de Campinas (Unicamp), um dos autores do artigo e integrante do consórcio.

As descobertas indicam que 15% a 18% das áreas com biodiversidade mais negligenciadas na Amazônia brasileira também mostram alta suscetibilidade às mudanças climáticas até 2050. A região em que há menor volume de pesquisas coincide com parte das áreas ameaçadas nas proximidades do arco do desflorestamento, região que contorna os limites sul, sudeste e leste da Amazônia e se concentra em parte dos Estados do Acre, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Tocantins.

Os dados revelam ainda que as maiores lacunas na pesquisa ecológica na Amazônia aparecem em ambientes de terra firme. “Isso é esperado e provavelmente reflete o papel que a rede de vias navegáveis da região tem em facilitar o acesso a florestas alagáveis (várzeas e igapós) e ambientes aquáticos.” Não por acaso, os cenários menos pessimistas aparecem ao longo dos rios, no nordeste do Pará e de Roraima, no sudeste do Acre e no norte de Rondônia. “Nesses locais teremos impactos menores das mudanças climáticas para o futuro, e o conhecimento que temos sobre as comunidades de espécies deles é melhor.”

O estudo foi apoiado pela FAPESP por meio de duas Bolsas de Pós-Doutorado no Brasil. Uma das Bolsas foi concedida a Raquel de Carvalho e outra a Angélica Faria de Resende. Moura foi apoiado no âmbito de um Auxílio Jovens Pesquisadores e uma Bolsa no Brasil.

Fatores impactantes

Os cientistas mapearam as áreas mais negligenciadas em pesquisa ecológica na Amazônia e a esse mapa sobrepuseram as áreas que mais seriam afetadas pelas mudanças climáticas, segundo uma métrica que reflete sua intensidade. Para os dados sobre desmatamento e degradação, usaram um estudo recente publicado na Science sobre os drivers de desmatamento na Amazônia. O cruzamento de dados revela que a pesquisa ecológica na Amazônia ocorre com mais frequência em ambientes já desmatados do que naqueles em que se espera desmatamento nas próximas três décadas.

“Estamos em ritmo de mudanças ambientais aceleradas, incluindo mudanças climáticas e transformações das paisagens. Para entendermos como essas mudanças afetam a biodiversidade, é preciso saber o que havia em determinada região antes que essas mudanças aconteçam. E a Amazônia é um dos últimos resguardos de biodiversidade tropical significativamente preservada, sendo essencial para compreender o efeito isolado de mudanças climáticas e destruição de hábitats sobre a biodiversidade. O estudo mostra áreas com alto risco de sofrerem modificações ambientais nos próximos anos e que ainda são desconhecidas para nós. Sem o conhecimento ecológico adequado, não será possível saber o que está mudando ou o que está sendo perdido,” diz Moura.

No que diz respeito à logística, a acessibilidade e a distância de instalações de pesquisa são importantes preditores da probabilidade da realização de trabalhos científicos. “O acesso é uma faca de dois gumes e a região do arco do desflorestamento comprova. A facilidade de acesso permite que os pesquisadores alcancem mais áreas, por isso há uma parte desse imenso arco sobre a qual já se sabe bastante. Mas, permite que os desmatadores e outros com piores intenções também cheguem lá. E ainda há pouca informação sobre as áreas ameaçadas que se localizam na fronteira do arco do desflorestamento”, afirma Moura.

O acesso aumentou com a proximidade de transporte e de instalações de pesquisa para todos os organismos de terra firme e para a maioria dos representantes de florestas alagáveis e hábitats aquáticos. “A duração da estação seca determina a facilidade de acesso por hidrovias. Nas florestas alagáveis, quanto menor a estação seca, maior é a possibilidade de acesso fluvial, o que contribui para ocorrências de pesquisas. Já nas áreas de terra firme, a estação seca mais pronunciada facilita o acesso terrestre, há menos lama envolvida e ausência de trechos alagados.”

A degradação florestal e a posse da terra também mostraram um efeito modesto, mas de importância consistente, em todos os grupos de organismos estudados na região. Esses dois fatores afetaram a pesquisa ecológica, com a probabilidade de pesquisa diminuindo ligeiramente em áreas degradadas e Terras Indígenas, mas aumentando em Unidades de Conservação. Resumindo: faz-se menos pesquisa em áreas degradadas e mais pesquisa em Unidades de Conservação do que em Terras Indígenas.

“É mais difícil viabilizar o acesso a comunidades indígenas ou talvez faltem mecanismos administrativos que conectem pesquisadores com órgãos que regulam o acesso às Terras Indígenas e com as próprias comunidades indígenas. Precisamos melhorar a integração entre as partes envolvidas e, sobretudo, envolver as comunidades locais no processo de geração de conhecimento. Nas Unidades de Conservação a quantidade de pesquisa é bem maior que nas Terras Indígenas, embora ambas sejam um tipo de área protegida”, diz o pesquisador.

Na avaliação de Raquel de Carvalho, essa distribuição é problemática, considerando que as terras indígenas ocupam cerca de 23% da Amazônia brasileira. “Ao mesmo tempo, várias terras indígenas são ainda as áreas mais preservadas do bioma amazônico. Seria muito interessante ter pesquisas nessas áreas”, ela diz.

Novas estratégias

Segundo Moura, a floresta amazônica está sub-representada em bancos de dados globais usados como base para estudos sobre biodiversidade. “Alertamos para a necessidade de integrar as informações que temos sobre a Amazônia aos bancos de dados globais e citamos alguns projetos com os quais o Consórcio Synergize pode contribuir de forma mais intensiva. As informações reunidas para o trabalho atendem, em grande parte, aos requisitos de outros bancos de dados existentes, sendo úteis para melhorar a representatividade da biodiversidade amazônica em novos estudos sobre mudanças globais. A partir deste trabalho, o consórcio visa se estabelecer como uma rede de colaboração importante para outros grupos de pesquisa interessados em atuar com mudanças ambientais na Amazônia.” O Synergize é coordenado por Joice Ferreira, da Embrapa Amazônia Oriental, e Filipe França, da Universidade de Bristol, com orientação de Jos Barlow, da Universidade de Lancaster, no Reino Unido.

Para o biólogo, os resultados do grupo deverão servir para orientar o estabelecimento de novas estratégias de financiamento dentro da Amazônia. “Sabendo onde estão as lacunas, os investimentos para conservação e a pesquisa da Amazônia podem mirar esses locais ou dar maior peso para as propostas que contemplem pesquisas nesses locais em futuras chamadas e editais. As políticas públicas podem levar esses resultados em consideração no planejamento de novas ações e programas de monitoramento e inventariamento da biodiversidade amazônica.”

O artigo Pervasive gaps in Amazonian ecological research pode ser acessado no endereço https://doi.org/10.1016/j.cub.2023.06.077.

VALE: Produção de minério de ferro cresce 6,3% no trimestre

A Vale produziu 78,7 milhões de toneladas de minério de ferro no segundo trimestre de 2023, um crescimento de 6,3% na comparação com o mesmo trimestre do último ano e impulsionado pela produção recorde no S11D para o trimestre, seguido por bom desempenho dos complexos Itabira e Vargem Grande, o que melhorou a qualidade média do portfólio de produtos da mineradora. No trimestre, a Vale obteve Licença de Operação da barragem Torto, que segue com o comissionamento em andamento. A produção de pelotas aumentou 5% no segundo trimestre, para 9,1 milhões de toneladas, devido à maior produção nas usinas de Tubarão como resultado do aumento na produção de pellet feed.

As vendas de finos de minério de ferro cresceram 1% no segundo trimestre de 2023 e atingiram 63,3 milhões de toneladas, enquanto a comercialização de pelotas alcançou 8,8 milhões de toneladas, um decréscimo de 0,4% sobre o mesmo trimestre de 2022. A recuperação veio com a produtividade do Terminal Ponta da Madeira ao longo do trimestre, após as restrições de carregamento causadas pelas fortes chuvas que impactaram embarques e vendas no primeiro trimestre do ano. A Vale espera um menor gap entre produção e vendas no terceiro trimestre com a venda de estoques formados no primeiro semestre, dependendo das condições de mercado.

A produção de cobre da Vale somou 78,8 mil t no segundo trimestre, um crescimento de 41% na comparação com o mesmo trimestre de 2022, principalmente, devido ao bem-sucedido processo de ramp-up da planta de Salobo III e à melhora do desempenho na operação de Sossego. Já as vendas de cobre somaram 73,8 mil t, 43,3% superior na comparação com o mesmo trimestre de 2022, em decorrência dos maiores volumes de produção. A produção de níquel atingiu 36,9 mil t no segundo trimestre de 2023, o que representa um aumento de 7,9% sobre o mesmo trimestre do ano passado, principalmente, graças ao melhor desempenho operacional em Sudbury e na Indonésia. As vendas de níquel aumentaram 2,5% no trimestre, para 40,3 mil t, devido à melhora de produção, permanecendo relativamente estável t/t devido à formação de estoques entre janeiro e março deste ano.

Fonte: Brasil 61

Ministério da Cultura lança edital para levar empreendedores culturais ao maior evento das indústrias criativas do país

O Ministério da Cultura lançou um edital para levar empreendedores e empreendedoras culturais ao Mercado das Indústrias Criativas do Brasil. Entre os dias 8 e 12 de novembro, em Belém, no Pará, vai acontecer a terceira edição do MICBR, o maior evento público das indústrias criativas do Brasil, que envolve rodadas de negócios, atividades de networking, showcases, mentorias, conferências e muito mais!

O Ministério da Cultura vai investir mais de um milhão de reais e levar 260 empreendedores culturais e criativos selecionados por meio de edital. As inscrições vão até o dia 17 de agosto, na Plataforma Mapas da Cultura. Podem concorrer empreendedores de00 artesanato, audiovisual e animação, circo, dança, design, editorial, hip-hop, jogos eletrônicos, moda, museus e patrimônio, música, teatro e áreas relacionadas à economia criativa. Esta é uma parceria entre o Ministério da Cultura e a Organização dos Estados ibero-americanos.

A ministra, Margareth Menezes, destaca a importância do evento. “Pra você ter uma ideia da importância desse evento, a economia criativa é responsável por mais de 3% do PIB nacional. O Mercado reúne compradores e vendedores de bens e serviços culturais de vários países em um intercâmbio focado no potencial econômico da cultura”.

Não perca tempo! Acesse o edital e faça a sua inscrição no MICBR 2023, através do site gov.br/cultura ou pelo instagram no @MICBRoficial!

Fonte: Brasil 61

Inteligência artificial: debate deve ter foco na pessoa humana, avalia especialista

Inteligência artificial (IA), proteção de dados e fake news são temas cada vez mais discutidos em todo o mundo, dada a sua importância. Leonardo Braga Moura, advogado e tutor da Academia da Organização Mundial da Propriedade Intelectual, defende que o debate seja pautado, principalmente, pela centralidade da pessoa humana e proteção aos direitos fundamentais.

O especialista destaca que os avanços tecnológicos permitem que máquinas tomem decisões, até então, inerentes aos seres humanos — o que pode representar uma ameaça. No entanto, o advogado argumenta que é necessário buscar equilíbrio, já que as novas tecnologias também podem possibilitar a evolução humana de maneira jamais vista em diferentes áreas.

“Temos uma ameaça, mas de outro lado o conflito é que, apesar de sermos ameaçados por uma tecnologia, ela também pode ser tecnologia que venha a oferecer os melhores benefícios para o desenvolvimento da humanidade jamais vistos. Desafios econômicos, políticos, sociais, ambientais podem ser, eventualmente, resolvidos com essa tecnologia”, afirma.

Para Leonardo Braga Moura, houve nos últimos anos um avanço significativo na legislação referente ao direito digital. Ele cita como exemplo o Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014)  e a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (Lei 13.709/2018), que já mostram resultados. Entretanto, a rápida evolução tecnológica demanda novos debates, como a regulamentação da inteligência artificial. Neste sentido, o Senado criou a Comissão de Comunicação e Direito Digital, que é vista com bons olhos por Braga Moura.

“Para que a gente não barre uma tecnologia que pode nos beneficiar de formas inimagináveis, mas também que a gente não venha a ser compelido a nossa liberdade, os nosso direitos mais fundamentais, é, sim, necessário esse debate. Eu entendo que o Senado está fazendo o certo, está acompanhando o que a Câmara já fez e que deve criar, com a participação da sociedade, da academia, do setor privado. Me parece ser uma iniciativa louvável”, elogia.

O presidente do colegiado, senador Eduardo Gomes (PL-TO), afirma que a comissão conversa com todos os segmentos ligados à área e que as audiências públicas para debate devem começar em agosto. O parlamentar entende que há um ambiente de regulação para proteção de dados e inteligência artificial. E defende uma política de combate às fake news que proteja os direitos dos cidadãos.

“Acho que também será identificado um ambiente seguro para promover uma política contra as fake news que garanta proteção de dados ao cidadão, proteção  à honra, a identificação de crimes de acordo com a Constituição, mas que também deixe a rede livre para receber novas contribuições  — e também para receber um ambiente de tecnologia e inovação. Que a gente não retire também o ambiente livre, que é as redes sociais para o desenvolvimento de novas tecnologias, para a relação entre as pessoas, com liberdade de expressão”, pontua o senador.

Marco regulatório

Tramita no Senado projeto de lei para regular a utilização da inteligência artificial no Brasil. De autoria do presidente da Casa, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o PL 2338/2023 tem como base outras propostas em tramitação na Câmara e no Senado e também o relatório elaborado por uma comissão de juristas, criada com o objetivo de desenvolver a regulamentação da IA no país. Para o senador Eduardo Gomes, o projeto deve passar por mudanças e contribuições tanto no Senado quanto na Câmara.

“O que acontece é que esse projeto, a comissão de juristas levantou todo o escopo, toda a necessidade de regulação, mesmo ainda na época havendo dúvidas sobre regular ou não a inteligência artificial. Com os últimos acontecimentos, essa dúvida já foi dissipada. Todo mundo sabe que vai ter que ser regulada. Muito mais do que o mérito do projeto nesse momento, é mostrar às pessoas que existe um ambiente”, ressalta.

Dentre outros pontos, a proposta estabelece fundamentos para o desenvolvimento e implementação do uso de sistemas de IA; prevê direitos às pessoas afetadas e medidas para fomentar a inovação; traz diretrizes sobre direitos autorais em conteúdos criados por IA; e veda técnicas que apresentem risco excessivo.

“O projeto tem um duplo objetivo. De um lado, estabelece direitos para proteção do elo mais vulnerável em questão, a pessoa natural que já é diariamente impactada por sistemas de inteligência artificial. De outro lado, ao dispor de ferramentas de governança e de um arranjo institucional de fiscalização e supervisão, cria condições de previsibilidade acerca da sua interpretação. E, em última análise, segurança jurídica para inovação e o desenvolvimento tecnológico”, argumenta o senador em sua justificativa.

O que é inteligência artificial

De acordo com a consultora na área de proteção de dados e governança da internet no Instituto de Referência em Internet e Sociedade (IRIS), Juliana Roman, os sistemas de inteligência artificial são capazes de adaptar o seu comportamento, até certo ponto, por meio de uma análise dos efeitos das ações anteriores e de um trabalho autônomo, a chamada machine learning (aprendizado de máquina). Ela esclarece que a inteligência artificial copia algumas capacidades humanas.

“A inteligência artificial é a capacidade que tem uma máquina para reproduzir competências semelhantes às humanas, como é o caso do raciocínio da aprendizagem, planejamento e também da criatividade. A inteligência artificial permite que sistemas técnicos percebam o ambiente que os rodeiam e lidem com essa percepção resolvendo problemas agindo no sentido de alcançar um objetivo específico”, explica Juliana Roman.
Fonte: Brasil 61

Quase metade das cidades brasileiras têm obras paradas; falta de planejamento está entre principais causas

Levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM) mostra que 45% das cidades brasileiras têm obras paradas, o que corresponde a 2.494 municípios do país. De acordo com a entidade, entre 2012 e 2022, o total de obras públicas paradas no Brasil chega a 5.380, e representam um valor contratado, pactuado ou empenhado superior a R$ 23,2 bilhões.

A maior parte das obras paradas nos municípios são na área da educação, com 49% do total, seguidas de obras habitacionais, com 40%. O economista Newton Marques destaca que, a partir do momento em que a obra tem início, já está empenhado dinheiro público nela — e a não continuidade representa desvantagens para a população. 

“A paralisação de obras públicas, não importa qual seja o setor, traz, obviamente, prejuízos, porque a partir do momento que começou a obra, já foi empenhado recurso e tem que se acabar, porque tem um objetivo. A população vai se sentir prejudicada porque, a partir do momento que não se conclui uma escola, um hospital, ou mesmo uma ponte, uma estrada, isso é prejudicial à população”, pontuou.

As principais obras paradas são de construção de escolas e creches; projetos habitacionais; pavimentação asfáltica; construção de estradas vicinais; construção de orlas; obras em esgoto; água; melhorias sanitárias domiciliares e saneamento rural, além das obras em escolas e creches, Unidades Básicas de Saúde e Unidades de Pronto Atendimento.

Motivos das obras paradas

O especialista em orçamento público Cesar Lima destaca que obras públicas paradas são um problema antigo da administração pública brasileira, e analisa o que motiva isso. “Vários estudos, principalmente do TCU, indicam que a principal causa de paralisação das obras é a falta de planejamento, planejamento errado para obras que, às vezes, são superdimensionadas ou mesmo subestimadas. Planeja de uma forma, no meio do caminho o prefeito decide mudar aquela destinação, ou o prefeito que sai deixa a obra para que o próximo gestor termine — e este não termina por achar que o outro prefeito vai levar as glórias”, explica Lima.

Além do apontado pelo especialista, o estudo da Confederação Nacional de Municípios também elenca outros fatores para o abandono das obras antes do término. São eles: falta de declaração de regularidade do órgão federal; ausência de medição há mais de 90 dias da obra; rescisão contratual com empreiteiras; não obtenção  de licenças; ações judiciais; demora na liberação de recursos pela União, desistência dos fornecedores, entre outros.

O advogado Ricardo Medina Salla, especialista em solução de disputas no setor de infraestrutura e sócio do Tolledo Marchetti Advogados, também como motivo da paralisação a demora na resolução de pendências ao longo do processo das obras. “As obras se paralisam porque as partes — administração pública e privado contratado —  demoram muito para resolver as suas pendências, que nascem ao longo da execução da obra, e é natural que nasçam pendências ao longo da execução da obra, e quando elas deixam de ser saneadas rapidamente. Aí é que o imbróglio vai se avolumando”, destaca.

Responsabilidade

O advogado Thiago Castro, especialista em direito público e direito constitucional, explica que falta legislação a respeito da responsabilidade dos gestores públicos sobre as obras paradas. “Um dos grandes desafios e maiores implicações que pode ter em virtude das obras inacabadas é a ausência de responsabilidade dos governantes, nesses casos especificamente, porque não existe legislação própria que discuta a responsabilidade do gestor em decorrência de obras inacabadas”, disse.

Castro ainda contextualiza que a grande prejudicada nesses casos é a população. “Acima de tudo, nós temos aqui a não atuação efetiva do bem público, de prestar o serviço para a comunidade. São impactos, às vezes, incalculáveis, quando as obras não são finalizadas, e é um gasto do dinheiro público que gera um dano ao erário”, finaliza.

Diferenças regionais

A maior parte das obras paradas está nas regiões Nordeste e Norte. O estado com maior número é o Maranhão, com 726 ao todo, sendo a maior parte delas na educação, 474. Completam o ranking dos estados com mais obras paradas Bahia, com 611; e Pará, com 531. Por outro lado, unidades com a menor quantidade de obras paradas, desconsiderando o Distrito Federal, são Roraima, com 41, e Acre e Mato Grosso do Sul, com 44 cada. Confira a quantidade por região do país:

  • Nordeste – 2.805
  • Norte – 1.228
  • Sudeste – 617
  • Sul – 397
  • Centro-Oeste – 333

Entre as cidades que têm obras paradas, 56% delas possuem uma única obra paralisada. Por outro lado, 46 municípios registram 10 ou mais obras paradas, correspondendo a 11,5% do total de obras municipais, entre 2012 e 2022, com 610 obras paralisadas.

Fonte: Brasil 61