5 gráficos mostram o progresso climático no 10º aniversário do Acordo de Paris

O Acordo de Paris de 2015 abriu caminho para que o mundo evitasse os piores cenários de mudança climática. Eis a situação 10 anos depois.

Há dez anos, o mundo se uniu para traçar um caminho para sair da emergência climática na forma de um tratado global denominado Acordo de Paris.

Nos termos do acordo, as nações se comprometeram a manter o aumento da temperatura global “bem abaixo” de dois graus Celsius em relação aos níveis pré-industriais e a se esforçar para limitar esse aumento a 1,5 graus Celsius. Essas metas eram ambiciosas e exigiam que as emissões de gases de efeito estufa começassem a diminuir até 2025.

Apesar disso, as emissões continuam a aumentar. As negociações anuais para a implementação do Acordo de Paris prosseguiram nas últimas duas semanas na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), no Brasil, onde os participantes reconhecem duas verdades simultâneas: fizemos progressos significativos na proteção do nosso planeta, mas ainda são necessários grandes avanços para evitar os piores cenários. Esses avanços são desafiadores, visto que o presidente Donald Trump está, mais uma vez, retirando os EUA do acordo e que países como a China e a Arábia Saudita ainda tentam manter os combustíveis fósseis na matriz energética. A China, no entanto, está ultrapassando rapidamente os EUA como potência em energias renováveis, e a energia solar e eólica têm apresentado crescimento exponencial em todo o mundo nos últimos anos.

Estes cinco gráficos mostram por que o Acordo de Paris é vital — e como o mundo está se saindo 10 anos após o início do projeto.

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Amanda Montañez; Fonte: Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus ( dados de 1900 a 2024 ); Organização Meteorológica Mundial ( projeção para 2025 )

 

O Acordo de Paris baseia-se no aumento das temperaturas em comparação com uma linha de base pré-industrial não especificada, geralmente considerada como a segunda metade do século XIX. Todos os anos desde 1970 — há mais de meio século — as temperaturas têm estado acima dessa média e continuam a subir vertiginosamente.

Em 2015, a temperatura média global era 1,1 grau Celsius mais alta do que no período pré-industrial. Hoje, está em torno de 1,3 grau Celsius. (Em 2024 — o ano mais quente já registrado — o planeta registrou mais de 1,5 grau Celsius acima da média, mas o Acordo de Paris considera a média ao longo de muitos anos. A Organização Meteorológica Mundial prevê que 2025 terá uma temperatura cerca de 1,4 grau Celsius acima da média pré-industrial e será o segundo ou terceiro ano mais quente já registrado.)

aumento é alarmante, mas não é o fim da história — especialmente se a humanidade conseguir interromper a poluição climática com rapidez suficiente para reverter a tendência de aquecimento. “Cada tonelada importa; cada décimo de grau que evitamos importa; cada ano importa”, afirma Costa Samaras, especialista em política energética da Universidade Carnegie Mellon.

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Amanda Montañez; Fonte“IPCC 2014: Resumo para Formuladores de Políticas”, em Mudanças Climáticas 2014: Mitigação das Mudanças Climáticas . Grupo de Trabalho III do Quinto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. Cambridge University Press, fevereiro de 2015 ( projeção de 2015 ); Rhodium Group ( projeção de 2025 ).

De fato, antes do Acordo de Paris, previa-se que o mundo registraria um aquecimento entre 3,7 e 4,8 graus Celsius até 2100. Mas, se as nações cumprirem seus compromissos de Paris para reduzir as emissões, esse nível de aquecimento cairá para cerca de 2,9 graus Celsius, com uma faixa provável de 2,3 a 3,4 graus Celsius, de acordo com uma estimativa recente.

No entanto, mesmo seguindo o roteiro de Paris, ainda é um desafio enorme — e seus objetivos permitem alguma emissão de poluentes de carbono na atmosfera.

“Enquanto as emissões globais não atingirem o nível zero líquido”, diz Samaras, “as consequências climáticas de amanhã serão piores do que as de hoje”.

Essas consequências climáticas poderiam ser desastrosas, embora não tão desastrosas quanto as que ocorreriam em nossa trajetória pré-Paris. Novas pesquisas mostram que, com um aquecimento de cerca de quatro graus Celsius, os residentes dos EUA veriam cerca de 118 dias extremamente quentes a mais do que ocorreriam em um clima pré-industrial até o final do século. (Outras nações teriam um desempenho ainda pior.)

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Se cumprirmos os compromissos atuais de redução de emissões, o número de dias com o pior calor em 2100 cairá para 88 nos EUA. Se conseguirmos limitar o aquecimento global a 1,3 graus Celsius, os EUA terão apenas 58 dias assim por ano, em média.

Exposicao-a-Eventos-Extremos-por-Idade.SEM-LEGENDA 5 gráficos mostram o progresso climático no 10º aniversário do Acordo de Paris Amanda Montañez; Fonte“Desigualdades intergeracionais na exposição a eventos climáticos extremos”, por Wim Thiery et al., em Science , Vol. 374; 8 de outubro de 2021 ( dados )

 

É claro que, mesmo que cumpramos os compromissos atuais, haverá consequências climáticas de qualquer forma. Com um aquecimento de 2,6 graus Celsius, as crianças de cinco anos de hoje enfrentarão 22% mais ondas de calor do que os jovens de 15 anos de hoje, segundo um estudo do cientista climático Wim Thiery, da Universidade Livre de Bruxelas. Da mesma forma, as crianças de hoje enfrentarão mais do que o dobro de ondas de calor do que seus pais de 35 anos — e mais de seis vezes mais do que seus avós de 65 anos.

Outros desastres provocados pelas mudanças climáticas, incluindo secas, incêndios florestais e ciclones tropicais, também estão se tornando mais frequentes.

Geracao-Global-Anual-de-Eletricidade-por-Fonte-2015-–-2025 5 gráficos mostram o progresso climático no 10º aniversário do Acordo de Paris Amanda Montañez; Fonte: Agência Internacional de Energia ( dados )

Um dos principais pontos positivos desde a assinatura do Acordo de Paris é o crescimento exponencial das energias renováveis . Um ganho particular foi a entrada em operação de usinas de energia solar muito mais rápida do que qualquer um esperava em 2015. Melhor ainda, a energia gerada por essas usinas está sendo armazenada para uso noturno graças à tecnologia de baterias, que era inexistente quando o Acordo de Paris foi assinado. “As baterias são realmente o grande milagre aqui”, afirma Samaras.

Agora precisamos de uma história de sucesso semelhante para setores como transporte, agricultura, indústria e uso da terra. “Espero que possamos revisitar isso daqui a 10 anos e dizer que o Acordo de Paris iniciou uma rápida redução nas emissões de gases de efeito estufa”, diz Samaras. “Mas precisamos trabalhar pelos próximos 10 anos para que isso aconteça”.

 

Texto: *Meghan Bartels – Meghan Bartels
Fotos: Amanda Montañez, Cambridge University Press, Climate Central e World Weather Attribution, Copernicus, IEA, IPCC 2014, OMM, Rhodium Group, Wim Thiery et al., em Science, World Weather Attribution

Ipaam aponta aumento de ocorrências de animais silvestres em bairros urbanos

O avanço da urbanização em Manaus continua a evidenciar um fenômeno que se repete há anos, mas que ganha novas nuances a cada estação: a aproximação da fauna silvestre de áreas densamente povoadas. Em novembro, esse movimento ficou ainda mais evidente. O Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) registrou 38 resgates de animais silvestres somente na capital, a partir de chamados feitos diretamente pela população. Os números, mais do que estatísticas mensais, revelam o desafio constante de conciliar a vida urbana com a rica biodiversidade amazônica.

A operação é conduzida pela Gerência de Fauna do instituto, responsável por atender situações em que animais silvestres aparecem em locais de intenso fluxo humano ou se encontram em risco. Em novembro, aves, mamíferos e répteis circularam por bairros residenciais e zonas comerciais, muitas vezes desorientados ou buscando refúgio.

Entre as espécies mais frequentes estão o periquito-asa-branca, o periquitão-do-maracanã e o pariri, todos encontrados em múltiplas ocorrências. Rapinantes como o gavião-carijó também figuraram entre os resgates, revelando como até predadores adaptados a ambientes mais amplos podem acabar em situação de vulnerabilidade dentro da cidade. Répteis como a jiboia reforçam outra realidade: não é raro que serpentes sejam vistas em quintais, garagens ou mesmo dentro de residências, especialmente em áreas próximas a fragmentos de floresta.

O diretor-presidente do Ipaam, Gustavo Picanço, destaca que o envolvimento da população é determinante para o sucesso da operação, mas reforça que é preciso compreender os limites de atuação do órgão. Ele lembra que a Gerência de Fauna atua exclusivamente no resgate de espécies silvestres, não sendo responsável pelo recolhimento de animais domésticos como cães e gatos ou de espécies consideradas sinantrópicas, caso de pombos, ratos e morcegos. A orientação correta, afirma, evita desperdício de tempo e garante que situações de risco real sejam atendidas com agilidade.

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FOTOS: Divulgação/Ipaam

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Outras espécies chamaram atenção ao longo do mês. Foram registrados resgates de preguiça-real, araçari-de-bico-branco, cutias, macacos-de-cheiro, gambás, saracuras e diversas outras espécies que, à primeira vista, não parecem habituadas a centros urbanos. Essas ocorrências mostram que os limites entre cidade e floresta são, em Manaus, mais tênues do que se imagina.

Os bairros de maior incidência também ajudam a mapear esse comportamento. Tarumã liderou com quatro casos, seguido por Flores, São José Operário e Distrito Industrial 1, cada um com três ocorrências. Chapada, Ponta Negra, Centro, Parque 10, Mauazinho, Cidade Nova, Nova Cidade, Japiim e Jorge Teixeira registraram duas chamadas cada, ilustrando uma distribuição diversa ao longo da capital.

A responsável pela Gerência de Fauna, Sônia Canto, reforça que o primeiro passo do atendimento não é a entrega de animais na sede do órgão, mas sim o envio de informações básicas por WhatsApp, incluindo foto e localização. O protocolo permite que a equipe avalie rapidamente a situação, evitando riscos tanto para os animais quanto para os moradores.

Depois do resgate, vem a etapa de avaliação e triagem. O médico-veterinário Eduardo Marques, integrante da equipe, explica que muitos animais podem ser reconduzidos à natureza logo após a análise técnica. Ele reforça que oferecer alimento – especialmente pão, bolachas ou frutas industrializadas – pode prejudicar gravemente a saúde das espécies.

Os animais que necessitam de cuidado prolongado são encaminhados ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), administrado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Ali, passam por tratamento veterinário e reabilitação até que estejam aptos para retorno ao habitat natural. As solturas são feitas em Áreas de Soltura de Animais Silvestres autorizadas pelo próprio Ibama.

Para acionar o resgate, a população deve enviar foto e localização do animal para o WhatsApp da Gerência de Fauna: (92) 98438-7964, de segunda a sexta, das 8h às 14h.

China assume liderança global em ciência e inovação, mostram novos estudos

Da bancada de pesquisa em Beijing aos satélites que monitoram o planeta em alta resolução, a ciência chinesa vive um momento de expansão inédita. Uma sucessão de estudos, rankings e avaliações internacionais publicados por instituições como o Nature Index, a Organização Mundial da Propriedade Intelectual, a STINT, a Springer Nature e universidades de renome revela uma transformação profunda: a China consolidou-se como protagonista da inovação global, moldando tendências e redefinindo o equilíbrio científico internacional.

Essa ascensão, antes gradual, agora aparece como mudança estrutural. O suplemento Nature Index 2025 Science Cities mostra um cenário eloquente: pela primeira vez, seis das dez cidades mais influentes na produção científica mundial são chinesas. Beijing mantém a liderança pelo nono ano consecutivo, com crescimento acima de 9% em sua produção científica entre 2023 e 2024. Shanghai, por sua vez, registrou um salto próximo de 20% no mesmo período.

A análise de áreas específicas evidencia com ainda mais clareza o domínio chinês. As cidades do país ocupam todas as dez primeiras posições globais em química, resultado sem precedentes. Em ciências físicas e ciências da terra e do ambiente, seis dos dez primeiros lugares também pertencem a centros de pesquisa chineses. Em todas essas áreas, Beijing ocupa o topo mundial. Essa performance não se limita ao volume de publicações, mas ao impacto e à qualidade da pesquisa produzida.

As métricas de inovação corroboram essa tendência. O Índice Global de Inovação 2025, publicado pela WIPO, posicionou o cluster “Shenzhen-Hong Kong-Guangzhou” como o maior polo tecnológico do mundo. Pela primeira vez, a China aparece também entre as dez economias mais inovadoras globalmente, rompendo um marco simbólico e estratégico para sua política científica.

No campo das colaborações internacionais, a presença chinesa também se intensifica. Dados publicados no periódico PNAS mostram que cientistas chineses lideram hoje mais da metade dos projetos de pesquisa conjuntos com colegas do Reino Unido. O mesmo padrão se repete em parcerias com instituições dos Estados Unidos e da Europa. Para os autores do estudo, trata-se de uma reconfiguração silenciosa, porém profunda, das hierarquias globais de conhecimento.

 China assume liderança global em ciência e inovação, mostram novos estudos
Templo Yuantong
Henrik Berger Jorgensen (CC BY-NC-ND)

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A STINT, instituição sueca dedicada ao monitoramento da cooperação acadêmica internacional, reforça essa leitura. Seu relatório mais recente aponta que, quando o critério de avaliação prioriza publicações de alto impacto, a China já supera os Estados Unidos em áreas como matemática, computação e engenharia. Erik Forsberg, autor do estudo, descreve o fenômeno como “surpreendente e, para muitos, desconcertante”, refletindo uma transformação acumulada ao longo de duas décadas.

Outro marco significativo surgiu em um estudo de 70 anos conduzido pela New York University, que mostrou que a China foi responsável, em 2023, por 47% de todas as publicações globais em sensoriamento remoto — tecnologia central para monitoramento climático, agricultura, segurança hídrica e gestão ambiental.

Além da excelência científica, a China também se destaca por sua contribuição à agenda global de sustentabilidade. Segundo relatório da Springer Nature, o país é hoje o maior produtor de artigos relacionados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Essas pesquisas orientam decisões de políticas públicas em diferentes regiões do mundo, sendo amplamente citadas por organismos internacionais como a Organização Mundial da Saúde.

Nicola Jones, diretora do Programa ODS da Springer Nature, ressalta que os estudos chineses têm alto grau de aplicabilidade em políticas públicas, especialmente nas áreas de saúde e meio ambiente. Desde 2022, o volume de citações dos artigos chineses em documentos de políticas internacionais cresceu de forma substantiva.

Para a editora-chefe da revista Nature, Magdalena Skipper, essa influência crescente não deve ser vista como um deslocamento isolado, mas como parte de um ecossistema científico global cada vez mais interdependente. A contribuição chinesa, afirma, está se tornando decisiva em temas estratégicos para o futuro do planeta, da transição energética ao monitoramento ambiental.

A combinação de infraestrutura robusta, planejamento estatal e internacionalização acelerada coloca a China no centro das discussões sobre ciência e inovação na próxima década. Os números revelam mais que uma expansão quantitativa: mostram uma mudança qualitativa, capaz de redefinir prioridades científicas, redes de colaboração e o próprio mapa da pesquisa global.

Parceria entre FAPESP e SETUR-SP financiará estudos sobre sustentabilidade e inovação no turismo

O turismo paulista ganhará um novo impulso com o lançamento de uma chamada de propostas que une a FAPESP e a Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo (SETUR-SP). A iniciativa abre espaço para que pesquisadores desenvolvam estudos aplicados capazes de fortalecer um setor que movimenta economias locais, reconfigura territórios e amplia oportunidades de emprego em todo o estado.

A chamada representa o primeiro desdobramento concreto do acordo de cooperação assinado entre a FAPESP e a SETUR-SP em maio de 2025. Esse convênio instituiu o Programa Academia do Turismo SP, concebido para qualificar profissionais, incentivar a inovação e tornar o turismo um vetor estratégico de desenvolvimento. A proposta nasce do entendimento de que o turismo não é apenas um conjunto de atividades econômicas, mas um campo que articula dimensões culturais, ambientais, sociais e políticas, demandando conhecimento científico para aprimorar políticas públicas, consolidar boas práticas e ampliar sua competitividade.

Dentro desse contexto, a nova chamada busca selecionar projetos que contribuam para compreender, medir e transformar o turismo em São Paulo. Para isso, incentiva pesquisas que explorem diferentes aspectos da atividade turística, desde dinâmicas territoriais e fluxos de visitantes até modelos de gestão, inovação tecnológica, sustentabilidade e geração de trabalho e renda. O objetivo é apoiar estudos que ofereçam diagnósticos precisos, ferramentas de monitoramento e caminhos inovadores para aprimorar a atuação do poder público e das empresas do setor.

Os projetos contemplados receberão apoio financeiro por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular, tradicional mecanismo da FAPESP destinado a investigações de pequeno e médio porte. Apenas pesquisadores vinculados a instituições de ensino superior ou pesquisa, públicas ou privadas, sediadas no estado de São Paulo poderão submeter propostas. Cada projeto deverá escolher um dos sete eixos temáticos estabelecidos pela chamada: Turismo Inteligente; Turismo Sustentável; Gestão e Desenvolvimento Turístico; Urbanismo e Turismo; Economia do Visitante; Empregabilidade; e Gestão da Oferta.

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Operação Verão no Guarujá. Data: 22/01/2019. Foto: Governo do Estado de São Paulo

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Esses eixos refletem desafios concretos vividos hoje pelo setor. Turismo Inteligente, por exemplo, convida pesquisadores a explorar o papel de tecnologias digitais, sistemas de dados e soluções inovadoras na experiência dos visitantes e na tomada de decisões. Turismo Sustentável, por sua vez, chama atenção para a urgência de conciliar crescimento econômico com conservação ambiental e respeito às comunidades locais. O eixo de Urbanismo e Turismo reconhece a necessidade de compreender a cidade como ambiente turístico, onde mobilidade, infraestrutura e paisagem urbana moldam o modo como moradores e visitantes experimentam espaços públicos.

Os demais eixos abordam outras dimensões igualmente estratégicas. Economia do Visitante estimula estudos sobre gastos, comportamento e perfis dos turistas, dados essenciais para orientar investimentos e políticas de longo prazo. Empregabilidade incentiva análises sobre formação profissional, qualidade do trabalho e tendências de mercado. Já Gestão da Oferta e Gestão e Desenvolvimento Turístico tratam da capacidade dos municípios, empresas e organizações de aprimorar produtos turísticos, fortalecer governança e criar ambientes mais dinâmicos e articulados.

Para viabilizar essas investigações, a FAPESP estabeleceu limites excepcionais de financiamento. Projetos com duração de um ano poderão solicitar até R$ 200 mil. Já propostas com dois anos terão teto de até R$ 300 mil. Esses valores oferecem margem para que os pesquisadores formem equipes, executem trabalho de campo, elaborem diagnósticos, desenvolvam ferramentas inovadoras e construam parcerias com órgãos de governo e atores da cadeia produtiva.

As submissões devem ser realizadas exclusivamente pelo Sistema SAGe, plataforma eletrônica da FAPESP utilizada para gestão de projetos, até o dia 1º de abril de 2026. A chamada completa e suas instruções estão disponíveis no site da Fundação.

Ao promover essa iniciativa conjunta, FAPESP e SETUR-SP sinalizam que o futuro do turismo paulista depende de mais do que investimentos em infraestrutura e promoção de destinos. Depende da capacidade de gerar conhecimento estruturado, formar profissionais aptos a lidar com novas demandas e construir políticas baseadas em evidências. A chamada se apresenta, portanto, como uma oportunidade de aproximar ciência e gestão pública e de posicionar São Paulo como referência em inovação turística no Brasil.

FAPESP e ANII abrem chamada para impulsionar pesquisa internacional sobre o oceano

A preparação de novas colaborações científicas internacionais ganhou um impulso decisivo com a abertura de uma oportunidade conjunta entre a FAPESP e a Agencia Nacional de Investigación e Innovación (ANII), do Uruguai. A iniciativa viabiliza o intercâmbio de pesquisadores visitantes entre instituições paulistas e uruguaias, com o propósito de fomentar propostas multilaterais voltadas à chamada internacional do Belmont Forum sobre biodiversidade e sustentabilidade marinhas.

O lançamento da chamada consolida a cooperação estabelecida entre FAPESP e ANII desde 2023, quando as duas agências firmaram um acordo destinado a aproximar cientistas e estimular projetos colaborativos em áreas estratégicas. Esse movimento ganhou novo fôlego recentemente, durante o FAPESP Day Uruguay, realizado em Montevidéu nos dias 13 e 14 de novembro. O encontro aproximou grupos de pesquisa dos dois países e abriu espaço para aprofundar diálogos sobre desafios comuns no campo das ciências ambientais e do oceano.

A nova oportunidade está alinhada ao Programa FAPESP de Pesquisa em Cooperação no Oceano Atlântico Sul e Antártica (PROASA), iniciativa dedicada a consolidar uma rede científica interdisciplinar e multilateral capaz de conectar instituições e pesquisadores engajados em compreender e proteger os ecossistemas do Atlântico Sul e da região antártica. Assim, as visitas científicas apoiadas no âmbito da chamada devem contribuir para essa missão mais ampla: ampliar conexões internacionais, diversificar expertises e preparar terreno para projetos de largo alcance.

As propostas brasileiras e uruguaias deverão ser formuladas conjuntamente por pesquisadores responsáveis de ambos os países, estruturando visitas de curta duração voltadas à elaboração de projetos para a Chamada CRA Ocean 2 – Em direção ao oceano que desejamos: Biodiversidade e sustentabilidade dos ecossistemas para a natureza e o bem-estar humano. A iniciativa, coordenada pelo Belmont Forum, reúne mais de uma dezena de agências de fomento de quatro continentes e apoia consórcios internacionais que buscam enfrentar desafios ambientais globais.

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A Chamada CRA Ocean 2 exige que as propostas contemplem três eixos centrais: conservação da biodiversidade e soluções baseadas na natureza; integração oceano-biodiversidade-clima; e futuros da natureza, governança oceânica e ética. Esses temas respondem diretamente às grandes questões ambientais contemporâneas, unindo ciência básica, inovação e planejamento de políticas públicas. Assim, a chamada bilateral FAPESP-ANII priorizará projetos capazes de gerar novas parcerias e de produzir propostas competitivas no cenário internacional.

Os pesquisadores beneficiados deverão possuir vínculo formal com instituições de pesquisa em seus respectivos países. Do lado paulista, a FAPESP apoiará as visitas de especialistas uruguaios por meio da modalidade Auxílio Pesquisador Visitante, com financiamentos de até cinco meses. No sentido inverso, a ANII dará suporte para que pesquisadores brasileiros desenvolvam atividades em instituições uruguaias.

A submissão das propostas será totalmente realizada pelo Sistema SAGe, tanto por instituições paulistas quanto uruguaias. O prazo final de envio é 23 de janeiro de 2026. A chamada completa está disponível no endereço: https://fapesp.br/17900.

Com essa iniciativa, Brasil e Uruguai aprofundam sua cooperação científica e fortalecem uma agenda conjunta em defesa do oceano, da biodiversidade e do desenvolvimento sustentável. A abertura da chamada representa mais que um mecanismo de apoio financeiro: é uma oportunidade de consolidar redes, estimular o diálogo interdisciplinar e preparar novas respostas para os desafios que se impõem ao futuro dos ecossistemas marinhos.

Mulheres dominam 69 soluções para oceanos na COP30, mas recursos faltam

Na COP30, realizada em Belém em 2025, as águas do planeta finalmente receberam o protagonismo que merecem. Um mapeamento conduzido pelo Mutirão Azul revelou que das 69 iniciativas voltadas à ação climática no oceano identificadas durante a conferência, mais de 60% são lideradas por mulheres — um dado que ilumina a urgência de reconhecermos a voz feminina na construção de soluções ambientais.

Esses projetos abrangem um leque diverso: desde programas comunitários e ações de organizações não governamentais, até iniciativas de governos, escolas e empresas. Para muitos, representam não apenas criatividade e engajamento, mas uma esperança concreta de transformar o oceano em aliada na luta contra a crise climática. A COP30 marcou também o momento em que os oceanos ganharam um espaço formal e simbólico nas decisões climáticas globais: pela primeira vez, a agenda azul fez parte do documento final da conferência — um reconhecimento inédito da importância dos mares.

Entre os avanços oficiais, destaca-se o lançamento do Pacote Azul, um conjunto de medidas estruturadas para promover conservação e restauração de ecossistemas costeiros, adaptação costeira, proteção de recifes e manguezais, além da integração de soluções marítimas nos planos climáticos nacionais. Esse pacote pretende oferecer um roteiro prático e replicável para transformar compromissos climáticos em ações reais.

Para coordenar esse esforço global, foi criada a Força-Tarefa Oceânica — uma parceria entre Brasil e França que visa integrar soluções oceânicas às Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) de diversos países. A iniciativa também busca mobilizar apoio técnico e financeiro e facilitar o alinhamento entre governanças nacionais e compromissos globais.

A ascensão da economia do mar — a “economia azul” — ganha corpo com atores estratégicos no setor privado e da sociedade civil. Entre eles, a AYA Earth Partners e a Systemiq LatAm se destacam como difusoras de inovação e transição ecológica. Em Belém, a AYA assumiu papel central na curadoria da “Casa Brasil”, espaço de diálogo e visibilidade da agenda climática.

Contudo, embora o reconhecimento político e a mobilização da sociedade civil represente um avanço, o financiamento destinado à agenda azul segue muito aquém do necessário. Segundo a conselheira da AYA, Patrícia Ellen, menos de 1% do financiamento climático global vai para os oceanos — um dado que contrasta com a importância estratégica desse ecossistema para captura de carbono, biodiversidade, segurança alimentar e regulação climática.

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Foto: Mary Witzig/CC

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Ela alerta que a retórica da COP30 só ganhará peso se vier acompanhada de recursos concretos: “Sem instrumentos financeiros robustos, sem governança clara, monitoramento e mecanismos de responsabilização, o risco é que os oceanos continuem subfinanciados — mesmo com toda essa visibilidade e discurso”.

Além disso, especialistas destacam os perigos de que a chamada “economia azul” se transforme, inadvertidamente, em “degradação azul” — ou seja, exploração predatória disfarçada de sustentabilidade. A transição energética e econômica exigida pelo clima deve caminhar junto à preservação dos ecossistemas marinhos, evitando que a proteção ambiental seja sacrificada em nome de novos empreendimentos.

A COP30 representou, portanto, um momento de virada: os oceanos saíram das margens da discussão climática para ocupar o centro das decisões. No entanto, para que essa mudança se traduza em resultados reais — recuperação de manguezais e recifes, proteção de comunidades costeiras, redução de emissões e resiliência da biodiversidade marinha —, será preciso um salto de compromisso: mais recursos, melhor governança e fortalecimento do protagonismo social, especialmente das mulheres que já demonstraram capacidade de liderar soluções concretas.

A tarefa de transformar promessas em ação recai sobre governantes, financiadores, sociedade civil e setor privado. A agenda azul não pode morrer na retórica da conferência. Se for cuidada com ambição, responsabilidade e justiça, pode representar não apenas a salvação dos oceanos — mas a sobrevivência de comunidades e ecossistemas inteiros e, em última instância, a esperança de um clima mais equilibrado para o planeta.

Ararinhas-azuis reintroduzidas testam positivo para vírus fatal e geram crise

Um golpe duro para a esperança de reintrodução de ararinha-azul (Cyanopsitta spixii): 11 exemplares recapturados pelo ICMBio no início de novembro testaram positivo para circovírus, o agente causador da chamada “doença do bico e das penas”. A enfermidade, de origem australiana, acomete psitacídeos — como araras, papagaios e periquitos — e costuma ser fatal, além de não oferecer cura. Apesar de seu impacto grave entre aves, o vírus não representa risco direto à saúde humana nem a aves de criação ou produção.

Essas ararinhas haviam sido repatriadas da Europa e integravam o programa de conservação voltado à espécie no país. Após períodos em cativeiro, foram libertadas em 2022 em áreas de caatinga no município de Curaçá (BA), como parte do esforço de reconstituição de uma população selvagem. A descoberta do vírus reacende um alerta urgente não apenas para o destino dessas aves, mas para toda a estratégia de reintrodução da espécie — considerada até então uma das mais emblemáticas do Brasil.

Com a confirmação da contaminação, o ICMBio adotou uma série de medidas emergenciais. O protocolo inclui o isolamento dos animais infectados, a separação de indivíduos negativos, e a adoção reforçada de práticas de biossegurança nos criadouros. A fiscalização indicou graves falhas sanitárias: desde limpeza inadequada das instalações até uso irregular de equipamentos de proteção por funcionários. Em consequência, o criadouro responsável foi multado em cerca de R$ 1,8 milhão. Também o Inema — órgão ambiental da Bahia — já havia aplicado penalidade adicional de aproximadamente R$ 300 mil.

O desfecho abre ainda mais questionamentos sobre os limites e os riscos envolvidos no manejo de espécies ameaçadas por meio de reintrodução. Para a coordenadora da seção de emergências do ICMBio, a bióloga Cláudia Sacramento, se os protocolos sanitários tivessem sido seguidos com rigor desde o início, talvez a situação atual — com 11 aves positivas — não tivesse ocorrido a partir de apenas um caso inicial confirmado em maio.

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Foto: ICMBio

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A reputação do programa de restauração da ararinha-azul, que vinha acumulando avanços desde o lançamento do PAN Ararinha-Azul — coordenado pelo ICMBio desde 2012 — corre o risco de sofrer forte retrocesso. O PAN estabeleceu metas ambiciosas de ampliar a população cativa e reintroduzir a ave em seu habitat natural, com apoio de parceiros nacionais e internacionais. Uma parte essencial desse plano envolveu a criação de unidades de conservação específicas — como o Refúgio de Vida Silvestre da Ararinha-Azul e a Área de Proteção Ambiental da Ararinha-Azul, ambas no município de Curaçá (BA) — onde ocorreriam os soltamentos.

Agora, com o revés imposto pela epidemia entre os reintroduzidos, as autoridades ambientais enfrentam o dilema de manter o projeto ou, em caráter temporário, suspender novas solturas até haver garantia sanitária. A preocupação não se limita à ararinha-azul: há o temor de que o vírus se espalhe para outros psitacídeos da fauna brasileira local, colocando em risco espécies nativas.

Esse episódio revela uma face amarga da conservação de espécies: mesmo com esforços e boa vontade — reabilitação em cativeiro, parcerias internacionais, planos de conservação —, a falta de cuidado sanitário e de controle rigoroso pode significar o colapso de décadas de trabalho. A reintrodução de uma ave extinta na natureza é uma operação complexa, que exige não apenas logística e manejo, mas também vigilância epidemiológica constante.

Mais do que um revés, a detecção do circovírus nas ararinhas-azuis recapturadas é um alerta — um chamado para repensar protocolos, reforçar a biossegurança e refletir sobre os desafios reais da restauração de espécies ameaçadas. A conservação exige mais do que boas intenções; exige disciplina, controle e responsabilidade.

Antártica Sem Gelo? Pesquisa Revela Zonas Livres e Ecossistemas Escondidos

No extremo sul do planeta, onde o vento corta como lâmina e a paisagem parece suspensa no tempo, um novo olhar científico começa a revelar nuances antes invisíveis da Antártica. Um mapeamento inédito produzido pelo MapBiomas Antártica quantificou pela primeira vez a extensão das áreas livres de gelo e a presença de vegetação no continente que concentra a maior reserva de água doce da Terra. Embora a Antártica seja quase inteiramente branca, menos de 1% de sua superfície escapa da cobertura glacial. É nesse fragmento ínfimo — cerca de 2,4 milhões de hectares — que pulsa a vida terrestre disponível nos breves meses de verão. Desse total, apenas 107 mil hectares apresentam alguma forma de vegetação.

A iniciativa científica que sustentou o estudo utiliza um repertório tecnológico sofisticado: imagens de satélites cruzadas com algoritmos de machine learning, processados em alta capacidade na nuvem. A vastidão do continente e as condições extremas exigem esse tipo de abordagem. Para a coordenadora do mapeamento, a pesquisadora Eliana Fonseca, compreender a dinâmica dos ambientes antárticos é tanto uma necessidade ecológica quanto uma questão estratégica. Se a Antártica influencia o clima global, acompanhar a saúde de seus ecossistemas é também observar a saúde climática do planeta.

Segundo Fonseca, o mapa das áreas livres de gelo desempenha um papel vital no monitoramento da fauna, sobretudo porque muitas espécies utilizam essas superfícies expostas como berçários naturais durante o verão austral. Já o mapa de vegetação permite acompanhar a produtividade dos ecossistemas e identificar sinais de mudança ambiental. A vegetação que brota durante esse curto período de insolação é formada por musgos, algas terrestres, gramíneas e líquens que se adaptam a condições mínimas de temperatura e nutrientes. Essas espécies, discretas para quem não conhece o bioma, são fundamentais para a engrenagem ecológica local.

O estudo também utilizou indicadores de sensoriamento remoto capazes de mensurar não apenas a presença da vegetação, mas sua densidade e vitalidade. É uma forma de enxergar a Antártica para além de sua brancura predominante, reconhecendo que, mesmo em ambientes extremos, a biodiversidade encontra caminhos de persistência.

Curiosamente, ao observar a vegetação antártica, os pesquisadores identificaram similaridades com ecossistemas brasileiros. Fonseca explica que musgos, líquens e algas terrestres formam as chamadas crostas biológicas do solo, também presentes em regiões semiáridas do Brasil, como os biomas Pampa e Caatinga, onde ajudam a proteger o solo em áreas pobres em recursos ambientais. As gramíneas, por sua vez, aparecem tanto na Antártica quanto em praticamente todos os biomas brasileiros como espécies pioneiras, adaptadas a colonizar ambientes desafiadores.

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Mauricio de Almeida/ TV Brasil

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A Antártica também é vetor climático. O continente funciona como um motor atmosférico que regula temperaturas e padrões de chuva de todo o Hemisfério Sul. As frentes frias que ali se formam interagem com massas de ar quente oriundas do território brasileiro, modulando a distribuição de chuvas e influenciando diretamente os regimes climáticos tanto no Sul quanto em regiões mais distantes, como o Centro-Oeste e o Norte do país. Assim, entender a dinâmica antártica é, em alguma medida, compreender o clima brasileiro.

A pesquisa contou com imagens captadas pelos satélites Sentinel-2, posicionados na órbita polar e equipados para registrar grandes extensões de terreno com alta resolução. As imagens analisadas, produzidas entre 2017 e 2025, conseguem registrar as áreas sem gelo apenas durante o verão austral — período entre dezembro e março, quando o sol permanece no horizonte por longas horas, no fenômeno conhecido como “sol da meia-noite”. As montanhas projetam sombras intensas nesse período, o que limita parte da observação e impede que mudanças sazonais sejam completamente rastreadas.

Apesar das restrições, a coordenadora científica do MapBiomas, Júlia Shimbo, afirma que esta é apenas a primeira etapa do trabalho. Com a continuidade dos estudos e a entrada de novos grupos de pesquisa, a expectativa é ampliar o detalhamento do mapeamento, incorporar novas variáveis ambientais e aprofundar a compreensão das transformações em curso no continente gelado.

Em um momento em que a estabilidade climática global está em xeque, a Antártica, que por séculos pareceu distante das preocupações humanas, mostra-se cada vez mais como peça central na compreensão e no enfrentamento da crise do clima. O mapeamento recém-lançado revela, sobretudo, que mesmo a menor porção de terra exposta no lugar mais frio da Terra guarda informações essenciais para o futuro do planeta.

Pacote de Belém

A conferência em Belém consolida avanços políticos e técnicos. Ela projeta a liderança brasileira e inaugura um mutirão global contra as mudanças climáticas

Fundo Florestas Tropicais para Sempre

 O Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, do inglês Tropical Forest Forever Facility) cria uma forma inédita de pagamento para que países mantenham as florestas tropicais em pé.

Países que preservam as florestas tropicais serão recompensados financeiramente por meio de um fundo de investimento global. Ao menos 63 países já endossaram ideia. O fundo já mobilizou, segundo a presidência da COP30, US$ 6,7 bilhões.

O dinheiro não é uma doação. A proposta é que os investidores recuperem os recursos investidos, com remuneração compatível com as taxas médias de mercado, ao mesmo tempo em que contribuem para a preservação florestal e a redução de emissões de carbono.

A ideia é que as florestas sejam vistas como fonte de desenvolvimento social e econômico.

Financiamento

Os países incluíram no Pacote de Belém o compromisso de triplicar o financiamento da adaptação às mudanças climáticas até 2035 e a ênfase na necessidade de os países desenvolvidos aumentarem o financiamento para nações em desenvolvimento.

O documento Mutirão, classificado pela presidência brasileira da COP30 como um “método contínuo de mobilização que começa antes, atravessa e segue além da COP30”, cita a ampliação do financiamento para os países em desenvolvimento para ação climática, de todas as fontes públicas e privadas, para pelo menos US$ 1,3 trilhão por ano até 2035.

122 países com NDC

A COP termina com 122 países tendo apresentado Contribuições Nacionalmente Determinada, conhecidas nas discussões como NDC, sigla em inglês para Nationally Determined Contributions.

NDC são as metas e os compromissos assumidos pelas partes para a redução de emissões de gases do efeito estufa. Os países devem apresentar a cada cinco anos uma nova versão de NDC, com as ambições atualizadas em relação ao Acordo Paris.

O Acordo de Paris, lançado na COP21, em 2015, reúne ações globais em resposta à ameaça da mudança climática, como a redução das emissões de gases de efeito estufa.

Meta Global de Adaptação

A COP30 recebeu 59 indicadores voluntários para monitorar o progresso sob a Meta Global de Adaptação. São indicadores que envolvem setores como água, alimentação, saúde, ecossistemas, infraestrutura e meios de subsistência. Todos integram questões transversais como finanças, tecnologia e capacitação.

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Praça da República e seus corredores de mangueiras em Belém. Foto finalista da edição de 2024 do concurso internacional de fotografia sobre Transformação Urbana, organizado pela Universidade das Nações Unidas (UNU). Foto: © UNU/Raimundo Paccó

Atenção às pessoas

Os documentos aprovados ressaltam que a transição justa deve se atentar às pessoas, tanto como protagonistas de ações quanto em termos de igualdade entre elas, de forma que populações vulnerabilizadas recebem atenção maior no cenário de mudança do clima.

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Pela primeira vez, afrodescendentes foram mencionados nos documentos da conferência sobre o clima.

Gênero 

Os países aprovaram um Plano de Ação de Gênero. A iniciativa amplia o orçamento e o financiamento sensíveis ao gênero e promove a liderança de mulheres indígenas, afrodescendentes e rurais.

Ambição coletiva

O documento Mutirão reafirma a determinação em aumentar a ambição coletiva ao longo do tempo. Para isso, há dois mecanismos de implementação:

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Durante a plenária final de encerramento da COP30, em Belém

*Acelerador Global de Implementação: iniciativa colaborativa e voluntária lançada sob a liderança das presidências da COP30 e COP31 para apoiar os países na implementação de NDC e Planos Nacionais de Adaptação.

*Missão Belém para 1,5 °C: plataforma orientada para a ação sob a liderança da COP29-COP31, para promover maior ambição e cooperação internacional em mitigação, adaptação e investimento.

Implementação

mg_4676_0 Pacote de Belém

O Brasil tem defendido que uma série de anúncios e iniciativas de impacto já está em curso, fazendo dessa COP a conferência de implementação das medidas. São exemplos:

*Iniciativa Fini (Fostering Investible National Implementation), medida para tornar mais viáveis os Planos Nacionais de Adaptação. A Fini reúne países, bancos de desenvolvimento, seguradoras e investidores privados e pretende desbloquear US$ 1 trilhão em projetos de adaptação dentro de três anos, com 20% mobilizados pelo setor privado;

 *A Fundação Gates prometeu US$ 1,4 bilhão para apoiar pequenos agricultores;

*Plano de Ação de Saúde de Belém, endossado por mais de 30 países e 50 organizações, elevou a saúde como prioridade climática. Recebeu US$ 300 milhões do Fundo de Financiadores do Clima e Saúde (Climate and Health Funders Coalition), uma rede de organizações filantrópicas. Os recursos são destinados a fortalecer sistemas de saúde, hospitais, vigilância e prevenção de doenças resilientes ao clima, especialmente nos países emergentes;

*Dez países anunciaram apoio ao Acelerador Raiz, iniciativa para restaurar terras agrícolas degradadas e mobilizar capital privado.

Mapa do Caminho 

Prioridade do governo brasileiro, inclusive tendo sido objeto de discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos últimos dias, o Mapa do Caminho, um roteiro para o afastamento dos combustíveis fósseis – emissores de gases do efeito estufa, causadores do aquecimento global – ficou de fora dos documentos.

Coalizao-de-paises-liderados-pela-Colombia-cobra-da- Pacote de Belém

Na COP, questões precisam ser aprovadas por unanimidade, mas o Mapa do Caminho teve apoio de 80 a 85 países.

De acordo com a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e do presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, o Mapa do Caminho não foi descartado. Pelo contrário, fará parte dos próximos meses de discussão entre os países.

O Brasil segue na presidência da COP até novembro de 2026.

“O Mapa do Caminho já não é mais uma proposta apresentada pelo Brasil, pelo presidente Lula, mas por dezenas de países e por milhares e milhares de pessoas em todo mundo, chancelada pela comunidade científica”, disse Marina.

A ministra disse acreditar que cada país deverá ter o seu próprio Mapa do Caminho, assim como acontece com as NDC.

“Um país rico, eu imagino que todos já têm seus mapas do caminho, já têm suas trajetórias muito bem planejadas. Agora países em desenvolvimento, países pobres, dependentes inclusive de petróleo em suas economias, não têm essas trajetórias. É por isso que é muito importante o esforço que será feito”.

Ela ressalta que o Brasil recebeu de mais de 80 países o mandato para tratar do tema, além de ser assunto com respaldo “muito grande na opinião pública, da sociedade civil e da comunidade científica”.

Além do afastamento dos combustíveis fósseis, lembrou Marina, haverá outro mapa referente ao fim do desmatamento.

O embaixador Corrêa do Lago admitiu que imaginava ser difícil ter consenso sobre o Mapa do Caminho na COP30.

“Há uma resistência sobre o tema e havia uma outra possibilidade, que era a de transformar isso em uma agenda importante da COP”, relativiza ele, prometendo estudos pelos próximos 11 meses e meio da presidência brasileira na COP.

“Vamos juntar a maior inteligência possível sobre energia fóssil”, disse.

Embaixador-Andre-Correa-do-Lago-presidente-da-COP30-na-plenaria-final-em-Belem Pacote de Belém

A COP30 conclui com claras manifestações de renovado compromisso político e fortalecimento do multilateralismo climático. As decisões adotadas em Belém oferecem instrumentos concretos para intensificar a ação global, reforçar a centralidade da justiça climática e reafirmar a convicção de que somente por meio da cooperação internacional será possível garantir um futuro seguro, resiliente e sustentável para as próximas gerações.

Depois de 13 dias de negociação, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) terminou no sábado (22/11), em Belém, com uma série de avanços e discussões que prosseguirão pelos próximos meses.

 Fotos: © UNU/Raimundo Paccó, Rafa Neddermeyer/COP30 Brasil Amazônia/PR, Ueslei Marcelino/COP30

 

Floresta em pé: lavoura e árvores reduzem impacto de mudança climática

Imagine lavouras sendo cultivadas no mesmo espaço que florestas. Para ficar ainda mais evidente, poderia ser uma plantação de milho localizada à sombra de uma castanheira-do-pará, por exemplo.

Esta combinação de produção agrícola com preservação ambiental tem sido apontada por especialistas do clima e ativistas ambientais como ideal para ajudar o planeta Terra a se recuperar dos danos causados pela ação humana e que refletem no clima em forma de eventos extremos, como chuvas torrenciais e estiagens.

A este “casamento” que é, na verdade, um modelo de uso da terra justo e sustentável, dá-se o nome de “agrofloresta”.

Este sistema, que busca otimizar terrenos descampados e transformar técnicas de monocultivo em florestas biodiversas, é considerado hoje uma das principais apostas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas na Terra.

A proposta é de uma agricultura não baseada em agrotóxicos e produtos químicos, mas baseada na própria ecologia, levando em consideração a existência de pragas, mas também o equilíbrio e a lógica da natureza. Daí, a junção de plantas menores – como as alimentares – com árvores maiores e com raízes profundas, para propiciar sombra e água, sempre que preciso for.

Em resposta a esta combinação, vem a diminuição da emissão de Dióxido de Carbono (CO₂) na atmosfera – a camada que protege o planeta da radiação solar e ajuda a equilibrar a temperatura. O CO₂ compõe os gases que agravam o efeito estufa, um dos causadores do aquecimento global. A matemática é simples – quanto mais árvores vivas, mais absorção de carbono pelas plantas e menos gás nocivo enviado à atmosfera.

Agrofloresta 

Em entrevista ao podcast S.O.S! Terra Chamando!, Moisés Savian, engenheiro agrônomo e secretário do Ministério do Desenvolvimento Agrário, contou que a ideia da agrofloresta é atuar em duas frentes: na mitigação e adaptação dos efeitos das mudanças do clima.

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É atuar em duas frentes: na mitigação e adaptação dos efeitos das mudanças do clima. 
“Quando eu estou diminuindo a emissão de carbono, eu estou mitigando

“Quando eu estou diminuindo a emissão de carbono, eu estou mitigando. Se eu, por exemplo, tenho um pasto ralinho e eu monto uma agrofloresta, eu vou trazer para a superfície o carbono que está excessivo na atmosfera (o carbono é absorvido pelas plantas). Se eu tenho uma lavoura de milho que não resiste muito tempo sem chuva – diante da crise hídrica – e junto esta lavoura à floresta, que tem sombra e raízes profundas, o milho se beneficiará da captação de água de uma castanheira, por exemplo”, explica.

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Savian lembra ainda que a lógica da agrofloresta vai além ao agregar as questões do planeta à geração de renda e produção de alimentos, potente ferramenta contra a fome no mundo.

A ideia de florestas produtivas ganhou popularidade nas últimas semanas, durante as plenárias e reuniões da COP 30, realizada em Belém (PA). Mas este é o caminho ancestral que vem sendo apontado nos últimos anos por especialistas do clima, como já adiantou em entrevista ao podcast o climatologista Carlos Nobre.

“Os indígenas chegaram na Amazônia 12, 14 mil anos atrás, e eles sempre utilizaram o conhecimento muito bem para tudo, para a saúde deles, para alimentação, no transporte, os produtos da biodiversidade. Os indígenas utilizaram e utilizam ainda mais de 2,3 mil produtos da biodiversidade, por exemplo, 250 frutas alimentares, 1.450 plantas medicinais. Eles aprenderam a conviver muito bem com a floresta”, disse.

Embora seja uma técnica milenar, a Floresta em Pé, mesmo a passos curtos, tem ganhado espaço entre o voluntariado no Brasil e no mundo.

Troca de Saberes

 

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Estudante Yago Fagundes em projeto de imersão na França, para aplicação no Brasil 

Em Botuporã, cidade baiana com cerca de 11 mil habitantes e localizada a cerca de 700 quilômetros de Salvador, um projeto de cooperação internacional tem incentivado moradores e jovens lideranças a entender a importância de unir o agro à ecologia.

 

O município faz parte de um consórcio, iniciado em 2021, com comunidades da França localizadas na região da Alsácia do Norte.

Segundo o idealizador do projeto, prefeito da cidade francesa de Eschbach – que tem menos de mil habitantes -, Hervé Tritschberger, a ideia surgiu após tratativas com a prefeitura botuporense para valorização de agricultores, produtores rurais e capacitação de jovens voluntários para troca de saberes sobre sustentabilidade.

Foi esta cooperação internacional que, há dois anos, levou o jovem estudante de Direito Yago Fagundes a uma imersão em agroecologia em terras francesas e, depois, à aplicação no Brasil.

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Marine e Estève Gigan, produtores de queijo tomme de leite de vaca

“A experiência no Brasil tem sido de empoderamento rural. Nós recebemos, por exemplo, especialistas franceses que capacitaram nossos agricultores na produção do queijo Tomme de Vache (queijo de leite de vaca, em livre tradução), utilizando uma receita milenar de forma sustentável. Na França, eu vivenciei essa prática de perto, morei com agricultores com o selo ‘BIO’ e participei ativamente da construção de cercas vivas e projetos de plantio em escolas, elementos cruciais para a biodiversidade”, lembra Yago.

O estudante de 20 anos diz que apesar do desafio da língua, a vivência internacional o fez refletir sobre resiliência, inclusive, nos cuidados com o planeta.

https://www.gescod.org/wp-content/uploads/sites/16/2018/11/RECUEIL-PRATIQUES-AGRO.ECO_.-AlsaceNd-Bahia-planches.pdf

RECUEIL-PRATIQUES-AGRO.ECO_.-AlsaceNd-Bahia-planches

“A agroecologia é fundamental para combater as mudanças climáticas. Ela usa a teia do voluntariado para criar uma solidariedade internacional que fortalece o planeta. Ela atua tornando o solo um sumidouro de carbono, aumentando sua matéria orgânica e sua capacidade de reter água, o que protege as comunidades de secas e eventos extremos”, explica.

Em contrapartida, duas voluntárias francesas passaram oito meses em Botuporã para aprender técnicas de agricultura orgânica.

“Brasil e França não têm os mesmos desafios, mas temos os mesmos objetivos, que é trabalhar para o desenvolvimento sustentável. O paradoxo dos países europeus é que eles não querem produzir alimentos com agrotóxicos, mas os consomem em importações. A partir dessa troca, é preciso repensar esta validação e capacitar agricultores para este modo mais saudável e sustentável”, diz o prefeito francês.

Como resultado da experiência, foi publicado um livro com a consolidação das principais trocas, disponibilizado gratuitamente e apresentado durante o Festival Nosso Futuro, realizado no início deste mês, em Salvador.

Consciência ambiental e planetária 

A troca de saberes pode ir muito além das fronteiras geográficas, Brasil-França. Pode ser passada de pai para filho, entre amigos, de avó para neto, como foi o caso do jornalista socioambiental e divulgador científico Wylliam Torres.

Levantamento-do-mastro.-Festa-do-Divino-Espirito-Santo-na--e1764430863618-400x381 Floresta em pé: lavoura e árvores reduzem impacto de mudança climáticaMorador do Rio de Janeiro, ele conta que é adepto da plantação de verduras e leguminosas no próprio quintal de casa, como prática sustentável e saudável.

“A minha primeira referência em agroecologia foi o quintal da minha avó e bisavó paternas, quando eu ainda era bem novinho e, àquela época, não fazia ideia da preciosidade que estava ao meu alcance e muito menos conhecia o termo. Hoje, é claro, entendo que a agroecológica vai muito além de alimentos livres de agrotóxicos, mas ela também engloba os aspectos subjetivos da nossa vida e que o adubo das nossas raízes: o território, a tradição e a sabedoria ancestral”, relata.

Torres diz ainda que a postura ambiental reflete valores como consciência ambiental responsável e coletiva, além da justiça socioambiental.

 

Wyliam-Torres-e-adepto-da-plantacao-de-verduras-e-leguminosas-no-proprio-quintal-de-casa Floresta em pé: lavoura e árvores reduzem impacto de mudança climática

“É nesse caminho que resgato parte da minha história, minha relação profunda com a natureza, meu senso de comunidade, minha necessidade de lutar pela vida na Terra e preservá-la”, conclui.

E mesmo de forma isolada, ele entende que não há fórmula mágica para enfrentar individualmente a crise climática.

“Quando se trata de combater os efeitos da crise climática que atravessamos, não existe uma balança que diga qual é a ação mais importante nesse processo, afinal, cada atitude que visa contrapor a lógica exploratória do agronegócio, é um ato revolucionário. Portanto, toda e qualquer ação individual que busque fugir da lógica do lucro, é sempre válida”, finaliza.

Exemplos do Brasil

 Ainda acompanhando de perto o desfecho da COP 30, o Secretário de Governança Fundiária e Desenvolvimento Territorial e Socioambiental do Ministério de Desenvolvimento Agrário, Moisés Savian, adianta que o encontro tem sido uma grande oportunidade de mostrar para o mundo o que o Brasil tem feito.

“A COP foi muito positiva para o Brasil, apresentamos nossa agenda de florestas produtivas para o mundo. Além de manter, vamos ampliar a área de cobertura florestal com geração de renda e alimentos”, diz.

Para ele, é essencial pensar em um sistema de produção de alimentos resiliente às intempéries, como secas e chuvas extremas.

“Eu acho que o futuro do Brasil é avançar na agricultura resiliente, de baixo carbono, biodiversa, agricultura agroecológica nas áreas degradadas. Nós temos muita área degradada no Brasil. Nós temos muita pastagem subutilizada. São áreas em que não estão produzindo alimentos e não estão servindo para a questão ecológica também. A propósito, o governo tem trazido a ideia de florestas produtivas de agroflorestas – avançar com a produção biodiversa, de agroflorestas nessas áreas que já foram desmatadas, numa ótica de restauração, mas uma restauração produtiva”., diz.

Savian defende ainda o incentivo financeiro de países mais desenvolvidos e, internamente, o crédito agrícola para capacitar pequenos agricultores e produtores rurais a aprenderem e utilizarem a técnica de produção de alimentos sustentável. Mas, ele chama a atenção, para um ponto ainda desafiador: ganhar o bolso e coração dos consumidores.

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Florestas produtivas, além de manter, vamos ampliar a área de cobertura florestal com geração de renda e alimentos

“Porque nós temos hoje, muita gente vive contando o dinheiro para passar o mês. Algumas outras pessoas podem pagar um pouco mais por um produto que é diferenciado. Nós nos reunimos com uma rede de supermercados internacional. E eles estão criando uma prateleira chamada de ‘produtos da floresta’. E aí, qual era o desafio que eles tinham? Muitas vezes, no mercado do varejo, ele vai precisar de 30 dias, 60 dias para pagar. O agricultor, não pode esperar tanto. E essa rede está fazendo pagamento antecipado”, diz Savian.

Segundo ele, são iniciativas como essa que podem dar um efeito mais importante – além da mobilização de governo e produtor, que é incluir o mercado consumidor como uma mola propulsora da economia sustentável, da produção decorrente do agroflorestamento.

Para Savian, a Floresta em Pé pode fazer parte da solução para a situação de emergência climática que o planeta vive.

“Acredito que é esse ‘remedinho’ que pode junto com a restauração florestal, com o combate ao desmatamento, com uma pecuária mais intensa, no sentido de ocupar melhor o espaço que já existe, sem derrubar mais árvores. Não é um remédio que você vai tomar na veia e vai resolver num dia pro outro, mas é uma dose meio homeopática – tomada em pequenas quantidades, mas de forma contínua”, conclui.

Texto: Adrielen Alves – Agência Brasil

Fotos: Pedro Guereiro/Agência Pará, Wylliam Torres/Divulgação, Yago Fagundes/Divulgação

 

 

Marco Zero da Implementação Climática

A Conferência do Clima de Belém, a COP30, inscreveu-se na história diplomática não apenas como mais um encontro anual, mas como o marco zero de uma nova era: a fase da implementação. Superado o longo e complexo ciclo de regulamentação do Acordo de Paris, a cúpula na Amazônia brasileira tinha a missão de tirar os compromissos do papel e transformá-los em realidade palpável. A análise trazida pelo Instituto LACLIMA em seu tradicional balanço revela que, se o evento não resolveu todas as equações climáticas globais, ele foi decisivo ao erguer o andaime político necessário para os próximos anos.

Sob a liderança da Presidência brasileira, a conferência inovou ao criar avenidas diplomáticas para temas que, até então, eram sistematicamente contornados nas mesas de negociação. Questões nevrálgicas, como o desenho de roteiros globais para o enfrentamento do desmatamento e a transição para longe dos combustíveis fósseis, ganharam um espaço de debate inédito. Embora a resistência política tenha impedido que esses roteiros fossem integrados às decisões formais finais, a Presidência brasileira garantiu que eles não morressem na praia: serão desenvolvidos como iniciativas políticas cruciais ao longo do próximo ano, mantendo viva a chama da meta de 1,5°C.

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No campo das conquistas tangíveis, Belém celebrou a aprovação dos aguardados Indicadores de Belém para a Meta Global de Adaptação, preenchendo uma lacuna histórica desde a criação do GGA e oferecendo métricas para um dos pilares mais urgentes da ação climática. Avanços na agenda de transição justa também foram registrados, sinalizando uma compreensão mais madura sobre os impactos sociais das mudanças necessárias.

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Simon Stiell,  destacando o notável progresso desde o Acordo de Paris, enfatiza que o mundo deve acelerar os esforços para reduzir as emissões e fortalecer a resiliência climática

O coração político da conferência, no entanto, pulsou na construção da chamada “Decisão Mutirão”. O processo foi um teste de fogo para a diplomacia. O início das tratativas foi marcado por uma polarização intensa. De um lado, blocos como a União Europeia e os pequenos estados insulares pressionavam por um plano de resposta robusto à lacuna de ambição das NDCs para manter o 1,5°C viável. Do outro, países em desenvolvimento insistiam que o verdadeiro gargalo não era a falta de metas, mas a ausência de financiamento previsível e a ameaça de medidas comerciais unilaterais disfarçadas de protecionismo verde.

A segunda semana de negociações exigiu um esforço intensivo de bastidores, com a Presidência utilizando uma diplomacia itinerante para costurar consensos mínimos. O resultado foi uma arquitetura complexa baseada em três pilares principais. O primeiro instituiu o Acelerador Global de Implementação, um mecanismo cooperativo para dar tração às NDCs e planos nacionais. O segundo criou a “Missão Belém para 1,5°C”, um guarda-chuva político destinado a organizar a ambição e os investimentos até a década crítica de 2035.

O terceiro pilar enfrentou as tensões geoeconômicas. A decisão reafirmou o compromisso com um sistema multilateral de comércio aberto, tentando blindar a pauta climática de guerras comerciais, e mandatou um ciclo de diálogos formais envolvendo a Organização Mundial do Comércio (OMC), a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) e o International Trade Centre (ITC). No front financeiro, a solução possível foi a criação de um programa de trabalho de dois anos para discutir o financiamento climático, uma resposta parcial às demandas por maior estruturação e qualidade nos repasses de recursos.

Embaixador-Andre-Correa-do-Lago-presidente-da-COP30-bate-o Marco Zero da Implementação Climática

Ao final, a COP 30 de Belém consolidou-se como um ponto de inflexão. Não entregou todas as respostas sobre os volumes financeiros necessários nem resolveu o destino imediato dos fósseis no texto oficial, mas estruturou os debates decisivos para o futuro e firmou o compromisso político com a aceleração da implementação. Como ressaltou o Presidente da COP30 após a adoção do texto, o Brasil continuará liderando, à margem das decisões formais, os roteiros cruciais sobre desmatamento e energia, garantindo que o espírito do “Mutirão” continue a mobilizar a humanidade.

Alerta da Funai após a queda dos vetos do Licenciamento Ambiental

A decisão do Congresso Nacional de derrubar grande parte dos vetos presidenciais ao novo marco do licenciamento ambiental abriu um novo capítulo de preocupação para a Fundação Nacional dos Povos Indígenas. Segundo o órgão, a mudança legislativa deixa expostas centenas de terras indígenas ainda em processo de homologação, reduzindo salvaguardas que, até então, impediam a instalação de obras e empreendimentos sem análises específicas sobre riscos ambientais e socioculturais.

A Funai afirma que a nova configuração da lei ameaça diretamente a integridade de 297 territórios indígenas não homologados. Trata-se de uma parcela significativa das terras identificadas no país: mais de 40 por cento do total de 792 áreas reconhecidas pela autarquia. O temor central é que, sem a participação do órgão no processo, decisões que afetem comunidades inteiras passem a ser tomadas apenas sob critérios de oportunidade econômica e interesse estratégico, sem considerar o impacto profundo que determinadas obras podem provocar no cotidiano, nos modos de vida e nas relações territoriais dos povos originários.

Transformações na Lei de Licenciamento Ambiental

O Congresso removeu 56 dos 63 vetos estabelecidos pelo Executivo, reabilitando trechos que flexibilizam o processo de licenciamento. Essa alteração permite que projetos considerados estratégicos, como obras de transporte, linhas de transmissão, exploração mineral e outras atividades de grande porte, avancem sem a exigência de estudos e pareceres que antes dependiam da análise da Funai sempre que houvesse risco para territórios indígenas.

A fundação afirma que, com esses vetos derrubados, fica comprometida a capacidade institucional de exercer sua função de proteção. Antes, a participação do órgão era indispensável para identificar impactos diretos e indiretos de empreendimentos sobre comunidades indígenas, especialmente aquelas que vivem em territórios ainda em regularização. Agora, essas análises poderão ser dispensadas ou substituídas por avaliações menos detalhadas, o que aumenta a vulnerabilidade de áreas tradicionalmente ocupadas.

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Pedro Biondi/ABr

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Impactos para territórios ainda não homologados

Os territórios não homologados são justamente os que se encontram em maior fragilidade jurídica. Embora reconhecidos como áreas de ocupação tradicional, eles ainda dependem de etapas administrativas e jurídicas para serem definitivamente protegidos pelo Estado. A retirada da Funai do processo de licenciamento, segundo a própria instituição, abre brechas para que tais áreas sejam tratadas como espaços disponíveis para implantação de obras, mesmo quando há presença consolidada de comunidades indígenas.

Essa ausência de participação impede, por exemplo, a definição de diretrizes específicas de proteção, a realização de estudos sobre impactos socioculturais e a garantia de consulta às populações afetadas. Tais atividades são apontadas pela fundação como essenciais para prevenir danos irreparáveis, como degradação ambiental, conflitos territoriais, desestruturação comunitária e descaracterização de áreas tradicionalmente utilizadas para roças, caça, pesca, coleta e rituais.

Relação com o Marco Temporal e outras ameaças jurídicas

A Funai também destaca que a mudança pode reforçar os efeitos da Lei 14.701/2023, que instituiu o Marco Temporal. Ao dificultar o andamento de processos de regularização fundiária, a retirada de salvaguardas ambientais tende a enfraquecer ainda mais territórios que já enfrentam disputas, invasões e pressões de grupos econômicos. A instituição afirma que os vetos presidenciais tinham justamente a função de evitar retrocessos e assegurar coerência entre licenciamento ambiental e proteção territorial.

Segundo a autarquia, ao ignorar territórios em regularização, a lei passa a tratar povos indígenas como se estivessem fora do processo, quando, na verdade, dependem do território para assegurar sua reprodução física e cultural. O alerta reforça que licenciamento ambiental não é apenas um procedimento técnico, mas também uma ferramenta de garantia de direitos reconhecidos constitucionalmente.

Riscos ampliados e necessidade de revisão

Para a Funai, o cenário pós-derrubada dos vetos representa um enfraquecimento institucional e territorial. A autarquia defende que a proteção indígena precisa ser vista como parte da proteção ambiental e que excluir sua participação significa criar condições para a expansão de impactos que, muitas vezes, não podem ser revertidos. O órgão declara que continuará defendendo as salvaguardas apresentadas nos vetos, consideradas essenciais para evitar danos socioambientais e assegurar que o desenvolvimento não avance sobre direitos historicamente violados.

Licenciamento fragilizado leva Marina a pedir reação firme

A participação de Marina Silva no programa Bom Dia, Ministra, transmitido pelo CanalGov, marcou uma das críticas mais contundentes do governo à decisão do Congresso Nacional de derrubar a maioria dos vetos presidenciais à Lei Geral do Licenciamento Ambiental. Para a ministra, o que está em jogo ultrapassa divergências políticas e alcança o próprio núcleo da proteção socioambiental prevista na Constituição.

Marina afirmou que o governo estuda judicializar a questão, já que entende que a nova configuração da lei compromete seriamente o artigo 225, que assegura o direito coletivo a um ambiente equilibrado. Segundo ela, ao enfraquecer os controles e reduzir exigências técnicas, o Congresso expõe a população a riscos que o Estado não pode permitir.

Meio século de construção ambiental sob risco

A ministra resgatou o histórico do licenciamento ambiental no Brasil, lembrando que sua consolidação levou cinco décadas nos estados e quase quarenta anos na esfera federal. Esse arcabouço — ainda que imperfeito — evitou inúmeros desastres ambientais silenciosos, que nunca chegaram ao noticiário justamente porque as normas funcionaram como barreira preventiva.

Para Marina, desestruturar esse sistema significa desmontar uma proteção coletiva que o país levou gerações para construir. Ela reforçou que o debate público costuma enxergar apenas as tragédias que escaparam ao controle, enquanto ignora aquelas que foram evitadas pela atuação de órgãos ambientais.

A controvérsia da autodeclaração

Em sua avaliação, poucos pontos representam um retrocesso tão simbólico quanto a retomada da Licença por Autodeclaração. O modelo, que se baseia exclusivamente na declaração do empreendedor sobre sua conformidade ambiental, foi comparado a cenários que resultaram em tragédias como Mariana e Brumadinho.

Marina argumentou que empreendimentos de alto risco não podem operar confiando apenas na palavra de seus responsáveis. A retirada de filtros técnicos do Estado cria um ambiente de insegurança pública, no qual o interesse da sociedade fica subordinado à lógica de autoconfiança empresarial.

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Foto: Leonardo Sá/Agência Senado

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A função estratégica do Conama

Outro eixo central da crítica foi o enfraquecimento do Conselho Nacional de Meio Ambiente. O Conama historicamente estabelece parâmetros técnicos que orientam estados e municípios, garantindo coerência nacional na aplicação das regras. Quando o Conselho perde força ou é ignorado por legislações permissivas, o país passa a conviver com um mosaico desarticulado de procedimentos.

A ministra alertou que essa ausência de coordenação pode gerar descontrole, insegurança jurídica e desigualdades regionais. Segundo ela, o país não pode prescindir de um órgão que unifique diretrizes e preserve padrões mínimos de segurança.

O discurso da modernidade e seus riscos

Marina criticou também o argumento de modernização usado pelos defensores das mudanças. Em sua visão, flexibilizar licenças sob o pretexto de acelerar o desenvolvimento ignora uma realidade urgente: sem estabilidade climática, nenhuma economia prospera.

Ela destacou que o Brasil experimenta um aumento consistente de eventos extremos — chuvas violentas, estiagens prolongadas, ondas de calor — e que justamente por isso deveria reforçar suas salvaguardas ambientais, e não afrouxá-las.

A escalada climática e a vulnerabilidade nacional

O país se tornou mais vulnerável em razão da combinação entre crise climática e fragilidade institucional. Em cenários de emergência ambiental, normas robustas são fundamentais para reduzir danos humanos e econômicos. A ministra lembrou que a governança ambiental brasileira já vem sendo reconstruída após um período de desmonte, e que o momento exige vigilância, não complacência.

Judicialização como resposta institucional

Ao final da entrevista, Marina reafirmou que o governo recorrerá a todos os instrumentos legais disponíveis para conter retrocessos. Ela destacou que a judicialização não se trata de uma disputa política, mas de uma defesa do interesse público diante de uma lei que — na avaliação do governo — amplia riscos, viola princípios constitucionais e compromete a proteção ambiental.

A ministra concluiu reforçando que a legislação ambiental não é obstáculo ao desenvolvimento. Pelo contrário: é o alicerce que permite que qualquer modelo de crescimento se sustente sem comprometer vidas, territórios e o futuro climático do país.

O poder oculto do oxigênio energético e suas novas aplicações

A química contemporânea domina a arte de construir e desmontar moléculas de oxigênio, mas muitas vezes recorre a métodos intensivos que pouco dialogam com o equilíbrio natural. Fragmenta compostos com calor, radiação e altas energias para compreendê-los ou transformá-los. Funciona, mas está distante das reações silenciosas e precisas observadas todos os dias na natureza, onde a matéria circula sem rupturas e sem deixar resíduos tóxicos. É esse contraste que revela o quanto ainda temos a aprender.

Nos processos naturais, moléculas se reorganizam de forma elegante. Quando um jaguar metaboliza a carne de sua presa ou quando plantas transformam luz solar em folhas e caules, entram em ação sistemas catalíticos altamente eficientes que dependem apenas da energia presente no ambiente. Nesses casos, o equilíbrio é a regra, não a exceção. Cada reação ocorre dentro de parâmetros físicos específicos, moldados pela pressão atmosférica, temperatura, incidência de luz e disponibilidade de água.

A natureza, porém, não opera apenas no ambiente-padrão. Nos altiplanos andinos, onde a água ferve a temperaturas inferiores, nos fundos oceânicos, onde gases e água formam hidratos sob pressão extrema, ou nos trópicos, onde decomposição e oxidação avançam rapidamente, os processos químicos também se ajustam. É nesses cenários tropicais intensos que ganha destaque um fenômeno fundamental: a formação de oxigênio altamente energético, extremamente reativo e com vida curta.

Enquanto o oxigênio comum é estável o suficiente para permitir a vida, sua forma energética reage espontaneamente com moléculas orgânicas, degradando pigmentos, fragilizando plásticos ou acelerando a queda das folhas no outono, quando as plantas reduzem sua produção de compostos protetores. A natureza conhece esse risco e desenvolveu defesas ao longo da evolução. A indústria, por outro lado, sempre buscou controlar o processo sem sucesso pleno — até recentemente.

GettyImages-1583885831-1-400x225 O poder oculto do oxigênio energético e suas novas aplicações

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Foi justamente essa lacuna que motivou a pesquisa liderada pelo físico Carlos Diaz Navarrete, da Universidad de Santiago de Chile (linkada ao nome), que conseguiu realizar algo inédito: produzir oxigênio ativo de modo controlado e estabilizá-lo tempo suficiente para aplicação técnica. A solução utiliza nanobolhas ultrafinas capazes de transferir a energia do oxigênio ativado para a água, criando um meio reativo que degrada gorduras, resíduos orgânicos, bactérias, vírus e pragas.

Essa tecnologia abre uma nova fronteira para setores que vão do saneamento à agricultura. Em estações de tratamento de esgoto, acelera a decomposição de gorduras e aumenta a eficiência dos tanques de aeração. No campo, permite controlar pragas sem pesticidas químicos, ao mesmo tempo em que melhora o manejo da água e reduz os riscos de eutrofização em pisciculturas. O efeito desinfetante também tem potencial em ambientes urbanos, como escolas, restaurantes, ônibus e navios, que podem ser higienizados sem substâncias tóxicas e com segurança imediata para uso.

O uso mais transformador, no entanto, surge na produção de água potável. Integrada a sistemas solares, a tecnologia possibilita unidades totalmente autossuficientes capazes de filtrar, dessalinizar e esterilizar água em áreas remotas. Nessas condições, basta ar, luz e qualquer fonte hídrica — mesmo salobra — para produzir água limpa.

A inovação foi reconhecida como a mais sustentável do ano na EXPOMIN 2025 (linkada ao nome), o maior evento de mineração da América Latina, evidenciando seu potencial para transformar processos industriais historicamente dependentes de químicos agressivos.

Quem apresenta essa trajetória é o químico Andreas Martens, ex-professor da Technische Universität Braunschweig, professor visitante da Universidade de São Paulo (USP) e cofundador da Euro Brazil Business Access. Para ele, trata-se de um retorno ao maior laboratório já existente: a própria natureza. Ela demonstrou durante milhões de anos como transformar, decompor e renovar matéria sem comprometer o ambiente. Agora, a tecnologia finalmente começa a acompanhá-la.

Emater leva documentação essencial a assentados em Senador José Porfírio

Regularização que abre portas

Um mutirão conduzido pela Emater levou documentação essencial a trinta famílias assentadas da reforma agrária no município de Senador José Porfírio, na região da Transamazônica. Foram entregues os cadastros nacionais da agricultura familiar, documentos que funcionam como chave de acesso às políticas públicas destinadas ao setor e que permitem que agricultores familiares ingressem em programas de crédito e incentivo produtivo.

A iniciativa foi organizada com apoio direto da Associação dos Agricultores Familiares do Projeto de Assentamento Lajes e da Agrovila Nova Canaã. As equipes da Emater, tanto do escritório local quanto da regional de Altamira, permaneceram no assentamento Lajes desde a madrugada para garantir que todos fossem atendidos.

Deslocamento longo para chegar até a produção familiar

A ação exigiu logística complexa. Para alcançar o chamado Polo II, onde se concentram as comunidades beneficiadas, as equipes precisaram percorrer um trajeto que atravessa três municípios — Anapu, Vitória do Xingu e Altamira — além da passagem de balsa sobre o rio Xingu. Somados, os deslocamentos chegam a quase 300 quilômetros.
Essa presença direta no campo é considerada fundamental para que comunidades geograficamente isoladas não fiquem à margem das políticas públicas.

Acesso ao crédito e fortalecimento de cadeias produtivas

Com o Caf em mãos, as famílias poderão acessar, já no início do próximo ano, linhas de crédito rural de até doze mil reais por beneficiário. Os projetos serão elaborados pela própria instituição, dentro do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado, em articulação com o Banco da Amazônia.
Nesse primeiro momento, o financiamento prioriza a cadeia produtiva do cacau, cultura de grande relevância econômica na região da Grande Assurini.

Segundo projeção das equipes técnicas, a demanda inicial pode alcançar cinquenta famílias apenas no Polo II, o que representa um potencial de injeção imediata de cerca de seiscentos mil reais nas atividades produtivas locais. Esse recurso tende a ampliar a circulação econômica nas comunidades e fortalecer arranjos produtivos já existentes.

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Divulgação – EMATER

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A presença do Estado como ação concreta

Para a coordenação regional da Emater, o mutirão simboliza mais do que a entrega de documentos. Representa a materialização da política pública na ponta, onde ela é mais necessária.
O supervisor regional, Júlio Albuquerque, destaca que a presença presencial da equipe em áreas remotas é decisiva: levar o Estado até o produtor rural, e não o contrário, reduz barreiras logísticas, simplifica processos e fortalece a autonomia dos agricultores.

Ele ressalta que ações como essa demonstram a importância da assistência técnica pública e contínua, capaz de transformar intenção em resultados reais para quem vive do trabalho na terra. É, segundo ele, uma forma de garantir que a política agrícola não fique restrita ao papel, mas chegue de maneira efetiva às famílias que sustentam a produção rural do estado.

O mutirão como estratégia de integração

Além da prestação de serviço, o mutirão também aproxima instituições, lideranças comunitárias e agricultores. O engajamento das associações locais evidencia o papel estratégico das organizações rurais na mobilização social e no acesso a direitos.
A participação ativa das comunidades não apenas facilita o atendimento, mas também reforça vínculos de cooperação entre produtores e órgãos estaduais.

Perspectivas para 2026

Com a regularização concluída, o próximo ano deve marcar uma fase de ampliação da produção, especialmente da cacauicultura. O crédito promete dinamizar áreas já manejadas e estimular novas iniciativas, permitindo que famílias fortaleçam sua segurança econômica e ampliem a diversificação produtiva.

A ação consolida mais um passo na política de apoio à agricultura familiar e reafirma a relevância do trabalho técnico no campo. A expectativa é que novas etapas de documentação, planejamento e incentivo produtivo continuem ao longo de 2026, ampliando o impacto das políticas rurais na região

Banco da Amazônia acelera modernização e amplia impacto verde

O avanço tecnológico do Banco da Amazônia ao longo de 2025 reforça a transformação pela qual a instituição vem passando para consolidar um modelo de desenvolvimento que combina modernização interna, eficiência operacional e compromisso efetivo com a sustentabilidade na Amazônia Legal. Os resultados acumulados entre janeiro e setembro mostram que a agenda de inovação está diretamente conectada à capacidade do Banco de ampliar o crédito, fortalecer cadeias produtivas regionais e sustentar uma estratégia robusta de finanças verdes.

Nos nove primeiros meses de 2025, o Banco registrou lucro líquido de R$ 799,9 milhões, desempenho que se destaca diante de um cenário econômico mais complexo e de uma postura prudencial na concessão de crédito. A carteira ativa somou R$ 64,4 bilhões, um salto de 19,4% em comparação a setembro de 2024. O patrimônio líquido alcançou R$ 7,3 bilhões, crescimento de 12,3%. O ROAE chegou a 15,6%, sinal de resiliência e geração consistente de valor para a região em que atua.

Grande parte desse resultado decorre do avanço do Programa de Transformação, um conjunto de iniciativas que redesenha processos internos, amplia a digitalização e prepara o Banco para operar com um novo Core Bancário. O movimento inclui o uso estratégico de dados, a automatização de fluxos antes manuais e a integração mais harmoniosa dos sistemas internos, criando uma arquitetura capaz de reduzir gargalos, acelerar entregas e suportar uma experiência de atendimento mais fluida para o cliente. Trata-se de uma mudança estrutural que fortalece a produtividade das equipes e estabelece bases tecnológicas compatíveis com o papel da instituição como banco de desenvolvimento.

Para o presidente do Banco da Amazônia, Luiz Lessa, a modernização e o impacto social caminham juntos. Ele afirma que os resultados dos três primeiros trimestres evidenciam que é possível expandir a carteira de crédito sem abrir mão da responsabilidade e de um desenho institucional que coloca o cliente no centro das decisões. A transformação digital, segundo ele, é um pilar tão relevante quanto a missão socioambiental do Banco.

O impulso às práticas ASG reforça essa direção. As linhas de crédito voltadas à sustentabilidade somaram R$ 7,4 bilhões, alta de 23,8% em relação ao ano anterior, impulsionadas por projetos de bioeconomia, energias renováveis e sistemas agroflorestais. Em paralelo, o apoio a municípios de baixa e média renda atingiu R$ 11,4 bilhões, crescimento de 32,1%. Na faixa de fronteira, foram investidos R$ 3,8 bilhões, ampliando a presença do Banco em áreas sensíveis e estratégicas para o desenvolvimento regional.

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Divulgação
– Banco da Amazônia

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O papel do Banco da Amazônia como administrador exclusivo do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO) também foi determinante para os resultados. Até setembro, foram aplicados R$ 13,4 bilhões, expansão de 25,4%. O PRONAF teve desempenho especialmente expressivo: R$ 1,7 bilhão em contratações, aumento de 113,7%, beneficiando mais de 24 mil agricultores familiares. Esses números ilustram uma atuação que vai além das métricas financeiras e que se traduz no fortalecimento direto das cadeias produtivas e das economias locais.

A atuação institucional também ganhou projeção internacional. A presença do Banco em agendas globais como a COP30 e a Climate Week NYC 2025 evidenciou o esforço da instituição para dialogar com outras organizações, captar tendências e apresentar ao mundo suas experiências com crédito verde, inclusão produtiva e transição ecológica. Ao integrar esses debates, o Banco da Amazônia se posiciona não apenas como financiador regional, mas como agente ativo da agenda climática e da construção de modelos econômicos sustentáveis.

Para Lessa, a mensagem é clara: a instituição está empenhada em ampliar o acesso ao crédito, fortalecer estruturas internas e impulsionar iniciativas que promovam transformação socioeconômica sem abrir mão da responsabilidade ambiental. Ele ressalta que inovação, prudência e sustentabilidade caminham alinhadas, e que essa combinação tem sustentado o desempenho do Banco.

Mais informações sobre o balanço, relatórios e dados institucionais podem ser acessadas no site oficial do Banco da Amazônia.

Cem dias de patinetes elétricos transformam a mobilidade em Belém

Os cem primeiros dias de operação dos patinetes elétricos da JET em Belém ofereceram um retrato claro de como a micromobilidade pode se integrar ao cotidiano urbano quando combinada a planejamento, tecnologia e adesão popular. Desde que os patinetes azuis começaram a circular pelas ruas da capital paraense — que ganhou projeção internacional ao sediar a COP30 — o novo modal rapidamente deixou de ser novidade e se tornou parte da rotina de moradores, trabalhadores, estudantes e visitantes.

O balanço inicial revela números expressivos. Foram mais de 100 mil usuários cadastrados e cerca de 450 mil viagens realizadas nesse período, totalizando quase 1 milhão de quilômetros percorridos. Em um intervalo tão curto, esses dados mostram que os patinetes conquistaram espaço como alternativa ágil para deslocamentos de curta e média distância. Ao mesmo tempo, evidenciam uma mudança de comportamento da população, que encontrou nos modais elétricos uma forma mais eficiente e sustentável de circular pela cidade.

Do ponto de vista ambiental, o impacto foi imediato. A JET estima que o uso dos patinetes evitou a emissão de 480 toneladas de dióxido de carbono, resultado que reforça sua contribuição na transição para modelos de mobilidade menos poluentes. Em uma cidade que experimenta diariamente os efeitos de picos de calor, sistemas atmosféricos intensificados e pressão sobre o transporte coletivo, a micromobilidade aparece como um alívio — não apenas no trânsito urbano, mas na pegada ambiental das atividades cotidianas.

Os índices de uso também vieram acompanhados de um comportamento majoritariamente responsável dos clientes. Apenas 0,8% dos usuários tiveram suas contas bloqueadas por descumprimento das regras de trânsito ou das normas de operação. A baixa taxa de infrações sugere uma adaptação rápida ao novo serviço e uma compreensão mais ampla sobre a importância de manter padrões seguros de circulação. Para a JET, esse amadurecimento coletivo é um indicador de que Belém reúne condições favoráveis para consolidar um ecossistema de mobilidade sustentável.

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Divulgação – JET

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O assessor da empresa, Lincoln Silva, destaca que o serviço rapidamente se tornou parte do ritmo urbano. Segundo ele, a aceitação popular demonstra que os patinetes não apenas atendem necessidades de quem circula diariamente pela cidade, como também dialogam com o turismo, fortalecem a economia local e ampliam as possibilidades de deslocamento em áreas comerciais e culturais. Na prática, a micromobilidade tem contribuído para reorganizar fluxos urbanos e criar novas dinâmicas de convivência no espaço público.

O aplicativo da JET orienta o usuário desde o início de cada viagem. Antes de iniciar o deslocamento, o sistema apresenta as recomendações de segurança e indica onde estacionar corretamente, evitando obstrução de calçadas, rampas ou vias de circulação. As regras são claras: a idade mínima é de 18 anos; não é permitido transportar cargas, levar passageiros ou animais; e o patinete deve ser estacionado em áreas designadas. A intenção é promover o uso consciente para preservar tanto a segurança individual quanto a ordem urbana.

A empresa mantém ainda uma equipe de instrutores distribuída nas principais estações da cidade, oferecendo suporte presencial. Eles orientam sobre frenagem, aceleração, manobras básicas e comportamento seguro no trânsito. A presença desses profissionais contribui para reduzir dúvidas, prevenir acidentes e reforçar boas práticas de mobilidade.

Os equipamentos utilizados em Belém são patinetes elétricos modelo Ninebot 60l, reconhecidos pela robustez e adequação à mobilidade urbana. Com potência de 250W, limite de velocidade de 20 km/h e capacidade para até 120 kg, os veículos contam com sistema de freios eficiente, campainha e iluminação própria para circulação noturna. São aparelhos projetados para combinar segurança, eficiência energética e durabilidade — atributos essenciais para um serviço de compartilhamento em larga escala.

Com presença consolidada no mercado, a JET se posiciona como líder no segmento de micromobilidade na América Latina. Atua hoje em mais de 30 municípios das cinco regiões brasileiras, com uma frota superior a 20 mil patinetes elétricos. A experiência acumulada em diferentes contextos urbanos mostra que a empresa tem capacidade de adaptar seus serviços às necessidades específicas de cada cidade, ampliando alternativas de transporte limpo e democratizando o acesso a modais sustentáveis.

Em Belém, o balanço dos cem dias aponta para um caminho promissor. A combinação entre tecnologia acessível, uso responsável e impactos ambientais positivos coloca os patinetes como parte da transformação da mobilidade local. E, ao que tudo indica, a cidade está apenas no início desse percurso.

Capacitação reúne nove estados e fortalece manejo de quelônios

O Acre integrou, no início de novembro, uma das formações mais amplas já realizadas pelo Programa Quelônios da Amazônia, reunindo especialistas de nove estados para fortalecer o manejo ambiental em territórios indígenas. A capacitação ocorreu entre 29 de outubro e 7 de novembro no Tabuleiro de Monte Cristo, tradicional área de reprodução da tartaruga-da-amazônia no rio Tapajós, em Aveiro, no Pará. O encontro, promovido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em cooperação com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), buscou alinhar metodologias, aprimorar instrumentos de monitoramento e atualizar diretrizes técnicas que orientam o manejo de quelônios em toda a Amazônia.

A iniciativa está ancorada no Acordo de Cooperação Técnica nº 33/2020, firmado entre Funai e Ibama, que estabelece bases para ações conjuntas de conservação da biodiversidade, especialmente em terras indígenas. Representando a Funai, participaram os servidores Amanda Bartolomeu e André Tarapanoff, ambos da Coordenação de Conservação da Biodiversidade e Recuperação Ambiental, estrutura vinculada à Coordenação-Geral de Promoção Ambiental e à Diretoria de Gestão Ambiental.

Amanda destacou que a presença das comunidades indígenas nas atividades de manejo é mais do que uma colaboração: é o eixo que sustenta a gestão ambiental nesses territórios. Para muitas etnias, os quelônios ocupam um lugar simbólico e prático na cultura, na alimentação e na memória coletiva. O encontro no Tapajós, segundo ela, reafirmou a importância do diálogo contínuo entre os conhecimentos técnico-científicos e os saberes tradicionais, que há décadas orientam práticas sustentáveis de manejo.

Na avaliação de André Nogueira Júnior, coordenador substituto do Programa Quelônios da Amazônia, a formação marcou um ponto de inflexão. Foi a primeira vez que o rio Tapajós recebeu um curso reunindo técnicos das duas instituições de forma integrada, fortalecendo uma trajetória construída desde os anos 1970, quando o programa foi criado para conter o declínio populacional da tartaruga-da-amazônia, do tracajá e do pitiú. Ao longo de quase meio século, o PQA se tornou uma das estratégias de conservação mais consolidadas no território amazônico, combinando pesquisa, fiscalização e manejo conservacionista.

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Reprodução

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O curso foi direcionado aos coordenadores estaduais do PQA dos nove estados que compõem a área de atuação do programa: Acre, Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá, Pará, Mato Grosso, Tocantins e Goiás. Também participaram servidores da Funai que acompanham iniciativas de manejo indígena. Segundo o técnico do Ibama Raphael Fonseca, o objetivo principal foi nivelar os procedimentos de campo, especialmente para novos coordenadores que passam a integrar a rede de trabalho. A atualização ocorre no momento em que o Acordo de Cooperação Técnica entre as instituições passa por processo de renovação, o que reforça a necessidade de padronizar diretrizes, registrar boas práticas e fortalecer a atuação conjunta.

Durante os dias de campo, os participantes realizaram atividades essenciais ao manejo de quelônios, como identificação e proteção de ninhos, biometria e marcação de fêmeas, mensuração de ovos e monitoramento de variáveis ecológicas. Cada estado apresentou seus resultados recentes, oferecendo um panorama abrangente das iniciativas em curso. A Funai, por sua vez, compartilhou um diagnóstico atualizado sobre experiências de manejo conduzidas por povos indígenas, que têm se tornado referência em conservação comunitária e protagonismo local.

O Acordo de Cooperação Técnica nº 33/2020 orienta ações de monitoramento, conservação, recuperação e uso sustentável dos recursos naturais em terras indígenas. Ele se articula diretamente com a Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental em Terras Indígenas, a PNGATI, que reconhece o papel estratégico das comunidades na proteção da biodiversidade e no enfrentamento das pressões ambientais. A partir dessa base legal e institucional, Funai e Ibama programam um novo ciclo de ações conjuntas, que inclui a elaboração de materiais informativos, novas formações e estratégias reforçadas de apoio ao manejo indígena.

Criado há 46 anos, o Programa Quelônios da Amazônia se consolidou como uma política pública de longo prazo voltada à conservação de espécies emblemáticas e à construção de modelos de sustentabilidade que conciliam inclusão social, valorização cultural e preservação dos ecossistemas. A capacitação em Aveiro reafirmou esse compromisso, aproximando equipes, harmonizando metodologias e fortalecendo o papel dos povos indígenas como guardiões fundamentais das paisagens amazônicas.

Jovens amazônidas apresentam soluções tecnológicas para a região

A Amazônia volta a ser palco de uma experiência singular de criatividade, ciência e cidadania. No próximo dia 29 de novembro, jovens, crianças e adolescentes de 7 a 16 anos apresentarão soluções tecnológicas criadas ao longo de um ano inteiro de pesquisas, testes e descobertas na Mostra Tecnológica Manaós Tech 2025, realizada no Casarão de Inovação Cassina, no Centro de Manaus. O evento, promovido pela iniciativa educacional Manaós Tech for Kids em parceria com a Prefeitura de Manaus, reúne protótipos e experimentos que dialogam diretamente com desafios reais da região: secas severas, cheias históricas, incêndios florestais, insegurança hídrica e desigualdade no acesso à tecnologia.

O coração da mostra é o protagonismo juvenil. Ao longo do ano, meninos e meninas mergulharam nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e foram incentivados a transformar curiosidade em projeto, problema em solução e imaginação em tecnologia. O resultado desse percurso é uma coleção de invenções que, embora criadas por jovens, carregam maturidade técnica e relevância social.

Entre os destaques está um robô projetado para auxiliar na colheita do açaí, reduzindo o risco de acidentes comuns quando trabalhadores sobem em palmeiras altas e instáveis. Outro projeto, construído com sensores inteligentes de baixo custo, detecta mudanças ambientais que antecedem incêndios florestais, um problema que se agravou nos últimos anos com ciclos extremos de seca na Amazônia. Esses protótipos revelam que, quando estimuladas, as novas gerações conseguem aliar criatividade, conhecimento técnico e responsabilidade socioambiental.

Para o CEO da Manaós Tech for Kids, Glauco Aguiar, a mostra é mais que um evento anual: representa uma mudança cultural. Ele relata que, desde 2017, a iniciativa busca democratizar o acesso à inovação e evidenciar que tecnologia é uma linguagem também amazônica. Segundo ele, cada projeto exposto é fruto de um esforço coletivo entre alunos e educadores que enxergam a ciência como instrumento de transformação social. Em suas palavras, há um encontro simbólico entre curiosidade, propósito e pertencimento, que fortalece a autoestima das crianças e aproxima as famílias dos processos de aprendizagem.

Um dos projetos que melhor traduz essa visão é o filtro de água de baixo custo criado por crianças entre 9 e 11 anos. O equipamento foi pensado para comunidades ribeirinhas que enfrentam escassez de água potável durante períodos prolongados de estiagem. O jovem inventor Lucas Ronda conta que a ideia nasceu da percepção de que muitas famílias dependem de soluções improvisadas para ter acesso à água limpa. Sua equipe pesquisou alternativas, testou materiais e chegou a um protótipo caseiro de fácil reprodução, especialmente útil em áreas de difícil acesso. O relato de Lucas revela o valor pedagógico da iniciativa: crianças aprendem ciência ao mesmo tempo em que compreendem o território e se conectam às necessidades da sua própria população.

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Prefeitura Manaus

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A participação das famílias tem sido outro pilar do projeto. A mãe de Lucas, Carla Rabelo, afirma que a mostra desperta um senso de responsabilidade nos jovens ao estimular a criação de soluções sustentáveis. Para ela, observar o próprio filho desenvolver um protótipo voltado para melhorar a vida de outras pessoas reforça a importância de ensinar tecnologia como ferramenta para o bem comum.

Além dos experimentos expostos, a mostra contará com avaliação técnica e premiação dos trabalhos mais inovadores. A entrada é gratuita, reforçando o caráter público e acessível do evento. O Casarão de Inovação Cassina, revitalizado recentemente e hoje um polo de criatividade tecnológica da capital amazonense, abriga o encontro como um espaço simbólico: um casarão histórico que se transforma em vitrine para a ciência produzida por jovens.

A Mostra Tecnológica Manaós Tech 2025 revela uma mensagem essencial: a inovação que o país precisa para enfrentar os desafios da Amazônia não virá apenas de laboratórios avançados ou grandes centros urbanos. Ela também surge do entusiasmo de crianças que investigam, testam, erram e tentam de novo. A nova geração amazônica está aprendendo a enxergar problemas complexos e a propor caminhos possíveis para resolvê-los. A mostra, portanto, não celebra apenas protótipos — celebra o futuro da região sendo moldado pelas mãos de quem vai habitá-lo.

Retrocesso histórico marca novo capítulo da política ambiental

O Brasil encerrou novembro assistindo a um movimento que redesenha profundamente sua política ambiental. Em uma sessão marcada por tensionamentos e articulações de bastidores, o Congresso Nacional derrubou 56 dos 63 vetos presidenciais à nova Lei Geral de Licenciamento Ambiental. O resultado prático foi o ressurgimento do chamado PL da Devastação, reconstituído peça por peça, mesmo após sua versão original ter sido parcialmente barrada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Para especialistas, organizações socioambientais e juristas, a decisão representa o maior retrocesso normativo já imposto ao meio ambiente desde a criação da Política Nacional do Meio Ambiente, em 1981. A avaliação é quase unânime entre as entidades que compõem o Observatório do Clima, que já anunciaram a intenção de recorrer ao Supremo Tribunal Federal para tentar reverter o novo marco.

O licenciamento ambiental, pilar central da política ambiental brasileira, é responsável por regular todas as atividades que utilizam recursos naturais ou que possam gerar impactos significativos. Inclui desde empreendimentos agrícolas e postos de combustíveis até obras de infraestrutura, estradas, hidrelétricas, mineração e projetos industriais. A derrubada dos vetos, porém, altera completamente essa estrutura. Entre os pontos restituídos pelo Congresso, está a ampliação da Licença por Adesão e Compromisso, a LAC — o chamado autolicenciamento. Antes limitada a empreendimentos de baixo impacto, ela agora passa a abranger também obras de médio impacto. O efeito estimado pelas entidades é avassalador: cerca de 90% dos licenciamentos estaduais poderão ser liberados de forma automática, num clique, sem análise técnica prévia. A mudança colide com decisões já consolidadas do Supremo e enfraquece a capacidade de prevenção dos órgãos ambientais.

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A nova lei também dispensa de licenciamento toda a atividade agropecuária extensiva, mesmo nos casos em que o Cadastro Ambiental Rural da propriedade ainda não foi homologado. Isso significa que fazendas em áreas griladas ou com desmatamento ilegal poderão operar normalmente, sem qualquer controle ambiental. Grandes obras de infraestrutura, como a pavimentação da BR-319 — associada a risco de explosão do desmatamento ao longo de sua rota — entram na mesma lógica de dispensa ou flexibilização, criando um passaporte para a expansão de danos irreversíveis.

Outro ponto crítico é a autorização para que estados e municípios criem regras próprias de licenciamento, o que fragmenta o sistema nacional e esvazia a função da norma federal. Para organizações como o Instituto Socioambiental, isso abre caminho para que territórios indígenas não homologados e áreas quilombolas ainda sem titulação sejam atravessados por empreendimentos sem consulta, sem salvaguardas e sem compensação.

A sessão do Congresso teve protagonistas claros. A bancada ruralista foi a força motriz, mas duas figuras exerceram liderança decisiva: o presidente da Câmara, Hugo Mota, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Este último ignorou um acordo firmado com o Executivo em torno da Medida Provisória da Licença Ambiental Especial, mecanismo criado por ele para acelerar o licenciamento da exploração de petróleo na Foz do Amazonas. A própria MP ainda será votada e já acumula mais de 800 emendas que reacendem, sob nova roupagem, os mesmos dispositivos do PL da Devastação.

As organizações socioambientais reagiram imediatamente. Para Suely Araújo, do Observatório do Clima, a decisão destrói o licenciamento ambiental ao reintroduzir dispositivos que fragilizam salvaguardas e reduzem responsabilidades, inclusive de instituições financeiras. Letícia Camargo, do Painel Mar, destacou o impacto direto sobre biomas, áreas de pesca artesanal e territórios tradicionais, chamando o episódio de ataque à segurança jurídica ambiental. Representantes de entidades internacionais, como a Proteção Animal Mundial, afirmaram que a medida desconsidera vidas humanas e não humanas ao favorecer a devastação de ecossistemas.

O diagnóstico de organizações como o Greenpeace Brasil e o NOSSAS converge: a nova lei se traduz em uma licença para devastar, com efeitos que incluem expulsões forçadas de povos indígenas, aceleração de projetos petrolíferos e aumento da vulnerabilidade socioambiental em todo o país. Instituições como a Avaaz e o Instituto Democracia e Sustentabilidade reforçam que a norma nasce inconstitucional e aprofunda os riscos num momento em que o país enfrenta eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes.

O episódio deixa um alerta: o licenciamento ambiental, antes considerado ferramenta essencial para equilibrar desenvolvimento e proteção dos territórios, passa agora por um processo de desmonte. E o país, recém-saído da COP30 e comprometido com metas climáticas ambiciosas, vê sua governança ambiental colocada em xeque num momento decisivo para o futuro da Amazônia e para a segurança climática global.