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Como o Sul Global pode liderar a nova revolução energética

A transição energética que domina as discussões da COP30 tem sido apresentada como um desafio urgente para limitar o aquecimento global. Mas, para especialistas reunidos em Belém, esse processo também abre uma janela histórica para que os países do Sul Global reposicionem seu papel no mapa econômico mundial. A avaliação é que, ao reunir reservas abundantes de minerais estratégicos, experiência acumulada com biocombustíveis e trajetórias pioneiras em novos mercados, essas nações têm condições de valorizar seus ativos naturais e tecnológicos de forma inédita — desde que ampliem a cooperação entre si e encontrem novos caminhos de financiamento.

O tema orientou o painel promovido pela FAPESP no Pavilhão do Brasil durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Participaram pesquisadores da África do Sul, Brasil, China e Índia, todos com vivência direta no desenvolvimento de políticas e tecnologias que sustentam a descarbonização até 2050. O diagnóstico foi convergente: a transição energética deixa de ser apenas uma obrigação climática e passa a ser um campo fértil para mover capital, talentos e inovação.

Pu Wang, professor do Instituto de Ciências e Desenvolvimento da Academia Chinesa de Ciências e diretor de pesquisa do Instituto de Estratégias de Desenvolvimento Sustentável da instituição, sublinhou que o Sul Global conhece como poucos a combinação de desafios sociais, climáticos e econômicos que molda sua trajetória. Isso torna a parceria entre esses países não apenas desejável, mas quase inevitável. Wang argumenta que a dimensão territorial de países como Brasil, Índia e África do Sul cria condições naturais para ampliar energias solar e eólica, ao mesmo tempo em que atrai novos fluxos de investimento e mão de obra especializada.

Para ilustrar esse potencial, ele recuperou a trajetória chinesa na indústria de veículos elétricos. Há duas décadas, afirmou, a ideia de que mudanças climáticas poderiam impulsionar o crescimento econômico parecia improvável para várias nações. Entretanto, o salto tecnológico da China, que hoje figura entre os maiores exportadores de automóveis do mundo, demonstra que a transição energética pode se converter em estratégia industrial transformadora. Para Wang, outros países do Sul Global têm condições de trilhar caminhos similares a partir do intercâmbio técnico e científico.

Mas, para isso, o financiamento precisa acompanhar o ritmo da ambição. O pesquisador destacou que os avanços chineses só foram possíveis graças a investimentos contínuos em ciência e tecnologia. Ele defende um movimento gradual: iniciar pela fabricação de painéis solares, baterias e etapas básicas de montagem e, progressivamente, migrar para tecnologias de maior valor agregado. Esse ciclo, afirma, não apenas moderniza setores industriais, como estabelece novas competências nacionais que se retroalimentam.

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Outra frente apontada durante o encontro foi a necessidade de modernizar e expandir redes de transmissão. Dipak Dasgupta, membro do Instituto de Energia e Recursos da Índia e do Conselho Científico da COP30, chamou atenção para o gargalo técnico que surge quando a participação das renováveis ultrapassa cerca de um quarto da matriz elétrica. A resposta indiana, que remodelou sua infraestrutura de alta tensão para reduzir perdas e aumentar eficiência, poderia, segundo ele, ser compartilhada diretamente com operadores brasileiros ou chineses. Essa cooperação técnica, afirmou, evita que cada país precise redescobrir soluções já testadas.

Ao mesmo tempo, Dasgupta defende que novos mecanismos financeiros específicos para inovação sejam estruturados, sob risco de os países em desenvolvimento não conseguirem avançar para tecnologias mais sofisticadas. Ele vê um papel estratégico para instituições financeiras nacionais, capazes de direcionar recursos a projetos que catalisem a transformação energética.

A discussão também enfatizou a necessidade de que o processo de descarbonização seja justo. Harald Winkler, da Universidade da Cidade do Cabo, lembrou que transições feitas sem participação comunitária tendem a reproduzir desigualdades. Para ele, o futuro energético só será sustentável se as comunidades puderem influenciar seus rumos e não apenas absorver impactos.

Thiago Barral, ex-secretário nacional do Ministério de Minas e Energia do Brasil, reforçou o ponto ao destacar que países do Sul precisam construir seus próprios cenários de emissões líquidas zero, alinhados às suas realidades. Só assim, afirmou, a cooperação Sul-Sul pode se fortalecer com bases técnicas sólidas.

A sessão foi mediada por Gilberto Jannuzzi, professor da Unicamp e assessor da Diretoria Científica da FAPESP para o Programa de Transição Energética, que destacou o objetivo do encontro: reunir vozes que estejam moldando, na prática, o futuro energético do mundo em desenvolvimento.

Por que povos da floresta cobram acesso direto ao clima

A presença intensa de movimentos sociais na COP30, realizada em Belém, transformou o debate sobre financiamento climático em uma pauta central e incontornável. Entre marchas, atos públicos e pressões dirigidas às delegações oficiais, povos indígenas, comunidades quilombolas, ribeirinhos, extrativistas e outros grupos tradicionais colocaram no centro das discussões um pedido antigo: o direito ao acesso direto a recursos climáticos, sem camadas intermediárias que atrasem, limitem ou distorçam a execução dos projetos construídos em seus territórios.

A reivindicação não surgiu na conferência. Desde o anúncio do Brasil como sede, esses grupos têm denunciado a falta de representatividade nas mesas de negociação da ONU. Documentos enviados às autoridades internacionais e manifestações que marcaram tentativas inéditas de ultrapassar bloqueios de segurança expressam uma mensagem comum: quem protege a floresta não apenas deve ser ouvido, mas também deve ser financiado para continuar garantindo equilíbrio climático ao planeta.

Essa leitura também é compartilhada por especialistas. Raquel Biderman, vice-presidente sênior da América do Sul na organização internacional Conservation International, aponta um paradoxo: embora a natureza responda por cerca de 30% das soluções climáticas globais, ela recebe apenas 3% do total das finanças climáticas. Dentro desse percentual já pequeno, povos que vivem e manejam ecossistemas florestais recebem somente 1%. Em outras palavras, aqueles que mantêm vivos os estoques de carbono — e, portanto, ajudam a reduzir a concentração de gases de efeito estufa — quase não têm acesso aos recursos destinados justamente a enfrentar a crise climática.

O debate se torna ainda mais urgente diante da meta internacional de limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais. Ultrapassar essa marca pode desencadear transformações irreversíveis nos sistemas atmosféricos, intensificando secas, enchentes e ondas de calor. Para evitar esse cenário, é essencial preservar e ampliar os estoques naturais de carbono, muitos deles mantidos pelos modos tradicionais de uso da terra presentes na Amazônia.

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Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

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Segundo o Censo 2022, o Brasil abriga 1,7 milhão de indígenas. Somente na Amazônia existem 511 povos, dos quais 391 no território brasileiro. Formas de manejo como roças sustentáveis, agroflorestas, extrativismo e ecoturismo são práticas que combinam conservação, segurança alimentar e renda, além de impedir que o carbono armazenado na biodiversidade amazônica seja liberado para a atmosfera. É um sistema de vida que funciona, mas que permanece economicamente subfinanciado.

A COP30 ampliou esse debate ao apresentar novas iniciativas voltadas para a remuneração dessas populações, entre elas o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF). A expectativa é que esse tipo de mecanismo abra portas para fluxos mais estáveis de recursos, especialmente de países historicamente responsáveis pela maior parte das emissões — frequentemente chamados de devedores climáticos. Mas a distância entre o necessário e o praticado ainda é grande. Estimativas do Banco Mundial indicam que a Amazônia precisaria de aproximadamente US$ 7 bilhões por ano para manter seus serviços ecossistêmicos. Atualmente, chega a receber cerca de US$ 600 milhões, menos de 10% do necessário.

Historicamente, políticas públicas destinadas a povos tradicionais oscilaram conforme governos, sem continuidade. Para Raquel Biderman, no entanto, começa a surgir um ambiente de diversificação das fontes de financiamento climático. Propostas antigas, como conversão de dívida por natureza e fundos de conservação, convivem agora com novas frentes, como o mercado de carbono e os chamados negócios da natureza. Mas essas soluções exigem vigilância permanente da sociedade civil, especialmente nas regiões onde contratos podem impactar direitos territoriais e modos de vida.

A região amazônica, marcada por enorme diversidade cultural e por desafios logísticos, também enfrenta a pressão crescente de economias ilegais vinculadas ao tráfico de armas, drogas e mineração clandestina. Para a especialista, fortalecer alternativas econômicas lícitas e sustentáveis é fundamental para impedir que jovens sejam cooptados por atividades criminosas e para preservar territórios ameaçados.

Nesse contexto, o acesso direto ao financiamento climático aparece como uma estratégia dupla: proteger a floresta e proteger as populações que garantem sua permanência. A bioeconomia, que reúne mais de cem cadeias produtivas ligadas a sementes, fibras, frutos, óleos, resinas e conhecimentos tradicionais, é uma das principais portas de entrada. Com recursos adequados, pode se transformar em motor econômico capaz de garantir autonomia, renda, permanência no território e continuidade de modos de vida que, há séculos, sustentam a Amazônia.

Em Belém, no coração da COP30, a mensagem ecoou com clareza: financiar os povos da floresta não é caridade nem política social — é estratégia climática global.

Crédito verde acessível leva pequenos negócios à transição ecológica

O Brasil apresentou ao mundo, durante a COP30 em Belém, o Empreender Clima, uma plataforma digital criada para aproximar micro e pequenos empreendedores da economia verde. A iniciativa nasce de uma coalizão entre o Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (MEMP), a Organização de Estados Ibero-Americanos (OEI), o Sebrae e o BNDES, reunindo crédito acessível, formação técnica e ferramentas digitais para facilitar a entrada dos pequenos negócios no universo da transição ecológica.

A plataforma chega em um momento decisivo. O Brasil vive um cenário de juros elevados que historicamente afastou os pequenos empreendedores do crédito. O Empreender Clima tenta romper esse ciclo ao oferecer taxas a partir de 4,4% ao ano e até 100% de financiamento para projetos ambientais. O diferencial está no desenho do sistema: rápido, gratuito e orientado. Em menos de dez minutos, o empreendedor pode criar seu perfil, acessar conteúdos personalizados e gerar um pré-enquadramento no Fundo Clima, principal mecanismo federal de financiamento para mitigação e adaptação à mudança do clima.

As condições de financiamento variam conforme o setor, mas mantêm uma lógica comum: prazos longos e carências generosas para permitir que o empreendedor implemente seu projeto com fôlego. Iniciativas de logística verde, transporte coletivo e mobilidade sustentável podem chegar a 25 anos de financiamento, com até cinco anos de carência. Projetos relacionados a florestas nativas e recursos hídricos contam com até oito anos de carência e o mesmo prazo total. Já setores industriais e de energia limpa têm condições específicas, com prazos de até 16 anos e carência de até seis anos. A intenção explícita é democratizar o acesso ao crédito climático, criando um terreno fértil para inovação local e impacto ambiental positivo.

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Foto: Sergio Moraes/COP30

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Para o ministro do MEMP, Márcio França, a plataforma marca um ponto de virada na história do crédito produtivo no Brasil. Segundo ele, o país viveu por muito tempo uma contradição: embora pequenas empresas fossem motor essencial da economia real, o crédito verde permanecia distante de sua realidade cotidiana. A proposta do governo é reduzir essa assimetria, colocando o pequeno empreendedor no centro da transição ecológica por meio de juros acessíveis, qualificação profissional e tecnologia aplicada ao negócio.

O Empreender Clima foi estruturado para funcionar como um ecossistema integrado. Reúne cursos de empreendedorismo climático, mapas de oportunidades sustentáveis, um catálogo de instrumentos financeiros e o serviço automatizado de pré-enquadramento no Fundo Clima. A plataforma trabalha com oito setores estratégicos, entre eles energia, agricultura, logística, construção civil e gestão de resíduos, organizados em quatro eixos: identificação de oportunidades, capacitação em tecnologias limpas, conexão com linhas de crédito verde e apoio técnico à elaboração de projetos financiáveis.

Mais do que um instrumento de crédito, o Empreender Clima se propõe a derrubar barreiras históricas. A falta de informação, os entraves burocráticos e a dificuldade de formular projetos nos moldes exigidos sempre afastaram pequenos negócios das fontes de financiamento ambiental. A nova plataforma busca preencher essas lacunas, permitindo que micro e pequenos empreendedores elaborem seus pré-projetos de forma simples, gratuita e rápida, abrindo caminho para recursos antes restritos a grandes corporações.

O MEMP chega à COP30 com uma agenda voltada à valorização das economias sustentáveis e regionais. A pasta integra o Espaço da Biodiversidade – Produtos Sustentáveis do Brasil, instalado na Green Zone, em parceria com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), levando ao público produtos de cooperativas de mulheres, artesanato tradicional e iniciativas que valorizam a produção comunitária da sociobiodiversidade.

O Empreender Clima sintetiza uma ideia simples, mas estratégica: a transição ecológica não será plena se não incluir a base produtiva do país. Ao aproximar crédito acessível, conhecimento técnico e tecnologia de quem empreende na ponta, o governo aposta que a economia verde deixará de ser um discurso para se transformar em prática cotidiana — não apenas nos grandes centros, mas nos territórios onde a inovação nasce por necessidade, criatividade e sobrevivência.

Força-Tarefa Oceânica leva agenda marinha ao centro da COP30

A COP30 voltou a colocar o oceano no centro da agenda climática global com o anúncio da Força-Tarefa Oceânica, apresentada durante um encontro ministerial de alto nível liderado pelo Governo do Brasil e pelo Governo da França. A iniciativa nasce como uma expansão do Blue NDC Challenge, mecanismo que estimula a incorporação de metas oceânicas nas Contribuições Nacionalmente Determinadas, e agora assume um caráter operacional, voltado à implementação de soluções marinhas nos planos climáticos nacionais.

O encontro, batizado de Da Ambição à Implementação, reuniu países que vêm pressionando para que a agenda oceânica deixe de ocupar papel periférico e seja tratada como um dos pilares da ação climática global. O diálogo resultou na apresentação do Pacote Azul da Agenda de Ação, um conjunto de diretrizes que integra, de forma inédita, a conservação dos oceanos e zonas costeiras à estrutura central das políticas climáticas internacionais.

Durante o evento, foi anunciado que 17 países já se comprometeram oficialmente a incluir o oceano na atualização de suas NDCs. Além dos anfitriões Brasil e França, integram o grupo Austrália, Fiji, Quênia, México, Palau, República das Seychelles, Chile, Madagascar e Reino Unido. Outros seis países ampliaram a coalizão ao aderirem ao desafio durante o encontro: Bélgica, Camboja, Canadá, Indonésia, Portugal e Singapura. A diversidade geográfica da lista mostra que a agenda oceânica se tornou transversal, reunindo nações insulares, costeiras e até países cuja força diplomática tem peso decisivo na governança climática internacional.

Representando o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, o secretário Aloisio de Melo destacou que a nova NDC brasileira passa a integrar, pela primeira vez, medidas baseadas no oceano. Ele mencionou iniciativas como o ProManguezal e o ProCoral, programas que buscam expandir ações de conservação e restauração de manguezais e recifes, reforçando que o oceano deve ser reconhecido como um pilar da ambição climática global. Melo também celebrou a adesão crescente de países que integram medidas marinhas em seus compromissos climáticos e apontou que chefes de Estado, durante a cúpula de líderes da COP30, já haviam sinalizado alinhamento inédito sobre a centralidade do oceano na resposta climática.

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Reprodução

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A diretora-executiva da Plataforma Oceano e Clima, Loreley Picourt, reforçou que a transformação do Blue NDC Challenge em uma Força-Tarefa de Implementação representa um avanço decisivo. Para ela, o Pacote Azul fornece um roteiro claro que orienta os países a transformar ambição em ação concreta, influenciando tanto o resultado final da COP30 quanto o caminho rumo à COP31.

O embaixador do Clima da França, Benoit Faraco, lembrou que o lançamento do Desafio das NDCs Azuis ocorreu na 3ª Conferência da ONU sobre o Oceano (UNOC3), realizada em Nice, e que o encontro demonstrou a força do multilateralismo ao impulsionar metas oceânicas e acelerar a ratificação do Tratado do Alto Mar. Para ele, a parceria franco-brasileira agora cumpre o papel de levar essas conquistas para a arena das negociações climáticas, onde se decide como essas promessas serão transformadas em políticas.

As ações previstas pelos países que aderem ao Desafio das NDCs Azuis são amplas e abrangem desde a gestão sustentável de ecossistemas costeiros e marinhos até a criação de áreas marinhas protegidas e o uso de ferramentas como o planejamento espacial marinho e o gerenciamento integrado da zona costeira. Também ganham destaque medidas que estimulem práticas pesqueiras e aquícolas que sejam resilientes ao clima, garantindo segurança alimentar e preservação dos ambientes marinhos.

No caso brasileiro, a NDC atualizada prevê metas climáticas para 2035 e dedica um capítulo inteiro ao oceano e às zonas costeiras. O Plano Clima, que orientará as ações nacionais até 2035, terá pela primeira vez um plano temático de adaptação específico para áreas marinhas e costeiras. Entre as metas, está a conclusão do Planejamento Espacial Marinho até 2030, organizando de forma sustentável as atividades humanas no mar, e o fortalecimento do Gerenciamento Integrado da Zona Costeira.

Convidado do evento ministerial, o prefeito de Augusto Corrêa (PA), Francisco de Oliveira, chamou a atenção para a urgência de proteger manguezais, ecossistemas que, segundo ele, absorvem seis vezes mais carbono do que a floresta de terra firme. O gestor destacou que líderes locais e comunidades tradicionais têm conhecimento acumulado, mas dependem de financiamento para transformar proteção em prática contínua. Suas palavras ecoaram um tema recorrente durante a COP30: a necessidade de alianças que aproximem ciência, governos e populações que vivem da e na beira do mar.

Com a criação da Força-Tarefa Oceânica, a COP30 sinaliza que o oceano finalmente passa a ocupar o espaço que lhe é devido na política climática global. A partir daqui, a ambição expressa em discursos começa a ganhar chão: um esforço coordenado para integrar, proteger e revitalizar o maior regulador climático do planeta.

Amazônia avança rumo ao mercado global com novas startups

A presença do Sebrae na Green Zone da COP30 ganhou um novo peso estratégico com o lançamento do Inova Amazônia Global Edition, edital que inaugura uma etapa internacional para pequenos negócios de base florestal. A iniciativa busca transformar empresas amazônicas inovadoras em competidoras globais, conectando-as a mercados, fundos de investimento e centros de conhecimento que moldam a nova economia verde mundial.

A proposta do edital é ambiciosa: selecionar 80 empreendimentos que já passaram por etapas anteriores de aceleração e demonstraram maturidade tecnológica, modelo de negócio sólido e potencial real de escalar operações para fora do país. Esses selecionados irão embarcar em uma jornada intensiva que articula capacitações, mentorias especializadas, rodadas de negócios e missões internacionais, além de acesso privilegiado a investidores que procuram soluções de impacto ambiental com base em bioeconomia.

O movimento sinaliza uma mudança de patamar no posicionamento da Amazônia no cenário global. A região, tradicionalmente vista apenas pelo prisma de seus recursos naturais, passa a ser apresentada como berço de empresas capazes de desenvolver tecnologias, produtos e modelos de produção que unem conservação e competitividade. Segundo o diretor técnico do Sebrae, Bruno Quick, o foco agora é acelerar negócios que já provaram sua viabilidade e conectá-los ao que há de mais avançado no mercado global. Essa aproximação é vista como decisiva para consolidar cadeias produtivas sustentáveis que valorizem a floresta em pé e ampliem o protagonismo econômico da região.

Histórias recentes mostram que essa estratégia não nasce do zero. O próprio Inova Amazônia já impulsionou trajetórias que atravessaram fronteiras. Entre os exemplos mais emblemáticos está a Engenho, criadora do chamado “café de açaí”, que saiu do estágio de protótipo para alcançar prateleiras nos Estados Unidos, na Europa, na Austrália e em países da América Latina. O caso demonstra a capacidade de transformar frutos amazônicos em produtos sofisticados, capazes de dialogar com tendências contemporâneas como alimentação saudável, inovação alimentar e sustentabilidade.

image-1600-4539d4fea7861098c130a42068e1c8fb-400x267 Amazônia avança rumo ao mercado global com novas startups

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Outro exemplo é o da Saboaria Rondônia, que construiu uma cadeia produtiva com forte impacto social, baseada em bioativos como buriti e copaíba. Instalado em área rural, o empreendimento consolidou uma rede de fornecimento que fortalece comunidades extrativistas e promove geração de renda entre mulheres da região. É um retrato de como o conhecimento tradicional, quando aliado à inovação, pode se desdobrar em produtos de alto valor agregado com forte conexão territorial.

Desde sua criação em 2021, o Inova Amazônia vem acumulando números que ajudam a explicar por que a iniciativa está pronta para um salto global. São 409 empresas aceleradas, 660 ideias apoiadas e R$ 16 milhões em bolsas concedidas. Um indicador especialmente relevante é que 17% das participantes depositaram patentes, demonstrando capacidade de pesquisa e diferenciação tecnológica. Além disso, 22% receberam algum tipo de investimento e 31% iniciaram processos de internacionalização, uma pista clara de que o potencial de expansão não só existe como vem sendo trabalhado com consistência.

O lançamento do Global Edition dentro da COP30 não foi por acaso. A conferência se tornou uma vitrine mundial para soluções socioambientais, reunindo governos, investidores e instituições preocupadas com modelos de desenvolvimento que garantam preservação e prosperidade. Nesse ambiente, iniciativas que estruturam negócios baseados no uso sustentável da floresta ganham atenção e recursos. A aposta é transformar a Amazônia em polo de inovação verde, criando um ecossistema que permita que pequenas empresas alcancem o cenário internacional com competitividade.

Para os empreendedores selecionados, a nova etapa representa muito mais que capacitação: é a oportunidade de dialogar com fundos que buscam projetos robustos de impacto ambiental, acessar mercados que valorizam produtos rastreáveis e construir redes globais que aceleram a inserção internacional. Para a Amazônia como um todo, significa ampliar rotas econômicas que dependem da floresta viva, geram renda local, estimulam pesquisa e posicionam a região na economia climática que se consolida no século XXI.

Os detalhes completos do edital estão disponíveis na página oficial do Inova Amazônia.

COP30 acelera decisões e lança força-tarefa inédita

A COP30 entrou em sua fase mais intensa em Belém com o anúncio de uma força-tarefa destinada a acelerar decisões e evitar o famoso prolongamento das negociações até a madrugada do último dia. A estratégia, articulada pela presidência da conferência, comandada pelo diplomata André Corrêa do Lago, busca organizar um mutirão multilateral capaz de entregar, de forma antecipada, uma parte do chamado Pacote de Belém — um conjunto de resoluções que deve orientar a agenda climática global nos próximos anos.

Para concretizar esse movimento, a presidência enviou uma carta às delegações explicando a metodologia de trabalho. Na mensagem, Corrêa do Lago enfatiza que a COP30, realizada pela primeira vez no coração da Amazônia brasileira, exige um esforço incomum e coordenado. Ele pede que as partes trabalhem de modo colaborativo, quase como se estivessem em uma oficina coletiva, empurrando os entraves para fora da mesa e abrindo espaço para consensos.

A proposta divide as decisões em duas etapas. A primeira seria concluída e aprovada já na plenária de quarta-feira, dois dias antes do encerramento oficial da conferência. A segunda fase seria finalizada na sexta-feira, mantendo o cronograma padrão, mas com menos acúmulo de impasses. O objetivo é demonstrar que o multilateralismo — frequentemente criticado por sua lentidão — pode entregar resultados antes do prazo.

Na carta, enviada às partes sob a bandeira da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), o presidente da COP30 reforça que o processo decisório também está sob escrutínio global. O mundo, diz ele, observa não apenas o resultado final, mas a forma como esse resultado é alcançado. Confiança, generosidade e coragem são valores que, segundo o embaixador, devem guiar uma conferência que pretende deixar uma marca política relevante.

A diretora do Departamento de Clima do Ministério das Relações Exteriores (MRE), embaixadora Liliam Chagas, explicou que o adiantamento de votações é uma resposta ao clima colaborativo da primeira semana da conferência. A ideia de estender horários nasceu justamente das conversas entre países, que solicitaram à presidência maior flexibilidade para conduzirem o trabalho sem interrupção. Para isso, a COP30 solicitará autorização formal à UNFCCC para ampliar o horário de funcionamento da conferência conforme a necessidade de cada grupo técnico.

Entre os itens que devem compor a primeira etapa do Pacote de Belém estão pilares centrais da arquitetura climática global. O Objetivo Global de Adaptação, conhecido pela sigla GGA, é um deles. Também entram em pauta o programa de trabalho sobre transição justa, os planos nacionais de adaptação, novas bases para o financiamento climático, o programa de mitigação, a agenda da Comissão Permanente de Finanças, diretrizes para o Fundo Verde para o Clima, o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e orientações ao Fundo para Resposta a Perdas e Danos, criado recentemente.

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Além dessas frentes, os negociadores pretendem avançar em temas ligados ao Fundo de Adaptação, ao Programa de Implementação de Tecnologia e a assuntos relacionados ao Artigo 13 do Acordo de Paris — dispositivo que regula como os países devem relatar e comprovar a transparência de suas ações climáticas.

Há ainda quatro temas espinhosos reunidos pelo que se convencionou chamar de mutirão de Belém: o apelo para ampliar metas climáticas (as NDCs), o financiamento público dos países desenvolvidos aos países em desenvolvimento, as medidas unilaterais de comércio — incluindo tarifas e mecanismos de ajuste de carbono — e os relatórios bienais de transparência. Esses elementos políticos serão negociados ao lado dos pontos técnicos que compõem a segunda etapa do pacote. No total, a Agenda de Ação da COP30 inclui cerca de 145 itens.

A reação da sociedade civil à estratégia tem sido majoritariamente positiva. Para o Greenpeace Brasil, a sinalização de que haverá um pacote político antecipado representa esperança. A especialista Anna Cárcamo destacou que o plano global de resposta à crise climática e os caminhos para proteger florestas e reduzir gradualmente combustíveis fósseis ganharam força depois de receber apoio significativo de diversos países.

Ela enfatiza, contudo, que o conteúdo final ainda está em disputa: há versões mais ambiciosas e outras consideravelmente menos robustas. Uma delas trata da necessidade de triplicar o financiamento internacional destinado à adaptação até 2030, uma reivindicação reiterada pelos países mais vulneráveis.

O WWF também avalia o movimento como um sinal de progresso. Manuel Pulgar-Vidal, líder global de Clima e Energia da organização, afirmou que os dois pacotes anunciados pela presidência mostram que existe disposição política para avançar de forma coordenada rumo ao limite de aquecimento de 1,5°C previsto pelo Acordo de Paris.

Com a força-tarefa oficialmente em andamento, o que se verá nos próximos dias é um teste de coordenação diplomática em grande escala. Em Belém, onde florestas, rios e comunidades convivem com a expectativa global, a COP30 tenta provar que, mesmo em um mundo dividido, ainda é possível produzir convergência.

Revisão do IBGE redefine fronteiras do Cerrado e da Mata Atlântica

A mais recente revisão dos limites territoriais da Mata Atlântica e do Cerrado, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), reacendeu debates sobre como o Brasil interpreta, classifica e protege seus biomas. Diferentemente do que costuma mobilizar manchetes — desmatamento, degradação, expansão agrícola — a mudança não tem relação com transformações físicas recentes na paisagem, mas com um aperfeiçoamento técnico que redesenha, com maior precisão, onde começa e onde termina cada bioma.

O relatório divulgado nesta terça-feira (18) mostra números que, à primeira vista, parecem contraditórios ao imaginário comum: o Cerrado ganhou 1,8% de área, enquanto a Mata Atlântica perdeu 1%. A reconfiguração aconteceu sobretudo na divisa entre os estados de São Paulo e Minas Gerais, justamente na zona onde formações de transição sempre desafiaram classificações rígidas.

Segundo o IBGE, a mudança resulta de uma análise mais refinada apoiada em critérios como clima, geologia, geomorfologia, pedologia e fisionomias vegetais. Esse conjunto multidisciplinar permite identificar nuances essenciais que, muitas vezes, diferenciam savanas arborizadas de florestas estacionais. A revisão revelou cerca de 19.869 km² passíveis de adequação — uma área expressiva quando comparada a territórios municipais inteiros.

Em Minas Gerais, a nova delimitação ampliou a presença da Mata Atlântica em torno da Região Metropolitana de Belo Horizonte, incorporando não apenas a capital, mas também áreas ao norte da cidade. É uma mudança relevante, pois significa que zonas antes classificadas como Cerrado passam a integrar um bioma regido por uma das legislações ambientais mais antigas e reconhecidas do país, a Lei da Mata Atlântica.

Em São Paulo, o movimento foi inverso. O Cerrado se expandiu, sobretudo no centro-norte do estado, região em que a vegetação de savana já possui forte representação histórica, apesar das perdas acumuladas ao longo do século XX. Ali, o bioma conta com legislação específica desde 2009, e a atualização dos limites tende a reforçar instrumentos de proteção e monitoramento.

graficos-caminhos-ibge01-400x385 Revisão do IBGE redefine fronteiras do Cerrado e da Mata Atlântica

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Os municípios afetados pela revisão ilustram o caráter híbrido dessas paisagens: em Minas Gerais, cidades como Sacramento, Uberaba, Fronteira, Planura, São Sebastião do Paraíso, Diamantina, Conceição do Mato Dentro, Belo Horizonte, Florestal e Juatuba foram reavaliadas. Em São Paulo, localidades como Franca, Barretos, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Piracicaba, Mococa e Votuporanga foram incluídas nas áreas de transição ajustadas.

A revisão atual integra um processo contínuo que teve início em 2019, quando o IBGE lançou a publicação Biomas e Sistema Costeiro Marinho do Brasil, documento que modernizou a escala de mapeamento nacional. A mudança — de uma escala de 1:5 milhões para 1:250 mil — ampliou substancialmente o nível de detalhe da cartografia territorial brasileira. Com isso, as revisões periódicas tornaram-se indispensáveis para ajustar, validar e corrigir limites à medida que novas informações científicas chegam.

Essas atualizações não acontecem apenas diante de computadores. O trabalho envolve uma rede de especialistas e o acúmulo de expedições de campo em regiões alvo de dúvidas ou questionamentos, seja por parte de organizações ambientais, seja por instituições governamentais relacionadas ao meio ambiente. Ao todo, cinco expedições já foram realizadas no âmbito do processo.

Embora a revisão não represente alteração ambiental real — não há ganho ou perda efetiva de cobertura vegetal — seu impacto jurídico e político é relevante. A redefinição das áreas influencia políticas públicas, regras de licenciamento, instrumentos de proteção e até os critérios de monitoramento do desmatamento. Em biomas fortemente pressionados, como Cerrado e Mata Atlântica, conhecer com exatidão seus limites é mais do que um exercício cartográfico: é um passo decisivo para que políticas ambientais sejam eficazes e baseadas em evidências.

À medida que o país atualiza seu entendimento sobre o território, torna-se mais capaz de medir, planejar e responder aos desafios da conservação. A precisão, aqui, não é mera formalidade: é um instrumento estratégico para proteger dois dos biomas mais ameaçados do Brasil.

Lula inaugura ponte e defende continuidade de obras públicas

A inauguração da ponte sobre o rio Araguaia, que agora une Tocantins e Pará pela BR-153, marcou mais do que a abertura de uma obra de infraestrutura. O ato simbolizou, para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a necessidade de romper com a tradição brasileira de interromper projetos a cada troca de governo. Em São Geraldo do Araguaia, durante a cerimônia realizada nesta terça-feira (18), Lula enfatizou que concluir obras iniciadas por gestões anteriores não é concessão política, mas dever público.

A ponte inaugurada, conhecida como Ponte Xambioá, substitui a travessia por balsa entre Xambioá (TO) e São Geraldo do Araguaia (PA). Até então, moradores e transportadores dependiam de uma passagem que podia custar mais de 300 reais por viagem. A nova estrutura, com 2.010 metros de extensão, redesenha o cotidiano local ao eliminar longas esperas e incertezas climáticas que frequentemente paralisavam o transporte.

Lula recordou que, ao assumir seu terceiro mandato, encontrou uma lista extensa de obras paralisadas. A crítica do presidente, porém, veio acompanhada de uma defesa da responsabilidade compartilhada: prefeitos, governadores e presidentes, segundo ele, precisam entender que obras públicas pertencem à sociedade, e não aos mandatos. A ponte sobre o Araguaia é exemplo disso — idealizada durante o governo Dilma Rousseff, atravessou diferentes administrações até finalmente ser concluída.

A cerimônia também foi marcada por um reconhecimento inesperado: Lula agradeceu a existência da própria balsa, que durante anos foi a única forma de travessia. Para ele, a precariedade do serviço não deve ofuscar seu papel num contexto de ausência do Estado. A balsa existia, afirmou, porque o Estado falhou em garantir o direito básico de ir e vir. “Seria injusto criticar a balsa sem reconhecer que ela manteve a vida das pessoas em movimento quando o poder público não cumpriu sua função.”

Segundo o governo federal, a nova ponte fortalece a logística do Norte e moderniza um dos principais corredores de escoamento da produção agropecuária e industrial da região. A obra recebeu 232,3 milhões de reais, dos quais 28,8 milhões vieram do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a política federal que retomou investimentos estruturantes interrompidos ao longo dos últimos anos.

A implantação da iluminação pública será realizada na segunda fase do projeto, sob responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). O planejamento já está em execução, e a licitação deve ocorrer no primeiro semestre de 2026.

54932395118_937daffb86_o-400x225 Lula inaugura ponte e defende continuidade de obras públicas
Ricardo Stuckert / PR

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A ponte, entretanto, não monopolizou o discurso presidencial. Lula também respondeu às declarações do primeiro-ministro da Alemanha, Friedrich Merz, que — após participar da COP30 em Belém — afirmou que jornalistas alemães teriam ficado “felizes” ao deixar a capital paraense. A fala se espalhou rapidamente e foi interpretada como desdém à cidade-sede da conferência.

Lula rebateu com ironia e orgulho regional. Sugeriu que Merz deveria ter vivido um pouco mais da cultura paraense, ido a um bar, dançado e provado a culinária local. Segundo ele, Berlim “não oferece 10% da qualidade” que o Pará tem. Em tom bem-humorado, ainda comentou que repetiu várias vezes: “come a maniçoba, pô”.

O presidente também retomou as críticas que circularam antes da escolha de Belém como sede da COP30. Muitos, disse ele, defendiam que o evento deveria ocorrer em cidades como Rio de Janeiro ou São Paulo. Os argumentos eram conhecidos: falta de estrutura, preços altos, presença de mosquitos. Para Lula, esses comentários expunham preconceitos antigos contra a Amazônia e desconhecimento sobre a capacidade local. “Reclamam da água cara em Belém, mas nunca reclamam da água que pagam nos aeroportos internacionais”, ironizou.

Ao lado do governador Helder Barbalho, Lula reforçou que a COP na Amazônia era essencial para mostrar ao mundo o que está em jogo. E concluiu lembrando que a construção da ponte e a realização da conferência têm algo em comum: ambas afirmam que o Norte do país não é periferia, mas protagonista.

Brasil assume liderança global ao lançar plano climático para a saúde

O lançamento do Plano de Ação em Saúde de Belém marcou um momento decisivo para o Brasil na COP30. Pela primeira vez, um país apresenta um plano internacional de adaptação climática dedicado exclusivamente ao setor da saúde, colocando o tema no centro das discussões sobre o enfrentamento da crise climática. O documento nasce em meio à intensificação de eventos extremos e ao agravamento dos impactos sobre populações vulneráveis, e consolida o Brasil como articulador global nesse campo.

A iniciativa foi anunciada pelo Ministério da Saúde e defendida publicamente pelo ministro Alexandre Padilha, que reiterou a orientação direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de fazer da COP30 a conferência da implementação e da verdade. Para Padilha, o país já vive um clima alterado e, diante disso, não há alternativa que não seja a adaptação. Ele descreveu o plano como um chamado à ação coordenada entre governos, sistemas de saúde e instituições internacionais.

A estratégia está estruturada em três eixos: vigilância e monitoramento; políticas e capacidades baseadas em evidências; e inovação, produção e saúde digital. Esses eixos são orientados por princípios de equidade, justiça climática e governança participativa. A implementação será conduzida em parceria com a Aliança para Ação Transformadora em Clima e Saúde (ATACH), sob supervisão da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A CEO da COP30, Ana Toni, ressaltou que o plano amplia o papel do Sistema Único de Saúde nas negociações internacionais e já conta com a adesão de 80 países e parceiros. Ela destaca que levar o SUS ao centro da conferência simboliza uma mudança de perspectiva: saúde deixa de ser apenas vítima da crise climática e passa a ser vetor estratégico da adaptação.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, reforçou que “a crise do clima é uma crise da saúde”. Ele recordou que a adaptação já é prevista no Acordo de Paris, mas ainda precisa sair do papel. Para Tedros, o plano brasileiro demonstra a urgência do tema e oferece base concreta para que outros países fortaleçam seus sistemas diante de enchentes, secas, ondas de calor e surtos de doenças sensíveis ao clima.

Na mesma linha, Jarbas Barbosa, diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), lembrou que o aquecimento global já aumentou em 20 por cento desde os anos 1990 e provoca cerca de 550 mil mortes anuais por calor extremo. Ele destacou que o Plano de Ação de Belém contribui para preparar equipes de saúde e integrar protocolos para respostas rápidas a desastres, como tornados, ciclones e chuvas intensas.

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Foto: Rafael Neddermeyer/COP30

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Simon Stiell, secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), avaliou o plano como peça central da adaptação global. Para ele, o documento oferece a base conceitual necessária, mas depende de financiamento e coordenação robusta para que países consigam transformar diretrizes em proteção real.

Esse apoio começou a se consolidar com o anúncio da Coalizão de Financiadores de Clima e Saúde, que comprometeu um investimento inicial de 300 milhões de dólares. O grupo reúne mais de 35 organizações filantrópicas, entre elas Bloomberg Philanthropies, Children’s Investment Fund Foundation, Gates Foundation, IKEA Foundation, Quadrature Climate Foundation, The Rockefeller Foundation, Philanthropy Asia Alliance e Wellcome.

Os primeiros recursos apoiarão soluções para calor extremo, poluição do ar e doenças infecciosas agravadas pelo clima, além da integração de dados climáticos e sanitários. A expectativa é que esse movimento sirva de gatilho para ampliar a resiliência do setor e apoiar países que enfrentam impactos crescentes, especialmente aqueles com menor capacidade financeira.

O plano está aberto à adesão voluntária de governos, organizações internacionais, sociedade civil, setor privado e universidades. Ele integra a Agenda de Ação da COP30 e responde ao Objetivo 16, dedicado a fortalecer sistemas de saúde frente à crise climática. Também cumpre as diretrizes do Artigo 7 do Acordo de Paris e complementa resoluções da Assembleia Mundial da Saúde.

O Brasil, ao propor o Plano de Ação em Saúde de Belém, assume um papel de liderança ao reconhecer que adaptação não é escolha, mas urgência. É um passo simbólico e prático rumo a políticas que enfrentam, de forma concreta, a realidade climática que já molda o presente e determinará o futuro da saúde global.

Mulheres transformam a Amazônia com empreendedorismo sustentável

O avanço da bioeconomia no Pará tem revelado um movimento cada vez mais visível: mulheres de comunidades tradicionais assumindo o protagonismo da transformação econômica da floresta. Artesãs, agricultoras, extrativistas e produtoras têm mobilizado saberes ancestrais, práticas de cultivo sustentável e inovação comunitária para construir alternativas de renda que, ao mesmo tempo, reforçam a preservação da Amazônia. Por trás desse cenário está um conjunto crescente de políticas públicas estruturadas pelo Governo do Pará que investem no fortalecimento de empreendimentos femininos e no estímulo ao uso responsável dos recursos naturais.

Um dos marcos dessa agenda é o Plano Estadual de Bioeconomia (PlanBio) lançado em 2022 e concebido como uma política estratégica permanente. O PlanBio estabeleceu um ecossistema de fomento que articula planejamento ambiental, inclusão social e estímulo à economia da floresta. Apenas até outubro de 2025, o programa já mobilizava cerca de R$ 600 milhões em investimentos diretos, alcançando mais de 400 mil pessoas e impulsionando mais de dois mil negócios, muitos deles comunitários e liderados por mulheres.

Esses números ganham vida quando associados às histórias de empreendedoras como Gleicy Melo, agricultora de 26 anos, ribeirinha de Portel e integrante da Cooperativa Marajó. Ela produz farinha e outros itens derivados da agricultura familiar e relata como o avanço das políticas de bioeconomia trouxe visibilidade e reconhecimento. A cooperativa passou a fornecer alimentos para a merenda escolar e ampliou sua presença em mercados locais, o que demonstra a capacidade da bioeconomia de conectar produção tradicional com cadeias contemporâneas de valor. Para Gleicy, a força das mulheres ribeirinhas é hoje parte essencial da economia de Portel, mostrando como a bioeconomia é também uma estratégia de afirmação territorial e cultural.

A diretora de Bioeconomia da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade (Semas), Iara Menezes, destaca que os programas estaduais colocam a inclusão feminina no centro das ações. Para ela, o PlanBio estimula modelos de negócios liderados por mulheres e jovens, fortalecendo a autonomia financeira e incentivando soluções que unem inovação social e sustentabilidade. Mulheres não apenas participam desse processo; elas o conduzem. São lideranças na tomada de decisão, na gestão dos empreendimentos e na articulação das redes produtivas que conectam comunidades, mercados e instituições públicas.

Essa visão se materializa na expansão de projetos como o Parque de Bioeconomia da Amazônia, inaugurado no Complexo Porto Futuro, em Belém. Esse centro, impulsionado com recursos estaduais, atua como espaço de experimentação, formação e incubação de iniciativas sustentáveis. É um polo que busca orientar negócios comunitários a competir em novos mercados, oferecendo estrutura e apoio técnico.

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Foto: Bruno Cecim / Ag.Pará

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Outra política essencial é a atuação da Secretaria de Estado de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster), que tem promovido capacitações voltadas à valorização do artesanato tradicional e ao fortalecimento da autonomia econômica das artesãs. Até o momento, 73 mulheres de comunidades quilombolas receberam formação em diferentes regiões do Estado, incluindo Marajó, Baixo Amazonas, Guamá, Rio Caeté e Rio Capim. Essas ações incluem desde treinamentos técnicos até estratégias de acesso a mercados nacionais e internacionais.

A coordenadora de Empreendedorismo e Economia Solidária da Seaster, Silvia Reis da Silva, ressalta o papel do Programa do Artesanato Brasileiro (PAB) na ampliação das oportunidades comerciais e no reconhecimento social das artesãs. Ao celebrar o protagonismo feminino, ela observa que essas políticas não atuam apenas na lógica econômica, mas também fortalecem autoestima, relações comunitárias e identidade cultural.

Histórias como a de Andréa Mendes, fundadora do Coletivo Artesãs Empoderadas da Cabanagem, revelam essa dimensão simbólica. Ela conta que, desde 2021, ao trabalhar com produtos da floresta e reciclagem, viveu uma transformação que vai além da renda: uma transformação pessoal e coletiva. Para Andréa, impulsionar outras mulheres e ser impulsionada por elas é um ciclo virtuoso que renova a energia criativa das comunidades e reforça o papel central da arte e do extrativismo sustentável na economia amazônica.

O que emerge desse mosaico é mais do que um conjunto de programas governamentais. É a consolidação de um novo modelo de desenvolvimento capaz de unir preservação da floresta, valorização dos saberes tradicionais, geração de renda e liderança feminina. No Pará, a bioeconomia não é apenas política pública; é também ferramenta de emancipação e um caminho concreto para um futuro mais equilibrado entre economia, sociedade e natureza.

Mais de 2 mil drones ilegais desafiam segurança da COP30

O avanço da tecnologia costuma trazer novas possibilidades, mas também novos desafios — e um dos mais evidentes durante a COP30, em Belém, foi o uso irregular de drones. A Polícia Federal (PF), responsável pela segurança do evento, divulgou dados que revelam um cenário preocupante: mais de dois mil drones circularam sem autorização em áreas onde o controle do espaço aéreo é crítico.

Entre os dias 31 de outubro e 15 de novembro, o sistema de vigilância aérea contabilizou 2.270 aparelhos irregulares operando na capital paraense. O número, por si só, já indica um ambiente de risco elevado, especialmente durante um evento internacional que reúne autoridades de alto nível e mobiliza estruturas de segurança complexas. Ao mesmo tempo, reforça como a popularização dos drones ainda não foi acompanhada por uma cultura sólida de responsabilidade e conformidade legal.

O monitoramento é coordenado pelo Centro Integrado de Controle de Aeronaves Remotamente Pilotadas e Contramedidas (CIC-ARP/CM), estrutura criada justamente para lidar com situações em que drones podem interferir na segurança física ou operacional de grandes eventos.

Segundo o centro, além de identificar os voos não autorizados, as equipes também impediram 184 tentativas de acionamento de drones em zonas de interdição total — áreas nas quais a decolagem e o sobrevoo são completamente proibidos. Essas zonas incluem setores estratégicos, como o entorno do Aeroporto Internacional de Belém, o Parque da Cidade, os portos de Miramar e Outeiro, e todos os locais onde o presidente da República estivesse presente.

A atuação dessas aeronaves em espaços sensíveis não é tratada apenas como uma infração administrativa. Dependendo da intenção e do dano potencial, pode configurar crime previsto na legislação aeronáutica e penal brasileira. A Polícia Federal reforça que operar drones sem permissão é uma conduta sujeita a penalidades que podem incluir multas, responsabilização civil e processos criminais.

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Bruno Peres/Agência Brasil

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Esse tipo de apreensão revela um fenômeno que cresce silenciosamente no país: a percepção equivocada de que drones são dispositivos recreativos simples, cujo uso dispensa autorizações ou cuidados. Na prática, a operação responsável exige conhecimento, registro de equipamentos, habilitação de pilotos e respeito às normas de tráfego aéreo — requisitos especialmente rigorosos durante um evento como a COP30, que concentrava autoridades internacionais, lideranças indígenas, chefes de Estado, diplomatas e milhares de participantes.

O alerta da PF destaca ainda um segundo problema: a desinformação sobre o que é permitido ou não quando se trata de aeronaves remotamente pilotadas. Para muitos usuários, as regras de voo são vistas como burocracia. No entanto, quando se interditam áreas em torno de aeroportos, portos ou espaços presidenciais, não há margem para relativizações. Drones podem interferir em pousos e decolagens, causar acidentes, gerar pânico, comprometer operações policiais e até abrir brechas para atentados ou espionagem.

As medidas adotadas pelo CIC-ARP/CM envolvem tecnologias de detecção que vão desde radares específicos até sistemas de radiofrequência capazes de identificar, rastrear e neutralizar aparelhos não autorizados. A operação é coordenada de modo integrado com outras forças de segurança, o que demonstra a crescente profissionalização brasileira no tema. A COP30, portanto, funcionou como um grande laboratório real de defesa do espaço aéreo urbano.

Mesmo diante do número expressivo de drones irregulares identificados, a PF afirma que o monitoramento continua e será intensificado até o encerramento das atividades relacionadas à conferência. As equipes que atuam no centro de controle permanecem em operação para proteger delegações, autoridades e o público geral.

O episódio reforça uma discussão mais ampla: à medida que drones se tornam ferramentas corriqueiras — usadas em jornalismo, entregas, filmagens, lazer ou vigilância — cresce a necessidade de educação, regulamentação clara e fiscalização eficiente. O Brasil possui legislação robusta sobre o assunto, mas muitos operadores ainda desconhecem suas obrigações.

Em vez de um simples dado estatístico, os mais de dois mil drones irregulares flagrados durante a COP30 representam um alerta sobre a relação do país com essa tecnologia. Eles expõem o desafio de equilibrar inovação e segurança em tempos de transformação digital acelerada.

Não vai haver proibição da tilápia no Brasil, diz governo

Circulou recentemente a desinformação de que o cultivo de tilápia seria proibido no Brasil — uma versão falsa que já foi oficialmente desmentida pelo governo federal. Na verdade, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) segue autorizando a produção desse peixe, enquanto o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) afirma que não há proposta para banir a tilápia.

A tilápia, apesar de ser uma espécie exótica, ocupa um lugar estratégico na aquicultura nacional. Ela é reconhecida pelo Ibama como autorizada e de “grande relevância econômica”, um reflexo de sua consolidação ao longo dos anos. O fato de a espécie estar sob análise pela Comissão Nacional de Biodiversidade (CONABIO) não significa uma proibição automática: a possível inclusão na lista de “espécies exóticas invasoras” tem caráter técnico e preventivo, não implica em revogação da sua produção.

Esse processo de avaliação pela CONABIO é conduzido de forma colegiada, envolvendo representantes de ministérios, autarquias, academia, setor produtivo, comunidades tradicionais e organizações civis — o que reforça a transparência do debate. O objetivo é basear decisões em evidências científicas recentes, e não em opiniões políticas ou medidas punitivas. De fato, o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) — responsável por coordenar a produção aquícola — solicitou tempo adicional para revisar criteriosamente as fichas técnicas das espécies avaliadas, em parceria com universidades e institutos de pesquisa. Os resultados dessas análises serão encaminhados para a CONABIO.

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Foto: MPA

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Em sua comunicação oficial, o governo destaca que essa iniciativa reforça um compromisso com a ciência, o diálogo interinstitucional e a sustentabilidade. Isso demonstra que, mais do que uma controvérsia ambiental, trata-se de um exercício democrático sobre políticas públicas, no qual diferentes atores têm voz e a decisão final será tecnicamente bem fundamentada.

Vale lembrar que a CONABIO, criada por decreto, tem papel consultivo e orientador sobre biodiversidade, listando tanto espécies ameaçadas como exóticas, mas sem poder imediato para proibir a produção de uma espécie só por classificá-la como invasora. O trabalho dessa comissão é estratégico: ao identificar espécies com risco de impacto ecológico, ela contribui para políticas de prevenção e controle, e não para medidas drásticas sem amparo técnico.

Dessa forma, a narrativa de que a tilápia seria banida do Brasil cai por terra: o governo não tem proposta de proibição, e os mecanismos institucionais em curso visam mais a precaução do que o encerramento de atividades. A produção aquícola dessa espécie continua em pleno funcionamento sob regulamentações já consolidadas.

Essa é, portanto, mais uma peça de desinformação que se espalhou com força: ao ser desvendada, revela um panorama mais equilibrado, baseado em ciência, diálogo e governança compartilhada. Em vez de uma ameaça ao setor, o que está em curso é um processo de avaliação responsável — onde sustentabilidade e economia podem caminhar juntas.

Nos bastidores da reta final da COP30: o que está em jogo

Entrando em sua fase mais crítica, a COP30 em Belém se transforma em um tabuleiro onde ministros, negociadores e observadores mobilizam-se intensamente para traduzir ambição em decisões concretas. Na reta final deste encontro climático, aparecem dois regimes sobrepostos: a urgência técnica de fechar textos de decisão e a pressão política para impulsionar ações que ultrapassem esboços diplomáticos.

Na noite do domingo (16), a presidência da conferência divulgou um resumo das consultas realizadas, destacando quatro temas centrais: elevação das metas climáticas (as chamadas NDCs, Contribuições Nacionalmente Determinadas), financiamento dos países desenvolvidos para os mais vulneráveis, a criação de uma Meta Global de Adaptação (GGA) e o trabalho sobre uma transição justa. Esses pontos foram colocados em debate com a participação de ministros de alto escalão, que agora tentam tecer consensos nos corredores e plenárias.

A previsão de especialistas é que este momento da conferência, tradicionalmente marcado pela entrada de líderes nacionais, será decisiva para que se avancem os “mapas do caminho” prometidos por alguns governos — rotas estratégicas para desmatamento zero e abandono dos combustíveis fósseis. O vice-presidente brasileiro, Geraldo Alckmin, já defendeu publicamente na COP uma implementação clara dessas estratégias, alinhando discurso nacional com as expectativas globais.

Porém, nem todos estão satisfeitos com o que está em papel até agora. Apesar das consultas demonstrarem avanços retóricos — com elogios ao multilateralismo e referências ao Acordo de Paris —, a ausência de decisões mais ousadas acende alertas entre analistas climáticos. Para a especialista Fernanda Bortolotto, da The Nature Conservancy Brasil, o documento emitido até agora falha em fornecer passos concretos para desmatamento ou para a transição energética: “Se não houver texto final que inclua esses mapas, toda a mobilização nos eventos paralelos pode não se refletir em ações.” The Nature Conservancy

Na trilha da adaptação, tema essencial para nações já vulneráveis aos impactos climáticos, o debate se mostra particularmente tenso. Um rascunho técnico já propôs 100 indicadores para medição da GGA, mas há resistência de blocos diplomáticos. O Grupo Africano, com apoio de países árabes, quer postergar a decisão final para 2027, adiantando trabalho técnico antes de assinar compromissos mais firmes. A analista Bortolotto observa que, embora o texto-base tenha sido acertado com dificuldade, falta agora coragem política para adotar esses indicadores este ano.

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Foto: Sergio Moraes/COP30

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Em paralelo, discute-se também o avanço dos Planos Nacionais de Adaptação (NAPs) e o fortalecimento do Fundo de Adaptação (AF, na sigla em inglês), ferramentas consideradas essenciais para viabilizar ações de resiliência nos países que mais sentem os efeitos da mudança do clima.

Outro aspecto delicado é a transição justa, tema cuja proposta é a criação de um programa de trabalho no âmbito da COP para debater justiça social e climática. Apesar de a ideia de unir transição energética com equidade social ter sido amplamente defendida, ainda não há consenso entre as partes para firmar esse programa numa decisão formal.

Para analistas como Anna Cárcamo, do Greenpeace Brasil, essa segunda semana da COP é a grande chance de converter apelos em texto robusto. Ela defende que é preciso “mais pressão política” para garantir que os mapas do desmatamento e da energia ecológica sejam mais do que promessas: que virem compromisso negociado e medido.

Em meio a essas manobras, o papel da diplomacia brasileira aparece fortalecido. Alckmin, em seu discurso na plenária de alto nível, ressaltou que o Brasil quer deixar como legado da conferência não apenas metas, mas planos concretos: “mapas de ação com avanço significativo na transição energética e erradicação do desmatamento ilegal”. Essa fala soa como um convite para que outros países façam o mesmo, dando passos sincronizados entre discurso nacional e agenda global.

Ainda assim, a tensão é palpável. A comunidade técnica já montou os esboços, mas cabe agora aos líderes dar respaldo político e assegurar que as palavras se convertam em ação. Sem isso, teme-se que a COP30 termine como muitas anteriores: repleta de declarações simbólicas, porém com poucos compromissos concretos que acelerem a implementação.

A equação é clara: ou a conferência fecha com instrumentos que permitam monitoramento, financiamento e metas mensuráveis — ou corre o risco de deixar promessas para depois, quando os impactos climáticos já estarão mais graves. A decisão final será medida não apenas por quem assinar o documento, mas por quem terá a ambição de transformar aquele pacto em política real.

BNDES acelera 100 startups verdes na COP30

Durante a COP30, em Belém, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) anunciou uma seleção ambiciosa: 100 startups foram convidadas a participar de seu programa de aceleração, o BNDES Garagem, com foco claro em soluções para a economia verde e a descarbonização. Esse movimento sinaliza que o Brasil aposta em inovação para enfrentar os desafios socioambientais contemporâneos, aproveitando a conferência climática para mostrar que apoiar o empreendedorismo de impacto é parte central de sua estratégia de desenvolvimento sustentável.

A convocação para essa nova turma do BNDES Garagem foi feita em meio às negociações, painéis e anúncios da COP30. Das mais de 1,8 mil iniciativas inscritas, apenas 100 foram selecionadas — um corte rigoroso que reflete o desejo do banco de concentrar recursos, mentoria e redes de apoio nas ideias mais promissoras. Para operacionalizar o programa, o BNDES contou com a Quintessa, aceleradora especializada em clima e desenvolvimento econômico, que já estrutura e executa iniciativas de impacto desde 2009. QUINTESSA+2QUINTESSA+2

As 100 startups aprovadas foram divididas em dois estágios: 50 no grupo “criação” e 50 no grupo “tração”. No grupo criação estão empresas nascentes, ainda desenhando seus modelos de negócio ou testando suas ideias; no grupo tração, estão aquelas que já validaram seus produtos ou serviços e buscam escalar suas operações com o suporte adequado.

O programa se estenderá até junho de 2026. Durante esse período, as startups terão apoio individualizado — mentores especializados, consultoria técnica, serviços gratuitos e subsídios — além de acesso a potenciais investidores e parceiros, tanto públicos quanto privados. É uma combinação poderosa que mistura capital humano, rede de contatos e preparação para crescimento real.

Ao divulgar os perfis das selecionadas, o BNDES destacou que a maioria (39) atua no segmento de economia verde e descarbonização — justamente o eixo mais estratégico no contexto atual de emergência climática. As outras startups cobrem diversas áreas: saúde (18), educação (14), economia da periferia (12), economia azul (7), segurança pública (2), cultura, arte e tecnologia criativa (1), melhoria do governo e instituições (1) e outros (6). Esse leque demonstra que o programa vai além do meio ambiente: ele também mira impacto social, inclusão e inovação institucional.

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Outro dado notável é que 45 das startups selecionadas têm uma pessoa preta ou parda à frente do negócio, e 67 contam com ao menos uma mulher como sócia. Esses números reforçam o compromisso de diversidade e representatividade no ecossistema empreendedor de impacto, especialmente quando se trata de canais financiados por uma instituição pública de grande porte como o BNDES.

No final do ciclo de aceleração, as 10 startups mais destacadas serão premiadas: cinco de cada grupo. Para as de tração, os prêmios variam de R$ 64 mil a R$ 160 mil; para as de criação, vão de R$ 32 mil a R$ 85 mil. Além do valor financeiro, essa premiação simboliza reconhecimento e validação para empreendedores que muitas vezes enfrentam dificuldades para crescer e atrair investimentos.

Marcelo Marcolino, superintendente da Área de Mercado de Capitais, Investimentos e Participações do BNDES, afirmou que o programa é uma demonstração clara de que o banco “tem as portas abertas para empreendedores de impacto”. Ele destacou que as startups selecionadas vêm de diferentes regiões do Brasil e têm perfis diversos, o que mostra que a instituição está comprometida em apoiar soluções de todos os cantos para os grandes desafios ambientais e sociais.

Desde a criação do BNDES Garagem, já foram aceleradas mais de 300 startups, segundo o banco. E a meta é ainda mais ambiciosa: até 2028, apoiar mais 300 empresas de impacto. Esse esforço contínuo reforça que o BNDES enxerga a aceleração como um caminho estratégico para fomentar a inovação sustentável — não apenas como projeto pontual, mas como parte integrante de sua missão de desenvolvimento nacional.

A escolha de anunciar essa seleção durante a COP30 também não é casual. Trata-se de um gesto simbólico e prático: demonstrar à comunidade internacional que o Brasil está investindo em inovação de impacto para enfrentar a crise climática. Ao mesmo tempo, o programa reforça que a transição verde deve passar por ações concretas, nacionais e descentralizadas, gerando emprego, renda e soluções para o presente e o futuro.

O Brasil acredita que pode mudar o jogo climático com o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF)

A ideia é simples na essência, poderosa na escala. Em vez de depender exclusivamente de doações públicas e onerosas, o modelo busca criar um fundo de investimento global que remunera quem investe e, ao mesmo tempo, presta conta aos países que abrigam florestas tropicais — gerando renda sustentável para quem conserva a floresta em pé.

O mecanismo surgiu em resposta a uma constatação: países ricos e investidores já tentaram financiar florestas tropicais por meio de doações ou créditos de carbono, mas os fluxos eram imprevisíveis, insuficientes e muitas vezes não alcançavam escalas compatíveis com a urgência climática. O Brasil, que possui cerca de um terço das florestas tropicais do planeta, assumiu a liderança de propor uma saída nova: transformar a preservação florestal em modelo econômico de longo prazo, com participação privada, governança internacional e resultados mensuráveis.

Como o TFFF vai funcionar

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O desenho do TFFF prevê que um montante inicial de recursos públicos — cerca de US$ 25 bilhões — seja combinado com captações no mercado financeiro, sobretudo por investidores privados, para formar um “endowment” (fundo patrimonial) de cerca de US$ 125 bilhões. Esse capital seria investido em instrumentos financeiros conservadores, gerando rendimento anual. Desse rendimento, parte é devolvida aos investidores com retorno adequado, e o excedente é canalizado aos países tropicais que mantêm e/ou ampliam suas florestas.

Os países elegíveis — mais de 70 em princípio — receberiam pagamentos em função de quanta floresta mantiverem de pé e como comprovarem, por meio de monitoramento e critérios claros, que não apenas estão evitando o desmatamento, mas investindo em conservação e restauração. O modelo inova ao priorizar “floresta em pé” (standing forest) e recompensas por desempenho, e não simplesmente compensar desmatamento evitado.

Além disso, o TFFF impõe salvaguardas sociais e ambientais: comunidades indígenas e locais devem ser beneficiadas diretamente e participar da governança; o pagamento depende de transparência, boas práticas de monitoramento e verificação externas.

Por que esse mecanismo interessa  

Há três razões principais pelas quais o TFFF atrai atenção — e porque o Brasil o coloca como peça central da sua agenda climática.

Escala e previsibilidade: mercados voluntários de carbono e doações florestais têm receitas oscilantes e insuficientes. O TFFF propõe um fluxo estável, de larga escala, que os países podem considerar como renda regular por conservação.

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O fundo tem o objetivo de garantir financiamento permanente e de longo prazo para a preservação e recuperação dos ecossistemas

Alinhamento com justiça socioambiental: ao incorporar comunidades indígenas e tradicionais como parte integrante — destinando percentuais significativos dos recursos para essas populações — o mecanismo busca corrigir uma falha histórica dos programas de conservação.

Integração floresta+economia: florestas tropicais deixariam de ser vistas como obstáculo à produção para se tornarem ativos financeiros estratégicos. O TFFF aposta que conservar pode ter retorno econômico real — transformando hectares em valor.

Desafios e incógnitas

Apesar das inovações, o TFFF enfrentará obstáculos significativos. Primeiro, levantar US$ 125 bilhões exige compromisso firme de governos, investidores e filantropos — e embora países como Reino Unido, Noruega, Alemanha, Emirados Árabes Unidos estejam em discussão, encaixar o aporte total não é trivial.

imagem_2_3 O Brasil acredita que pode mudar o jogo climático com o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF)
Reconstrução gradual da floresta, para se tornarem ativos financeiros estratégicos

Segundo, a governança e a verificação são complexas: como garantir que o pagamento ocorra apenas para quem efetivamente conserva, como lidar com riscos de reversão (desmatamento futuro), como estruturar multas ou deduções por perda de floresta. Alguns estudos já questionam se os cálculos de retorno por hectare são realistas.

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Terceiro, articulá-lo no contexto de soberanias nacionais e políticas ambientais de cada país exige que o mecanismo respeite legislações, identidades locais e economias diversas — e que a floresta em pé seja valorizada em escala global.

O papel do Brasil

Para o Brasil, o TFFF representa uma oportunidade estratégica. Como país que abriga a imensa Floresta Amazônica e demais biomas tropicais, sediando a COP30 em Belém, o mecanismo eleva seu protagonismo na agenda climática. A iniciativa também se conecta ao seu plano de transformação ecológica — o Novo Brasil – Plano de Transformação Ecológica — colocando desenvolvimento, justiça social e meio ambiente como vetores integrados.

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Mostrar que o TFFF não é apenas mais um mecanismo de financiamento climático — ele busca redesenhar a forma como o mundo remunera a preservação ecológica e coloca a floresta tropical no centro da economia global do clima

Ao propor que a floresta parada produza valor e que os países que a conservam sejam compensados, o Brasil abre caminho para que conservação e produção não sejam inimigos — mas partes do mesmo processo de transição para uma economia de baixo carbono.

O Fundo Florestas Tropicais para Sempre não é apenas mais um mecanismo de financiamento climático — ele busca redesenhar a forma como o mundo remunera a preservação ecológica e coloca a floresta tropical no centro da economia global do clima. Se bem implementado, pode transformar áreas verdes em fluxos financeiros, comunidades locais em protagonistas e países tropicais em beneficiários de um novo paradigma. O desafio está lançado, mas o Brasil aposta que essa virada será indispensável para alcançar os objetivos climáticos e assegurar que a floresta continue sendo parte viva do planeta — e não apenas recordação.

imagem_2_2 O Brasil acredita que pode mudar o jogo climático com o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF)

Em resumo o TFFF – Fundo Florestas Tropicais Para Sempre é um modelo de financiamento que vai combinar investimento público e privado e prevê que os recursos sejam repassados a países com florestas tropicais que trabalhem pela preservação dessas áreas.

Entre eles estão:

☆ Brasil, ☆ Colômbia, ☆ Peru, ☆ Colômbia, ☆ Peru, ☆ Indonésia, ☆ República Democrática do Congo e ☆ Gana.

Na prática, países que conseguirem recuperar e manter suas florestas de pé serão recompensados financeiramente por esse esforço. Eles só receberão os valores após verificação por imagens de satélite que confirmem níveis de desmatamento abaixo de limites pré-definidos.

Conservação do peixe-boi amazônico ganha força na COP30

O futuro do peixe-boi-da-Amazônia voltou ao centro das atenções internacionais durante a COP30, em Belém, com a apresentação do Programa de Conservação de Peixes-Boi na Amazônia, conduzido pelo Ibama. A iniciativa, construída em rede com instituições públicas, universidades, organizações da sociedade civil e parceiros privados, mostra como a proteção da fauna amazônica exige articulação contínua, conhecimento científico e cuidados permanentes diante de um ambiente em rápida transformação climática.

O programa reúne ações complementares que começam no resgate de animais encalhados, passam por atendimentos emergenciais, reabilitação e aclimatação e culminam na soltura monitorada dos indivíduos considerados aptos a retornar ao habitat natural. No entanto, o escopo da iniciativa vai muito além do cuidado direto com os animais. Ele integra campanhas de sensibilização, capacitação de comunidades e técnicos locais, pesquisas aplicadas e abertura de novas unidades de readaptação — passos essenciais para reforçar a saúde dos ecossistemas onde o peixe-boi desempenha papel ecológico central.

Durante a apresentação, o superintendente do Ibama no Pará, Alex Lacerda de Souza, chamou atenção para o aumento dos encalhes, especialmente de filhotes, registrado nos últimos anos. Para ele, esse fenômeno não é casual, mas um sintoma da degradação crescente dos habitats aquáticos e dos impactos acumulados das mudanças climáticas, que alteram ciclos hidrológicos, disponibilidade de alimento e segurança dos berçários naturais. Segundo Lacerda, os picos observados em 2023 e 2025 evidenciam a urgência de ampliar e integrar os esforços de manejo.

Uma das metas prioritárias do programa é expandir suas operações para outros estados da Amazônia, como Amazonas e Amapá, criando novos recintos de aclimatação e ampliando o monitoramento de animais reintroduzidos na natureza. A estratégia segue um princípio-chave da conservação contemporânea: quanto mais distribuídas e conectadas forem as ações, maior a resiliência das populações e menor a probabilidade de colapso ecológico local.

A rede de parceiros da iniciativa é extensa e revela a diversidade de competências necessárias para garantir seu sucesso. Entre eles estão o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), a Universidade Federal do Pará (UFPA), o Zoounama, o Instituto Bicho D’Água e, mais recentemente, o GRAESP, o IDEFLOR-Bio e a Prefeitura de Soure. Cada organização contribui com conhecimento, infraestrutura ou logística, permitindo que o programa alcance resultados mais amplos e duradouros.

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Foto: Divulgação/Ibama

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Lacerda destacou também o papel da iniciativa privada, cuja participação tem fortalecido o programa por meio de apoio financeiro, doações e cooperação técnica. Um exemplo é o Centro de Triagem de Animais Silvestres de Benevides, administrado pelo Ibama com apoio da ONG Proteção Animal Mundial, que se tornou referência regional no atendimento à fauna.

Outro avanço relevante apresentado na COP30 é fruto direto do processo de licenciamento ambiental conduzido pelo Ibama. Como condicionante de uma licença para pesquisa sísmica marítima concedida à empresa TGS, foi estruturado um conjunto de instalações fundamentais: o Centro de Reabilitação de Peixes-Boi em Castanhal, a Unidade de Estabilização de Animais Marinhos em Soure e um novo recinto de aclimatação pré-soltura também em Soure, inaugurado em 3 de novembro. Essa articulação mostra como condicionantes ambientais, quando bem desenhadas e implementadas, podem gerar benefícios concretos para a conservação da fauna.

A apresentação na COP30 destacou que conservar o peixe-boi-da-Amazônia não é apenas salvar uma espécie ameaçada, mas manter processos ecológicos essenciais. O Trichechus inunguis, menor entre os três peixes-bois existentes, é considerado um jardineiro natural das águas amazônicas. Ao consumir grandes quantidades de plantas aquáticas — entre 40 e 60 quilos por dia — controla o crescimento excessivo da vegetação, facilita o fluxo hídrico e contribui para a dispersão de sementes em áreas de várzea e igapó. Suas atividades influenciam desde a formação de clareiras submersas até a navegabilidade de rios estreitos, conectando ecologia, economia e vida cotidiana de populações ribeirinhas.

Ao levar o programa à COP30, o Ibama reforça que a proteção do peixe-boi é também um indicador da capacidade do país de integrar ciência, políticas públicas e ações locais em prol da biodiversidade. A iniciativa demonstra que, mesmo diante das pressões ambientais mais severas, a atuação em rede continua sendo uma das ferramentas mais poderosas para manter vivo o pulsar dos ecossistemas amazônicos.

Licenciamento ambiental ganha força no maior congresso do país

O debate sobre licenciamento e avaliação de impacto ambiental ganhou novo fôlego em Brasília com a realização do 7º Congresso Brasileiro de Avaliação de Impacto, o CBAI 2025. Em sua maior edição, o encontro reuniu mais de 500 participantes de todo o país e consolidou-se como o principal espaço nacional dedicado a discutir como o Brasil pretende equilibrar desenvolvimento econômico, proteção ambiental e respostas às urgências climáticas.

Organizado pela Associação Brasileira de Avaliação de Impacto em parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e a Universidade de Brasília, o congresso ocupou a capital federal com especialistas, pesquisadores, representantes de governos, membros do setor privado, organizações da sociedade civil e integrantes do Ministério Público. O encontro foi marcado por um sentimento comum: em um país onde conflitos ambientais se multiplicam e onde a pressão por flexibilização de regras ambientais cresce, discutir licenciamento não é apenas uma tarefa técnica — é um debate sobre o futuro do território brasileiro.

O Ibama teve participação central na programação, levando cerca de 80 servidores para acompanhar mesas-redondas, minicursos e sessões temáticas. O instituto também esteve presente nas apresentações de pesquisas e estudos técnicos que tratam de modelagens ambientais, metodologias de impacto, gestão territorial e aperfeiçoamento de ferramentas regulatórias.

A liderança do encontro ficou sob responsabilidade do analista ambiental Cristiano Vilardo, presidente desta edição do congresso. Ao sintetizar a relevância do evento, Vilardo destacou que o crescimento do CBAI reflete o amadurecimento de toda a comunidade de avaliação de impacto no país. Para ele, o acúmulo de conhecimento construído nas últimas décadas precisa ser colocado no centro dos debates sobre modernização das políticas e práticas de licenciamento ambiental — especialmente em um momento em que essas políticas enfrentam pressões contraditórias.

2025-11-17-diretora-de-licenciamento-ambiental-do-ibama-fala-na-mesa-de-abertura-do-congresso-400x600 Licenciamento ambiental ganha força no maior congresso do país
Foto: Ascom/Ibama

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A mesa de abertura contou com a presença da diretora de Licenciamento Ambiental do Ibama, Claudia Barros, que reforçou o papel estruturante do licenciamento dentro da Política Nacional do Meio Ambiente. Segundo ela, é por meio desse instrumento que o Estado define condições, medidas e salvaguardas para empreendimentos com potencial de causar poluição ou degradação ambiental. Em outras palavras, o licenciamento não é apenas uma etapa burocrática: é a fronteira entre o desenvolvimento necessário e o risco irreversível para ecossistemas estratégicos.

O CBAI 2025 se destacou não apenas pelo número de participantes, mas pela profundidade das discussões. Professores universitários, gestores públicos, consultores ambientais e representantes do setor empresarial compartilharam diagnósticos sobre velhos desafios — falta de recursos humanos nos órgãos ambientais, demora nos processos, disputas políticas — e novos impasses trazidos pela emergência climática.

O tema central do congresso, “50 Anos de Licenciamento Ambiental no Brasil: novos e velhos desafios para o futuro da Avaliação de Impacto”, funcionou como fio condutor para reflexões que atravessaram desde o legado histórico das normas brasileiras até as perspectivas abertas por tecnologias emergentes, como modelagem de cenários climáticos, sensoriamento remoto e ferramentas digitais de análise territorial.

Ao longo dos debates, uma inquietação fez eco entre os especialistas: como garantir que o licenciamento ambiental permaneça como um instrumento robusto diante da recente reforma da legislação, que redesenhou etapas, procedimentos e responsabilidades? Para muitos participantes, a mudança normativa não pode significar retrocesso na proteção ambiental nem fragilização das salvaguardas socioambientais. Pelo contrário, o momento exige que a avaliação de impacto seja fortalecida como base para decisões transparentes e sustentáveis.

Outro eixo recorrente foi o papel dos órgãos ambientais num país que já sente, de maneira direta, os efeitos da crise climática. As chuvas extremas, secas prolongadas, incêndios e perdas de biodiversidade foram citados como lembretes de que cada etapa do licenciamento precisa incorporar cenários de risco que antes não estavam tão presentes. Assim, discutir impacto ambiental hoje é discutir adaptação, mitigação e governança climática.

O congresso terminou com a sensação de que a agenda de avaliação de impacto no Brasil está entrando numa fase decisiva. A comunidade técnica está mais qualificada, o país está pressionado por eventos climáticos cada vez mais severos e a sociedade exige mais transparência e responsabilidade ambiental. O CBAI 2025 não ofereceu respostas prontas — e nem pretendia. O que ele ofereceu foi algo mais valioso: o reconhecimento de que o licenciamento ambiental permanece como uma das principais ferramentas para garantir que o desenvolvimento brasileiro não custe o que não pode ser reposto, nem às futuras gerações, nem ao próprio país.

Alckmin pede uma COP30 focada na verdade e na ação

A plenária de alto nível da COP30 abriu suas portas em Belém com um apelo claro do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. Para ele, a conferência marca um ponto de inflexão no regime internacional do clima. O que antes se apoiava sobretudo em negociações se converte, a partir de agora, em um pacto de implementação. A mensagem, dirigida a países que chegam à Amazônia para definir o futuro do Acordo de Paris, foi direta: chegou a hora de transformar ambição em resultados palpáveis.

Alckmin lembrou que o Brasil pretende deixar como legado da conferência três compromissos centrais: acelerar a transição energética, erradicar o desmatamento ilegal e fortalecer a sociobioeconomia como modelo capaz de valorizar florestas em pé. Esses pilares, segundo ele, só terão efeito real se forem guiados pela ciência, pela solidariedade entre países e pela responsabilidade ética com as gerações futuras. Para simbolizar essa virada, o vice-presidente evocou que a ação climática precisa combinar progresso tecnológico com dignidade humana, e não pode ser tratada apenas como um problema técnico.

Diante de chefes de delegação e lideranças globais, Alckmin apontou que o mundo ainda está muito distante de suas próprias metas. A capacidade instalada de energia renovável, disse ele, corresponde hoje à metade do necessário para limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius, objetivo central do Acordo de Paris. Por isso, defendeu que a humanidade não pode mais postergar esforços: é preciso triplicar a participação de renováveis e dobrar a eficiência energética até 2030.

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Foto: Sergio Moraes/COP30

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O vice-presidente também destacou o avanço do chamado Compromisso de Belém, iniciativa que busca quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis até 2035 e que já conta com o apoio de 25 países. Ele ressaltou que o Brasil chega à COP30 com credenciais importantes, entre elas a redução de 50% do desmatamento ilegal na Amazônia. Embora o número represente apenas um passo diante da urgência climática, Alckmin o apresentou como sinal de que ações firmes podem gerar efeitos concretos em curto prazo.

Outro ponto enfatizado em seu discurso foi a necessidade de os países apresentarem novas NDCs compatíveis com a trajetória de 1,5 grau. Ele relembrou a atualização da meta brasileira anunciada na COP29, em Baku, ao lado da ministra Marina Silva, à frente do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. O compromisso determina reduzir entre 59% e 67% as emissões líquidas do país até 2035 em comparação com 2005, uma meta que Alckmin classificou como ousada, mas tecnicamente viável.

Em sua fala, ele também trouxe à plenária um elemento que costuma aparecer apenas nas discussões paralelas: a centralidade dos povos que vivem na floresta. Para Alckmin, a proteção da Amazônia depende diretamente de seus habitantes. Ele destacou que mais de 28 milhões de brasileiros vivem no bioma, entre eles os povos indígenas e as comunidades tradicionais, reconhecidos como guardiões da floresta e detentores de uma inteligência ecológica que antecede em séculos a ciência contemporânea. O vice-presidente enfatizou que a coexistência entre produção, conservação e bem-estar social só é possível quando essas populações têm voz ativa e seus saberes são valorizados.

Ao apontar caminhos possíveis, Alckmin defendeu soluções inovadoras que integrem bioeconomia, tecnologias de baixo carbono e instrumentos regulatórios capazes de fortalecer a governança climática global. Nesse contexto, mencionou a proposta de criar uma Coalizão Global de Mercados Regulados de Carbono para ampliar transparência e harmonização entre países. Segundo ele, esse tipo de iniciativa pode estimular investimentos e aumentar a previsibilidade para empresas e governos.

Com a chegada de cerca de 160 autoridades de alto escalão, a COP30 entra agora na fase mais sensível, quando disputas sobre financiamento, adaptação e métricas de redução de emissões precisam chegar a consenso. Em meio às divergências naturais entre países, Alckmin pediu que uma diretriz norteie todas as decisões: que esta seja a conferência da responsabilidade e da verdade. Para ele, cada escolha tomada em Belém deve proteger as condições de vida no planeta, preservar a biodiversidade e garantir justiça entre as gerações.

Invisibilidades e poder na agenda climática da COP30

A COP30, realizada em Belém, tem sido apresentada como um marco climático global, um encontro técnico destinado a orientar políticas e revisar compromissos. Mas, por trás das negociações formais e das frases cuidadosamente calibradas da diplomacia, há um debate que atravessa séculos e que revela quem, de fato, aparece quando o mundo decide seu futuro: a presença de afrodescendentes nos documentos oficiais do regime do clima. A discussão, embora pareça semântica, é profundamente política. Não trata apenas de categorias; trata de reconhecer quem a crise climática atinge com mais força e quem tem sido sistematicamente apagado das respostas internacionais.

A ausência de afrodescendentes nos principais textos climáticos é um sintoma de desigualdades históricas que persistem mesmo em um espaço multilateral voltado, em teoria, para a construção de soluções universais. Como destacam pesquisadoras e articuladoras do movimento negro brasileiro, palavras importam porque moldam políticas, e políticas definem quem vive, quem perde, quem se adapta e quem permanece exposto. Ignorar essa dimensão na Conferência não é neutralidade; é a continuação de uma longa linha de omissões.

O Brasil, que recentemente liderou na Cúpula dos Líderes em Belém a declaração contra o racismo ambiental, tornou-se referência simbólica na agenda. Mas simbolismo só se sustenta quando encontra terreno político sólido. Se o país deseja ocupar a posição de liderança que reivindica, precisa assegurar que esse compromisso apareça nas decisões e nos textos em negociação na COP30, especialmente naqueles que tratam de adaptação, gênero e transição justa. Ser anfitrião da Conferência não significa apenas oferecer infraestrutura; significa assumir responsabilidade diante da maior população afrodescendente fora do continente africano.

Os números mostram que essa disputa não começou ontem. Desde 1992, mais de cem documentos internacionais sobre clima foram analisados. Apenas uma fração mínima menciona afrodescendentes, e quase todas as referências aparecem em textos sem obrigatoriedade legal. A mensagem implícita é devastadora: reconhece-se a existência do racismo ambiental, mas evita-se qualquer tipo de compromisso estruturado para enfrentá-lo. A COP30, ao ocorrer justamente no início da Segunda Década Internacional para Afrodescendentes (2025–2035), tem a chance histórica de romper essa tendência — ou de reiterar o silêncio institucionalizado.

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Imagem: Rogério Cassimiro/ MMA

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O alerta feito pelo Fórum Permanente das Nações Unidas para Afrodescendentes, durante a própria conferência, foi direto: não haverá justiça climática sem abordar os legados de escravidão e colonialismo que ainda hoje moldam desigualdades territoriais, econômicas e sociais. Não haverá transição justa se comunidades afrodescendentes continuarem fora das mesas onde decisões são tomadas. Esse argumento não nasce de reivindicação ideológica, mas de fatos repetidos em diferentes geografias — do Caribe à América Latina, do Brasil às diásporas africanas no Oriente Médio e na Europa.

Parte essencial desse debate passa pelo reconhecimento do termo People of African descent / Afrodescendentes, adotado internacionalmente desde a III Conferência Mundial contra o Racismo, em Durban (2001). Ali, consolidou-se uma definição capaz de abranger tanto descendentes de africanos escravizados nos diversos sistemas de tráfico — transatlântico, mediterrâneo e subsaariano — quanto populações africanas e seus descendentes que migraram mais recentemente. A escolha do termo não é meramente linguística. Ele representa um marco jurídico e político que orienta resoluções da Organização das Nações Unidas e documentos multilaterais, incluindo os que circulam no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).

As desigualdades vividas por afrodescendentes se expressam em territórios concretos. Nas cidades, o legado da segregação espacial empurra essa população para áreas mais vulneráveis, com maior exposição a enchentes, deslizamentos e ondas de calor. No campo, quilombolas, palenques e outras comunidades rurais da diáspora enfrentam impactos desproporcionais devido à falta de reconhecimento territorial, menor acesso a recursos e vulnerabilidades acumuladas por gerações. Ignorar essas realidades na agenda climática é perpetuar desigualdades que a própria Conferência diz combater.

O movimento negro brasileiro, com longa trajetória de articulação internacional, está na COP30 defendendo a inclusão explícita de afrodescendentes nos textos de negociação. Não se trata de um gesto isolado, mas de uma continuidade histórica de luta por reconhecimento, reparação e justiça climática. O que está em jogo, ao fim, é o direito elementar de existir plenamente em um futuro que ainda está sendo negociado — palavra por palavra.

GEO Brasil 2025 revela nova radiografia ambiental do país

O lançamento do GEO Brasil 2025, marcado para esta terça-feira, 18 de novembro, às 15 horas, no Pavilhão da ONU na Blue Zone da COP30, em Belém, chega como um momento-chave para compreender em profundidade a situação ambiental do país. A nova edição do relatório — elaborada em parceria entre o Ministério do Meio Ambiente, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a Fundação Getulio Vargas (FGV) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) — consolida mais de duas décadas de dados, análises e tendências que ajudam a interpretar o território brasileiro em um momento decisivo da agenda climática global.

O documento se destaca por reunir, em um mesmo arcabouço, múltiplas dimensões que há anos influenciam a estabilidade ambiental do país: o avanço das pressões sobre os biomas, as mudanças observadas no clima e na qualidade da água, os impactos silenciosos e persistentes da poluição do ar e as transformações no comportamento dos setores produtivos. É uma espécie de radiografia ampliada, que vai além da constatação dos problemas e projeta caminhos possíveis para uma transição justa e orientada pela natureza.

Um dos aspectos mais instigantes do relatório é sua capacidade de combinar rigor técnico com uma leitura sobre desigualdades regionais. Em vez de tratar o Brasil como um bloco uniforme, o GEO Brasil 2025 mostra que a vulnerabilidade ambiental se distribui de maneira desigual e profundamente marcada por realidades sociais, territoriais e econômicas distintas. Enquanto alguns biomas enfrentam pressões agudas — seja pelo avanço desordenado da fronteira produtiva, seja pelas mudanças no regime de chuvas —, outros ainda possuem margens para recuperação, desde que a governança ambiental avance em um ritmo compatível com os desafios.

A poluição do ar, muitas vezes tratada como um tema restrito aos grandes centros urbanos, ganha destaque como um fator de risco que se entrelaça com questões de saúde pública e produtividade econômica. O relatório evidencia que não se trata apenas de um problema atmosférico, mas de uma força que altera padrões de vida, pressiona sistemas de saúde e agrava injustiças ambientais. A água, por sua vez, surge como elemento transversal: sua qualidade e disponibilidade influenciam tanto a biodiversidade quanto o futuro dos setores produtivos, especialmente aqueles dependentes de estabilidade climática.

O evento de lançamento reunirá representantes das quatro instituições responsáveis pela produção do relatório, além de especialistas convidados que irão dialogar sobre os achados mais estratégicos. A expectativa é que a apresentação vá além da leitura técnica e abra espaço para discutir como essas evidências podem orientar políticas públicas, fortalecer instrumentos de governança e acelerar ações climáticas em níveis nacional e subnacional. Em uma COP marcada pela urgência e pela disputa por soluções concretas, o GEO Brasil 2025 se oferece como bússola: não aponta um único caminho, mas oferece um panorama sólido para escolhas informadas.

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A avaliação também lança luz sobre oportunidades. Em meio às pressões crescentes e às desigualdades persistentes, surgem novas frentes para a transformação verde — setores produtivos em transição, cadeias de valor mais limpas, instrumentos financeiros que incorporam riscos climáticos e práticas capazes de gerar emprego e renda sem expandir a devastação ambiental. Esses elementos reforçam a ideia de que a transição ecológica não é apenas uma exigência global, mas uma chance de redefinir a economia brasileira em bases mais resilientes e inclusivas.

O lançamento do GEO Brasil 2025, portanto, não é apenas o anúncio de um relatório. É a convocação para um debate ampliado sobre como o Brasil lê sua própria realidade ambiental e como pretende se posicionar diante dos desafios que se intensificam. Na COP30, diante da comunidade internacional, o país terá a oportunidade de mostrar que conhece suas fragilidades, reconhece suas responsabilidades e enxerga, nas soluções baseadas na natureza, um caminho viável para conciliar desenvolvimento e proteção ambiental.

As inscrições para acompanhar o evento estão disponíveis em https://forms.gle/SSjZFUrzaqJvVxU7A. A atividade acontece no UN Pavilion da Blue Zone da COP30, em Belém.